sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Angola | AS ELEIÇÕES MAIS JUSTAS DE SEMPRE – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

 O MPLA é incómodo, indigesto e odiado desde que nasceu em 10 de Dezembro de 1956 já lá vão 66 anos. Longa vida! Mal foi conhecido o manifesto que revelou o movimento revolucionário à luz do dia, os seus dirigentes, militantes e apoiantes foram catalogados de terroristas e traidores de Portugal do Minho a Timor. Foram presos, mortos ou partiram para o exílio. Da acção política rapidamente se passou para a luta armada. Eis o seu nome completo: Movimento Popular de Libertação de Angola. Uma ampla aliança de classes. Quem defendia o ideal nacionalista tinha lugar no seu seio. Todas e todos estavam dispostos a morrer pela libertação da Pátria Angolana.

O movimento acolheu no seu seio desde os nacionalistas tradicionais aos anarquistas e aos comunistas. Todos irmanados no objectivo comum de libertar a Pátria Angolana. À luta armada de libertação nacional só aderiram os excepcionais. E entre estes, muitos ficaram pelo caminho, arrependidos. Ser excepcional cansa muito e exige tanto, que fraquejar é tão humano como cerrar os dentes e continuar a luta revolucionária. 

O percurso, a partir de 4 de Fevereiro de 1961, foi muito difícil e sinuoso. Os que defendiam o nacionalismo tradicional pensaram melhor e alguns abandonaram a luta. Alguns revolucionários pensaram pior e levaram para o interior do movimento os malefícios da querela sino-soviética. Viriato do Cruz levou a contestação ao ponto de propor a dissolução do MPLA na UPA. Derrotado por Agostinho Neto nas eleições para a direcção, concretizou a sua posição e levou com ele um grupo de maoistas. Acabou mal. O alargamento da luta à Frente Leste causou erupções tribalistas prontamente combatidas. Angola é um só povo, uma só nação. 

Depois do triunfo do Movimento das Forças Armadas (MFA) em Portugal, o MPLA foi invadido por chusmas de oportunistas de toda a espécie, alguns com a chancela de Mário e Joaquim Pinto de Andrade, Gentil Viana ou Vieira Lopes figuras de proa do Nacionalismo Angolano e que pertenceram à direcção do movimento. A dinâmica da luta encarregou-se de separar as águas. O MPLA foi refundado no interior e Agostinho Neto confirmadíssimo na liderança. 

Logo após a Independência Nacional surgiram erupções racistas e tribalistas, suportadas por uma pequena burguesia pseudo revolucionária que tinha como brasão, ter passado pelos campos de concentração do Tarrafal e do Bentiaba (São Nicolau). Esta aliança desembocou na tragédia do 27 de Maio de 1977. Mas o MPLA continuou a defender o princípio um só povo, uma só nação. Até hoje. Por isso tem ganho com maiorias absolutas ou qualificadas, todas as eleições em que participou desde que Angola aderiu à democracia representativa e ao capitalismo, apelidado de economia de mercado, para não assustar.

O MPLA é imbatível eleitoralmente enquanto a UNITA estiver na liderança da Oposição. Disto ninguém tenha a mínima dúvida. E ficou provado nas eleições de 24 de Agosto. Todos abrigados na Frente Patriótica Unida, perderam estrondosamente. O MPLA elegeu 124 deputados, mais 13 do que precisava para a maioria absoluta. Os pescadores de águas turvas salientam a vitória da UNITA no círculo eleitoral de Luanda. Na verdade foi uma vitória do MPLA unido à Oposição contra o MPLA.

O papel da Espanha na ocupação do Sahara Ocidental e no genocídio saharaui

Rebelion

O que está claro é que não foi um ano para "disparar foguetes", mas foi um ano complicado em todos os sentidos e entre tanto desastre e desordem, pode-se perguntar: E o conflito no Saara Ocidental?

Madri (ESC) –  Quase quarenta e sete anos se passaram em 2022 desde que a Espanha abandonou aquela que ainda é considerada a última colônia da África, o Saara Ocidental, em 14 de novembro de 1975, quando a Espanha encontrou em Madri uma delegação marroquina e, por outro lado, uma delegação da Mauritânia. governo, o objetivo era claro, de proceder à venda do Sahara Ocidental pela Espanha a estes dois países, venda esta materializada nos acordos tripartidos ilegais de Madrid.

A assinatura destes acordos marcou o início do drama, do êxodo, da guerra e do genocídio que o povo saharaui viveu e continua a viver. Quarenta e sete anos se passaram e a Espanha ainda não assume sua responsabilidade histórica para com os saharauis, a Espanha ainda não lidera o processo de descolonização que o Saara Ocidental ainda espera, pior ainda, o governo mais progressista da história do país ofereceu seu apoio para Marrocos nessa ocupação. O que também chama a atenção é que nestes 47 anos nem as Nações Unidas nem a comunidade internacional conseguiram mudar a situação do povo saharaui, não conseguiram chegar a um acordo justo que garanta a autodeterminação do povo saharaui na sua terra e no seu próprio futuro, antes pelo contrário, o que havia, segundo denunciam os próprios sarauís.

Exílio

O povo saharaui vive dividido, uma parte dos saharauis vive nos territórios do Sahara Ocidental ocupados por Marrocos, a outra metade vive em campos de refugiados no sul da Argélia, há mais de quatro décadas os saharauis vivem numa situação complicada num dos desertos mais inóspitos do mundo. Este 2022 foi um dos anos mais complicados, pois além de viver em condições difíceis em todos os sentidos, os refugiados saharauis tiveram que lidar com a guerra que começou em 13 de novembro de 200 e a decisão da ONU de cortar a ajuda humanitária. Condições realmente complicadas que o povo saharaui suportou durante as últimas quatro décadas no exílio, mas longe de destruir o nosso povo,

O exílio também é uma forma de tentar exterminar nosso povo, o reino de Marrocos tem usado o argumento de "sem solução, como solução" na tentativa de afogar nosso povo no exílio e dobrar sua vontade de lutar por seu legítimo direito à independência , também a comunidade internacional com sua inação ou a ONU com sua passividade com o regime ocupante marroquino, favoreceu que hoje, 47 anos depois, continuemos falando sobre esse conflito e um povo exilado.

Portugal | REVISITAR O ORÇAMENTO PARA 2022

José Gusmão* | Setenta e Quatro

A geringonça e a sua política de recuperação de rendimentos foi para o PS um parentesis. Na primeira oportunidade, o PS acabou com qualquer simulacro de convergência e regressou à política do extremo-centro: à austeridade e à estratégia de empobrecimento.

O atual contexto político é marcado pelo agravamento da crise social e, particularmente, pela crise dos rendimentos resultante pelo nível de inflação e a ausência de atualização salarial. Enquanto os lucros e dividendos das grandes empresas aumentam, também graças à perda real dos salários, quem vive do seu trabalho pode vir a perder o equivalente a mais de um mês salário até ao fim do ano.

A somar-se a esta colossal transferência de rendimento do trabalho para o capital, o país assiste ainda à degradação de serviços públicos essenciais, com destaque para o colapso do Serviço Nacional de Saúde, que se reflete também nos rendimentos do trabalho, uma vez que já está a conduzir a um aumento das despesas das famílias com cuidados de saúde. Das que podem, bem entendido.

Aqui chegados, é impossível não fazer um exercício de memória sobre as razões que levaram ao chumbo do Orçamento para 2022. Na altura, a esquerda confrontou o Governo PS com o sistemático adiamento das soluções imprescindíveis para salvar o SNS e com a indisponibilidade do PS para romper com o quadro de relações laborais saído do Governo de Passos Coelho, quadro esse que determina em boa medida a degradação dos salários reais, a par do orçamento que estagnou os salários da função pública.

A indisponibilidade do PS para qualquer compromisso sobre estas duas matérias levou a uma ruptura. Independentemente das explicações dos 3 partidos, BE e PCP foram duramente penalizados. O PS conquistou a maioria absoluta e acabou por aprovar um orçamento que determina o maior corte de salários desde 2012 (possivelmente, ainda maior, dependendo de como evoluir a inflação), com as inexplicáveis abstenções do PAN e Livre, justificadas com medidas abaixo de simbólicas.

A penalização eleitoral da esquerda será, para muito boa gente, para esquecer este processo, mudar de assunto e seguir em frente. É uma postura respeitável, mas penso que perdemos em fazer deste tema um tabu. Recentemente, numa notícia do Expresso é um ex-governante do PS que faz o balanço crítico do conteúdo daquelas negociações. O balanço não podia ser mais lapidar: “O Bloco tinha razão em tudo”. A mesma frase poderia ter sido dita sobre o PCP, digo eu. A revitalização da contratação coletiva, a abertura de vagas em exclusividade para médicos, a valorização das carreiras da saúde teriam permitido combater muitos dos problemas a que hoje assistimos.

Em vez de negociar essas medidas, o PS preferiu apostar na chantagem e na dramatização e hoje confessa a sua impotência para resolver a crise social, recuperando a retórica dos sacrifícios e da “responsabilidade orçamental”. O mesmo discurso que, com Passos Coelho, lançou o país na recessão económica e crise social e – convém não esquecer – num aumento exponencial da dívida pública. A geringonça e a sua política de recuperação de rendimentos foi para o PS um parentesis. Na primeira oportunidade, o PS acabou com qualquer simulacro de convergência e regressou à política do extremo-centro.

O regresso à austeridade e à estratégia de empobrecimento é ainda mais grave no contexto de aumento das taxas de juro do BCE e regresso às regras orçamentais. Mesmo que o BCE mantenha os juros da dívida público controlados (o que não acontecerá sem condições), os orçamentos das famílias serão ainda mais sobrecarregados. E o cumprimento das regras orçamentais apenas irá servir para extremar a política que o Governo escolheu, mesmo quando as mesmas estavam suspensas.

O cumprimento dessas regras, associado à ausência de uma aposta nos serviços públicos, implicará a continuação da estratégia da concessão/privatização do SNS com ainda mais dinheiro a ir para os privados, e ainda menos dinheiro para o público. Um interminável ciclo vicioso de desinvestimento/privatização/desinvestimento. A demissão de Marta Temido nada faz para inverter essa lógica, sobretudo se for verdade que a escolha do seu sucessor será concertada com o Presidente. A gravidade de todo este cenário representa uma reviravolta histórica: a traição do legado de António Arnaut, um socialista de toda a vida. Um cenário catastrófico, mas não inevitável.

Revisitar o Orçamento que está a presidir à atual crise é revisitar as opções desastrosas de um documento que chegou a ser apresentado como “o orçamento mais à esquerda de sempre”, um artigo de marketing que chega a parecer uma piada de mau gosto. Mas é também pensar em alternativas que continuam disponíveis. Investir no SNS, renovando a aposta na provisão pública, que foi um modelo de sucesso durante décadas. Proteger os salários, controlando a inflação onde ela está a ser gerada, nos preços e lucros do setor da energia. Lidar com as causas estruturais do nosso endividamento, aproveitando a exigência climática para romper com uma década de mínimos históricos de investimento.

Meio ano de maioria absoluta chegou e sobrou para mostrar o que o país perdeu quando o PS ficou de mãos livres. É por isso que é pena que, fora ex-governante anónimos, haja tão poucas vozes críticas dentro do PS. Quanto mais tempo passar sem que se reconheça o beco-sem-saída em que o Governo está a colocar o país, mais difícil será construir alternativas com futuro. E as convergências que as suportem. Ontem já era tarde.

*José Gusmão - Ladrões de Bicicletas

GOVERNO COSTA ROUBA NA SAÚDE, MENDIGA GÁS EM ÁFRICA, REZA POR ÁGUA

Investimento na Saúde a cair 33%. Governo na Nigéria para que não nos falte o gás e a água que já escasseia nos rios. O Expresso nas bancas

Bom dia.

Paula Santos | Expresso - curto

Depois de uma semana marcada pela demissão da ministra da Saúde, António Costa pode agora acrescentar à lista já extensa mais um problema para resolver no sector.

O investimento público no SNS está a cair 33% este ano.

Ou seja, com um orçamento com mais do dobro da verba prevista para 2021, por cada dez euros que o Governo prometeu investir na Saúde, gastou, nos primeiros seis meses do ano, apenas 1,2 euros.

Há mais sobre o tema que marcou a semana na edição do Expresso que já está nas bancas.

Virar a página, parece ser a estratégia adotada pelo primeiro-ministro para enfrentar os problemas dos últimos dias na Saúde, já com a promessa de apresentar na segunda-feira aos portugueses um pacote de dois mil milhões de euros para apoiar as famílias no combate aos efeitos da inflação.

Desviado o foco, é preciso depois tratar de assegurar a substituição de Marta Temido. O que é determinante para que o Governo possa recuperar o fôlego. E o nome do escolhido, entre alguns potenciais candidatos de que lhe falamos, não tem pouca importância. Antes pelo contrário, tendo em conta os enormes desafios que tem pela frente, a começar pela reforma do SNS que aqui destacamos.

Mais do que uma solução para a Saúde, no PS espera-se que o primeiro-ministro possa aproveitar a ocasião para fazer outros acertos, num processo que não tem mesmo solução para breve.

Outra polémica varrida para debaixo do tapete. Medina desiste do cargo que era para Sérgio Figueiredo. O ministério não vai propor mais nenhum nome para a função de consultor que chegou a ser justificada por ser “uma necessidade específica” nas Finanças.

PSD quer descer IVA da energia para 6%. Enquanto o pacote do Governo não chega, Montenegro diz ao Expresso que a proposta vai juntar-se ao plano de emergência social anunciado na Festa do Pontal.

Patriarca pede perdão pelos abusos. A nota pastoral está no site do Patriarcado de Lisboa, um mês depois das notícias que revelaram a existência recente de denúncias que não tiveram consequências.

Governo acusado de antissemitismo. A comunidade Israelita do Porto apresentou uma queixa à Procuradoria Europeia.

Portugal | ESPECULAÇÃO E LUCROS DO GRANDE CAPITAL AUMENTAM INFLAÇÃO

Segundo os dados divulgados esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística, a estimativa para a inflação homóloga de Agosto (variação em relação ao mesmo mês do ano anterior) é de 9,0%.

AbrilAbril | editorial

Os dados do INE demonstram igualmente que a inflação acumulada desde o início do ano atingiu já os 6,9%. Estes dados dão expressão estatística, por um lado, ao aumento dos preços e a uma acelerada perda de poder de compra da população. Por outro, a uma rápida desvalorização dos salários e das pensões e ao empobrecimento dos trabalhadores e dos reformados.

Sucedem-se os anúncios de aumento dos preços, nomeadamente os mais de 30 euros de aumento para o gás canalizado a partir de Outubro, o apelo do Governo, a pretexto da seca, para o aumento do preço da água, o agravamento em 17% do preço do material escolar, para além da escalada dos preços de um conjunto de bens alimentares essenciais.

A inflação está a crescer vertiginosamente, mas não só. Também os lucros dos grupos económicos ligados à energia, à grande distribuição, à banca e às telecomunicações, entre outros, estão a atingir níveis elevadíssimos à custa da especulação e do agravamento da exploração.

Entretanto, o Governo do PS e os partidos à sua direita, nomeadamente o Chega e a Iniciativa Liberal, sustentam os interesses desses grupos económicos recusando, designadamente, o aumento de salários e pensões e a regulação dos preços. Todavia, não serão medidas paliativas e assistencialistas, como por exemplo as que o PSD apresentou na sua rentrée política no Pontal, no chamado plano de emergência, que resolverão os problemas do aumento das desigualdades sociais e do agravamento da pobreza.

Trata-se, isso sim, de aumentar salários e pensões de forma a permitir recuperar o poder de compra, regular preços e impedir a especulação, e taxar os lucros desmesurados dos grandes grupos económicos.

Portugal | Hotelaria: LAMÚRIAS DOS PATRÕES ESCONDE RECEITAS RECORDE

Não há falta de trabalhadores, há é excesso de lucro nos bolsos dos patrões. Receita histórica no sector, entre 1,29 e 1,35 mil milhões de euros, continua a não ser suficiente para pagar salários digno.

Mais depressa se apanha um mentiros que um coxo. A lengalenga dos patrões da Hotelaria sobre a pretensa falta de trabalhadores foi rapidamente desmentida pela realidade. Um negócio sustentado em horários desregulados, no assédio moral, em recibos verdes e baixos salários, poderá vir a acumular, em finais de 2022, uma receita recorde no sector.

«O sector do alojamento turístico registou três milhões de hóspedes e 8,6 milhões de dormidas em Julho de 2022, correspondendo a aumentos de 85,4% e 90,1%, respectivamente (+97,6% e +110,7% em Junho, pela mesma ordem). Face a Julho de 2019 [antes da pandemia], registaram-se aumentos de 6,3% e 4,8%, respectivamente», indica o relatório divulgado ontem pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). 

Depois de meses de lamúrias, os patrões regozijam-se com os resultados: «acabaremos o ano com uma receita entre 5 e 10% superior à de 2019», anunciou Hélder Martins, presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), em declarações prestadas ao Diário de Notícias.

Avaliando os valores anunciados pela AHETA, o jornal estima que a actividade turística da região em 2022 poderá atingir resultados históricos, entre 1,29 e 1,35 mil milhões de euros. A Hotelaria junta-se, assim, aos restantes sectores que, nunca aumentando salários, aumentaram exponencialmente os seus custos e, como é inevitável, os seus lucros. 

EUA REFORÇAM SEU DOMÍNIO NEOCOLONIAL SOBRE A UCRÂNIA

Drago Bosnic* | South Front | opinião

Washington exerce ainda mais controle sobre o regime de Kiev, estabelecendo seu próprio comando militar, aumentando a presença de inúmeras ONGs apoiadas por estrangeiros, além de enviar conselheiros e representantes corporativos dos EUA.

#Traduzido em português do Brasil

A Ucrânia nunca foi vista como um país particularmente soberano. No entanto, em 2014, qualquer aparência de independência foi perdida para sempre quando o Ocidente político usou os elementos neonazistas da sociedade ucraniana para instalar o atual regime de Kiev. Tanto a União Européia quanto os Estados Unidos tinham interesses na Ucrânia, embora um tanto divergentes. Enquanto a UE via a Ucrânia como uma oportunidade perfeita para ampliar significativamente sua área de exploração neocolonial, os EUA a viam como isso e uma alavanca estratégica inigualável contra a Rússia.

Com a Ucrânia sob o firme controle de Washington, o conceito de destruição mutuamente assegurada (MAD) teria sido severamente prejudicado, dando aos EUA uma clara vantagem, forçando a Rússia a capitular ou escalar efetivamente. Os estrategistas do Pentágono ficaram especialmente felizes com essa reviravolta, independentemente de quantos especialistas da era da Guerra Fria, ex-oficiais militares e do governo desaconselharam essa abordagem extremamente perigosa, quase suicida .

Por sua vez, o establishment russo percebeu que seria encurralado se isso se materializasse. Moscou decidiu agir decisivamente em 24 de fevereiro, lançando sua operação militar especial para afastar a OTAN de suas fronteiras ocidentais, bem como para evitar a perda total das Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk. A intervenção da Rússia provou que as forças do regime de Kiev, embora significativamente ampliadas e modernizadas, não eram páreo para os militares da superpotência de Moscou. Vendo a rapidez com que seu projeto em Kiev iria desmoronar, o Ocidente político reagiu enviando bilhões de dólares em armas , além de mobilizar sua enorme máquina de propaganda para criar uma imagem de “defensores ucranianos lutando contra a invasão brutal completamente não provocada da Rússia”.

Os BTGs da Rússia (grupos táticos de batalhão) assumiram o controle de grandes extensões de terra em poucos dias, ajudando a moldar o campo de batalha ao gosto de Moscou e preparando o terreno para o aspecto mais importante da operação militar especial – a desmilitarização. À medida que a luta começou a se transformar em um exemplo clássico de guerra de atrito, o Ocidente político percebeu que a Rússia certamente prevaleceria. Os EUA e a OTAN entenderam que apenas carregamentos constantes de armas poderiam manter as forças do regime de Kiev à tona. Ainda assim, apesar da máquina de propaganda ocidental tentar retratar essas armas como o novo “wunderwaffen”, a experiência da junta neonazista lutando contra os militares russos com as referidas armas pintou um quadro muito menos lisonjeiro.

Para enfrentar a questão da incompetência do regime de Kiev, os EUA decidiram assumir ainda mais o controle da situação e de como os meios militares enviados pelo Ocidente político estavam sendo usados. Isso transformou a Ucrânia, já um excelente exemplo da política externa neocolonialista dos EUA, em uma colônia quase direta dos EUA. A tão elogiada ofensiva no oblast de Kherson ilustra isso perfeitamente. A ofensiva não apenas fracassou antes mesmo de começar, mas também está claro que os EUA precisam dela muito mais do que o próprio regime de Kiev. A junta neonazista carece de soldados, armas e logística para lançar qualquer ofensiva sensata. Além disso, os militares russos gozam de superioridade aérea, tornando qualquer tentativa suicida, na melhor das hipóteses.

Ainda assim, os Estados Unidos e, acima de tudo, o problemático governo Biden, precisam desesperadamente de até mesmo uma aparência de vitória, já que as eleições de meio de mandato estão a poucos meses de distância. O governo dos EUA precisa demonstrar o quão “bem-sucedida” é sua política para a Ucrânia. O problema é que não há nada de bom que ela possa usar para criar a ilusão de sucesso. A atual posição global dos EUA, juntamente com uma situação doméstica cada vez mais difícil, representa uma ameaça significativa para o Partido Democrata, que precisa desesperadamente de qualquer coisa para mostrar que as políticas do governo Biden, tanto domésticas quanto externas, são benéficas para os EUA.

Para atingir esse objetivo, os EUA estão “aumentando sua presença” na Ucrânia . A noção de que seu dinheiro será desviado pelos funcionários corruptos do regime de Kiev e sua “ajuda letal” vendida no mercado negro está deixando o governo Biden especialmente desconfortável, pois isso provavelmente criará ainda mais problemas e prejudicará ainda mais a reputação já abalada de o actual governo dos EUA, para não falar das consequências negativas para a sua política na Ucrânia. Para enfrentar esta questão e por estar insatisfeito com os “sucessos militares” das forças do regime de Kiev, os EUA estão estabelecendo seu próprio comando militar que controlará o curso das operações militares conduzidas pelas forças da junta neonazista. Isso também inclui a distribuição e uso de armas americanas e outras armas ocidentais fornecidas às forças do regime de Kiev.

As mudanças na política não estão afetando apenas os militares, mas também as instituições governamentais. Exercer ainda mais controle sobre as ações do governo do regime de Kiev, aumentar a presença de inúmeras ONGs apoiadas por estrangeiros, bem como enviar conselheiros e representantes corporativos dos EUA são ações que visam fortalecer o domínio neocolonial dos EUA. Desta forma, até mesmo a tomada de decisão operacional local está sendo retirada do regime e relegada à embaixada dos EUA em Kiev. É precisamente essa política neocolonial (quase uma cópia da que foi realizada na África, América Latina, Oriente Médio etc.) que está empurrando o povo ucraniano para um conflito prolongado e sangrento com a Rússia, que eles não podem esperar vencer.

* Analista geopolítico e militar independente

Ler em South Front:

Fotos: Barcaças ucranianas destruídas na tentativa fracassada de atacar a central nuclear de Zaporozhie

Pesadas perdas de forças ucranianas em Kherson confirmadas

SITUAÇÃO MILITAR NA UCRÂNIA EM 1 DE SETEMBRO DE 2022

  • A Rússia atingiu a 14ª brigada mecanizada da AFU perto de Ruski Tyshky com mísseis de alta precisão;
  • A Rússia atingiu a 93ª brigada mecanizada da AFU perto de Chasov Yar com mísseis de alta precisão;
  • A Rússia atingiu a 72ª brigada mecanizada da AFU perto de Artemovsk com mísseis de alta precisão;
  • A Rússia atingiu ativos militares da AFU perto de Andriivka com mísseis de alta precisão;
  • A Rússia atingiu ativos militares da AFU perto de Malinovka com mísseis de alta precisão;
  • A Rússia atingiu ativos militares da AFU perto de Zhovtneve com mísseis de alta precisão;
  • A Rússia atingiu ativos militares da AFU perto de Kolomiytsy com mísseis de alta precisão;
  • Os sistemas de defesa aérea russos derrubaram 8 drones ucranianos perto de Yakovenkovo, Volchiy Yar, Shpakovka, Kislovka, Glinskoye, Kapitolovka na região de Kharkiv, Petrovka e Lyubimovka na região de Kherson;
  • Os sistemas de defesa aérea russos derrubaram 48 foguetes perto de Muzykovka, Znamenka, Vesele, Kamenka, Daryevka, Novaya Kakhovka, Berislav, Dnepryan e Tomarino.
  • South Front

CHEFE DA AIEA DEIXOU A CENTRAL NUCLEAR DE ZAPOROZHIE

MINISTÉRIO DA DEFESA DA RÚSSIA COMENTA SITUAÇÃO

South Front

O chefe da AIEA deixou o território da Usina Nuclear de Zaporozhye. Vários observadores da AIEA permaneceram lá. O chefe da AIEA, Grossi, disse que a missão conseguiu reunir muitas informações importantes em poucas horas na central nuclear de Zaporizhzhya, ele viu “coisas-chave” que queria ver.

#Traduzido em português do Brasil

O Ministério da Defesa russo anunciou que a provocação militar realizada pelo regime de Kiev no dia da chegada da missão internacional estava planejada. Aqui estão os detalhes da operação das Forças Armadas da Ucrânia realizada na manhã de 1º de setembro: LINK

De acordo com o MoD, as ações militares de grupos de sabotagem ucranianos desencadeadas no dia da chegada dos especialistas da AIEA e o bombardeio da usina nuclear de Zaporozhye pelas Forças Armadas da Ucrânia não deixam dúvidas de que a provocação militar foi preparada pelo regime de V. Zelensky .

A visita do NPP pelos especialistas da AIEA estava prevista para 31 de agosto, mas foi posteriormente adiada devido à reunião “não programada” de R. Grossi com V. Zelensky. O motivo da mudança de cronograma foi a necessidade de os militares ucranianos completarem a preparação da operação para capturar a central nuclear de Zaporozhye.

É óbvio que, em caso de sucesso da operação do regime de Kiev destinada a apreender a estação, o chefe da AIEA R.Grossi e os especialistas da missão se tornariam um “escudo humano” dos sabotadores ucranianos para impedir quaisquer ações para destruir o Agrupamento ucraniano por unidades das forças armadas russas.

O papel da missão da AIEA em tal cenário seria limitado a ancorar o novo status quo, – “Zaporizhzhya NPP está sob controle total de Kiev”. Isso seria imediatamente seguido por declarações barulhentas de Washington e das capitais europeias, instando e exigindo que a Rússia forneça uma “zona desmilitarizada” ao redor do NPP, onde os observadores da AIEA devem permanecer, mas sob a proteção dos militares ucranianos.

Esta provocação foi frustrada pelas ações efetivas das unidades das forças armadas russas e Rosgvardiya. A missão da AIEA chefiada por R. Grossi chegou à usina nuclear e fez seu trabalho com total segurança do lado russo. O Ministério da Defesa russo reivindicou respeito à posição de R. Grossi e sua equipe, que vieram à estação, apesar das provocações de Kiev e do bombardeio da AFU.

A este respeito, entendemos completamente o silêncio mortal de todos os patrocinadores ocidentais do regime de V. Zelensky, que realmente confirma sua participação tácita na preparação da provocação de hoje na central nuclear de Zaporozhye, afirmou o Ministério. Ao mesmo tempo, a ausência de uma reação pública por parte do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, sobre as ações de Kiev na área da central nuclear de Zaporozhye causa uma perplexidade razoável.

Tal silêncio não coloca em dúvida a objetividade das abordagens da ONU sobre a situação na central nuclear de Zaporozhye, mas também leva a uma nova escalada da situação lá com total impunidade do regime de Kiev.

Ler/ver mais em Douth Front:

Fotos: Barcaças ucranianas destruídas na tentativa fracassada de atacar a central nuclear de Zaporozhie

Ucrânia | Zaporijjia está bem e recomenda-se. Inspetores da ONU vão ficar na Central

Inspectores da ONU vão ficar na central de Zaporijjia para a missão de alto risco de evitar um desastre nuclear

Director da AIEA diz que já recolheu a informação de que precisava mas que a agência da ONU “vai ficar” e isso “é o mais importante”.

O director da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Rafael Grossi, disse, esta quinta-feira, que já “viu o que precisava de ver” durante a inspecção à central nuclear de Zaporijjia, na Ucrânia, onde garantiu que a organização vai permanecer. Segundo a empresa estatal ucraniana Energoatom, a inspecção continuará com cinco membros da AIEA, provavelmente até ao próximo sábado.

“Conseguimos, durante estas poucas horas, reunir muitas informações. Vi as principais coisas que precisava de ver”, disse Rafael Grossi aos jornalistas russos que acompanham a delegação de especialistas da AIEA nesta central ocupada pelas forças russas, no sul da Ucrânia.

A missão de especialistas da AIEA assegurou que ficará na central de Zaporijjia depois de a ter inspeccionado, numa missão de alto risco destinada a evitar um desastre nuclear no local onde russos e ucranianos se acusam mutuamente de bombardeamentos.

“Conseguimos algo muito importante hoje [quinta-feira]. E o mais importante é que a AIEA vai ficar aqui. Que todos saibam que a AIEA vai ficar em Zaporijjia”, exaltou Grossi.

O responsável da organização, que lidera pessoalmente a missão de fiscalização de 14 pessoas, já tinha anunciado, na passada quarta-feira, a intenção de manter uma “presença permanente” no local, que está no centro de grandes preocupações.

“Fizemos uma avaliação inicial. Vimos o trabalho dedicado dos funcionários e da direcção. Apesar das circunstâncias muito, muito difíceis, eles continuam a trabalhar com profissionalismo”, acrescentou o director da AIEA.

Em Kiev, o chefe do Comité Internacional da Cruz Vermelha, Robert Mardini, pediu a suspensão de todas as operações militares à volta da central, avisando que um ataque seria “catastrófico”. “Já é hora de parar de brincar com fogo e de tomar medidas concretas para proteger este local”, disse Mardini.

Rússia e Ucrânia acusam-se mutuamente, há várias semanas, de colocarem em risco a central nuclear, que é a maior da Europa.

Cabo Delgado: O impacto do terrorismo na administração das autarquias

MOÇAMBIQUE

Os ataques terroristas inviabilizam implementação de alguns programas de Governo em Cabo Delgado. Apesar do terrorismo, o partido governamental FRELIMO faz o balanço positivo do presente mandato.

O presente mandato das autarquias locais teve início em 2019, depois de um pleito eleitoral onde os cabeças-de-lista dos partidos vencedores, agora edis, apresentaram ao eleitorado vários planos de desenvolvimento das respetivas cidades e vilas.

Quando falta apenas um ano para o fim do presente mandato, algumas autarquias em Cabo Delgado, como Mocímboa da Praia, viram os seus projetos estagnados pelos ataques terroristas que assolaram a província.

A vila foi ocupada por cerca de um ano pelos terroristas, o que obrigou à retirada da população e de toda a administração municipal.

De acordo com o edil Cheia Momba de Mocímboa da Praia, os conflitos inviabilizaram a implementação de todos os programas préviamente aprovados para aquela região.

Autarcas retomam projetos de Governo no Norte de Moçambique

Com a segurança garantida pelas Forças de Defesa e Segurança moçambicanas e os seus aliados do Ruanda e da SAMIM, mais de onze mil munícipes regressaram a Mocímboa da Praia.

O edil Cheia Momba quer retomar a implementação do seu plano administrativo, a começar pela reposição do que classifica como sendo "ações de impacto imediato"

Segundo Momba, o objetivo imediato é melhorar o estado das estradas. "Vamos reabrir as estradas. Não perdemos tudo, vamos reativar os trabalhos. Já estivemos em Montepuez para conversarmos com o empreiteiro que estava naquelas obras para avançar", disse Momba à DW África.

Embora não tenha registrado ataques, o município de Mueda foi dos que mais se ressentiu dos efeitos da insegurança. Um número significativo dos deslocados encontrou refúgio nesta autarquia. O edil Manuel Alavelave falou sobre o impacto dos ataques na sua governação. "Nós em Mueda fomos cinturão do terrorismo. Houve casos em que alguns empreiteiros fugiram, os bancos foram fechados, bombas de combustível foram fechadas, também alguns dos comerciantes saíram com os produtos” disse Manuel Alavelave, referindo ainda que o seu executivo teve que procurar combustível para poder abastecer os camiões e retirar os resíduos sólidos.

Os ataques terroristas tiveram também impacto na gestão do município de Montepuez. 

Cecílio Chabane, edil de Montepuez, disse à DW África que tinha planos para construir cinco salas de aula por ano. Relativamente à recolha dos resíduos sólidos,  Cecílio disse que fazia parte do plano fazer uma limpeza por dia, uma meta que também foi duplicada.

FRELIMO faz balanço positivo do desempenho das autarquias sob sua gestão 

Chabane disse reconhecer alguns avanços na implementação de alguns programas, apesar dos ataques terroristas, dando como exemplo a construção de mais estradas que mudaram a imagem de Montepuez.

A FRELIMO, partido no poder em Moçambique, reuniu-se esta semana com os edis e elencos das quatro autarquias dirigidas por esta força política em Cabo Delgado, para avaliar a implementação dos manifestos eleitorais.

No final da reunião o primeiro secretário da FRELIMO em Cabo Delgado José Elias Kalime, disse que, apesar das adversidades conjunturais, os manifestos eleitorais estão a ser cumpridos e com resultados concretos. Kalime afirmou que se registou maior eficácia, eficiência e efetividade no cumprimento dos programas de governação autárquica nos municípios sob a FRELIMO.

Delfim Anacleto | Deutsche Welle

Moçambique: Nyusi admite nova plataforma de gás para responder à Europa

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, disse estar em estudo a possibilidade de construir uma segunda plataforma flutuante para extrair gás natural da bacia do Rovuma, ao largo de Cabo Delgado, face à procura na Europa.

"Fizemos a primeira plataforma: qual a possibilidade de fazer mais outra? Há estudos nesse sentido" entre as medidas "para acelerar" a produção daquelas reservas, referiu.

"Tive encontros com empresas que exploram [o gás], italianas, francesas e seus parceiros. Tive encontros para ver o que se pode fazer", acrescentou.

Filipe Nyusi falava esta quinta-feira (01.09) após a V Cimeira entre Moçambique e Portugal, em Maputo, com o primeiro-ministro português, António Costa.

O chefe de Estado respondia a questões sobre como o gás moçambicano (cujas reservas do Rovuma estão entre as maiores do mundo) pode colmatar a escassez na Europa, face à deterioração do fornecimento russo após a invasão da Ucrânia.

Em Moçambique, a bacia do Rovuma tem algumas das maiores reservas de gás do mundo e há três projetos de exploração aprovados, dois que conduzem o gás do fundo do mar para liquefação em terra e um outro em mar alto, com uma plataforma flutuante (designada Coral Sul) autónoma.

Dos três, apenas o mais pequeno, no oceano Índico, está prestes a exportar gás, porque os outros dois (da Total e Exxon Mobil), em terra, estão parados devido à violência armada na província de Cabo Delgado.

A produção do projeto Coral Sul vai ser toda vendida à petrolífera BP durante 20 anos, com opção de extensão por mais 10, ou seja, para satisfazer mais procura, como a que agora surge na Europa, seria necessário arranjar outras formas de extrair e processar o gás do Rovuma, contornando a violência em Cabo Delgado.

Nyusi reconheceu que "há muito mercado, muita procura" e daí os estudos em curso.

O objetivo, esclareceu, é "haver, de certa forma, maior produção, que possa alimentar" o mercado europeu e até africano, concluiu.

Deutsche Welle | Lusa

Angola | COBRIDORES DE ELEIÇÕES E OS HORTELÃOS DA CUCA – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Os portugueses adoravam Angola, tinham pela colónia um amor assolapado e se bebiam água do Bengo a paixão era até à eternidade. Um amor estranhíssimo porque a par da paixão, muitos colonos matavam, roubavam, e humilhavam as angolanas e os angolanos. Sou testemunha. Estava na cidade do Uíje no dia 15 de Março de 1961 e via os colonos das milícias disparar sobre crianças, mulheres e velhos nas ruas. Armados de carabinas e caçadeiras, assassinaram milhares de civis inocentes. Com muito amor.

Angola era a joia da coroa, dizem-me alguns arrotando ódio indisfarçado. Mas no princípio era apenas uma colónia penal. E a Lisboa só interessava ocupar o litoral, onde estabeleciam as quitandas para vender os escravos capturados no interior. Escravatura mas com estremecido amor.

O ditador Salazar era uma a ratazana de sacristia, vivia de cama e pucarinho com o cardeal. E um dia os dois decidiram acabar com a prostituição. Há quem não saiba, mas durante o regime fascista e colonialista português a prostituição era uma actividade legal. As prostitutas tinham de fazer exames médicos frequentes, executados pelos senhores delegados de saúde. Só com o atestado rezando que não sofriam de qualquer doença venérea, nomeadamente blenorragias e sífilis, podiam exercer a segunda profissão mais velha do mundo. A primeira é o jornalismo. Nos quartos dos bordéis, as patroas tinham de colocar bacias com permanganato. Para desinfectar a ferramenta masculina. Tudo como manda a lei. E chamam-lhe fazer amor!

Quando Salazar e o Cerejeira resolveram acabar com as putas (os filhos enxameavam o governo e o partido único, União Nacional) as autoridades colonialistas despacharam as meninas mais azougadas para Angola. Já poucos se lembram, mas as prostitutas madeirenses invadiram o Bairro Operário e as do continente foram espalhadas por todos os bairros suburbanos, entre a Casa Branca e a Terra Nova. Fiz uma reportagem sobre esta nova forma de povoamento mas foi cruelmente atirada para o lixo pela censura.

Ao mesmo tempo começaram a desembarcar em Luanda famílias camponesas. Todos assustados, tristes, mal vestidos, cheirando a alho fermentado e suor caldeado com bafo bocal, ao qual chamávamos peidos de boca. Eram atirados para a Cuca e a Funda, onde recebiam parcelas de terra para cultivarem hortas. Foi assim que foi construída a cintura verde de Luanda. Os hortelãos abasteciam os mercados de verduras, frutas, legumes, tudo o que era comestível. Fiz uma grande reportagem nas hortas da Cuca e da Funda mas a censura também cortou. 

Alguns choravam quando falavam das suas terras de origem. Tinham muitas dificuldades de contactos com a família, porque não sabiam escrever e não tinham quem lhes escrevesse as cartas. Uma tragédia que também me fez chorar. Quem teve a grande desgraça de não aprender a ler, sabe só o que se passa no lugar onde viver. Mesmo assim os censores não se comoveram.

Os portugueses mandaram para a cobertura jornalística das nossas eleições uma fauna muito parecida com esses colonos que fizeram as hortas da Cuca e da Funda, Mas os antepassados eram gente honrada, trabalhadora, saudosa da santa terrinha, apesar da fome e da miséria que sofreram do outro lado do mar. Os que nos mandaram agora são desonestos, golpistas e mais analfabetos do que os hortelãos dos anos 60. Sorte a deles, não precisam de saber escrever cartas à família ou aos donos porque as novas tecnologias fazem delas e deles “repórteres”. Sinal dos tempos. 

Um dos artistas que nos mandaram chama-se João Fernando Ramos. Um nojo de ser humano, um insulto aos repórteres de verdade. É tal qual os pobres hortelãos da Cuca e da Funda, mas um nadinha mais analfabeto do que eles. Apareceu por cá com fumos de ocupante, com o colonialismo na barriga. 

O Hotel Intercontinental Myramar parece que era dos marimbondos. Agora não sei de quem é, mas esta unidade hoteleira patrocinou as analfabetices e os insultos ao jornalismo do João Fernando Ramos e do outro atrasado mental que a TVI/CNN Portugal nos mandou. Nem de propósito, hoje o canal de notícias da TPA passou uma conversa em família da CNN Portugal. Só falta mandarem para Angola as putas que já não podem exercer a profissão em Portugal.  

O Paulo Portas, um rapazola espertalhaço, criou as “empresas”  Amostra e a Boas Festas para desnatar dinheiro que ia direitinho para os bolsos do grande político da extrema direita portuguesa. Propôs um “novo processo de transição” em Angola dado que a vitória eleitoral do MPLA foi apertada. Manifestei a minha indignação por terem convidado este nazi de falinhas mansas, para observar as nossas eleições. Disseram-me que veio na quota dos convidados da Presidência da República. Os marimbondos, comprados com este, são anjinhos com asas e tudo.

Por favor, digam-me que é mentira. Mesmo que seja verdade. O meu pobre coração não aguenta. Se queriam convidar lixo humano, viravam-se para a Ana Gomes que é sócia do Rafael Marques e não se importa de sujar as mãos com o sangue da kamanga. Esse Paulo Portas agora faz-se passar por empresário, colega do Francisco Viana. Só aceita pagamentos em lucros e mais-valias. Não aguento!

*Jornalista

Adalberto Costa Júnior: "UNITA e parceiros da FPU não reconhecem resultados"

Líder da UNITA voltou a afirmar, esta quinta-feira, que "MPLA não venceu as eleições" e exigiu à CNE a comparação das atas das assembleias de voto. UNITA já entrou com pedido de anulação da votação no Tribunal.

O líder da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) prometeu, na noite desta quinta-feira (01.09), que não vai abandonar quem votou no partido e reafirmou que não reconhece os resultados eleitorais oficiais de 24 de agosto.

"A UNITA e o seu presidente não abandonarão aqueles que confiaram o seu voto na alternância", afirmou Adalberto Costa Júnior, numa declaração em vídeo divulgada pouco antes da meia-noite na sua página do Facebook,

Nesta mensagem à nação, Adalberto Costa Júnior explicou que o pronunciamento do seu partido sobre os resultados definitivos das eleições surge apenas agora por duas razões: "uma relacionada com o contencioso eleitoral, cujos prazos em execução neste momento, e previstos na lei, procurámos respeitar. A outra diz respeito à contagem paralela, um processo sensível e complexo, que se encontra agora na sua fase final".

"Nos últimos dias, dialogámos com embaixadores de países membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas, com outros países com relacionamento relevante com Angola e com responsáveis de instituições idóneas da sociedade civil e outras respeitáveis personalidades", explicou ainda Adalberto Costa Júnior, justificando o silêncio do partido.

Hoje "temos muito mais dados do que tínhamos há uma semana e que no dia 24 de agosto o povo votou na mudança, pelo que a UNITA e seus parceiros da Frente Patriótica Unida não reconhecem os resultados definitivos publicados esta semana pela Comissão Nacional Eleitoral, porque estes não refletem a verdade eleitoral", acrescentou.

Angola | DE CABINDA AO CUNENE

Luciano Rocha* | Jornal de Angola | opinião

A frase "De Cabinda ao Cunene, do Mar ao Leste, um só Povo, uma só Nação", proferida por Agostinho Neto, no interior do país, antes da Independência, face a manobras divisionistas, num ápice ecoou pela Terra Mãe. 

Como levadas pelos ventos do Leste, as palavras de Neto espalharam-se por Angola inteira com perguntas à consciência de cada um e respostas dadas pelos "ventos do sertão". Nem todos, contudo, as escutaram. Outros houve a fingirem não ter ouvido ou simplesmente alteraram significados aos vocábulos.

A frase, síntese de uma das formas de determinação e patriotismo, tornou-se, de modo natural, "palavra de ordem" usada praticamente em todos os discursos e documentos estatais, de sindicatos, estudantes,  associações desportivas, moradores, até em conversas informais de familiares ou amigos.  Extravasou para festas de casamento, aniversários, baptizados, óbitos, missas, kombas, nascimentos. Em resumo, expandiu-se velozmente, mas foi perdendo a força do sentimento genuíno, em ocasiões sem conta, de quem as profere, como  se pronunciasse ou escrevesse o próprio nome ao apresentar-se a um desconhecido ou no final de um vulgaríssimo formulário.

A verdade é que a frase de Neto, dita antes da proclamação da Independência Nacional, revelou-se, desde o primeiro instante, arma importantíssima de várias gerações que sonharam - continuam a sonhar -  com uma Nação una e indivisível na qual as diferenças - locais de nascimento, origens sociais, escolaridade, profissões, tons de epiderme, idiomas, pronúncias, ideologias políticas, formas de observar credos religiosos - jamais fossem causa de divisão de filhos da mesma pátria. Ao invés os unisse na diversidade, que nos caracteriza.

Desde o momento em que Neto disse a frase, também ela espelho do sonho de ontem e hoje de tantos angolanos, mas, igualmente, profética, aconteceram várias tentativas de dividir o território pátrio, pondo à prova a determinação da angolanidade espelhada em várias gerações de patriotas nas frentes de batalha e nas sombras da clandestinidade: a libertação da Terra Mãe dos jugos colonial e neo-colonial.

As causas que preocupavam  Agostinho Neto  e companheiros de sonhos não se circunscreviam às divisões de terras e gentes, mas, outrossim ao racismo, regionalismo e apetência pela divisão das classes sociais. Por isso, a frase emblemática também refere que a Angola nova, então  prestes a nascer, teria um só Povo, numa só Nação.

Os objectivos protagonizados na frase de Neto têm sido cumpridos, de uma maneira geral, embora, aqui e ali, as manifestações de índole xenófoba  e racista continuem a ocorrer, de modo mais ou menos discreto, por vezes até de onde menos se esperava. O que são sinais evidentes de que o combate àqueles sintomas de discriminação tem de ser mais eficaz  e o ensino, em todos os níveis, há-de ser sempre dos principais meios.

Os angolanos são, na esmagadora maioria, afectuosos, de fácil convivência. Acolhem os estrangeiros com simpatia, confraternizam, bebem e comem com eles, casam com eles, são bem aceites em grupos de amigos e famílias. O desconhecimento de idiomas não lhes impede kimbembas calorosas, com muita gargalhada pelo meio. Não rasguemos este nosso "cartão de apresentação", com exemplos  que se dispensam.

Manuel Rui, escritor e poeta, sublinhou, há uma semana, nesta mesma página, na crónica habitual de quinta-feira, que "Angola é uma África diferente e mais nova que está a nascer".  Ouso acrescentar: não a tornem velha antes do tempo, nem queira fazer esquecer hábitos bons.

*Luciano Rocha -- Jornalista

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