Sitoi Lutxeque (Nampula) | Deutsche Welle
Arrancou, em Moçambique, a investigação ao alegado envolvimento de um deputado no tráfico de drogas na Zambézia. Analista alerta que inquérito pode não trazer resultados, caso o deputado em causa seja da FRELIMO.
Arrancou, esta segunda-feira (09.01), em Moçambique, o inquérito parlamentar ao suposto envolvimento de um deputado no tráfico de drogas, através do Porto de Macuse, na província central da Zambézia.
Tudo começou em novembro de 2022 quando o porta-voz do Serviço Nacional de Investigação Criminal da Zambézia (SERNIC) anunciou a detenção de um oficial da Marinha de Guerra e de um professor, indiciados no tráfico de drogas de tipo metanfetamina. Na altura, Maximino Amílcar explicou que a droga havia sido apreendida no Porto de Macuse e que haveria um deputado também envolvido no grupo [de traficantes].
"Há um deputado que está envolvido neste esquema [de tráfico de drogas] e nós estamos abertos para trabalhar neste caso. Não temos problemas de investigar e trazer a verdade", afirmou.
Denúncia de Mondlane
A 1 de dezembro do ano passado, o
deputado da RENAMO, Venâncio Mondlane, reacendeu o debate em plenário, na
Assembleia da República, acerca do tema, não tendo citado o nome da pessoa
"Devia a Assembleia [da República], na pessoa da senhora presidente, emitir uma comunicação para o SERNIC da Zambézia, mostrando a sua disponibilidade absoluta e incondicional para que colabore para que este deputado seja devidamente responsabilizado", disse.
Estranhamente, no dia 27 de dezembro, o porta-voz nacional do SERNIC, Leonardo Simbine, contrariou esta versão. Em declarações à imprensa, disse que não existia "nenhum processo-crime a ser investigado na sua direção em relação a um deputado da Assembleia da República".
A Comissão Permanente da Assembleia da República criou, entretanto, uma comissão de inquérito para investigar o caso. O grupo investigativo parlamentar, que iniciou, esta segunda-feira (09.01), os seus trabalhos, é composto por sete deputados - quatro da FRELIMO, dois da RENAMO e um do MDM - e é liderado por António Niquice, do partido no poder.
Investigação "sem resultados"
Felizardo Mucussete, presidente da Associação Horukunusha Moçambique, considera que o inquérito não vai trazer os resultados esperados. Isto porque, na sua opinião, o deputado envolvido pode estar ligado ao regime e ao partido no poder.
"Acredito que se esse tal deputado envolvido fosse da RENAMO, por exemplo, nem o próprio Venâncio Mondlane teria a coragem de dizer isso, logo deixa claro que só pode ser um do partido no poder", explicou Felizardo Mucussete.
O responsável estranha as contradições dentro do SERNIC e entende que as mesmas visam apagar os rastos para a investigação. Ou seja, volta a frisar, "sendo um deputado do regime, provavelmente haverá alguma coisa que poderá ser escondida", disse.
A DW tentou obter declarações do deputado Venâncio Mondlane sobre este polémico caso, mas este disse que só se pronunciará depois de tornados públicos os resultados do inquérito, no próximo dia 2 de fevereiro.
A Assembleia da República prometeu sancionar o deputado Venâncio Mondlane, caso não fique provado o envolvimento de um deputado do Parlamento no tráfico de drogas na Zambézia.
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