Thierry Meyssan*
A presença organizada pelo Estado de neo-nazis no seio do Exército ucraniano não é anedótica, mesmo não sendo possível quantificá-la de maneira precisa. Já, pelo contrário, é fácil quantificar as suas vítimas. Perante a indiferença geral, eles mataram 14. 000 Ucranianos em oito anos. Esta situação é uma das causas da intervenção militar russa na Ucrânia. Israel vê-se confrontado pela primeira vez com aquilo que jamais podia imaginar : o apoio do seu protector EUA ao seu inimigo histórico, o nazismo.
Este artigo dá seguimento a:
1. « A
Rússia quer obrigar os EUA a respeitar a Carta das Nações Unidas », 5
de Janeiro de 2022.
2. « Washington
prossegue o plano da RAND no Cazaquistão, a seguir na Transnístria »,
11 de Janeiro de 2022.
3. « Washington
recusa ouvir a Rússia e a China », 18 de Janeiro de 2022.
4. « Washington
e Londres, atingidos de surdez », 1 de Fevereiro de 2022.
5. « Washington
e Londres tentam preservar a sua dominação sobre a Europa », 8 de
Fevereiro de 2022.
6. “Duas
interpretações do processo ucraniano”, 16 de Fevereiro de 2022.
7. «Washington
canta vitória, enquanto seus aliados se retiram », 22 de Fevereiro de
2022.
8. «A Rússia
declara guerra aos Straussianos», 3 de Março de 2022.
9. «Um bando de
drogados e de neo-nazis», 5 de Março de 2022.
Israel está confrontado com um problema inesperado face à crise ucraniana: é verdade, tal como pretende Moscovo (Moscou-br), que o país está nas mãos de um «bando de neo-nazis» financiado por judeus ucranianos e norte-americanos? Se sim, é um dever moral para Telavive clarificar a sua posição sobre os judeus que apoiam nazis, independentemente qualquer outra tomada de posição sobre a crise ucraniana.
A questão é tanto mais cruel quando os poucos judeus norte-americanos que apoiam, ou instrumentalizam, os grupos nazis ucranianos são um grupúsculo de uma centena de pessoas, os Straussianos, actualmente no Poder no circulo imediato do Presidente Joe Biden.
QUE REPRESENTAM OS NEO-NAZIS UCRANIANOS?
Em Fevereiro de
Tornado Ministro do Interior, Arsen Avakov, que havia sido governador de Kharkiv durante o anterior regime e um dos organizadores do Euro 2012, autorizou a formação de uma força paramilitar de 12.000 homens, em torno dos hooligans da «Seita 82» para defender a « revolução ». Em 5 de Maio de 2014, o « Batalhão Azov » ou « Corpo do Leste » era oficialmente constituído sob o comando de Andriy Biletsky.
Este, chamado o « führer branco », é um teórico do nazismo. Tinha sido o líder dos « Patriotas da Ucrânia », um grupúsculo neo-nazi partidário de uma Grande Ucrânia e violentamente anti-comunista.
Andriy Biletsky e Dmitro Yarosh fundaram juntos o «Sector Direito» (Pravyi Sektor -ndT) que jogou o papel principal na Praça Maidan, em 2014. Esta estrutura, abertamente anti-semita, homofóbica, era financiada pelo padrinho da máfia ucraniana, o multi-milionário (bilionário-br) judeu Ihor Kolomoïsky. No plano internacional, o « Sector Direito » é violentamente oposto à União Europeia e entende, pelo contrário, formar uma aliança de Estados da Europa Central e do Báltico, o Intermarium. Coisa que funciona, já que é também o projecto dos Straussianos, os quais, desde o Relatório Wolfowitz de 1992, consideram a União Europeia como um rival para os EUA mais perigoso que a Rússia. Estarão, por certo, lembrados da conversação telefónica interceptada entre V. Nuland e o embaixador dos EUA, onde ela se gabava que ia « dar no cú à União Europeia » (sic).
Dmitro Yarosh é um agente das redes stay-behind (de retaguarda-ndT) da OTAN que organizou com o emir Doku Umarov um Congresso anti-russo em Ternopol, em 2007, sob o olhar atento de Victoria Nuland, que à época era embaixatriz dos Estados Unidos na OTAN. Yarosh reuniu neo-nazis de toda a Europa e islamistas do Médio-Oriente para travar a jiade na Chechénia contra a Rússia. A seguir, ele foi o chefe do «Tridente de Stepan Bandera» (dito « Tryzub »), um grupúsculo que glorificava o Colaboracionismo ucraniano com os nazis. Segundo Stepan Bandera, os Ucranianos autênticos são de origem escandinava ou proto-germânica, infelizmente misturaram-se com os eslavos, os Russos, os quais devem combater e dominar. Nos fins de 2013, os homens de Yarosh e jovens de um outro grupo nazi foram treinados em combates de rua por instrutores da OTAN na Polónia. Fui muito criticado quando revelei este assunto porque tinha citado um jornal satírico numa nota, no entanto o Procurador-Geral (Promotor-br) da Polónia abriu uma investigação que, claro, nunca teve sucesso porque teria implicado o Ministro da Defesa [1].
No Verão de 2014, o Batalhão Azov incluía já todos estes grupos neo-nazis, e não só. Foram enviados para combater os rebeldes de Donetsk e de Lugansk, o que eles fizeram com prazer. O seu soldo foi aumentado atingindo o dobro do dos soldados regulares. O Batalhão tomou a cidade de Marinka à autoproclamada República popular de Donestk onde massacrou os «separatistas».
Em Setembro de 2014, o Governo Provisório encarregou a Guarda Nacional de absorver o Batalhão Azov e afastar alguns líderes nazis da formação.
Nas eleições de Outubro de 2014, dois antigos chefes nazis do Regimento Azov, Andriy Biletsky e Oleh Petrenko, foram eleitos para a Rada (Assembleia Nacional). Enquanto o « führer branco » ficou sozinho, Petrenko juntou-se ao grupo parlamentar que apoiava o Presidente Petro Poroshenko. O Batalhão Azov tornou-se então o Regimento Azov da Guarda Nacional.
Em Março de 2015, o Ministro do Interior (ainda Arsen Avakov) acordou com o Pentágono que o treino militar do Regimento Azov fosse dado pelas Forças Especiais dos EUA, no quadro da Operação Guardião sem Medo (Operation Fearless Guardian). Mas, de imediato os Representantes John Conyers Jr. (Democrata, Michigan) e Ted Yoho (Republicano, Florida) denunciaram a insensatez. Argumentaram que armar os islamistas no Afeganistão tornara possível a formação da Alcaida e a generalização do terrorismo. Eles convenceram os seus colegas que os Estados Unidos não podiam treinar neo-nazis sem arriscar vir a pagar as consequências um dia. Os deputados interditaram, portanto, o Pentágono de prosseguir e de armar o Regimento Azov com lança-foguetes (MANPAD) durante a votação do orçamento da Defesa [2]. No entanto o Pentágono voltou à carga e conseguiu fazer retirar a emenda [3], levantando os protestos do Centro Simon Wiesenthal.
No decurso deste período, o Senador John McCain (Republicano, Arizona), partidário do apoio aos inimigos da Rússia, depois de ter estabelecido laços com os chefes da Alcaida e do Daesh (E.I.), na Líbia, no Líbano e na Síria [4], visita uma unidade do Regimento Azov, Dnipro-1. Ele felicitou calorosamente estes bravos nazis que desafiam a Rússia como antes havia felicitado os bravos jiadistas.
Foi nesse momento que o Regimento Azov recrutou no estrangeiro. Vieram de todo o Ocidente, nomeadamente do Brasil, da Croácia, da Espanha, dos Estados Unidos, da França, da Grécia, da Itália, da Eslováquia, da R. Checa, da Escandinávia, do Reino Unido e da Rússia. Ora, os Acordos de Minsk, dos quais a Alemanha e a França são os garantes, interditam formalmente às autoridades de Kiev incorporar mercenários estrangeiros. O Regimento Azov também organizou campos de juventude para 15. 000 adolescentes e de associações para os civis de modo que o total do Regimento compreendia cerca de 10. 000 homens e pelo menos duas vezes mais « simpatizantes ». Andriy Biletsky podia declarar que o Regimento tinha por missão histórica unir « as raças brancas do mundo numa última cruzada para a sua sobrevivência […] uma cruzada contra os sub-humanos dirigidos pelos judeus ».
Dois relatórios do Príncipe Zeid Raad al-Hussein, na qualidade de Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos do Homem dão a medida dos crimes de guerra cometidos pelo Regimento Azov [5].
Em 2017, uma delegação oficial da OTAN, incluindo oficiais dos Estados Unidos e do Canada, voltou a encontrar-se oficialmente com o Regimento Azov.
Inúmeros média (mídia-br) consagraram reportagens aos grupos neo-nazis ucranianos. Todos, sem excepção, ficaram horrorizados pela ideologia e a violência do Regimento Azov. A título de exemplo, o Huffington Post avisava contra a condescendência dos responsáveis políticos ucranianos num artigo intitulado : «Nota à Ucrânia : Parem de branquear o dossiê político» [6].
Em 2018, o FBI entrou novamente em conflito com a CIA. Desta vez a propósito de neo-nazis americanos que se haviam treinado junto do Regimento Azov e tinham voltado para perpetrar violências em solo americano. O inimigo do interior que é o Movimento para a Supremacia (Rise Above Movement) fora treinado pela CIA na Ucrânia [7].
Após os atentados de Christchuch (Nova-Zelândia), que causaram 51 mortos e 49 feridos, em Outubro de 2019, 39 membros da Câmara dos Representantes dos EUA escreveram ao Departamento de Estado para exigir que o Regimento Azov fosse qualificado de «organização terrorista estrangeira» já que o terrorista tinha frequentado a organização ucraniana.
Em 2020, o bilionário Erik Prince, fundador do exército privado Blackwater, subscreveu diversos contratos com a Ucrânia. Um deles deu-lhe toda a latitude para enquadrar o Regimento Azov. A termo, Prince esperava tomar o controle da indústria de armamento ucraniana herdada da União Soviética [8].
Em 21 de Julho de 2021, o Presidente Zelensky promulgou uma lei sobre os « povos autóctones ». Ela reconhece o gozo dos Direitos do Homem e dos Cidadãos e das Liberdades Fundamentais apenas aos ucranianos de origem escandinava ou germânica, mas não aos de origem eslava. Foi a primeira lei racial adoptada na Europa desde há 77 anos.
A sugestão de Victoria Nuland, em 2 de Novembro de 2021, o Presidente Volodymyr Zelensky nomeou Dmitro Yarosh, conselheiro do Comandante-em-Chefe das Forças Armadas ucranianas, o General Valerii Zaluzhnyi, com a missão de preparar o ataque ao Donbass e à Crimeia. É importante ter em mente que Yarosh é nazi, enquanto Victoria Nuland e Volodymyr Zelensky são judeus ucranianos (de origem para Nuland, que é agora norte-americana).
Em oito anos, desde a mudança de regime até a operação militar russa não incluída, os neonazistas na Ucrânia mataram pelo menos 14.000 ucranianos.
O DESAFIO MORAL DE ISRAEL
O Presidente Zelensky respondeu ao seu homólogo russo, que denunciou um «gangue de neo-nazis» no Poder em Kiev, que tal era impossível uma vez que ele era judeu. Como se isso não bastasse, no sexto dia do conflito, acusou a Rússia de ter bombardeado o memorial de Babi Yar, onde 33.000 judeus foram massacrados pelos nazis. Portanto, não só ele não apoiaria os nazis, como os Russos apagavam os crimes deles.
Sem esperar, o Memorial Yad Vashem, a instituição israelita que mantém a memória da «solução final da questão judaica» pelos nazis, explodiu com um comunicado de imprensa irado. Parecia ultrajante aos Israelitas que a Rússia comparasse a extrema-direita ucraniana com os nazis do Holocausto e mais ainda que ela bombardeasse um lugar de memória.
Foi então que jornalistas israelitas foram ao local do crime para verificar que nunca havia sido bombardeado. O Presidente ucraniano tinha mentido. A seguir, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Preskov, convidou o Memorial Yad Vashem a enviar uma delegação à Ucrânia para constatar de visu, sob a proteção do Exército russo, do que é que o Presidente Putin fala.
Seguiu-se um enorme silêncio. E se o Kremlin, tal como antes o Centro Simon Wiesenthal, falasse a verdade? E se os judeus Straussianos nos Estados Unidos, o chefe judeu ucraniano Ihor Kolomoïsky e o seu empregado, o Presidente judeu Volodymyr Zelensky, trabalhassem com verdadeiros nazis ?
De imediato, o Primeiro-Ministro israelita, Naftali Bennett, visitou Moscovo e a seguir recebeu o Chanceler Scholtz em Telavive, depois telefonou ao Presidente ucraniano, de quem todos haviam podido constatar a má fé. Apresentado como uma enésima tentativa de paz, esta viagem tinha na realidade por único fim saber se sim ou não os Estados Unidos se apoiavam sobre verdadeiros nazis. Desorientado, face às suas descobertas, Bennett lembrava o afirmado pelo Presidente Putin que ele havia deixado na véspera. Telefonou assim a diversos chefes de Estados membros da OTAN.
Seria desejável que Naftali Bennett tornasse público o que verificou, mas é pouco provável. Teria que abrir um dossiê esquecido, o das relações entre certos sionistas e os nazis. Por que é que David Ben-Gurion afirmava que Ze’ev Jabotinski, o fundador do sionismo revisionista, era um fascista e talvez um nazi ? Quem foram os judeus que acolheram calorosamente antes da chegada de Adolf Hitler ao Poder uma delegação oficial do Partido nazi, o NSDAP, na Palestina, enquanto praticava pogroms na Alemanha?
Quem negociou em 1933 o acordo de transferência (dito « Acordo Haavara ») e manteve um escritório em Berlim até 1939 ? Tantas perguntas que os historiadores deixam habitualmente sem resposta. E, hoje em dia, é exacto, como pretendem muitas testemunhas, que o Professor Leo Strauss ensinava aos seus alunos judeus que deviam construir a sua própria ditadura, com os mesmos métodos que os nazis, para se protegerem de uma nova Shoah (Holocausto -ndT)?
Claramente, Naftali Bennett não acreditou na narrativa da Ucrânia e da OTAN. Ele declarou que o presidente russo não era um teórico de complôs, não era irracional e não sofria de nenhuma doença mental. Pelo contrário, interrogado sobre o apoio do Estado judaico, o Presidente Zelensky respondeu: « Falei com o Primeiro-Ministro de Israel. E digo-vos com franqueza, e isto pode parecer um pouco insultuoso, mas acho que devo dizê-lo : as nossas relações não são más, não são más de todo. Mas, as relações são postas à prova em momentos como estes, nos momentos mais difíceis, quando a ajuda e o apoio são necessários. E não acho que ele [Bennett] se tenha envolvido na nossa causa ».
Israel deverá retirar-se do conflito ucraniano. Se mudar subitamente de opinião, sobre um ou outro assunto, e entrar em conflito com Washington sabereis porquê.
Thierry Meyssan* | Voltairenet.org | Tradução Alva
*Intelectual francês,
presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas
análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana
e russa. Última obra em francês: Sous
nos yeux. Du 11-Septembre à Donald Trump. Outra obras : L’Effroyable
imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand,
2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II.
Manipulación y desinformación en los medios de comunicación (Monte
Ávila Editores, 2008).
Imagem: Naftali Bennett e Olaf Scholtz, no Memorial Yad Vashem. Israel e a Alemanha descobrem a amplitude do problema. - Gabinete de Imprensa do Primeiro-Ministro
Notas:
1] "Ucrânia: a Polónia tinha formado os golpistas com dois meses de antecedência”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 19 de Abril de 2014.
[2] «U.S. House Passes 3 Amendments By Rep. Conyers To Defense Spending Bill To Protect Civilians From Dangers Of Arming and Training Foreign Forces», John Conyers, Jr., June 11, 2015.
[3] «Congress Has Removed a Ban on Funding Neo-Nazis From Its Year-End Spending Bill», James Carden, The Nation, January 14, 2016.
[4] “John McCain, chefe de orquestra da «primavera árabe», e o Califa”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 18 de Agosto de 2014.
[5] Report on the human rights situation in Ukraine 16 November 2015 to 15 February 2016 and Report on the human rights situation in Ukraine 16 February to 15 May 2016, Office of the United Nations High Commissioner for Human Rights. February and November 2016.
[6] «Note to Ukraine: Stop Whitewashing the Political Record», Nikolas Kozloff, Huffington Post, March 25, 2015.
[7] USA vs Robert Rundo, Robert Boman, Tyler Laube and Aaron Eason, Central district of California, October 20, 2018.
[8] « Exclusive : Documents Reveal Erik Prince’s $10 Billion Plan to Make Weapons and Create a Private Army in Ukraine », Simon Shuster, Time, July 7, 2021.
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