domingo, 1 de maio de 2022

Kirill Vyshinsky, jornalista acusado de traição e preso sem julgamento na Ucrânia

Acusado de traição e preso sem julgamento: o jornalista Kirill Vyshinsky relata seu tempo angustiante em uma prisão ucraniana

#Traduzido em português do Brasil

Eva Barlett* | Toward Freedom

Nota do Editor: O relatório a seguir e o vídeo AQUI foram publicados originalmente pela MintPress News .

Em novembro de 2018 tive conhecimento do caso de Kirill Vyshinsky, jornalista e editor ucraniano-russo preso na Ucrânia sem julgamento desde maio de 2018, acusado de alta traição.

Logo depois, entrevistei Vyshinsky por e-mail. Ele descreveu sua prisão e as acusações contra ele como politicamente motivadas, “uma tentativa das autoridades ucranianas de reforçar a popularidade em declínio do [então] presidente [Petro] Poroshenko neste ano eleitoral”.

Vyshinsky observou que sua prisão estava avançando na incessante histeria anti-russa que agora prevalece entre as autoridades ucranianas, já que ele possui dupla cidadania ucraniana e russa. Ele observou que as acusações contra ele, que dizem respeito a vários artigos que publicou em 2014 (nenhum deles de autoria de Vyshinsky), tornaram-se de interesse das autoridades e serviços de inteligência ucranianos quatro anos depois de serem publicados. Para Vyshinsky, isso apóia a noção de que nem os artigos nem seu editor eram uma ameaça à segurança da Ucrânia, em vez disso, diz ele, eram uma carta política a ser jogada.

No início de 2019, viajei para Kiev para entrevistar o advogado de defesa de Vyshinsky, Andriy Domansky, sobre os obstáculos logísticos do caso de seu cliente. Domansky viu o caso Vyshinsky como politicamente motivado e expressou preocupação de que ele próprio pudesse se tornar um alvo do serviço secreto da Ucrânia por seu papel na defesa de seu cliente, um homem inocente.

Domansky me disse na época:

O caso Vyshinsky é fundamental para demonstrar a presença de perseguição política a jornalistas na Ucrânia. Como especialista em direito, acredito que a justiça ainda é possível na Ucrânia e farei todo o possível para provar a inocência de Kirill Vyshinsky”.

Para surpresa dos que acompanham o caso contra Vyshinsky, no final de agosto de 2019 ele foi libertado com pouca fanfarra depois de cumprir mais de 400 dias em uma prisão ucraniana, mas ainda enfrenta todas as acusações feitas contra ele pelo governo ucraniano e é “obrigado a comparecer no tribunal ou dar testemunho aos investigadores se julgarem necessário”.

No início de setembro, Kirill Vyshinsky estava em um avião para Moscou . Apesar de nunca ter sido julgado ou oficialmente condenado, ele se viu objeto de uma troca de prisioneiros entre os governos russo e ucraniano.

Entrevistei Vyshinsky em Moscou no final de setembro. Ele me contou sobre sua provação angustiante, o sistema de detenção ucraniano, outros jornalistas perseguidos e o que está por vir para ele.

Ele também abordou as condições desumanas que experimentou nas prisões ucranianas. Ele observou que um centro de prisão preventiva como o conhecemos nas nações ocidentais é uma entidade muito diferente na Ucrânia e que as prisões ucranianas estavam tão superlotadas que era comum os presos dormirem em três turnos para permitir espaço suficiente para os presos. espremido em uma cela.

Angola | Uma Separata Desconhecida e um Percursor Ignorado

Artur Queiroz*, Luanda

O poeta Maurício Gomes nasceu em Luanda no ano de 1920. Filinto Elísio de Menezes, o primeiro crítico da Literatura Angolana criada por nacionalistas, aponta-o como um percursor desse género, que serviu de suporte à Independência Nacional. O texto foi publicado numa separata do jornal Cultura da Sociedade Cultural de Angola, em 1950. Uma raridade bibliográfica que revela uma perspectiva até agora inédita. O autor aponta outro percursor: Viriato da Cruz. E ilustra o seu trabalho com o poema Sô Santo. 

Filinto Elísio de Menezes excluiu Geral Bessa Victor, poeta, advogado e jornalista, da lista de poetas percursores da Literatura Angolana criada por nacionalistas, ainda que tenha sido ele a primeira voz do movimento Vamos Descobrir Angola com a sua obra de estreia “Ao Som das Marimbas” (Lisboa, 1943). colaborou no jornal Cultura e na revista Mensagem. O tema do texto do crítico literário era outro, mas tratando-se de literatura ao serviço da luta pela Independência Nacional, vale a pena recuar no tempo e chegar ao ponto onde tudo começou: A Imprensa Livre (em oposição ao Boletim Oficial, do governador-geral), no século XIX.

O jornal Echo de Angola (12 Novembro de 1881) foi o primeiro jornal exclusivamente propriedade de angolanos e cuja Redacção era composta também por jornalistas africanos negros. Entre os seus redactores estava José de Fontes Pereira, justamente considerado um mestre do jornalismo luandense do último quartel do século XIX. Quando faleceu, era o decano dos jornalistas angolanos. Sant’Anna Palma, outro jornalista negro, no seu elogio fúnebre, considerou-o o melhor entre os melhores.

Arantes Braga, um angolano negro, foi fundador do jornal Pharol do Povo, subtítulo Folha Republicana. Foi o primeiro jornal de Angola que em plena monarquia, numa fase de tremenda repressão, se declarou defensor dos ideais republicanos. É considerado o mais arguto jornalista africano na produção de jornalismo político.

Pedro da Paixão Franco foi o mais mediático de todos os jornalistas africanos negros do século XIX. Além de jornalista, era escritor de mérito, deixando a obra em dois volumes, História de uma Traição. Além de jornalista e escritor, Pedro da Paixão Franco foi funcionário do Caminho-de-Ferro de Malanje.

Júlio Lobato era igualmente um jovem e talentoso jornalista que começou a sua carreira profissional na Imprensa Livre do último quartel do século XIX. Explodiu nos primeiros anos do século XX e em 1908 fundou o jornal A Voz de Angola que tinha como legenda: Libertando pela Paz; Igualando pela Justiça; Progredindo pela Autonomia. Este jornal tinha um contrato com a agência Reuter e publicava todas as semanas noticiário de Londres. Pela primeira vez um jornal de Angola assumia em subtítulo que era defensor da autonomia de Angola. A repressão caiu sobre Lobato e o seu jornal, mas a semente ficou. Geraldo Bessa Victor e Maurício Gomes são frutos dessa sementeira libertária.

Filinto Elísio de Menezes escreveu no seu ensaio “Apontamentos Sobre a Poesia de Angola” que Maurício Gomes é um poeta “que soube identificar a poesia com o povo e na qual a presença do homem (angolano) é evidente e permanente. Maurício Gomes é o poeta que se entristece quando se põe a olhar para a alma do negro. Por isso, a sua poesia, embora vibrante, objectiva e realista tem ressaibos de uma profunda melancolia”. Para ilustrar a sua tese, o crítico literário revela o poema ESTRELA PEQUENINA:

Tocadores, vinde tocar 

Marimbas, ngomas, quissanges 

Vinde chamar a nossa gente

 P’ra beira do grande Mar! 

Sentai-vos, irmãos, escutai: 

Precisamos entender 

As falas da Natureza, 

Dizendo da nossa dor, 

Chorando nossa tristeza. 

Ora escutai, meus irmãos: 

Aquele Sol no poente, 

Vermelho como uma brasa,

 Não é Sol somente. Não! 

É coágulo de sangue 

Vertido por angolanos 

Que fizeram o Brasil! 

Ouvi o mar como chora, 

Ouvi o mar como reza... 

Olhai a noite que chega,

 Veludo negro tecido 

De mil pedaços de pele 

Arrancados a chicote 

Ai! cortados a chicote 

Do dorso da nossa gente 

No tempo da escravatura... 

Noite é luto 

De que Deus cobre o mundo 

Com dó de nós... 

Disco de prata luzente 

Sobe ligeiro no espaço. 

Sabei que a Lua fulgente 

Contém lágrimas geladas 

Por pobres negros choradas... 

Pergunta-me a multidão, 

Sentada à beira do Mar: 

– Agora dizei, irmão, 

Daquela pálida estrela 

Tão pequenina e humilde 

Que brilha no nosso céu

 Qual é o significado? 

Talvez seja finalmente 

Deus a olhar para a nossa gente...

Da mesma época recordo o poema  EXORTAÇÃO onde Maurício Gomes revela de uma forma exuberante o seu nacionalismo libertário:

 Ribeiro Couto e Manuel Bandeira,

poetas do Brasil,

do Brasil, nosso irmão,

disseram:

"— E preciso criar a poesia brasileira,
de versos quentes, fortes, como o Brasil,
sem macaquear a literatura lusíada".

Angola grita pela minha voz,
pedindo a seus filhos nova poesia!

Deixemos moldes arcaicos,

ponhamos de lado,

corajosamente,

suaves endeixas,

brandas queixas,

e cantemos a nossa terra

e toda a sua beleza.

Angola, grande promessa do futuro,
forte realidade do presente,
inspira novas idéias,
encerra ricos motivos

E preciso inventar a poesia de Angola!

Fecho meus olhos e sonho,
abrindo de par em par o coração,
e vejo a projeção dum filme colorido
com tintas de fantasia e cenas de magia:

As imagens são paisagens, gentes, feras.
E sucedem-se lenta, lenta, lentamente...
Assisto maravilhado
no despenhar gemente

  das quedas d'água do Duque de Bragança...
  Vejo crescer florestas colossais
  no Maiombe, onde o verde é símbolo
  de tanta esperança...

  Amboim fecundo, Amboim cafezeiro,
  de alcantis envoltos sempre em nevoeiro denso,
  como um fumo cheiroso
  do seu café gostoso,
  tão famoso no mundo...

  Deserto de Namibe a espreguiçar-se
  num bocejo mole,
  estendendo tentáculos de areia
  como povo gigante
 — visão alucinante, miragem
 no escrínio esquisito
 que aguarda avaramente
 a jóia mais horrivelmente linda|
 e única no mundo

 — a Welwitschia mirabilis,
que em si encerra mistério tão profundo...

É preciso escrever a poesia de Angola!

Vejo anharas infindáveis
onde noivam no capim,
|pelo amor amansadas,
feras bravas, indomáveis...
Vejo lagos de safira,
tão calmos
como olhos ternos,
chorosos,
de tímidas gazelas... 

     E terras rendilhadas do litoral,
     secas, rugosas, escalvadas,
     onde reina o imbondeiro
     gitantesco Prometeu agrilhoado,
     visão estranha, infernal, horrenda,
     verde pálido, branco, cinzento,
     lembrando líquen mágico, colossal...

     Baías, cabos, estuários,
     praias morenas,
     mares verdes, mares azuis,
     e rios de aspecto inofensivo
     mas cheios de jacarés...

     Terras de mandioca e batata doce,
     campos de sisal, minas e metais,
     goiabeiras, palmeiras, cajueiros,
     areais imensos, cheios de diamantes,
     chuvadas torrenciais,

     filas tristes de negros carregadores gemendo...
     cantando tristemente seus cantares...
     planaltos, montanhas e fogueiras,
     feiticeiros dançando loucamente:
     Angola é grande e rica e vária.

          E preciso criar a poesia de Angola!

     Terra enorme onde o inseto impera:
     mosquito da febre e mosca tzé-tzé,
     cobrindo tudo de sono.

     Olhai o senhor arquiteto Salalé,
     tão pequenino, tão teimoso e diligente...
     Como ele projeta e constrói castelos,
     milhões de vezes maiores que ele é,
     para vergonha nossa,
     que pouco fazemos
     presos de fútil, preguiçoso dandismo... 

     Encostai o ouvido atento
     ao coração do povo negro,
     escutareis, só vós, poetas da minha terra,
     que estais por nascer,
     aquilo que para outros é segredo defeso,
     mistério da esfíngica, malsinada alma negra.
     Criai ânimo, ganhai alento,
     e vibrantemente cantai a nossa terra! 

           É preciso forjar a poesia de Angola!

     Essa nova poesia
     será vazada em forma candente
     sem limites nem peias,
     diferente!...

     Mas onde estão os filhos de Angola,
     se os não oiço cantar e exaltar
     tanta beleza e tanta tristeza,
     tanta dor e tanta ânsia
     desta terra e desta gente?

     Essa nova poesia,
     forte, terna, nova e bela,
     amálgama de lágrimas e sangue,
     sublimação de muito sofrimento,
     afirmação duma certeza. 

     Poesia inconformista,
     diferente,
     será revolucionária,
     como arte literária,
     desprezando regras estabelecidas,
     idéias feitas, pieguices, transcendências...

     Poesia nossa, única, inconfundível,
     diferente,
     quente, que lembre o nosso sol,
     suave, lembrando nosso luar...
     que cheire o cheiro do mato,
     tenha as cores do nosso céu,
     o nervosismo do nosso mar,
     o paroxismo das queimadas,
     o cantar das nossas aves,
     rugir de feras, gritos de negros,
     gritos de há muitos anos,
     de escravos, de engenhos das roças,
     no espaço vibrando, vibrando...

     Sons magoados, tristíssimos, enervantes,
     de quissanges e marimbas...
     versos que encerrem e expliquem
     todo o mistério desta terra,
     versos nossos, húmidos, diferentes,
     que, quando recitados,
     nos façam reviver o drama negro
     e suavizem corações,
     iluminem consciências,
     e evoquem paisagens
     e mostrem caminhos,
     rumos, auroras...  

     Uma poesia nossa, nossa, nossa!
      — cântico, reza, salmo, sinfonia,
     que uma vez cantada,
     rezada,
     escutada,

     faça toda a gente sentir
     faça toda a gente dizer: 

— É poesia de Angola!

O crítico literário Filinto Elísio de Menezes, em 1950 já punha dúvidas quanto ao reconhecimento público da obra do poeta. Escreve ele: ESTRELA PEQUENINA é o poema no qual Maurício Gomes melhor se revela. Nestes poucos versos o poeta conseguiu um perfeito equilíbrio na forma e uma forte persuasão na finalidade. É possível que Maurício Gomes nunca consiga pôr de pé a sua poesia. Mas o que se lhe não pode negar é que foi ele dos primeiros artistas angolanos a proclamar a criação de uma poesia independente, sem os tropeços de influências estranhas. 

Antes de prosseguir, convém perguntar: Quem era Filinto Elísio de Menezes? O crítico literário chegou a Angola em 1948, um ano após a criação do jornal “Cultura” vindo de Cabo Verde onde era o gerente do Banco Nacional Ultramarino. O ensaísta e crítico literário escreveu, em 1948, que a Literatura Angolana, era desconhecida. Esse desconhecimento justificava a situação social e política porque “a dominação de um povo ocorre no momento em que os seus dirigentes, na sua insignificância, e em número reduzido, não cultivam o gosto pelas belas-artes. É apontado como o percursor de Mário Pinto de Andrade “na formulação de um discurso crítico que objectivava a autonomização e a legitimação das Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, em geral, e da Literatura Angolana, em particular”.

Maurício Gomes não limitou a sua actividade à escrita. Ele foi verdadeiramente um activista cultural, que deixou marcas indeléveis na Sociedade Cultural de Angola e no seu jornal Cultura. Na separata de 1950, vem publicada a lista dos corpos gerentes desse ano. E lá está o poeta, como membro da Assembleia Geral. Os outros eram António Simões Raposo (presidente), José Manuel de Morais, Luís Henrique Ervedosa Abreu e Fernando Pimental Júnior. O presidente da Direcção era Eugénio Ferreira. Foram eleitos durante uma assembleia geral que ocorreu em 1949, tinha o poeta Maurício Gomes 29 anos.

A Sociedade Cultural de Angola nasceu em 1942 e o primeiro presidente da direcção foi o capitão Jorge Figueiredo de Barros. Vogais: José Costa, cantor lírico, Henrique Gago da Graça e Casanova Pinto. Em Dezembro de 1943 foi publicado o primeiro e único boletim da instituição. Em 1945, o capitão Jorge Figueiredo de Barros foi substituído na presidência por Manuel da Cruz Malpique. Nesta fase surgiu o primeiro número do jornal Cultura, do qual saíram 12 números. Em 1947, Eugénio Ferreira assumiu a presidência da direcção da Sociedade Cultural de Angola, até ao seu encerramento, em 1960, por ordem da PIDE, a polícia política do regime colonialista. A Sociedade Cultural de Angola foi extinta em 1965 por Portaria do Governo-Geral de Angola. 

Entre os primeiros corpos gerentes (1943) estavam figuras ligadas à Imprensa. Os jornalistas Norberto Lopes e Antero Gonçalves, que eu alcunhei de “Poderoso” quando fomos colegas de Redacção no Jornal de Angola, em 1976. Era anarco-sindicalista. Carlos Alves e Agnelo Paiva, cronistas. Júlio Castro Lopo, historiador da Imprensa Angolana. 

Irene Guerra Marques e Carlos Ferreira (Cassé) publicaram “O Boletim Cultura e a Sociedade Cultural de Angola”. Está lá tudo. Por isso é uma obra de leitura obrigatória. 

Nos 12 números de Cultura é possível conhecer os primeiros textos de Maurício Gomes mas também de Luandino Vieira, onde publicou poemas, contos e fez ilustrações, acitividade pouco conhecida do autor de “Luuanda”. Mário António, que pertenceu à geração Mensagem, mas também colaborou activamente no jornal Cultura. Foi um dos fundadores, com António Jacinto, Luandino Vieira e Viriato da Cruz, do Partido Comunista Angolano.

António Jacinto é um dos fundadores do Movimento dos Novos Intelectuais de Angola, criado em 1948. Publicou os seus primeiros poemas na revista Mensagem mas também no jornal Cultura e no Notícias do Bloqueio, com Egipto Gonçalves, Papiniano Carlos e Luís Veiga Leitão. António Cardoso foi outro poeta que além da revista Mensagem, publicou os seus primeiros poemas no jornal Cultura.

Mensagem foi uma revista de Arte e Cultura da Associação dos Naturais de Angola (ANANGOLA). Entre os colaboradores, destacam-se intelectuais tais como Viriato da Cruz, Mário Pinto de Andrade, Agostinho Neto, Alda Lara, António Jacinto, Óscar Ribas, Mário António Fernandes de Oliveira. Elevaram a Literatura Angolana até níveis nunca antes alcançados. 

A separata do jornal Cultura da Sociedade Cultural de Angola (única), além do ensaio de Filinto Elísio de Menezes sobre a poesia angolana e o percursor Maurício Gomes, tem outros conteúdos muito valiosos. Desde logo o editorial de Eugénio Ferreira que também assina o ensaio MIGUEL TORGA POETA DA MONTANHA. Mas também uma peça de Jaime Salinas de Moura (O ROMANCE NA LITERATURA COLONIAL) e um ensaio de Pompílio da Cruz intitulado QUAL SERÁ O MUNDO DE AMANHÃ? Uma peça fundamental para compreender os fundamentos do movimento dos independentistas brancos que explodiu nos anos 60 e depois do 25 de Abril de 1974 se materializou na Frente Revolucionária de Angola (FRA) e Brigadas da Juventude Revolucionária (BJR), organizações de cariz terrorista. 

Maurício Gomes fez parte dos órgãos sociais da Sociedade Cultural de Angola. Não se limitou a ser uma voz singular da Poesia Angolana. A instituição teve um papel fulcral na divulgação do nacionalismo angolano de cariz revolucionário. O jornal Cultura e a revista Mensagem mobilizaram a intelctualidade angolana para a luta pela Independência Nacional. Este processo político e cultural culminou com as prisões políticas a 29 de Março de 1959, em Luanda, e que resultaram no “Processo dos 50”. O julgamento dos nacionalistas teve início a 5 de Dezembro de 1960. Mas antes, a 8 de Junho de 1960, o director da PIDE em Angola, São José Lopes, foi prender pessoalmente Agostinho Neto, aquele a quem os nacionalistas chamavam “o Nosso Moisés”. O poeta, médico e líder revolucionário foi deportado para Portugal e enclausurado no Aljube. 

Mas aluta continuou até à conquista da Independência Nacional. Intelectuais e artistas como Maurício Gomes têm um lugar na tribuna de honra do acontecimento mais importante das nossas vidas.

*Jornalista

Dia do Trabalhador: Crise deixa Cabo Verde com "poucos motivos para celebrar"

O Presidente cabo-verdiano, José Maria Neves, admitiu que este Dia do Trabalhador tem "poucos motivos para celebrar", devido à crise económica, pedindo apoio aos mais necessitados.

Na sua mensagem alusiva ao Dia do Trabalhador, que se assinala este domingo (01.05), José Maria Neves diz que o Estado, os municípios, as organizações não-governamentais, as Igrejas, as empresas e os sindicatos "estão convocados a darem as mãos e socorrerem os que estão a atravessar momentos de grande fragilidade, inclusive de privação de alimentos".

"Esta sequência de eventos adversos, tanto para os trabalhadores como para Cabo Verde, deve levar-nos a refletir sobre todas as nossas vulnerabilidades e agir de forma a nos tornarmos cada vez mais resilientes, nós e a nossa economia. Urge analisar as nossas fraquezas e agir em conformidade. A todos os níveis, há que ter a exata noção da realidade e interiorizar a cultura de poupança, de racionalização e de busca de eficácia no uso dos recursos e na concretização dos objetivos preconizados", afirmou o Presidente cabo-verdiano.

O arquipélago enfrenta uma profunda crise económica e financeira, decorrente da forte quebra na procura turística - setor que garante 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do arquipélago - desde março de 2020, devido à pandemia de covid-19.

União Europeia quer prevenir extremismo violento na Guiné-Bissau

União Europeia lançou um projeto que visa promover a paz, cidadania e direitos humanos na Guiné-Bissau. Objetivo é pevenir o extremismo violento no país.

"Na realidade, este projeto hoje apresentado é fruto de uma iniciativa ousada da União Europeia em trazer o tema da prevenção do extremismo violento para a agenda de trabalhos na Guiné-Bissau", afirmou a chefe da cooperação da União Europeia (UE), Simona Schdele, no lançamento do projeto.

O projeto "No Sumia Paz" ("Nós Semeamos Paz", em português) é financeiramente apoiado pela União Europeia e implementado pelas organizações não-governamentais Aida (espanhola), Associação dos Amigos da Criança da Guiné-Bissau (guineense) e a italiana Acra.

No discurso proferido na cerimónia, na Casa dos Direitos em Bissau, Simona Schdele recordou um estudo realizado pela União Europeia a nível regional, incluindo a Guiné-Bissau, sobre os riscos e fatores da radicalização e extremismo violento.

Moçambique | Tete: Para onde vão os lucros da venda das minas da Vale?

O Centro de Integridade Pública (CIP) de Moçambique pede ao Governo mais transparência sobre as mais-valias que vai receber da venda das minas de carvão da Vale à indiana Vulcan.

O Centro de Integridade Pública (CIP) está preocupado com eventuais desvios na aplicação do dinheiro das mais-valias que o Governo vai receber da venda das minas de carvão da mineira brasileira Vale à Vulcan, como já aconteceu no passado – por exemplo, com a venda de ativos da Anadarko à Total.

Por isso, espera que o Executivo explique como vai ser aplicado esse dinheiro, adianta em entrevista à DW Rui Mate, investigador da organização não-governamental.

A venda das minas da Vale em Tete, a linha férrea e a estrutura portuária em Nacala, por 257 milhões de euros, foi concluída esta semana. A empresa brasileira deixa o país após 15 anos e sem indemnizar  as comunidades afetadas pela exploração de carvão.

DESNETIZAÇÃO DE ANGOLA ESTÁ EM MARCHA -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Último dia de Abril e amanhã fica para trás o mágico 25, marco da revolução que em Portugal acabou com a censura prévia à Imprensa. Derrubou o regime colonialista e fascista. Pôs fim à guerra colonial apoiada pela OTAN (ou NATO) e pelo estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA). Otelo Saraiva de Carvalho e seus companheiros do Movimento das Forças Armadas (MFA) merecem todos os elogios, toda a gratidão, total reconhecimento. 

Em Abril de 1975, o Governo de Transição tentou impor a censura aos noticiários da Emissora Oficial de Angola (RNA). Dei uma de chefe e recusei. Nunca aceitei censores. No tempo da censura prévia escrevia o que entendia e se a comissão de censura cortasse a reportagem ou a crónica, não reescrevia. Não emendava. Não transigia. Paguei caríssimo por isso. Mas valeu a pena. No final da minha vida volto a ser vítima de censura. Coitados dos censores. Os meus textos circulam na mesma. E quando deixarem de circular, arranjarei outras formas de comunicar. Provavelmente ainda mais eficazes.

Neste Maio vamos ficar a apenas quatro meses e meio do 17 de Setembro, Dia do Herói Nacional. António Agostinho Neto. Figura incontornável da História Universal. O dirigente político mundial que conseguiu as mais retumbantes vitórias no século XX. Dirigiu a luta dos angolanos até à conquista da dignidade, da cidadania e da liberdade. Derrotou o colonialismo português, pondo fim ao último império colonial. Lançou as bases para a libertação de África do regime de apartheid da África do Sul. Deu o mais decisivo impulso à libertação do Zimbabwe, Namíbia e África do Sul. Esta é a sua dimensão política. No fabuloso Mosaico Cultural Angolano é uma voz singular e de uma dimensão inigualável. Até hoje.

No dia 18 de Setembro de 2021 começou o Ano do Centenário do Nascimento de Agostinho Neto. A Fundação Dr. António Agostinho Neto  (FAAN) preparou atempadamente as comemorações. Em 2018 criou a comissão preparatória, constituída por várias instituições nacionais e estrangeiras, entre as quais a TPA e a RNA. O Executivo nomeou uma Comissão interministerial para organizar as comemorações do centenário. 

A conta bancária da Fundação Dr. António Agostinho Neto (FAAN) está bloqueada. O Executivo garantiu que ia disponibilizar fundos para a instituição realizar o seu trabalho. Até hoje, dia 30 de Abril, nem um centavo. Apesar da penúria, no dia 5 de Maio vai decorrer, na sede da UNESCO, em Paris, Dia da Língua Portuguesa na instituição, a celebração do centenário de Agostinho Neto. A FAAN vai outorgar a Ordem Sagrada Esperança a artistas, escritores e intelectuais de todo o mundo, muitos deles membros da Academia Francesa, que subscreveram, em 10 de Novembro de 1955, petições para a libertação de Agostinho Neto quando estava preso pelos colonialistas de Lisboa.

Eis os seus nomes: Jean Cocteau, Louis Aragon,  Jean-Paul Sartre, Tristan Tzara, Henri Lefebvre, Vercors (Jean Bruller), Elsa Triolet, Simone de Beauvoir, Nicolás Guillén, André Kedros, Claude Morgan, Anconta Pitoeff, Diego Rivera, David Sisqueros, François Mauriac, Georges Duhamel, François Jourdain, Stanislas Fumet, Claude Roy, René Maublan, Charles Vidrac, Martin Chauffier, Claude Aveline e René Jouflet. O melhor do que existia no mundo, nessa época. A outorga a Nicolas Guillén será feita na Embaixada de Cuba em Paris e a de Diego Rivera e David Sisqueros, na Embaixada do México também na capital francesa.

Ainda em Paris ou em Bruxelas vai ser lançada a tradução para francês do livro do nigeriano Ebenezer Adedeji Omoteso “Idéologie et engagement chez Agostinho Neto et Léopold Sédar Senghor: une approche comparative”. O tradutor foi Sébastien Périmony. 

Neste Abril, dia 27, abriu a Cátedra Agostinho Neto na Universidade de Morón, Buenos Aires. O embaixador da República de Angola, Fidelino de Jesus Peliganga fez um discurso notável, traçando a trajectória de Agostinho Neto como libertador de África. Já existem as Cátedras Agostinho Neto no Porto e em Roma.

Nas Comemorações do Centenário do Nascimento de Agostinho Neto, a FAAN vai lançar a sua poesia em kimbundu, umbundu, cokwe e kikongo. Fruto de uma longa parceria com a coordenação l do Professor Abreu Paxe, os supervisores linguísticos, Professor Zavoni Ntondo e Professor Mbiavanga Fernando, a tradutora Mestra Josefa Teresa Mige Conde e o Dr. Gabriel Chimbaieca. TPA e RNA até hoje ignoraram as comemorações. Nem sequer deram notícia da inauguração da Cátedra Agostinho Neto em Buenos Aires.

A FANN faz a sua parte. E o Estado Angolano? A Ucrânia, em 2014, avançou com a descomunização do país, aprovando um pacote de leis anticomunistas. A Federação Russa, em Fevereiro de 2022, iniciou a desnazificação da Ucrânia. Em Angola decorre, com assinalável êxito, a desnetização. Acabar de vez com o exemplo a vida e a obra de Agostinho Neto. Desnetizar é a palavra de ordem. Contrariada hoje pelo MPLA na Lunda Norte. O governador Ernesto Muangala é um grande dirigente do velho MPLA. No seu discurso não se cansou de contrariar a desnetização. Arrisca a prisão!

Porque Agostinho Neto não foi nada. Quem o ensinou a escrever poemas foi o Filipe Zau. Quem dirigiu a luta armada de libertação nacional foi o presidente João Lourenço, Neto apenas posava para a fotografia. Quem criou a República Popular de Angola foi o Adão de Almeida e o Doutor Tutio Fruti. Neto não fez nada.

As Comemorações do Centenário do Nascimento de Agostinho Neto, oficialmente, até agora nada de nada. Finalmente comecei a perceber porque temos três ministros em um. Ministro do Ambiente está apostado em destruir qualquer sinal de políticas ambientais. O ministro do Turismo vai acabar de vez com a indústria. Nos aeroportos e portos nacionais, os turistas vão ser recebidos pelos bandidos do Nelito Ekuikui e pelos matadores do Abílio Camalata Numa. As paredes vão estar engalanadas com fotos das fogueiras da Jamba. Melhor é impossível. O ministro da Cultura vai manter a dita ao nível da planta dos pés. E se alguém der um pio de protesto, é logo espezinhado.

A desnetização de Angola está em marcha. As e os desnetizadores merecem um prémio chorudo. Que sejam distribuídos por essas e esses heróis, os biliões que Adão de Almeida diz que já foram recuperados na luta contra a corrupção, mas que os Tribunais ainda não decidiram. Sua excelência ainda não percebeu que ao fazer tais declarações está a colocar o Poder Judicial sob a suspeita de que quando as magistradas e os magistrados judiciais proferem as sentenças, elas já estão redigidas pelo Doutor Tuti Fruti.

Um aviso de amigo para amigo, camarada para camarada. Não vão conseguir desnetizar Angola. Guardem as vossas forças para derrotar a UNITA nas eleições. Há que desunitar Angola de uma vez por todas. Isso sim.

*Jornalista

ONU E ANGOLA

Kuma | Tribuna de Angola | opinião

Há muito que se fala numa remodelação ou alterações na forma de funcionamento das Nações Unidas, neste âmbito começa a debater-se a criação do Conselho Militar de Paz. Ao contrário do Conselho de Segurança, onde há países com direito a veto, as Resoluções deste Órgão seriam tomadas por maioria qualificada de dois terços.

A composição contaria em regime de permanência com os EUA, Rússia, China, Reino Unido, França, já fixos no Conselho de Segurança, com a Índia, Turquia, Brasil, Austrália e Angola, e mais cinco rotativos aprovados em Assembleia Geral por mandatos de dois anos.

Inicialmente África estava no esboço representada pela Nigéria, país mais populoso do Continente e previsivelmente um dos três de maior densidade demográfica no mundo durante o séc. XXI. Angola foi consensual pela sua estabilidade, previsibilidade, e sobretudo credibilidade e prestígio conquistado no mandato do Presidente João Lourenço.

A ideia é sentar à mesa o poderio militar, e fazer depender deste Órgão o envio de Capacetes Azuis para onde for necessário. Os EUA e a Rússia pela voz direta de Vladimir Putin já há aprovação, falta a posição da China, embora ainda haja um longo caminho a percorrer, Canadá, Japão, Alemanha e Israel, também querem assento permanente, podem ter peso pela capacidade orçamental para o funcionamento do mesmo.

Apraz-nos registar o consenso por Angola, um país eminentemente cristão, pacífico, dotado de umas Forças Armadas coesas, cada vez mais uma potência regional, e um desenvolvimento imparável, e a previsibilidade de não haver alterações significativas nos próximos tempos.

Aguardemos que os fogachos ruidosos ensaiados em coro no SOVISMO, e a pose inflamada de ACJ “Bétinho” impulsionada pelo seu ego, não faça recrudescer a arruaça que mobiliza a oligarquia déspota familiar liderada pelo sinaleiro Lukamba “Miau” Gato, nem pelos mercenários como o senil Marcolino Moco ou o idiota Raús Dinis.

Definitivamente declarada como nado morto, está a famigerada FPU, foi uma gravidez precoce, efémera, mas que deixa marcas no nicho de estratégias e traições próprias dos tiranos da Jamba, sobrou uma UNITA em cacos, sem credibilidade, e um Abel Chivukuvuku trucidado pela sua cega ambição. Adensa-se a agitação interna no Galo Negro, desenham-se cenários, mas a falta de um projecto, de uma ideia de governo, trilha-se a ilusão, e o veneno vem à tona porque a razão e a realidade são inseparáveis da verdade.

Leia em A Tribuna de Angola

Mussulo: o paraíso existe na terra e ele está entre nós 

Os frustrados

“O 25 DE NOVEMBRO É UMA DATA QUE NÃO TEM RELEVÂNCIA HISTÓRICA”

-- Capitão de Abril Rodrigo Sousa e Castro em entrevista ao Setenta e Quatro

João Biscaia | Setenta e Quatro 

Em conversa com o Setenta e Quatro, o capitão de Abril recorda a pobreza do Portugal de Salazar, a violência da Guerra Colonial e os primeiros passos do Movimento dos Capitães até este derrubar a ditadura. Desconstrói mitos sobre os arquivos da PIDE/DGS terem ido para Moscovo via PCP. Mas, sobretudo, de como nem todo o sonho de Abril foi cumprido.

Sentado numa cadeira de vime em sua casa, enquanto o vento assobia violentamente lá fora, o capitão de Abril Rodrigo Sousa e Castro diz calmamente que deve ser dos "poucos gajos que participou no 25 de Abril e no 25 de Novembro e que não tem nenhum pejo em dizê-lo".

O hoje coronel aposentado não guarda qualquer acanhamento ao desqualificar a mistificação entretanto construída sobre a suposta contrarrevolução, nem deixa de criticar "a vocação corrupta do nosso sistema democrático". Desmonta mitos com memórias que guarda na ponta da língua, ainda que de vez em quando lhe falhe o apelido de um ministro ou o dia exato de tal facto.

Não precisou da idade para assumir um posto. Subiu de alferes a capitão entre uma comissão em Angola e outra em Moçambique durante a Guerra Colonial. Pouco tempo depois, com apenas 30 anos, tornou-se "capitão de Abril". Fez parte do Grupo dos Nove, foi porta-voz do Conselho de Revolução e esteve encarregue da comissão de extinção PIDE/DGS.

Algumas das suas memórias, lavradas com mais detalhe no livro Capitão de Abril, Capitão de Novembro, são como pequenas parábolas que permitem espreitar para dentro de uma visão geral do Portugal do Estado Novo. Foi esse o ponto de partida para a conversa de largas horas entre o Setenta e Quatro e um homem que viveu alguns dos momentos mais marcantes da Revolução de Abril e que desempenhou um papel ativo e fulcral em mais de uma mancheia deles.

Nasceu e cresceu em Celorico de Basto, no Minho. Que memórias tem da sua infância? 

Cresci num meio rural e estudei num colégio de uma congregação religiosa. Muito pouca gente estudava, era um privilégio. Pude estudar por uma circunstância feliz: o facto de o meu pai ser ferroviário, chefe de estação, e eu e as minhas irmãs, enquanto estudantes, não pagarmos o transporte. Depois fui o único a ir para uma escola superior, a Academia Militar. Também não tinha outra opção, não tinha dinheiro para tirar um curso numa universidade.

Mais tarde, já capitão, estudei Economia no ISCEF, atual ISEG. Fora das aulas aquilo parecia uma madraça do MRPP. Quando lá cheguei, vindo das operações militares em África, tinha a noção absoluta da baixa intensidade da guerra. Os contactos de fogo com o inimigo eram esporádicos. Havia grandes desastres quando rebentavam minas debaixo de viaturas. Eram mais comuns os feridos graves, soldados sem pernas, sem braços, cegos, que os mortos. As baixas eram relativamente escassas, mesmo que sendo só uma já fosse mau. As zonas operacionais eram bastante restritas e eram poucas as unidades que contactavam diretamente com o inimigo.

Quando cheguei à universidade havia uns jornais de parede assinados pelo MRPP onde elencavam as baixas do exército colonial em África. Pelas minhas contas, eles numa semana matavam o total dos efetivos dos soldados portugueses em África. Eram às centenas. Fiquei estupefacto com aquilo. O governo era uma ditadura de extrema-direita, com uma polícia política que chegou a matar lá um estudante, o Ribeiro dos Santos, e o MRPP tinha tomado as cantinas, os corredores, e eu, um capitãozinho que vinha da guerra, não achava aquilo possível. Eram os epifenómenos que, apesar de tudo, começaram naquela altura a corroer a ditadura por dentro.

Foi nas comissões em África que diz ter tomado noção daquilo que era a ditadura e as verdadeiras intenções daquela guerra. Como foi a sua educação até aí?

Completamente ideológica. Além dos crucifixos nas escolas, éramos todos obrigados a ir às cerimónias religiosas. Ou pelo menos à desobriga, para nos confessarmos. Os professores ensinavam todos segundo o mesmo padrão. Era um ensino repressivo e à base da memorização. As coisas mais fundamentais em qualquer escola eram os objetos com que os professores castigavam os alunos: réguas, canas, palmatórias. Só me lembro de ser castigado uma vez, por um padre, com uma santa-luzia, uma palmatória que tinha orifícios para doer mais. Fiquei com as mãos a arder durante horas. 

Depois, no liceu, fui praticamente obrigado a ir para a Mocidade Portuguesa. Como tinha dificuldades económicas e eles pagavam o almoço e os livros, lá fui. Quando fiz 18 anos, em janeiro de 1963, concorri à função pública e fui colocado no primeiro juízo do tribunal cível da comarca do Porto, com ideia de em outubro seguinte concorrer à academia militar, como acabei por fazer.

No tribunal, como era maçarico, puseram-me a fazer penhoras pequenas a pessoas que deviam mil, dois mil escudos ao merceeiro, ao talhante. Foi aí, nas ilhas da cidade do Porto, nos bairros dos pescadores de Matosinhos, que eu conheci de facto a miséria que havia neste país. Entrava em casas onde não havia nada para penhorar. 

Recordo-me de entrar uma vez numa casa onde havia uma televisão. Em 1963 quase ninguém tinha uma televisão. A dona da casa tinha duas filhas deficientes, totalmente dependentes, e tinha feito um grande sacrifício para a comprar. E eu disse-lhe, "não, eu não vi televisão nenhuma" e fui-me embora. Saí do tribunal do Porto com uma carga de raiva absoluta. Vivia num país miserável. E fui para a Academia Militar. Aí já não tinha de pensar em mais nada. 

Mas foi já com a guerra a acontecer nas três frentes.

Sim, em 1963. Mas, repare, eu desde miúdo que queria ser oficial do Exército. Os miúdos ficavam deslumbrados com os dourados, com as fardas, quando aparecia alguém do Exército na vila, por altura das inspeções ou quando iam lá recolher cavalos. Depois a malta organizava-se nas freguesias para ir à inspeção. E ai do rapaz que não passasse. Um tipo que ficasse livre da tropa ia ter dificuldades em se casar.

Portanto, sim, vou já com a guerra começada, mas teria sempre que ir. A minha opção em ser [militar] profissional foi bastante normal. Até se poderia pensar na altura que, sendo o curso da Academia Militar de vários anos, entretanto a guerra acabava. 

Havia essa ideia de que a guerra não duraria o que durou?

De início. O discurso era que tinha havido ali [nas colónas] um surto de violência, uns quantos massacres no norte de Angola, que não era algo estrutural. E o que tinha acontecido na Índia e levou à perda das colónias indianas também não era conhecido em Portugal quando o Salazar deu ordem para os portugueses resistirem até ao último homem. 

Refere nas suas memórias um seu coronel, Correia Diniz, que tinha ainda uma ideologia expressa de defesa da civilização europeia e da cristandade. Era comum?

Era o que prevalecia no Centro Nacional de Comandos. Fiz a primeira comissão em Angola como alferes e fui destacado como adjunto do comandante de uma companhia de atiradores. Depois de uns tempos no leste de Angola, o Estado-Maior mandou que todos os alferes do quadro fossem tirar o curso de Comandos, que duraria 14 semanas. Nós tínhamos uma capacidade militar adquirida na academia e nos tirocínios que era igual ou superior, em alguns aspetos, à dos comandos. Mas eles tinham aquela ideia das "tropas especiais". 

Isso chateou-me bastante. A mim e aos 40 alferes que lá estavam. De certa maneira, começou ali a germinar um certo descontentamento em relação ao Exército. Eu era um alferes que já tinha levado em cima com tiros do MPLA e da UNITA, que já tinha caído em emboscadas. Essa foi a minha experiência durante meses assim que cheguei a Angola, completamente maçarico. 

"Os soldados que iam daqui eram na sua maioria de zonas rurais, eram de casca grossa e muitos analfabetos. Alguns até faziam o exame da terceira classe no meio do mato, a despachar."

Mandam-me para os comandos e tenho que repetir aquelas instruções básicas de rastejar debaixo do arame farpado, levar com chumbinhos no rabo. Pegaram em oficiais qualificados, saídos da academia, que haviam estado uns meses largos em zonas de combate - porque não fomos para Angola passear - e obrigam-nos a tirar um curso que não acrescentou nada. Nem em técnicas de combate nem em "endurance" física. 

Resultado: dos 40 alferes, só dois é que ficaram nos comandos. Um porque era filho de um general, outro porque era carreirista. Acabou por não ter sentido nenhum. Apenas revelou o desnorte no Exército e a sua incapacidade em lidar com os oficiais. 

E qual era o contexto da instrução? Era que a terceira guerra mundial já tinha começado contra os comunistas e a União Soviética. E que nós estávamos ali, em África, a defender a civilização cristã e ocidental, e que éramos uma peça chave. Isso em 1967 já nem fazia sentido.

Quando a guerra começa, em 1961, até parece que todos os soldados vão com vontade. Se ler as cartas de guerra enviadas aos soldados nesses primeiros anos, as mães diziam-lhes: "meu filho, antes te quero morto que cobarde", "estás a defender a nossa terra". Notava-se como se tinha embrenhado nas cabeças das pessoas a propaganda do Estado Novo. 

E havia, nas cartas, uma evocação permanente da religião. Pedidos de proteção a Nossa Senhora de Fátima, promessas feitas pelas mães que os soldados depois pagavam ao voltar - iam rastejar para o Santuário de Fátima. Às tantas quem aguentou a guerra foi Nossa Senhora. 

Os soldados que iam daqui eram na sua maioria de zonas rurais, eram de casca grossa e muitos eram analfabetos. Alguns até faziam o exame da terceira classe no meio do mato, a despachar. Chegaram lá e depararam-se com uma sociedade extremamente desigual, socialmente primitiva, com uma elite branca omnipotente e os negros tratados como escravos, literalmente. E um negro, se tivesse alguma consciência, juntava-se à guerrilha. 

Depois, à medida que retornam os primeiros batalhões, após dois anos e tal, com uma mão cheia de nada e outra cheia da mesma coisa, percebe-se que não foram lá fazer nada. Uns foram morrer, outros ficaram estropiados. 

Portugal | A caça às bruxas de pantufas acabou, agora já usam botas cardadas

Cavaco e... Os neofascistas estão a fazer o seu caminho. Cai a máscara aos da caça às bruxas.

O Expresso do senhor Balsemão lançou a sua pretensiosa “escandaleira” integrada na já evidente caça às bruxas de antigamente. As parangonas da propriedade do pseudodemocrata ressuscita (mal) os informadores da PIDE salazarista julgando que atacaria somente o PCP na figura da Câmara Municipal de Setúbal de cariz CDU. Afinal, veio a saber-se, em Portugal há vários municípios que, como Setúbal, usavam e usam a colaboração de uma associação composta por cidadãos da Rússia, que neste caso veio a colaborar no apoio aos refugiados ucranianos. Os motivos são evidentes: a comunicação do idioma, melhor apoio a traumatizados pela guerra e pela condição de refugiados. Mas não, assim consideraram no Expresso & Cia. Aqui del-rei que vêm aí os russos! Que ridículo. Que fascistoide!

Os jornalistas do Expresso esqueceram-se (ou ignoraram?) que não era só o município de Setúbal a usar os serviços da associação dos cidadãos russos em Portugal. Afinal o objetivo era e é atingir o PCP. Prontos servidores jornalistas não faltam entre as paredes que Balsemão ergueu no seu vasto império da comunicação social. Assim, como em tempos idos a PIDE, aplicaram-se na neopolítica de caça às bruxas marckartenista. Aproveitando a boleia do conflito EUA-NATO-UE-RÚSSIA vale tudo e até a subserviência aos processos de bufaria tresloucada e sedenta dos senhores de antigamente como Balsemão e muitos outros que como cadáveres do salazarfascismo por aí deambulam. Pena é que haja quem se dispõe a servi-los, como antes, nos tempos da ditura devoradora da verdade e da justiça. Já antes o Expresso e outros do mesmo jaez eram o que eram, mas sem coragem de deixarem cair a máscara. Na atualidade está tudo à vista e só falta usarem a derradeira manchete: “Volta Salazar fascista, estás perdoado!” Nada do conteúdo desta situação é de admirar quando ficamos a saber que os portugueses votaram e revotaram num tal Cavaco Silva (na foto acima) que nos ensombrou as vidas durante duas décadas com mandatos de PM e de PR. Afinal votaram num ex-PIDE. Os calhaus não aprenderam nada. Pois. Uf!

A seguir em AbrilAbril podemos inteirar-nos de melhor esclarecimento sobre a pertenci osa "escandaleira" russofobica do Expresso e de outros do mesmo jaez.

(MM - PG)


Associação visada pelo Expresso colabora com autarquias de Norte a Sul

A EDINSTVO integra imigrantes russos, ucranianos e de outros países do Leste europeu. Além de autarquias, coopera com vários organismos da Administração Central, como o Alto Comissariado para as Migrações.

No seguimento do artigo divulgado esta sexta-feira pelo semanário Expresso sobre os serviços municipais de Setúbal no que se refere ao acolhimento de refugiados da Ucrânia, a Câmara informa num comunicado que, desde o início da invasão, tem em funcionamento um serviço de atendimento aos ucranianos que fogem da guerra. Através deste, adianta, tem prestado «todo o apoio necessário», em articulação com entidades como a Segurança Social, o Alto Comissariado para as Migrações, o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) e Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).

Com estas entidades colabora regularmente e há vários anos Igor Kashin, da Associação de Imigrantes dos Países de Leste (EDINSTVO), citado na notícia do Expresso, e que, refere o município sadino, «esteve também a dar apoio, no contexto das relações existentes, desde 2005, entre a CMS [Câmara Municipal de Setúbal] e a EDINSTVO [...] nos serviços municipais responsáveis pelo acolhimento de refugiados».

Apesar de as notícias terem como alvo a Câmara de Setúbal e de o PSD (com a IL e o Ch) querer ouvir o presidente André Martins na Assembleia da República, estas organizações, das quais fazem parte russos, ucranianos e outros imigrantes do Leste da Europa, estão a colaborar com várias autarquias do nosso país no apoio aos refugiados. Segundo referiu esta manhã à RTP o presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal, entre os municípios em que tal ocorre estão Gondomar (PS), Albufeira (onde o PSD governa em coligação com o CDS-PP, MPT e PPM) e Aveiro (PSD). 

Entretanto, a Câmara de Setúbal informa que vai solicitar ao Ministério da Administração Interna (MAI) a adopção imediata dos procedimentos necessários a fim de averiguar a veracidade das suspeitas veiculadas pelo Expresso, manifestando «total disponibilidade» para prestar toda a informação necessária. Ao mesmo tempo, repudia «com veemência [...] qualquer insinuação de quebra de sigilo no tratamento de dados de cidadãos ucranianos acolhidos nos seus serviços».

Segundo a autarquia, e tal como explicado ao semanário antes da divulgação da notícia, no atendimento realizado a estes e a outros cidadãos «são cumpridos todos os requisitos técnicos inerentes a um atendimento social». Sublinha que a recolha de informação «só é feita com autorização expressa por escrito dos próprios e é realizada por dois técnicos superiores da Câmara Municipal de Setúbal», num procedimento «reconhecido e utilizado pelas entidades que, em Portugal, fazem este tipo de trabalho», sendo que a informação recolhida apenas serve para instruir os processos de formalização do pedido de acolhimento destes refugiados.

Embaixadora da Ucrânia levantou suspeitas, Governo não respondeu 

Numa entrevista dada à CNN no início de Abril, Inna Ohnivets, embaixadora da Ucrânia em Portugal, insurgiu-se contra organizações no nosso país que «não têm nenhuma ligação com a Ucrânia», tendo-se referido à EDINSTVO, mas também às associações Amizade e MIR como «pró-russas», alegando que os dados dos refugiados ucranianos podiam ser transmitidos à Embaixada da Rússia. 

Após tomar conhecimento destas afirmações, a Câmara Municipal de Setúbal enviou um ofício ao primeiro-ministro a pedir que se pronunciasse sobre a veracidade destas declarações e esclarecesse «com a maior brevidade» possível se o Alto Comissariado para as Migrações mantinha a confiança na associação EDINSTVO, não tendo obtido resposta até ao momento.

Alimentando a campanha russófoba, já em Março Inna Ohnivets tinha manifestado «preocupação» com a existência de escolas russas em Portugal. Na passada quarta-feira, a Câmara de Lisboa cancelou o Protocolo de Amizade e Cooperação entre Lisboa e a cidade de Moscovo, celebrado em 1997 com o objectivo de «estabelecer relações bilaterais de cooperação e amizade em diversas áreas».  

AbrilAbril

Portugal na rua para comemorar o Dia do Trabalhador – 1º de Maio

Em dezenas de cidades e outras localidades, a CGTP promove as comemorações do 1º de Maio, reivindicando «mais salário, 35 horas, emprego com direitos, contratação colectiva e serviços públicos».

Nas comemorações do Dia Internacional do Trabalhador, que decorrerão sob o lema «Lutar e conquistar para o País avançar», a CGTP-IN homenageia também «as mulheres e homens que lutaram e continuam a lutar contra a exploração e por melhores condições de vida e de trabalho».

Do conjunto de iniciativas programadas para este domingo, destacam-se as manifestações em Lisboa, do Martim Moniz para a Alameda, no Porto, na Avenida dos Aliados, em Coimbra, entre as praças da República e 8 de Maio e em Setúbal, da Praça do Brasil à Avenida Luísa Todi, que decorrerão cerca das 15h. Mas, também em Aveiro, Angra do Heroísmo, Évora, Faro, Funchal, Santarém, Seia, Viana do Castelo, Vila Real e Viseu, entre outras.  

Neste 1 de Maio, assinalam-se os 136 anos do início da luta em Chicago pela redução da jornada de trabalho, que chegava a atingir 17 horas, para as 8 horas. Uma luta violentamente reprimida pelas autoridades dos Estados Unidos da América, que assassinaram dezenas de trabalhadores e condenaram à forca quatro dirigentes sindicais.

AbrilAbril

GENERAL VASCO GONÇALVES - centenário do nascimento e comemoração

Trabalhos do General Vasco Gonçalves em resistir.info:

A eterna questão das vanguardas

A Revolução de 1383-85

A derrubada do governo fascista-colonialista em 25 de Abril de 1974 e a situação de Portugal hoje

28 anos depois do 25 de Abril

No 31º aniversário da Revolução de Abril

Sobre a Revolução de Abril e a situação actual

Resistir.info 

CLASSE MÉDIA E UCRANIANA

Carlos Matos Gomes [*]

O termo “classes médias” não tem uma definição universal, mas sabemos que nas modernas sociedades são elas que pagam as contas. São os explorados de boa vontade e animados com a fé de serem colaboradores dos ricos.

A classe média é um grupo social em que o trabalho foi substituído pela colaboração. A doutrina do neoliberalismo separou os seus elementos dos trabalhadores (assalariados) ao convencê-los que o seu bem-estar futuro se deve à sua iniciativa individual, à sua agressividade, à sua disposição para fazerem tudo, à certeza de que os fins justificam os meios, da inutilidade de ações coletivas, de políticas sociais, da solidariedade.

O medo que o comunismo conquistasse os trabalhadores e as classes médias europeias fora a razão da criação do estado de social na Europa, conduzido pelas sociais-democracias e pelas democracias cristãs. Uma das causas da II Guerra Mundial, da ascensão do nazismo e da complacência da Inglaterra e dos EUA foi o medo que o comunismo destronasse o regime de domínio dos patrões. O fim da URSS ditou o fim desse medo e abriu caminho ao neoliberalismo, ao fim do Estado social a que estamos a assistir, juntamente com o fim dos partidos tradicionais na Europa continental.

A destruição da classe média tem sido conduzida com requintes de perversidade: é a própria classe média que, de jeans de marca, bronzeada, intitulada de “famosos” nas revistas, televisões e redes sociais, passou a trocar três refeições por dia por uma ida a um bar da moda, a um ginásio, que “posta” uma foto no FB ou no Instagram e se suicida com uns shots!

O mimetismo da imagem da classe média ao surgir mascarada de classe privilegiada (as oligarquias) fá-las ter a mesma leitura da realidade que os poderosos. Passam a pensar como os donos. (Síndrome de Estocolmo: afeto pelo agressor.)

A guerra na Ucrânia é um excelente revelador deste tipo de transferência de afetos e de leitura da realidade, em que o “colaborador” segue o dono e vai com ele até à sala de ordenha para lhe extraírem o leite, no melhor dos casos, ou para o matador para ser hamburguizada.

A guerra na Ucrânia tem por finalidade defender um mesmo modelo de sociedade de exploração e acumulação pelos dois contendores, os Estados Unidos, que têm o seu modelo em crise política (populismo), económica (pobreza) e social (racismo e etnicidade) e a Rússia que pretende passar de uma sociedade típica do terceiro mundo, exportadora de matérias-primas, para uma sociedade de capitalismo desenvolvido e de consumo.

O poder instalado no Kremlin promete aos russos os bens e os produtos desejados pela classe média — daí a relativa popularidade do poder de Putin e desta guerra feita em nome da grandeza da grande Rússia. E os EUA, depois de proletarizarem a sua classe média, necessitam de fazer o mesmo à classe média europeia, caríssima com os seus sistemas de segurança social, educação, saúde, preocupações ambientais. A classe média europeia tem de ser privatizada: pagar planos de reformas privados, planos de saúde privados, escolas privadas… Tem de ser privada de tudo. Americanizada.

Se eu vir Ucrânia como o forno crematório da classe média europeia, além de um campo de lançamento de foguetes sobre a Rússia, a classe média europeia responder-me-á que a Ucrânia é apenas um Club Méditerranée com todas as comodidades e liberdades, dirigido por um excelente animador e que os russos querem tomar para si. Que a NATO é uma respeitável empresa de segurança privada e a UE uma empresa de Cash&Carry.

A conta desta guerra irá, com a nova ordem de democratização da pobreza na Europa, irá certamente para a mesa da classe média europeia, que parece feliz por ir ver aumentar a sua fatura com armas, embora só refile por causa das do gás e da gasolina, do pão e do óleo de girassol… produtos de pobre. As armas têm outra dignidade!

26/Abril/2022

[*] Coronel do Exército, reformado, autor de vários livros.

O original encontra-se em estatuadesal.com/2022/04/28/classe-media-e-ucrania/

Este artigo encontra-se em resistir.info

* Carlos Vale Ferraz, pseudónimo literário de Carlos de Matos Gomes, nasceu a 24 de julho de 1946, em Vila Nova da Barquinha. Foi oficial do Exército, tendo cumprido comissões em Angola, Moçambique e Guiné.

Carlos Vale Ferraz - WOOK

ENVIADAS ESPECIAIS CHEGARAM À UCRÂNIA. PASSE DE AVIÃO PARA ZELENSKY

Zelenky recebeu Pelosi, a enviada especial número 1.779 dos EUA, presidente da Câmara dos Representantes dos EUA. Na foto ela detém, para oferta, um passe de avião oferecido ao presidente comediante ucraniano - assim pode ir, sempre que queira, à Casa Branca do Tio Sam. E até residir por lá pelo tempo necessário quando tiver de fugir da Ucrânia. Longe vá o humor que aqui carregamos por presenciar tanta palhaçada e tanta zelenskada. A propósito: a CIA prepara uma condecoração secreta por lá é tudo assim e Xanana Gusmão também foi condecorado quando se deslocou à sede da CIA em Langley - para Zelensky quando a sua missão de subserviência aos EUA estiver bem encaminhada. Por agora ainda não estão seguros com o sucesso dos objetivos da procuração passada a Zelensky. Pode haver surpresas vindas da Rússia nesta guerra dos EUA-NATO contra a Rússia e o multipluralismo global. Ficámos também a saber que a Angelina Jolie está na Ucrânia. É a enviada especial 1780. Comediantes e atrizes na guerra da ucraniana é o que não falta. Em seguida, sobre o ponto de saturação na Ucrânia, conforme consta no Jornal de Notícias. Leiam e observem as futilidades made in EUA. Ora, ora, palhaçadas do piorio. (PG)

Nancy Pelosi em Kiev e com Zelensky

O 67.º dia de guerra começa com a visita surpresa a Kiev da presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi. No seu discurso noturno, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, pediu aos soldados da Rússia que se recusem a lutar na Ucrânia.

Nancy Pelosi em Kiev

A presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, fez uma visita surpresa a Kiev.

O presidente Volodymyr Zelensky divulgou no Twitter um vídeo do encontro, cerca das 7 horas.

"Os Estados Unidos são um líder no forte apoio à Ucrânia contra a agressão russa. Obrigado por nos ajudar a proteger a soberania e a integridade territorial do nosso país!", escreveu o líder ucraniano.

Zelensky pede, em russo, às tropas de Moscovo que se recusem a lutar

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky pediu aos soldados da Rússia que se recusem a lutar na Ucrânia, dizendo que até os generais de Moscovo esperam que milhares de tropas russas morram nas próximas semanas.

No habitual discurso diário, divulgado em vídeo no sábado à noite, Zelensky dirigiu-se, em russo, diretamente aos soldados da Rússia.

O líder ucraniano disse que a Rússia está a recrutar novas tropas, "com pouca motivação e pouca experiência de combate", para reforçar as unidades que sofreram perdas durante as primeiras semanas da invasão.

Ataque em Odessa, boas notícias de Mariupol e uma presença de Hollywood (Angelina Jolie)

No início do 67.º dia de guerra, recorde os pontos-chave do dia anterior aqui.

Sandra Alves | Jornal de Notícia

O que explica a enorme quantidade de ajuda militar da Polônia a Kiev?

#Traduzido em português do Brasil

Andrew Korybko* | One World

A enorme ajuda militar polonesa a Kiev complementa a ajuda socioeconômica igualmente massiva que está dando aos milhões de ucranianos que são recebidos em seu território para criar uma política interna e externa centrada na Ucrânia que equivale à fusão de fato desses dois países apenas como o que aconteceu brevemente quando a Polônia ocupou Kiev por alguns meses durante a Guerra Polaco-Soviética.

A Rádio Polskie informou que a Polônia forneceu a Kiev metade de seus tanques, 200 de 400, desde o início da operação militar especial da Rússia naquela ex-República Soviética. Outros equipamentos incluem drones, artilharia, sistemas antiaéreos e mísseis. É uma quantidade enorme de ajuda que levanta questões sobre por que a Polônia está investindo tanto no resultado desse conflito. O país está claramente desempenhando o papel maior e mais ativo, além da Rússia, dos EUA e, claro, da própria Kiev, o que sugere que está perseguindo um objetivo maior. O objetivo desta peça é explicar precisamente o que pode ser com o objetivo de informar melhor aqueles observadores que estão se perguntando a mesma coisa.

O porta-voz do governo polonês, Piotr Muller , disse na semana passada que o valor de US$ 1,6 bilhão em armas que Varsóvia admitiu ter enviado a Kiev era “para defender a soberania ucraniana, polonesa e europeia”. Do ponto de vista da Polônia, a guerra por procuração da OTAN liderada pelos EUA contra a Rússia através da Ucrânia é uma questão de “soberania” para ela, o que não é surpreendente. Este país da Europa Central e aspirante a líder regional sempre viu a Ucrânia dentro de sua “ esfera de influência ”, que é uma das razões pelas quais o alerta do chefe de espionagem russo Sergey Naryshkin na semana passada de que está planejando ocupar e anexar a Ucrânia Ocidental deve ser considerado credível. mesmo que não seja do interesse objetivo da Polônia fazê-lo como foi argumentado aqui .

O partido governante “Lei e Justiça” (PiS de acordo com sua abreviatura polonesa) é abertamente russofóbico e se gabou disso no final de março, quando o primeiro-ministro Mateusz Morawiecki afirmou orgulhosamente que seu país estabeleceu o padrão global para essa forma de fascismo (ele, é claro, não o descreveu dessa maneira, embora possa, no entanto, ser visto como tal). O cardeal cinza Jaroslaw Kaczynski é patologicamente russófobo, pois se apega à teoria da conspiração de que a Rússia matou seu irmão, o ex-presidente Lech Kaczynski, durante a tragédia do acidente de avião de Smolensk em 2010, apesar de não haver evidências disso. Sob tal liderança, era certo que a Polônia apoiaria ao máximo Kiev contra a Rússia.

Mais lidas da semana