Ninguém pode ensinar o que não
sabe. Só transmitimos aos outros o que aprendemos e sabemos. O que não brotar
do saber é mentira, ilusão, delírio, mistificação. Os nossos actos são sempre
fruto do conhecimento adquirido ou então meras imitações do que vemos fazer aos
outros. Também podem ser fruto da irresponsabilidade ou da ignorância.
No dia 15 de Março do ano de 1961
o Norte de Angola foi palco da Grande Insurreição Popular contra o
colonialismo. Está institucionalizado como o Dia Nacional da Expansão da Luta
Armada de Libertação Nacional, iniciada em 4 de Fevereiro de 1961.
O 15 de Março ensombrou a minha
vida quando era adolescente. Nunca mais as sombras saíram do meu espaço vital.
Sempre nublado, sempre ameaçando tempestade, sempre oprimindo alegrias breves.
Vi morrer amigos. Vi matar seres humanos como se fossem feras, apenas porque
eram negros. Mataram as minhas amigas, os meus amigos, os meus mestres, as
minhas mamãs, a minha gente. Mas sem o 15 de Março não teria existido a
Independência Nacional.
Na época, intelectuais angolanos,
nacionalistas revolucionários, pronunciaram-se contra as acções armadas
dirigidas pela União dos Povos de Angola (UPA). Até chamaram terroristas aos
revoltosos. Criminosos. Eu sei lá. Que injustiça! As mulheres e homens que se
ergueram contra o colonialismo, de mãos nuas, com paus, catanas e, às vezes, um
canhangulo desconjuntado agiram exactamente como viram fazer durante décadas e
séculos. Os colonialistas torturavam, estripavam, matavam negros como quem bebe
um copo de água. No dia da grande revolta, os revoltosos apenas imitaram o que
viram e aprenderam.
A UPA mobilizou milhares de
camponeses para a Grande Insurreição porque os doutrinadores lhes disseram que
iam receber um feitiço que os tornava invulneráveis às armas dos brancos. Era
um pauzinho e uma muxinga. No meu colégio do Uíje estávamos nas férias da
Páscoa quando rebentou a revolta. Os alunos dos anos de exame (segundo e quinto
ano) não tiveram direito a férias, ficaram com aulas de reforço para não
fazerem má figura quando fossem fazer exame ao Liceu Salvador Correia como
alunos externos.
Um colega meu que andava no
quarto ano foi de férias para a sua terra, o Quitexe. Escapou ao ataque e
refugiou-se com a família no nosso internato. Contou-me que os revoltosos, de
mãos nuas, com paus ou catanas, ouviam os tiros das caçadeiras, das carabinas,
das pistolas e gritavam: Maza! Maza! Maza! Mas as balas não eram água.
Hoje o Jornal de Angola publicou
um editorial sobre a Grande Insurreição, em 15 de Março de 1961. Assim
escreveram: “Trata-se de uma data em que os militantes do então movimento
nacionalista UPA-FNLA, inspirados por um conjunto de actos heróicos de gerações
precedentes contra a ocupação colonial, desencadearam acções corajosas que
ajudaram a mudar o curso dos acontecimentos no que a Luta Armada pela
Independência dizia respeito”.
A marca distintiva do jornalismo
é o rigor. Por isso, em todos os Media do mundo há profissionais seniores que
limpam todos os erros nas mensagens informativas. Anulam todas as omissões.
Garantem a correcção da linguagem jornalística. Escrever num editorial que em
15 de Março de 1961 existia um movimento nacionalista chamado UPA-FNLA é uma
falsificação da História de Angola. Um erro grave. Uma falsificação. É
espezinhar o rigor enquanto marca do jornalismo. Na época ainda não existia a
Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA). Isto mais parece o efeito da
cobertura mediática ocidental, à operação militar especial da Federação Russa
na Ucrânia.
Vamos a isso. Uma aldeia da
Ucrânia. A senhora Nina, 71 anos, dizia empolgada à CNN: “Se o Putin aparecer
aqui estrangulo-o. Se aparecerem soldados russos atiro-lhes granadas, o meu
dedo não vai tremer quando disparar sobre eles”.
Os habitantes da pequena aldeia
posavam para a câmara da CNN. Eram civis armados até aos dentes, à espera dos
“invasores”. Se chegarem as tropas da Federação Russa e forem recebidas a tiro,
vão responder com tiros. Se a velhota Nina e seus vizinhos morrerem, são civis
mortos por Purtin. O qual não.
O presidente da Ucrânia diz que
todo o país é linha da frente. Cada rua, cada casa, cada prédio, é linha da
frente. Cada ucraniano é um combatente, um defensor da pátria. As televisões de
todo o mundo mostram militares ucranianos a distribuir armas a civis. Os
portugueses, sempre diferentes, mostram nas suas televisões longas filas de
homens à porta de casas que vendem armas. Todos à espera da oportunidade de
comprar o seu “ferro”. Um homem ia a passar e disse muito despachado a um
repórter que já foi orelhudo e agora é escritor da pátria: - Eu não vou comprar
armas, o governo está a distribuí-las a quem quiser”.
Homens armados disparando sobre
outros, armados ou desarmados, pode dar tiroteio e mortes. Os nazis de Zelensky
escondem-se nos prédios, nas escolas, nos hospitais, nos teatros, em tudo
quanto é local público. De lá disparam sobre as tropas da Federação Russa. Os
locais donde vem o fogo são arrasados. Depois dizem que os russos cometem
crimes de guerra. Mas é o contrário. Crime de guerra é armar civis como fizeram
os colonialistas em 1961, criando as milícias assassinas. Crime de guerra é
fazer de civis escudos humanos, como faziam os bandoleiros de Jonas Savimbi.
Crime de guerra é montar armas pesadas em zonas residenciais como fizeram os
sicários da UNITA no Huambo e outras cidades e vilas angolanas.
Uma “comentadora” portuguesa
disse sem se rir que “a Rússia já perdeu a guerra porque foi banida do
Ocidente”. Num país onde o máximo que se produz é latas de sardinhas e dívidas gigantescas,
uma lambisgoia engana os telespectadores e engana-se a ela própria. Ainda não
perceberam que a Federação Russa, a República Popular da China, a União Indiana
e outras “potências emergentes” não querem ter nada a ver com este “ocidente”
nazificado. E não tarda muito, vai ser montado um cordão sanitário à volta da
União Europeia e do estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) para conter
o nazismo e a democracia liberal.
Joe Biden acaba de despachar sete
mil milhões de dólares para armar a Ucrânia. Isto significa que o dito ocidente
vai continuar a fazer de todo um povo, carne para canhão. Mais um hediondo
crime de guerra. Nem as mamãs “barrigas de aluguer” vão escapar. Lá se vai o
maior negócio da Ucrânia que é vender bebés aos ricaços do ocidente.
*Jornalista