domingo, 13 de março de 2022

Rússia fez a caminhada bombardeando a base de fato da OTAN em Yavorov

# Publicado em português do Brasil

Andrew Korybko* | One World

A Rússia acabou de mostrar que tem a determinação de defender suas forças daquelas armas mortais que a Otan está injetando na Ucrânia, mesmo que instrutores estrangeiros possam estar presentes na base de fato daquele bloco na fronteira polonesa.

O presidente Putin não estava brincando quando alertou o mundo durante seu discurso de 24 defevereiro ao povo russo, anunciando a operação militar especial de seu país na Ucrânia, que as Forças Armadas Russas (RAF) responderão decisivamente a quaisquer terceiros que tentarem interferir em sua atividades de pacificação naquela ex-República Soviética. O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Ryabkov, acrescentou a isso, revelando que “alertamos os Estados Unidos que o bombeamento orquestrado de armas de vários países não é apenas um movimento perigoso, é um movimento que transforma esses comboios em alvos legítimos”. Um dia depois, a RAF bombardeou a base de fato da OTAN em Yavorov, bem perto da fronteira polonesa que o The Guardian relatou ter hospedado anteriormente treinadores militares estrangeiros daquele bloco anti-russo.

Dessa maneira, a Rússia fez o caminho apoiando sua conversa anterior com as ações decisivas que havia alertado anteriormente que seria obrigada a empreender por autodefesa. Ninguém mais deve duvidar da determinação do presidente Putin, se tal dúvida existisse sinceramente, isto é. Assim como o autor alertou há 8 anos em fevereiro de 2014, “ A Polônia é a 'Turquia eslava' da desestabilização da OTAN ” na Ucrânia, na medida em que está desempenhando o mesmo papel em nome dos EUA que a Turquia fez na Síria na última década. De relevância, a Polônia também expôs os EUA como um aliado não confiável apenas na semana passada, depois de oferecer o envio de caças para sua Base Aérea de Rammstein, na Alemanha, antes de sua proposta de transferência para a Ucrânia, que Washington acabou recusando, apesar de ter instado anteriormente seus vassalos da OTAN a enviar esses sistemas diretamente para lá.

Portanto, é improvável que este aspirante a líder da Europa Central e Oriental (CEE) seja arrastado para a “missão rastejante” na Ucrânia devido às preocupações muito críveis de que poderia ser facilmente abandonado pela América se o fizer exatamente como seu suposto “aliado” acabou de abandonar sua inteligente proposta de caça. Mesmo assim, ninguém deve duvidar de que a Polônia ainda quer exercer influência sobre aquela nação vizinha, talvez até apoiando o cenário especulativo de apoiar uma segunda chamada “ República Popular da Ucrânia Ocidental ” (WUPR) no caso de o antinatural mini-império de Lenin colapsos como alguns preveem podem acontecer em breve, especialmente após relatos não confirmados de que a região de Kherson, quase inteiramente liberada pela RAF, poderá em breve ter um referendo de independência .

Nesse cenário, a WUPR poderia realizar imediatamente seu próprio referendo sobre a adesão à Polônia, membro da OTAN (visto como seu território caiu anteriormente sob o controle da Segunda República Polonesa entre guerras) ou solicitar imediatamente a adesão ao bloco anti-Rússia, com destes, resultando em ficar sob o guarda-chuva nuclear dos EUA e garantias de defesa mútua através do Artigo 5. Não está claro como a Rússia responderia nesse caso, mas quase certamente significaria o fim do estado ucraniano, embora todas as partes do conflito ( tanto os diretos como a Rússia quanto os indiretos como os EUA), com exceção da própria Kiev, já poderiam ter aceitado que esse resultado poderia muito bem ser um fato consumado.  

De qualquer forma, a Rússia acabou de mostrar que tem a determinação de defender suas forças daquelas armas mortais que a Otan está injetando na Ucrânia, mesmo que instrutores estrangeiros possam estar presentes na base de fato daquele bloco na fronteira polonesa. Isso sinaliza que também envolverá essas forças estrangeiras, sejam tropas uniformizadas da OTAN ou seus representantes mercenários, se eles se atrevem a atacar diretamente a RAF, já que a Rússia já está destruindo suas bases não oficiais das quais estavam recebendo armas letais para entregar às Forças Armadas Ucranianas (UAF) e seus batalhões fascistas. Sua hostilidade indireta à Rússia e a intenção aberta de matar suas tropas por procuração tornam qualquer uma de suas forças na Ucrânia alvos legítimos para a RAF. Com isso em mente, a OTAN faria bem em retirar suas tropas daquele país o mais rápido possível.

Andrew Korybko -- analista político americano

Ler em One World:

Não caia no Psy-Op do Carter Center que está tentando dividir a Rússia e a China

Seria uma traição aos princípios multipolares da Venezuela vender petróleo aos EUA?

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Angola | ANTES E DEPOIS DAS ELEIÇÕES DE AGOSTO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O engenheiro à civil Adalberto da Costa Júnior está no estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) conspirando ataques contra Angola ou a receber treino de armas químicas e biológicas. O criminoso de guerra amnistiado Abílio Camalata Numa está a caminho de Kiev para dar lições de nazismo aos nazis mal formados. Paulo Lukamba Gato aproveita para tomar conta da seita UNITA e já se prepara para seguir o exemplo da Igreja Universal do Reino de Deus: Quem é savimbista está salvo. Os outros vão para a Ucrânia. Os russos que tratem deles.

E depois das eleições de Agosto? Esta interrogação precisa de resposta directa, substantiva e indubitável. A filha da minha amiga Anália e do meu amigo Manolo vai viver com o Zelensky, servo do povo e palhaço do estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA). Ainda não está definida a sua função, mas entre o pessoal menor há vaga para limpeza da mansão onde o cómico vai gozar os rendimentos. Para já é o que se arranja. Na primeira oportunidade é promovida a engraxadora dos sapatos do grande herói do ocidente. Calma, Alexandra Simeão! Um dia vais pertencer à fina flor do entulho. 

E depois das eleições de Agosto? O Gustavo Costa faz o pino, um flic fac à retaguarda e volta a mamar no Orçamento Geral do Estado. Começa por jurar que foi sempre simpatizante, amigo e militante dos vencedores do acto eleitoral. Depois vai para a bicha dos dólares. A guerra da Ucrânia, entretanto, lança o Pinto Balsemão na falência definitiva e o antigo magnata da imprensa já não precisa de escribas que inventem material sobre Angola.

Depois das eleições de Agosto oi Vítor Ramalho entrega o tacho das cidades capitais de língua portuguesa e vai dirigir a rede de cidades arruinadas da Ucrânia. Pago em kwachas mas tem que ir receber a Lusaka.

Depois das eleições de Agosto o Filomeno Vieira Lopes volta aos velhos tempos de maoista, deita fora a gravata, mete uma faca na boca e vai para as ruas de Luanda dizer que somos todos burgueses. Cuidado! Ele é perigoso. Já ajoelhou aos pés do Savimbi, depois esquinou-se com o engenheiro à civil Adalberto e é bem capaz de abraçar a prostituição para nos enganar. É assim que começam os grandes políticos do Bloco Democrático, dirigentes do futuro. Peritos em felácio homem a homem. Boa sorte.

Angola | PGR ADVERTE OS POLÍTICOS SOBRE PRÁTICAS CRIMINOSAS

A Procuradoria- Geral da República manifestou interesse num ambiente exemplar nas eleições gerais de Agosto, ao apelar os partidos, cidadãos e responsáveis de instituições públicas ou privadas a evitarem práticas que violem a lei, durante uma acção de reflexão sobre o alcance dos meios jurídicos e legais, à luz da Lei Orgânica das Eleições Gerais em Angola.

Perante as circunstâncias, os intervenientes no processo devem ter maior atenção à Lei Eleitoral, porque a mesma não prevê suspensões das penas, e sim o cumprimento da prisão efectiva, no caso do cometimento de crimes, advertiu o Procurador-Geral Adjunto da República e coordenador da Região Judiciária Norte, que integra as províncias do Bengo, Malanje, Zaire, Uíge e Cabinda.

João Luís de Freitas Coelho teceu tais considerações durante uma palestra sobre "A Infracção Eleitoral à Luz da Lei Orgânica sobre as Eleições Gerais em Angola, na última sexta-feira na cidade de Caxito, província do Bengo. "Os partidos políticos, cidadãos comuns e todos os detentores de cargos de direcção e chefia, nas instituições do Estado ou privadas, devem evitar cometer práticas que atropelem a lei orgânica eleitoral”.

O magistrado do Ministério Público referiu  que os crimes mais comuns, cometidos durante as campanhas, são os de corrupção eleitoral, como as promessas de emprego, ajuda financeira para custear despesas de qualquer natureza, e persuasão aos potenciais eleitores à não votarem naquele ou neste partido.

"Tais práticas, são puníveis com penas de prisão, que vão de três a oito anos, e uma multa de até um milhão de kwanzas”, explicou. O magistrado referiu, igualmente, que no período eleitoral são cometidos outros crimes como a destruição de material eleitoral, nos casos em que os panfletos e bandeiras são arrancados dos lugares onde terão sido colocados por um determinado partido.

 "Actos desta natureza, dão até seis meses de prisão efectiva e multa de 500 mil kwanzas”, referiu. De acordo com o Procurador- Geral Adjunto João Coelho, no período eleitoral o crime de admissão ou exclusão abusiva de voto tem sido recorrente, punível com uma pena de oito anos de prisão e multa de até três milhões de kwanzas.

Alertou os cidadãos para que não votem mais de uma vez, por constituir um crime punível pela Lei Eleitoral, cuja pena vai de seis meses a dois anos de prisão efectiva. "Nestes casos, a multa aplicada vai até um milhão de kwanzas”, sentenciou o magistrado.

Durante o evento, promovido pela PGR, foram apreciadas outras matérias ligadas ao "Modo de funcionamento do Departamento de Investigação dos Ilícitos Penais” e "Perspectivas do Ministério Público quanto à tramitação processual dos pequenos ilícitos penais”.

Alfredo Ferreira, Caxito | Jornal de Angola

CONTOS POPULARES ANGOLANOS -- A Escrava Natula e o Feiticeiro Nyanya

Seke La Bindo*

O feiticeiro Nyanya tinha mais poder do que os reis e possuía a força dos ventos que varriam a montanha Halavala ou a correnteza dos rios nos dias de tempestade. Um dia recebeu como recompensa a bela Natula, que fez sua escrava. A menina era tão prendada que o poderoso feiticeiro se apaixonou por ela. Sempre que fazia as suas magias, chamava-a e ensinava-lhe todos os passos do seu mundo mágico. Mas nunca pensou que a sua escrava preparava, dia após dia, a sua liberdade.

Certo dia Capwiya, caçador de uma aldeia longínqua, perdeu-se na mata e alta noite foi bater à porta da casa do feiticeiro Nyanya, pedindo agasalho e um pouco de comida. O feiticeiro chamou Natula e disse-lhe para pôr comida na mesa. O rapaz reparou na beleza deslumbrante da menina e pensou:

- Se este homem me der a mão de sua filha, caso com ela e vou levá-la para a minha aldeia.

Natula também ficou enamorada de Capwiya e disse para si:

- Se o caçador perdido me levasse, regressava ao mundo e à liberdade.

Ao fim da noite, o rapaz foi dormir numa esteira perto do fogo e Nyanya e Natula foram para os seus quartos. Mas o caçador perdido não conseguia dormir, só pensava na bela escrava do feiticeiro.

No dia seguinte, ao amanhecer, ele sentiu os passos do feiticeiro, encheu-se de coragem e disse:

- Quero a mão de sua filha e levá-la para a minha aldeia. Lá, tudo o que tenho, é seu. 

Nyanya sorriu e disse ao caçador perdido que não queria nada. 

- Dou-te a mão da minha filha mas com uma condição: cumpres um pedido que te vou fazer. Se conseguires satisfazer, levas Natula. Mas se falhares, corto-te a cabeça e meto-a no caldeirão dos feitiços.

Capwiya sentiu um grande arrepio de medo e pôs os olhos em Natula. A escrava do feiticeiro fez-lhe um gesto discreto para que aceitasse o desafio. 

- Eu aceito. O que devo fazer?

- Estás a ver aquela grande lavra? Tens que cavá-la, semear o milho, fazê-lo germinar, crescer, amadurecer e colher as maçarocas. Mas tem que ser tudo hoje. Se não conseguires, ficas sem cabeça. Se conseguires, Natula é tua esposa.

O caçador perdido ficou muito triste porque era impossível cumprir o desejo de Nyanya. Mas Natula, que conhecia todas as magias do feiticeiro, disse a Capwiya:

- Não estejas triste, vais conseguir cumprir o que está acordado!

Ela fez a sua magia e de repente a lavra ficou toda cavada e capinada. Depois lançou os grãos de milho à terra. Passados uns minutos o milho começou a nascer e ao meio-dia estava tão verde e tão grande que parecia uma mata. Ao entardecer estava concluída a colheita das espigas.

O feiticeiro chegou a casa e viu todos aqueles grãos maduros no quintal. As canas do milho pareciam uma montanha. Os pássaros apanhavam insectos e grãos perdidos na lavra que tinha acabado de dar a maior colheita de sempre.

- Tu cumpriste o meu pedido, por isso dou-te a mão de Natula em casamento.

O jovem casal foi dormir e a escrava do feiticeiro avisou:

- Cuidado, ele vai matar-te. 

Então combinou um estratagema como o caçador perdido. Encheu uma garrafa de saliva e colocou-a à porta do quarto. Depois pegou em dois pilões e colocou-os na cama a fingir de pessoas. 

Os dois saíram de casa e Natula escolheu os dois cavalos mais velozes do feiticeiro, levaram-nos pela rédea até longe de casa e depois montaram, fugindo para a aldeia de Capwiya.

Em casa, o feiticeiro, de vez em quando chamava por Natula. E a saliva da garrafa respondia: - Pai! E assim foi quase toda a noite. Mas quando a saliva estava a acabar a resposta foi muito débil: - Paaaiiii…

Quando a saliva acabou, o feiticeiro chamou mas já não houve resposta. O dia amanhecia na montanha de Halavala e o sol começava a mirar-se nas águas dos rios. Então Nyanya pegou numa catana, entrou no quarto pé ante pé e desferiu vários golpes nos corpos deitados. De repente parou de golpear, tirou o cobertor e viu que tinha sido enganado pela escrava e o caçador perdido. Foi buscar um cavalo, fez uma magia para lhe colocar asas e partiu voando atrás dos fugitivos.

Quando já estava próximo do casal, Natula fez um feitiço e de repente nasceu uma nuvem muito espessa. O cavalo ficou perdido e partiu as asas contra uma mulemba. Mas continuava a correr a toda a brida. 

A menina então fez nascer entre os fugitivos e Nyanya uma espessa mata de espinheiras e vissapas:

- Eye wakapa ko usenge wa lisitika calua!

 Mas ele, com a sua bengala mágica, conseguiu vencer o obstáculo. A menina então fez cair tanta chuva que em breve ficou tudo inundado.

- Noke wakapa ko ombela yalua!

 Feiticeiro e cavalo atravessaram mais este obstáculo. 

Natula então criou o rio Keve. E logo a seguir fez um feitiço para que ela e Capwiya ficassem crianças. Os cavalos foram transformados em passarinhos. Os dois entraram nas águas límpidas do rio e começaram a brincar. Eis que chega Nyanya no seu cavalo de asas partidas. Vê as crianças e pergunta-lhes se não viram passar um casal cavalgando a toda a brida:

- Por aqui não passou ninguém! – Disse Capwiya. 

O feiticeiro ficou desesperado e começou a bater com a bengala mágica no chão com tanta força, que se partiu. Sem a sua fonte de magia, voltou para trás e deixou Natula e Capwiya em paz. E assim se virou o feitiço contra o feiticeiro!

Olupolo ka wendanda otembo ka niñili.

*Esta história foi-me contada por Flora Linda professora na Tchicala Tcholoanga

Alemanha e Angola juntos na criação de associação cultural

O estreitamento das relações e, consequentemente, da cooperação entre Angola e a Alemanha vai ganhando cada vez maior visibilidade, e desta vez isso reflecte-se também no campo cultural.

A associação cultural “Angola Verstehen – Compreendo Angola” foi apresentada oficialmente ao público num evento online nos dois países, com a apresentação de alguns dos seus membros.

A grande impulsionadora desta associação do lado angolano é Sandra Sabrowski, embaixadora do Conselho Africano de Turismo para a cultura angolana e a residir actualmente na Alemanha. Sandra desempenha um papel importante de consultoria em análises de mercado e desenvolvimento de projetos em vários países da Europa e da África Austral.

Em entrevista ao Jornal de Angola, Sandra salientou que esta associação foi fundada naquele país europeu por ela e a alemã Chrstiane Harff. As integrantes são, na maioria, alemãs, com interesse em descobrir a cultura angolana, assim como algumas rotas culturais e turísticas.

Um outro aspecto a destacar, é que o dia escolhido para a cerimónia de apresentação da associação servir também para celebrar o Dia Internacional da Mulher. Para além de Sandra Sabrowski, sublinhe-se a presença de Christiane Harff, Susanne Hericks, Willma de Sousa, da artista plástica Ginga Artimista e do fotógrafo e activista cultural Nelson dos Santos.

Uma das principais finalidades da associação segundo Sandra é a aposta no empreendedorismo social e cultural, através de iniciativas como o Nkiela, projecto ligado ao desenvolvimento da cultura, turismo e ambiente, especialmente na comuna do Mucusso, no Cuando Cubango.

Ademais, procura, também dar a conhecer os artistas angolanos, das várias disciplinas, residentes na região norte da Europa, além de deixar em aberto possíveis parcerias num futuro próximo.

Tribuna de Angola

Ler em Tribuna de Angola:

Conventicular 

GLORIFICAÇÃO E FINANCIAMENTO DO NAZISMO -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Em Dezembro de 2021, há apenas três meses, a Assembleia-Geral da ONU aprovou uma proposta da Federação Russa que condenava o nazismo e neonazismo no mundo. Dois países votaram contra, o estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) e Ucrânia. Em tempo de propaganda desbragada, os jornalistas têm especial dever de se aterem aos factos, só factos e nada mais do que factos. Ninguém lerá nas minhas crónicas uma especulação ou uma réstia de propaganda. Quem quiser, pode consultar o texto desta proposta e a respectiva votação.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) pediu ao governo da Ucrânia “para destruir todos os patógenos (bactérias e vírus) potencialmente perigosos dos seus laboratórios”. Ainda bem. Porque esta semana que agora termina, o porta-voz do Ministério da Defesa russo acusou os EUA de “patrocinarem um programa de armas biológicas na Ucrânia”. 

Moscovo garante que foram encontradas evidências desta denúncia, em laboratórios ucranianos. E foi divulgada abundante documentação apreendida nesses laboratórios. “O objetivo desta pesquisa biológica, financiada pelo Pentágono na Ucrânia, era criar um mecanismo para a disseminação furtiva de patógenos mortais", disse o porta-voz do Ministério da Defesa, Igor Konashenkov.

O Governo de Pequim, nos últimos meses, instou Washington a revelar a rede mundial dos laboratórios onde existem actividades financiadas pelo Pentágono. Suspeita-se que estejam a produzir armas químicas e biológicas. O governo dos EUA diz que as alegações são hilariantes. Mas não revela a lista dos laboratórios que financia, sobretudo nos países da OTAN (ou NATO) vizinhos da Federação Russa. 

Em Janeiro deste ano surgiram graves confrontos na capital do Cazaquistão, Nursultan (antiga Alma-Ata). As tropas da Federação Russa “estabilizaram e normalizaram a situação” segundo uma nota da Presidência da República daquele país. Em Kiev e Kharkov, segunda maior cidade ucraniana, realizaram-se manifestações de protesto pela intervenção russa. Em represália pela acçãoo no Cazaquistão, milícias nazis do Batalhão de Azov executaram civis russos no Leste da Ucrânia onde, segundo relatórios públicos da Agência da ONU para os Direitos Humanos, há uma limpeza étnica desde 2014. 

As tropas da Federação Russa estabilizaram a situação social e política no Cazaquistão, mas também destruíram o maior laboratório instalado pelos EUA no país. Há a suspeita de que estavam a ser produzidas armas químicas e biológicas naquela unidade. Até hoje não foram reveladas provas. O Cazaquistão tem uma longa fronteira com a República Popular da China (região autónoma de Xinjiang) e a Federação Russa.

Operação militar especial na Ucrânia para desarmar e desnazificar o país. Angola foi pioneira numa intervenção do género. Os comandantes militares angolanos, quando Jonas Savimbi rasgou o Protocolo de Lusaka depois de espezinhar o Acordo de Bicesse, decidiram desarmar os marginais que se colocaram contra o regime democrático. Era essencialmente uma operação policial. Mas como os delinquentes capitaneados por Jonas Savimbi foram armados até aos dentes pelos ucranianos, foi preciso mobilizar as Forças Armadas Angolanas. A operação tinha também uma vertente política. 

A direcção da UNITA colaborou intimamente com os nazis de Pretória. Sim, na África do Sul existia um regime que tinha como base os valores do nazismo, plasmados no apartheid. Este convívio fez do Galo Negro uma organização política com a lógica das seitas. Altamente perigosa. Derrotados os sul-africanos, os seus ajudantes, à solta, tornaram-se muito perigosos. O pesadelo acabou no Lucusse, em 22 de Fevereiro de 2002. A Polícia Nacional e as Forças Armadas Angolanas conseguiram desarmar os bandoleiros e alguns foram mortos quanto tentavam alvejar as forças da ordem.

Na época ficou por realizar a segunda vertente da operação, que era desnazificar Angola ilegalizando a UNITA. O proverbial humanismo e a desmedida generosidade dos angolanos consentiram que os nazis continuassem a fazer parte do panorama político. Com seitas de fanáticos as contemplações são perigosas. O erro original tem imposto ao Povo Angolano grande sofrimento e é fonte de muita instabilidade social. Vamos resolver isso em Agosto. A UNITA tem de ser remetida para uma votação residual. Como aconteceu aos nazis da FNLA. O que restar, já não faz mal a ninguém.

O nazismo causou muita desgraça em Angola antes e depois da Independência Nacional. Os nazis de Pretória, em 23 de Agosto de 1981, invadiram a província do Cunene, (Operação Protea) e ocuparam uma faixa de 200 quilómetros desde a fronteira até à província da Huíla. Foram derrotados na Cahama. Levaram a guerra à província do Cuando Cubango. Foram esmagados no Triângulo do Tumpo. A seita nazi da UNITA deu cobertura a estes assaltos que causaram milhares de mortos e milhões de deslocados e refugiados.

Na noite de 24 de Dezembro de 1987, o general sul-africano Liebenberg visitou o posto de comando táctico no Cuando Cubango e exigiu ao operacional  coronel Fouché: “No máximo, entre os dias 2 e 5 de Janeiro de 1988 temos que colocar a UNITA no Cuito Cuanavale”. Na página 192 do livro “War in Angola: The Final South African Phase”, de Helmoed-Roemer Heitman, está escrito: “O general Liebenberg chegou ao posto de comando táctico sul-africano, com pelo menos mais cinco generais. Aí decidiram que no dia 2 de Janeiro as FAPLA tinham de conhecer o inferno”. Foi, precisamente, o contrário.

 Em 23 de Março de 1988 as tropas invasoras estavam derrotadas e Savimbi só sobreviveu porque Washington lhe deu a oportunidade de disputar as primeiras eleições multipartidárias em Angola. Derrotado eleitoralmente, sublevou-se até morrer em combate algures nas terras do Lunguébungo.

O 23 de Março (faltam poucos dias) é o Dia da Libertação da África Austral. O fim do regime nazi da África do Sul. Mas os nazis da UNITA continuam entre nós. Temos de resolver isso com a arma do voto. Nas eleições de Agosto vamos desnazificar Angola.

* Jornalista

Ucrânia | Jornalista norte-americano morre depois de ter sido baleado em Irpin

Um jornalista norte-americano morreu este domingo e um outro ficou ferido depois de terem sido alvejados em Irpin, nos subúrbios de Kiev, avança a AFP que cita médicos e testemunhas.

Danylo Shapovalov, um cirurgião voluntário, explicou que um dos norte-americanos morreu de imediato, mas o outro foi assistido. Os jornalistas da AFP relatam ter visto o corpo da vítima mortal.

No Twitter, o The New York Times, a quem o jornalista foi inicialmente ligado por transportar consigo uma credencial do jornal, escreve que Brent Renaud era um "cineasta experiente".

"Embora ele tenha trabalhado com o The Times no passado (mais recentemente em 2015), não estava a trabalhar para qualquer das editorias do The Times na Ucrânia. Os relatos iniciais de que trabalharia para o Times circularam porque estava a utilizar uma credencial de imprensa emitida para outra reportagem há muitos anos", lê-se.

Gonçalo Teles | TSF

Sobe para 35 o número de mortos após ataque a base perto de Lviv. Há 134 feridos

Equipamento atacado fica a 20 quilómetros da fronteira da Ucrânia com a Polónia.

Pelo menos 35 pessoas morreram este domingo e 134 ficaram feridas num bombardeamento que visou uma base militar perto de Lviv, no oeste da Ucrânia, segundo um novo balanço adiantado pelo governador da região, Maxim Kozitsky.

Um primeiro balanço tinha revelado a morte de pelo menos nove pessoas e de 57 feridos neste ataque à base de Yavoriv, a cerca de 40 quilómetros a noroeste de Lviv e a cerca de 20 quilómetros da fronteira com a Polónia.

De acordo com informações preliminares, as forças russas dispararam oito mísseis, disse a administração regional de Lviv, num comunicado inicial.

Esta base militar em Yavoriv serviu, nos últimos anos, como campo de treino para as forças ucranianas sob a supervisão de instrutores estrangeiros, principalmente americanos e canadianos.

A base de Yavoriv também foi um dos principais centros usados para exercícios militares conjuntos entre as forças ucranianas e da NATO. As tropas estrangeiras deixaram a Ucrânia pouco antes do início da invasão russa.

É também a esta base que chega parte da ajuda militar entregue à Ucrânia pelos países ocidentais.

O ataque relatado hoje ocorre depois de a Rússia ter ameaçado no sábado atingir armas que os países ocidentais estão a enviar para a Ucrânia, incluindo sistemas de defesa aérea portáteis e sistemas de mísseis antitanque.

O Exército russo, que iniciou a invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro, concentrou os seus objetivos no leste e sul do país, bem como ao redor da cidade de Kiev.

Há vários dias, os ataques também atingem áreas do oeste do país, próximos às fronteiras com a Polónia e a Moldova, os pontos mais utilizados pelos ucranianos que se querem refugiar na União Europeia.

A ofensiva militar russa na Ucrânia já causou pelo menos 564 mortos e mais de 982 feridos entre a população civil e provocou a fuga de cerca de 4,5 milhões de pessoas, entre as quais 2,5 milhões para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas a Moscovo.

TSF | Lusa | Imagem: © Jason Connolly/AFP

União do Povo Romani denuncia maus-tratos a ciganos ucranianos nas fronteiras

Chefe da união denuncia que, em alguns casos, "os ciganos são agredidos fisicamente nos postos fronteiriços" e durante "os processos para conseguirem refúgio".

União do Povo Romani denunciou este domingo casos de maus-tratos e discriminação contra pessoas de etnia cigana que atravessam as fronteiras da Ucrânia em fuga da invasão russa, segundo informações relatadas por organizações nos países vizinhos.

Face a esta situação, a associação saúda o facto de os ciganos se terem mobilizado, especialmente os dos países vizinhos.

E de, em Espanha, terem existido "várias organizações ciganas que puseram os seus recursos a trabalhar para chegar à fronteira polaca com a Ucrânia para entregar vestuário e alimentos e trazer" para território espanhol "as famílias que os querem acompanhar".

Em comunicado, enviado à agência EFE, o chefe da União do Povo Romani, Juan de Dios Ramírez-Heredia, expressa a sua "consternação" perante a notícia de que, em alguns casos, "os ciganos são agredidos fisicamente nos postos fronteiriços" e durante "os processos para conseguirem refúgio".

"Encontraram uma discriminação 'brutal' de ambos os lados das fronteiras", da Ucrânia e dos Estados vizinhos, relatada por grupos de direitos humanos, pode ler-se na nota de imprensa.

Informadores de organizações ligadas à comunidade de etnia cigana falam de segregação nos autocarros, esperas mais longas em filas sob as inclemências do tempo, uma maior vigilância das mães ciganas ou discriminação por parte dos guardas de fronteira.

Em contraste, Juan de Dios Ramírez-Heredia explica que existem organizações nos países limítrofes da Ucrânia que estão a fazer "um trabalho extraordinário ao acolher famílias ciganas que estão a tentar sair do inferno da guerra".

"Não devemos esquecer que a Ucrânia é um país muito grande e que faz fronteira com sete países", disse, salientando que a população cigana nestes países ultrapassa cinco milhões de pessoas.

Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já causou pelo menos 564 mortos e mais de 982 feridos entre a população civil e provocou a fuga de cerca de 4,5 milhões de pessoas, entre as quais 2,5 milhões para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas a Moscovo.

TSF | Lusa

A CIA ESTÁ A TREINAR O TERROR NEONAZI NA UCRÂNIA

Branko Marcetic* | Jacobin | Tradução de Cauê Seignemartin Ameni

A CIA vem treinando secretamente grupos anti-russos na Ucrânia desde 2015. Tudo o que sabemos aponta que estes grupos são neonazistas - e eles estão inspirando terroristas de extrema direita no mundo todo.

governo dos EUA tem um histórico bem documentado de apoio a grupos extremistas como parte de uma panóplia de desventuras na política externa, que inevitavelmente acabam voltando e explodindo na cara do público norte-americano. Na década de 1960, a CIA trabalhou com radicais cubanos anti-Fidel Castro que transformaram Miami em um centro de violência terrorista. Na década de 1980, a agência apoiou e encorajou os radicais islâmicos no Afeganistão, que iriam orquestrar o ataque de 11 de setembro anos depois. E, na década de 2010, Washington apoiou os rebeldes não tão “moderados” da Síria que acabaram causando uma série de atrocidades entre civis e forças curdas que deveriam ser aliados dos EUA na região.

Com base em um novo relatório, parece que em breve poderemos adicionar outro conluio a essa lista de lições fatalmente não aprendidas: neonazistas ucranianos.

De acordo com uma reportagem recente Yahoo! News, desde 2015, a CIA treina secretamente forças na Ucrânia para servir como “líderes insurgentes”, nas palavras de um ex-oficial de inteligência, caso a Rússia acabe invadindo o país. Funcionários atuais estão alegando que o treinamento é puramente para coleta de inteligência, mas os ex-funcionários que falou com o Yahoo! disse que o programa envolvia treinamento em armas de fogo, camuflagem, entre outras práticas paramilitares.

Dados os fatos, há uma boa chance de que a CIA esteja treinando nazistas, literalmente, como parte desse esforço. O ano em que o programa começou, 2015, também foi o mesmo ano em que o Congresso aprovou uma lei de gastos que incluía centenas de milhões de dólares em apoio econômico e militar à Ucrânia, que foi expressamente modificado para permitir que esse apoio fluísse para milícias neonazista no país, como o Regimento Azov. De acordo com o The Nation na época, o texto do projeto de lei aprovado em meados daquele ano continha uma emenda explicitamente barrando “armas, treinamento e outras assistências” a Azov, mas o comitê da Câmara encarregado pelo projeto foi pressionado meses depois pelo Pentágono para remover a linguagem, dizendo que era falsa e redundante.

Apesar da sua histórica relação com o nazismo – um ex-comandante disse uma vez que a “missão histórica” da Ucrânia é “liderar as raças brancas do mundo em uma cruzada final por sua sobrevivência” em “uma cruzada contra os untermenschen [subhumano] liderados pelos semitas” –, o grupo Azov foi incorporado à Guarda Nacional do país em 2014, devido à sua eficácia no combate aos separatistas russos. Armas norte-americanas fluíram para a milícia, oficiais militares da OTAN e dos EUA foram fotografados se reunindo com eles, e membros da milícia falaram sobre seu trabalho com treinadores dos EUA e a falta de triagem de antecedentes para eliminar os supremacistas brancos.

Diante de tudo isso, não seria surpreendente que os neonazistas de Azov tenham sido treinados no programa clandestino de insurgência da CIA. E já estamos vendo os primeiros sinais de bumerangue da história se repetir.

“Vários indivíduos de grupos de extrema direita nos Estados Unidos e na Europa buscaram ativamente relacionamentos com representantes da extrema direita na Ucrânia, especificamente o Guarda Nacional e sua milícia associada, o Regimento Azov”, afirma um relatório de 2020, do Centro de Combate ao Terrorismo da Academia Militar dos EUA de West Point. “Indivíduos baseados nos EUA falaram ou escreveram sobre como o treinamento disponível na Ucrânia pode ajudá-los em suas atividades paramilitares.”

Uma declaração do FBI de 2018 afirmou que Azov “acredita ter participado de treinamento e radicalização de organizações de supremacia branca sediadas nos Estados Unidos”, incluindo membros do movimento supremacista branco Rise Above, processado por ataques planejados a contra manifestantes em eventos de extrema direita, incluindo o comício “Unite the Right” de Charlottesville. Embora pareça que o atirador do massacre da mesquita de Christchurch não tenha viajado para a Ucrânia como ele afirmou, ele claramente se inspirou no movimento de extrema direita de lá e usou um símbolo usado por membros de Azov durante o ataque.

Desde que assumiu o cargo, Joe Biden lançou uma incipiente “guerra ao terror” doméstica com base no combate ao terrorismo de extrema direita, embora a estratégia vise discretamente atingir manifestantes e ativistas de esquerda também, algo está sendo feito. No entanto, ao mesmo tempo, os três últimos governos, incluindo o de Biden, têm fornecido treinamento, armas e equipamentos para o movimento de extrema direita que está inspirando e até treinando esses mesmos supremacistas brancos.

Destruindo a vila para salvá-la

Vale lembrar o absurdo que é a razão pela qual Washington tem dado assistência aos nazistas ucranianos para que eles possam servir como um baluarte contra a Rússia, que os falcões de guerra comparam, como sempre, ao regime de Adolph Hitler e sua expansão pela Europa na década de 1930. Embora a Rússia de Vladimir Putin possa ser um ator malévolo em várias frentes, as recentes incursões de Putin em Estados vizinhos como a Ucrânia são impulsionadas em grande parte pela expansão da aliança militar da OTAN até suas fronteiras e as implicações de segurança que a acompanham.

Em outras palavras, para frear o que os falcões da guerra classificam como o próximo Hitler e a Alemanha nazista, Washington tem apoiado milícias neonazistas na Ucrânia, que por sua vez estão se comunicando e treinando supremacistas brancos nos EUA, que Washington, por sua vez, está alimentando uma burocracia repressiva ameaçadora para combater. É o que alguns chamam de “enxugando gelo” – as forças de segurança nacional dos EUA estão criando as mesmas ameaças que dizem combater. Em vez de acalmar as tensões simplesmente concordando com as antigas demandas russas de estabelecer um limite rígido para a expansão da OTAN para o leste, Washington aparentemente decidiu que o domínio militar planetário ilimitado é tão importante que vale deitar na cama com fascistas reais.

A aliança dos EUA com a Ucrânia, infectada pelos nazistas, já se mostrou estranha para um presidente que está tentando contrastar com seu antecessor de extrema direita para estabelecer a Casa Branca como líder de um esforço global para fortalecer a democracia. No final do ano passado, em uma votação que passou completamente despercebida na imprensa, os EUA foram um dos dois países (o outro é a Ucrânia) a votar contra um projeto de resolução da ONU “que combate a glorificação do nazismo, neonazismo e outras práticas que possam contribuir para alimentar formas contemporâneas de racismo”. Ambos os países votaram repetidamente contra esta resolução todos os anos desde 2014.

O governo Biden empregou uma explicação quase idêntica e clichê para o voto negativo que Donald Trump usou, citando o direito constitucional à liberdade de expressão mesmo para aqueles com opiniões repugnantes. Mas essa preocupação é difícil de conciliar com o texto, que simplesmente expressa preocupação com memoriais públicos, manifestações e reabilitação dos nazistas, condena a negação do Holocausto e a violência de ódio e pede aos governos que eliminem o racismo por meio da educação e enfrentem ameaças terroristas de extrema direita – tudo mais ou menos alinhada a própria retórica de Biden.

A verdadeira preocupação de Washington aqui reside na descrição da resolução como “tentativas veladas de legitimar as campanhas de desinformação russas que denigrem as nações vizinhas” – ou seja, a Ucrânia. Mas as conexões da Ucrânia com o nazismo moderno estão longe de ser notícias falsas russas, e são de fato extensas e bem documentadas: desde a incorporação oficial de Azov nas fileiras da polícia ucraniana e funcionários do governo com laços de extrema direita até tributos patrocinados pelo Estado a colaboradores nazistas e promoção da negação do Holocausto.

Não é pouca ironia que o presidente dos EUA, eleito em grande parte para deter a marcha do fascismo, continue alimentando essa relação histórica com os nazistas no que pode muito bem ser o nexo do fascismo internacional. E se esses nazistas ucranianos realmente estão entre os insurgentes treinados pela CIA, não será uma tragédia pequena se um dia seguirem a mesma trajetória de Osama bin Laden.

*BRANKO MARCETIC - é escritor da redação da Jacobin e mora em Toronto, Canada.

Publicado em Jacobin em 17/01/2022

Armas sem precedentes dos EUA e OTAN para a Ucrânia podem prolongar a guerra

# Publicado em português do Brasil

Jeremy Scahill | The Intercept

As nações ocidentais devem se perguntar se o atual curso de ação é mais ou menos provável de ajudar a acabar com a terrível violência que está sendo imposta à população civil da Ucrânia.

O MAIOR traficante de armas do mundo, os Estados Unidos, está liderando um esforço entre as nações da OTAN para aumentar drasticamente o fluxo de armas para o governo sitiado em Kiev. Embora o governo Biden tenha resistido aos pedidos de uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia, um movimento que poderia resultar em uma guerra aberta entre as principais potências nucleares, as transferências de armas representam uma escalada significativa do envolvimento ocidental.

Apesar dos fortes esforços nas últimas semanas dos governos da OTAN e de muitos grandes meios de comunicação para minimizar ou extirpar o papel relevante que as potências ocidentais desempenharam nos anos que antecederam a brutal invasão da Rússia, houve uma guerra por procuração sustentada na Ucrânia entre Moscou e Washington por uma década. . A menos que o resultado desejado seja uma guerra de espectro total entre a Rússia e o bloco EUA-OTAN, as nações ocidentais – particularmente os EUA – devem se perguntar se o atual curso de ação é mais ou menos provável de facilitar o fim da horrível violência que está sendo imposta. sobre a população civil da Ucrânia.

Ao longo de seus dois mandatos, o governo Obama resistiu a fornecer assistência abertamente letal à Ucrânia, preocupado que tal medida dos EUA provocasse o presidente russo, Vladimir Putin. Mesmo após a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014, o presidente Barack Obama manteve essa posição, embora seu governo tenha fornecido uma série de outras assistências militares e de inteligência não letais à Ucrânia, incluindo treinamento. Essa postura mudou sob o presidente Donald Trump, e Washington iniciou um fluxo relativamente modesto de remessas de armas. Apesar da tentativa de Trump de persuadir a Ucrânia a se envolver em sua batalha eleitoral com Joe Biden , o apoio militar dos EUA a Kiev aumentou constantemente.

Mesmo antes da invasão da Rússia, o governo Biden havia iniciado um processo de aumento da ajuda letal. Em seu primeiro ano no cargo, Biden  aprovou  mais ajuda militar à Ucrânia – cerca de US$ 650 milhões – do que os EUA já haviam fornecido. Em 26 de fevereiro, como resultado da invasão de Putin, as grades de proteção se soltaram: um pacote de armas adicional “ sem precedentes ” de US$ 350 milhões foi lançado. Agora há amplo apoio bipartidário em Washington para  US$ 13,5 bilhões imediatos e agressivos . esforçopara enviar armas americanas e outra assistência, incluindo ajuda humanitária, para a Ucrânia. O pacote também cobrirá o custo de desdobramentos adicionais de ativos e tropas militares dos EUA na região. Historicamente, os envios de armas para a Ucrânia levam meses para serem implementados. Agora eles estão se movendo em poucos dias.

O HUMANISMO OCIDENTAL É DECENTE?

Pedro Tadeu* | Diário de Notícias | opinião

Por ser um bom cidadão do mundo ocidental condeno a invasão russa da Ucrânia, participo em manifestações contra Putin, choro os mortos de Kiev, comovo-me com o drama dos refugiados ucranianos, sou solidário com as vítimas da brutalidade russa e recuso comprar produtos russos. E faço-o com convicção.

Mas isto não chega, isto é humanismo genérico, serve para qualquer um em qualquer parte do mundo - o humanismo ocidental é especial, o humanismo ocidental é único, o humanismo ocidental é original, o humanismo ocidental exige mais de mim...

O humanismo ocidental é seletivo: ignorou os 12 mil haitianos enviados pelos Estados Unidos para a prisão de Guantánamo e a invasão do país em 1994; ignorou a instigação e a participação da NATO nas guerras da Jugoslávia e os seus 150 mil mortos; ignorou as duas Guerras do Golfo, a mentira que desculpou uma delas e os 100 mil mortos diretos que os combates provocaram; ignorou mais 100 mil mortos que o Iraque "protegido" pela coligação internacional lá instalada provocou; ignorou a presença norte-americana durante 20 anos no Afeganistão e os 65 mil mortes que ali ocorreram; ignorou os envolvimentos, desde 2001, diretos ou indiretos, de forças ocidentais na Síria (estimam-se 400 mil mortes); ignora o que se passa na Somália e no Iémen; ignora a ocupação da Palestina por Israel e, nos últimos anos, os 21 500 mortos desse conflito.

O humanismo ocidental tem coração mole para um lado e coração de pedra para o outro. As guerras espalhadas pelo mundo com envolvimento do Ocidente somam, em 30 anos, quase um milhão de mortos, a grande maioria civis, mas o bom cidadão ocidental não chora por eles.

O humanismo ocidental é dúbio. Condena vigorosamente a prisão do opositor de Putin, Alexei Navalny, mas deixa apodrecer na cadeia o denunciador das brutalidades das tropas americanas e da NATO, Julian Assange.

Portugal | MEU BEM


Henrique Monteiro | HenriCartoon

Portugal | A CONDENAÇÃO DE RICARDO SALGADO

Cândida Almeida* | Jornal de Notícias | opinião

Ricardo Salgado foi condenado a pena única de seis anos de prisão, em cúmulo jurídico de três penas parcelares de quatro anos de prisão, pela prática de três crimes de abuso de confiança. A sentença ainda não transitou, dela naturalmente serão interpostos recursos.

Nesta fase, e com o conhecimento rudimentar do conteúdo da decisão, três apontamentos a registar: o primeiro resulta dos factos e dos crimes pelos quais foi condenado. Daqui se pode concluir que esta matéria nada tem a ver com o chamado processo Marquês, não tinha que dele fazer parte, porquanto nada tem a ver com os crimes de corrupção activa e passiva, estabelecidos como objectivo da investigação. Os factos de um e de outro não se interligam, não existe qualquer rede de comparticipação e co-responsabilidade criminal entre eles. Esperemos que não se verifiquem outras situações semelhantes no conjunto dos milhares de volumes, dezenas de arguidos, centenas ou milhares de outros meios de prova carreados para aquele processo e que afinal nada têm a ver com ele. É esta confusão e tendência para acrescentar factos e agentes que não estão na mesma esfera de investigação que ocasiona o mal-estar contra os megaprocessos. Estes são imprescindíveis, não divisíveis, quando em causa estão teias entre vários arguidos e vários factos criminosos cometidos na sequência uns dos outros. Não é o caso da presente condenação, cujo processo deveria ter sido instaurado autonomamente. Em minha opinião, andou mal o MP. O segundo apontamento reporta-se à pena de seis anos de prisão. Considerando a gravidade dos factos, as consequências negativas provocadas, a responsabilidade de um banqueiro prestigiado como ele era acrescenta-lhe uma responsabilidade criminal especial, que esta pena não reflecte. Só a situação de doença e a sua idade podem justificar a bondade da decisão. As penas superiores a cinco anos de prisão são sempre efectivas. As penas de prisão parcelares aplicadas tiveram em consideração por força de lei a culpa do arguido, o dolo e o modo de execução, as exigências da prevenção e todas as circunstâncias que militem a favor e contra o arguido. Mais uma vez, a benevolência destas penas deve ter resultado da sua saúde precária e idade. O cúmulo jurídico na pena única de seis anos resulta da ponderação e das razões que levaram à aplicação das penas parcelares, não resultando dessa análise um desvalor de tal modo expressivo que exigisse o agravamento excessivo da medida única que deve ser imposta. Ou seja, nesta hão-de ser considerados o conjunto dos factos cometidos e a personalidade do agente. O terceiro apontamento refere-se à não repercussão na execução da pena da doença de Alzheimer de que padece o arguido. Sabendo-se que esta é uma doença neurológica degenerativa e evolutiva, que pode provocar uma percepção errada da realidade, necessariamente há que apurar, através de perícia adequada, o estádio actual da doença para efeitos de cumprimento da pena em estabelecimento prisional ou não.

*Ex-diretora do DCIAP

A autora escreve segundo a antiga ortografia

Português que estava em Dnipro já conseguiu chegar a Lviv. Segue-se a Polónia

Viagem entre as duas cidades demorou 18 horas. A viagem para Portugal vai ser feita com o apoio dos serviços consulares na Polónia.

O português João Metelo, a mulher e a sogra já conseguiram sair da cidade ucraniana de Dnipro, a quarta maior do país, e chegaram a Lviv numa viagem de autocarro feita com outros refugiados.

Na última sexta-feira, João Metelo contava à TSF, ainda em Dnipro, que a cidade tinha sido atingida por três mísseis de cruzeiro. Agora, depois de mais de 900 km e 18 horas de uma "desconfortável" viagem pelo sul da Ucrânia, foi ao som de sirenes que o grupo chegou a Lviv "por volta das 6h00".

"Fizemos poucas paragens para poupar tempo e agora aqui está uma grande confusão", conta. Agora há que "queimar tempo" até serem horas de apanhar o autocarro para a Polónia, onde vão ser acolhidos pelos serviços consulares e encaminhados para um voo com destino a Portugal.

Em Lviv há casas de banho com filas "enormes" e pessoas que na rua "dão comida de graça a quem quiser, sopa ou sandes".

A viagem do português de 30 anos ficou marcada pela paragem num dos pontos de controlo, quando um soldado ucraniano entrou no autocarro para verificar os passaportes: "Tinha 18 anos mal feitos, dava para ver na cara dele que não era naquela situação que queria estar."

O regresso a Portugal prossegue dentro de momentos. Dnipro já ficou para trás, Lviv é por agora o ponto de escala. Segue-se a Polónia.

Ana Maria Ramos | TSF

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