Artur Queiroz*, Luanda
Bertino e Figueiredo enriqueceram de uma semana para a outra à custa dos maiores ricaços de Luanda que, tirando José Ferreira do Negage e Venâncio Guimarães Sobrinho do Lubango, eram os maiores de Angola. O meritíssimo Júlio Castro Lopo (Juleca) era na época director da Polícia Judiciária. E explicou aos repórteres que os dois novos-ricos tinham um passado imaculado, nenhum conflito com a lei, bons filhos, bons irmãos, bons amigos.
Os dois novos-ricos fartaram-se de ser pobres apesar de trabalharem desde as seis da matina até à noite e bolaram um esquema rocambolesco para sacar uns milhões aos ricaços e passarem a ricos em grande velocidade.
Na época era impossível tirar dinheiro de Angola se não fosse devidamente justificado com tonealdas de papelada. O escudo de Angola, fora da colónia, nem servia para papel higiénico. Bertino e Figueiredo serviram-se dessa debilidade do sistema e criaram cheques “visados” falsos. Cada cheque daqueles valia exactamente em escudos de Portugal o mesmo que estava lá escrito!
Despacharam milhões em cheques “visados”. O mais castigado foi Pedro D’Argent que era dono de uma casa de câmbios. Quando Bertino e Figueiredo foram para Lisboa, deixando as suas contas bancárias cheias de dinheiro, o cambista viu-os no aeroporto e perguntou-lhes: - Vão buscar mais material?
E eles prontamente:
- Sim, vamos buscar mais dez milhões!
- Então não se esqueçam de mim!
O ricaço queria ser mais burlado!
Isto acabou
Angola é terra mártir de inúmeros vigaristas e sacanas. Era assim antes de Bertino e Figueiredo. Continua a ser assim hoje. O BES Angola levou um rombo tão grande que as vigarices de Bertino e Figueiredo são preces a Nossa Senhora da Muxima. O fim da linha pode ser exactamente o mesmo que tiveram os escroques dos cheques visados.
O Tribunal da Relação de Lisboa prolongou as medidas de coacção decretadas a Álvaro Sobrinho, o banqueiro que arrombou o BESA. Mas em Angola permanece intocável (quem vai queixar-se dele se há tanta gente implicada no rombo que levou o banco à falência?) e não me admiro se um ia destes for condecorado.
Em Portugal estão zangadíssimos com o banqueiro e querem mesmo levá-lo a julgamento. Os seus advogados achavam que os s crimes prescreveram. Os desembargadores do Tribunal da Relação de Lisboa entenderam que não. Calma aí! “O prazo para a prescrição ainda não decorreu para os crimes de que Álvaro Sobrinho está acusado, abuso de confiança agravado, burla qualificada e branqueamento de capitais agravado, pelo que rejeita o pedido do arguido”.
Porque o momento em que Álvaro Sobrinho foi constituído arguido, Outubro de 2015, “interrompeu o prazo prescricional, começando então a correr um novo prazo da prescrição”. Os desembargadores acham que, sendo multimilionário pode destruir provas e furtar-se ao julgamento. Portanto, vai mesmo ser julgado. Curiosamente, este herói dos rombos bancários nunca foi citado pelo Procurador-Geral da República, Hélder Pita Grós. Gente fina é outra coisa!
Os savimbistas brasileiros
desencadearam um golpe de estado
Até agora, ninguém sabe como vai acabar a aventura golpista. Mas que sirva de lição às forças democráticas e patrióticas angolanas. Os bolsonaros estão na UNITA, da base ao topo e nas quadrilhas de Chivukuvuku. Adalberto da Costa Júnior é um bolsonaro de quinta categoria mas tão perigoso como ele.
Cuidado! De Washington nem vem bom vento nem bom casamento. Podem ter a certeza de que os golpistas de hoje em Brasília têm apoios evidentes nos EUA.
*Jornalista
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