sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Angola | AS ELEIÇÕES MAIS JUSTAS DE SEMPRE – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

 O MPLA é incómodo, indigesto e odiado desde que nasceu em 10 de Dezembro de 1956 já lá vão 66 anos. Longa vida! Mal foi conhecido o manifesto que revelou o movimento revolucionário à luz do dia, os seus dirigentes, militantes e apoiantes foram catalogados de terroristas e traidores de Portugal do Minho a Timor. Foram presos, mortos ou partiram para o exílio. Da acção política rapidamente se passou para a luta armada. Eis o seu nome completo: Movimento Popular de Libertação de Angola. Uma ampla aliança de classes. Quem defendia o ideal nacionalista tinha lugar no seu seio. Todas e todos estavam dispostos a morrer pela libertação da Pátria Angolana.

O movimento acolheu no seu seio desde os nacionalistas tradicionais aos anarquistas e aos comunistas. Todos irmanados no objectivo comum de libertar a Pátria Angolana. À luta armada de libertação nacional só aderiram os excepcionais. E entre estes, muitos ficaram pelo caminho, arrependidos. Ser excepcional cansa muito e exige tanto, que fraquejar é tão humano como cerrar os dentes e continuar a luta revolucionária. 

O percurso, a partir de 4 de Fevereiro de 1961, foi muito difícil e sinuoso. Os que defendiam o nacionalismo tradicional pensaram melhor e alguns abandonaram a luta. Alguns revolucionários pensaram pior e levaram para o interior do movimento os malefícios da querela sino-soviética. Viriato do Cruz levou a contestação ao ponto de propor a dissolução do MPLA na UPA. Derrotado por Agostinho Neto nas eleições para a direcção, concretizou a sua posição e levou com ele um grupo de maoistas. Acabou mal. O alargamento da luta à Frente Leste causou erupções tribalistas prontamente combatidas. Angola é um só povo, uma só nação. 

Depois do triunfo do Movimento das Forças Armadas (MFA) em Portugal, o MPLA foi invadido por chusmas de oportunistas de toda a espécie, alguns com a chancela de Mário e Joaquim Pinto de Andrade, Gentil Viana ou Vieira Lopes figuras de proa do Nacionalismo Angolano e que pertenceram à direcção do movimento. A dinâmica da luta encarregou-se de separar as águas. O MPLA foi refundado no interior e Agostinho Neto confirmadíssimo na liderança. 

Logo após a Independência Nacional surgiram erupções racistas e tribalistas, suportadas por uma pequena burguesia pseudo revolucionária que tinha como brasão, ter passado pelos campos de concentração do Tarrafal e do Bentiaba (São Nicolau). Esta aliança desembocou na tragédia do 27 de Maio de 1977. Mas o MPLA continuou a defender o princípio um só povo, uma só nação. Até hoje. Por isso tem ganho com maiorias absolutas ou qualificadas, todas as eleições em que participou desde que Angola aderiu à democracia representativa e ao capitalismo, apelidado de economia de mercado, para não assustar.

O MPLA é imbatível eleitoralmente enquanto a UNITA estiver na liderança da Oposição. Disto ninguém tenha a mínima dúvida. E ficou provado nas eleições de 24 de Agosto. Todos abrigados na Frente Patriótica Unida, perderam estrondosamente. O MPLA elegeu 124 deputados, mais 13 do que precisava para a maioria absoluta. Os pescadores de águas turvas salientam a vitória da UNITA no círculo eleitoral de Luanda. Na verdade foi uma vitória do MPLA unido à Oposição contra o MPLA.

A fantasia da vitória eleitoral em Luanda que pode custar caro aos accionistas da Sociedade Civil em consórcio com a UNITA. Porque o MPLA não perdeu a sua base social de apoio na capital. Ela deslocou-se para a abstenção, para o voto nulo ou branco e até para partidos da Oposição em forma de protesto.

Na hora da verdade, esta parte substancial do eleitorado na capital mostra de que lado está. Sempre esteve e estará. Do lado do MPLA. Não queiram experimentar porque vão sair-se mal.

Os inimigos de Angola, de Lisboa a Washington, de Paris a Londres, de Bruxelas a Berlim, mandaram os seus serventuários dizer e escrever que o MPLA está fraquinho e precisa de dialogar com a Oposição. Os mais primários dizem que as eleições não foram justas, uma forma de parafrasear Adalberto da Costa Júnior que fala de fraude! Os observadores eleitorais do Sindicato dos Jornalistas entraram nesse desvario. Como se trata da minha gente, vou demonstrar que levaram a fantasia demasiado longe.

As eleições não foram justas porque os Media públicos ignoraram a Oposição, dizem no seu comunicado. É mentira. Mas mesmo que fosse verdade, tenho que explicar às minhas e e aos meus colegas que observaram as eleições em nome do Sindicato dos Jornalistas que os Media privados foram totalmente parciais e prejudicaram o MPLA. Os públicos, mesmo que quisessem beneficiar, quem quer fosse, não conseguiam.

O Jornal de Angola neste momento tem uma tiragem de 7.000 exemplares (sete mil). Há dias que não chega às províncias e todos sabemos que um jornal no dia seguinte só serve para embrulhar a mercadoria da zunga. As sobras, tanto quanto sei, são bastante elevadas. A circulação de cada cópia é menos de dois. A expansão ainda pior, sobretudo quando a edição não apanha os aviões da TAAG para as províncias. Acreditam mesmo que um jornal lido diariamente por menos de 4.000 pessoas numa cidade com dez milhões de habitantes e num país com 30 milhões tem capacidade para tirar justiça ao processo eleitoral? 

A TPA tem audiências rastejantes. A direcção de informação tem deficiências gravíssimas. Há ali um buraco técnico do tamanho da Tundavala. O canal público tem tanta influência nas eleições como os meus escritos. Nenhuma. Em Luanda viu-se a sua irrelevância!

A Rádio Nacional é outra conversa. As audiências são baixas mas o nível técnico da direcção de informação é razoável. Em Luanda tem alguma audiência. Em Catete nem por isso. Acham mesmo que teve alguma influência nos resultados eleitorais? Por favor, um mínimo de honestidade profissional não fica mal a ninguém. 

A UNITA perdeu as eleições porque não pode ganhar. Quem alugou as armas ao colonialismo não pode governar Angola. Quem alugou as armas aos independentistas brancos em 1974 e 1975 não pode governar Angola. Quem alugou as armas aos racistas de Pretória na Guerra pela Soberania Nacional e a Integridade Territorial (durante 12 longos anos!) não pode governar Angola. Quem matou milhares de angolanas e angolanos não pode governar Angola. Quem destruiu o país não pode governar Angola. As eleições foram livres e justas. E assim serão sempre que a UNITA seja derrotada, com ou sem os accionistas da Sociedade Civil.

Tomem nota. Os fascistas e colonialistas do ditador Salazar nunca mais podem governar Portugal. Os fascistas franquistas nunca mais voltam a governar Espanha, Os nazis de Hitler nunca mais podem governar a Alemanha. Os racistas do regime de apartheid nunca mais podem governar a África do Sul. Qual é a parte que não percebem? Em Angola a UNITA representa o salazarismo e o regime racista de Pretória. Mas se o senhor Marcelo Rebelo de Sousa está tão interessado no Galo Negro sempre pode arranjar uns lugares no Governo Português.

O mais grave vem de gente com responsabilidades políticas e culturais. José Luís Mendonça, um intelectual angolano de primeiro plano escreveu isto: “Nós temos de ser originais. E ser original, camarada Presidente, é tirar ilações do passado, é resolver a grande contradição que nos levou à guerra civil, é acabar com a exclusão cultural, política e económica dos outros povos, dois deles representados, por via da luta de libertação, por dois outros partidos”. Para ele em Angola não há o Povo Angolano. Há “outros povos”. E O MPLA representa um, a FNLA outro e a UNITA outro. Na Frente Norte (I e II Região Política e Militar do MPLA) os dirigentes e combatentes eram oriundos de todo o país. O comandante Gika tombou em Cabinda e era da província de Benguela. O comandante Max Merengue foi um dos Heróis da Grande Batalha do Ntó e era do Lobito. Tal como o comandante Bolingô que era do Nzeto. Ou o comandante Eurico que era de Luanda. Todos se bateram em Cabinda.

O comandante Xyetu era o líder da Frente Leste e é de Luanda. O comandante Toka é do Uíje e foi dos primeiros a abrir a Rota Agostinho Neto. O comandante Iko combateu muitos anos na Frente Leste e era de Luanda. O comandante Hojy ia Henda tombou em Caripande. Era de Luanda. O MPLA representava todas e todos os angolanos em armas, de Cabinda ao Cunene e do Lobito ao Luau. Um só povo, uma só nação. Nada de misturar racistas e tribalistas com revolucionários consequentes que, por isso mesmo, conduziram a luta armada até à Proclamação da Independência Nacional. O MPLA.

José Luís Mendonça quer que o Presidente João Lourenço sirva Angola numa bandeja aos que andam há décadas fazendo tudo para recolonizar o nosso país. Para submeter os angolanos. A sua voz não está clamando no deserto, na solidão. O Agualusa, falso angolano e falso escritor, recebeu mais uns dinheiros para dizer isto, sobre os resultados eleitorais: “O importante é que o partido no poder – no caso o MPLA e o Presidente João Lourenço – não inicie um segundo mandato à sombra da dúvida da fraude. Até porque, se isso acontecer, já não será apenas suspeitas de fraude, a maioria da população, a maioria das pessoas tenderão a acreditar que houve de facto fraude. O que é muito mau. Já não se pode falar em democracia numa situação dessas”. 

Portanto, a Comissão Nacional Eleitoral não vale nada. Ao proclamar os resultados eleitorais está a oficializar a fraude. Porque quem arbitra o jogo eleitoral é um jogador: a UNITA. Ou mesmo a CASA-CE que ficou a zero. Um angolano que não respeita as instituições nacionais e aluga a boca a quem quer retirar a vitória ao MPLA, não passa de água choca. Nem lusa é.

Agualusa foi pago para dizer mais esta barbaridade: “ainda por cima o Presidente João Lourenço está numa cidade que, neste momento, lhe é claramente hostil. Todos os centros de poder estão em Luanda, que é uma cidade hoje claramente hostil ao MPLA e com uma juventude cada vez mais consciente, politizada, combativa. E foi esta juventude que deu a vitória à UNITA de forma absolutamente clara”.

A UNITA elegeu três deputados pelo Círculo Eleitoral de Luanda. O MPLA elegeu dois. Por isso a cidade é hostil a João Lourenço? Então a província do Cunene é hostil à UNITA que não elegeu deputados naquele círculo. As 15 províncias (em 18) onde o MPLA elegeu mais deputados do que a UNITA são hostis à UNITA. O melhor é fecharem as instalações e irem para Luanda! Mais um artista que nasceu com o intestino grosso ligado ao cérebro e pensa com a cabeça do dedo pequenino do pé direito. 

Os donos um dia destes vão dizer ao Presidente João Lourenço que o melhor é negociar com a UNITA porque até os intelectuais estão a favor de uma solução negociada. O Agualusa está bem nesse papel. O José Luís Mendonça está mal acompanhado.

Um dos donos que quer empurrar o Presidente João Lourenço para a UNITA é o Tio Célito! Ele tem um boneco pequenino, Luís Marques Mendes, que diz na no canal SIC o que ele não pode dizer. O grande amigo de Angola e dos angolanos mandou dizer ao bonequinho que está muito preocupado com a “polémica eleitoral vivida em Angola”. E tendo em conta “a situação social e económica em Angola” Marcelo Rebelo de Sousa disse de boca fechada, através do Marques Mendes:  "Angola precisa de um governo de unidade nacional".

Portugal tem uma dívida 100 vezes maior do que Angola. Portugal tem milhões de pessoas que trabalham para ser pobres. Portugal tem milhões de idosos que passam fome e não podem comprar medicamentos porque as suas pensões são rastejantes. Mas Marcelo Rebelo de Sousa não aconselha António Costa a fazer um governo de unidade nacional. Têm um colonialista na cabeça! Acham que podem dar ordens aos nossos dirigentes políticos.

Eles querem a reedição do Governo de Unidade e Reconciliação Nacional (GURN). Querem voltar ao Protocolo de Lusaka. A sorte é que o General Higino Carneiro ainda está vivo e não deixa os sicários do Galo Negro irem além das fogueiras da Jamba. Querem regressar ao Acordo de Bicesse e à Comissão Conjunta. Querem voltar à criação das Forças Armadas Angolanas para meterem lá os revus e os terroristas do Chivukuvuku. E até querem ressuscitar o Savimbi mas parece que deus e sua santaria já não fazem milagres.

*Jornalista

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