domingo, 8 de janeiro de 2023

MarrocosGate: O lobby marroquino que compra eurodeputados e jornalistas...

... para obter reconhecimento do Saara

Com o escândalo do ‘Marocgate’, um esquema de corrupção principalmente relacionado com o Saara Ocidental e com a região de Magrebe, foram revelados nomes de eurodeputados que colaboravam com Marrocos influenciando as decisões tomadas no Parlamento Europeu.

A falta de direitos humanos e de liberdades individuais nos cinco países de Magrebe, nomeadamente Argélia, Líbia, Marrocos, Mauritânia e Tunísia, foi amenizada com a corrupção na diplomacia marroquina, o que não é recente, nem se limita à Europa.

Já em 2017, existiam provas que demonstravam a falta de honestidade evidente de políticos, através de uma fotografia, tirada em Rabat, onde aparecem dois antigos deputados europeus implicados no ‘Marocgate’. Pier Antonio Panzeri e Gilles Pargneaux receberam presentes, viagens de luxo e dinheiro para favorecer os interesses do país no voto político.

Outros membros Socialistas e Democratas do Parlamento Europeu, como o belga Hugues Bayet e a espanhola Inés Ayala, também estão envolvidos, assim como o diplomata e lobista marroquino Abderrahim Atmoun, que está a ser investigado pelo sistema judicial belga por suspeitas de suborno no Parlamento.

Atmoun, embaixador marroquino na Polónia, recebeu os deputados europeus em Dakhla, cidade do Saara Ocidental, como membro do Partido da Autenticidade e Modernidade (PAM), a formação política criada pelos amigos do rei Mohamed VI. Aos políticos, que ficaram hospedados em hotéis de luxo, assegurou que o território era marroquino, os direitos humanos respeitados e ofereceu presentes e viagens pagas por Marrocos, de acordo com a investigação belga.

Apesar de o número exato de deputados europeus corruptos não estar determinado, é público o envolvimento de mais de 50 neste esquema de corrupção que tinha como objetivo reorientar a política externa da União Europeia através dos comités de trabalho da instituição em benefício de Marrocos.

Estas práticas eram do conhecimento de muitos eurodeputados e jornalistas. “Agiram não como representantes do seu eleitorado, mas como representantes de outros interesses fora da União Europeia (UE). Neste caso, do regime marroquino, Panzeri e Pargneaux são dois exemplos muito claros”, comentou o Eurodeputado Verde Florent Marcellesi numa entrevista ao El Español.

O atual porta-voz do partido político espanhol Equo fez parte da delegação para as Relações com os Países do Magrebe e a União do Magrebe Árabe entre 2016 e 2019, pelo que coincidiu com o lobby investigado para pressionar e comprar testamentos a favor do país.

Os sinais de alarme soaram quando “um social-democrata, que em geral tem posições bastante próximas das que nós, os Verdes, podemos ter em defesa dos direitos humanos, de repente, quando se trata de questões específicas, como o Saara Ocidental, mudou completamente a sua visão”, explicou Marcellesi acrescentando: “É uma negação, mesmo infantil, da realidade que está a acontecer no terreno”.

O caso de Gilles Pargneaux era conhecido por ser muito mais “descarado” do que o seu colega Panzeri. “Apresentou-se como conselheiro de Sua Majestade o Rei de Marrocos. Chegámos a assistir a situações externas bastante desconfortáveis e desagradáveis devido à sua falta de sigilo”, relatou o Eurodeputado.

As relações de Panzeri com Marrocos remontam a 2011, ano em que o hacker Chris Coleman divulgou que Panzeri já se encontrava em contacto com membros que representavam Marrocos em Bruxelas, estando próximo não só de deputados europeus, como de todos os círculos de poder.

No caso da Europa, em 2013 os correspondentes mais influentes em Bruxelas foram investigados com o objetivo de criar um grupo que mais tarde seria convidado para o pequeno-almoço pelo Ministro do Interior marroquino. Este seria o primeiro contacto para posteriormente organizar uma viagem de jornalistas a Marrocos e levá-los a percorrer o Saara Ocidental como se este fizesse parte do país, assim seria possível influenciar a imagem sobre a liberdade no território, uma vez que são levados em grupos organizados, controlados e monitorizados.

Beatriz Maio | Multinews

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