terça-feira, 10 de janeiro de 2023

O SEGUNDO DILÚVIO MEDIÁTICO EM ANGOLA – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O percurso dos Media angolanos a partir de 1992 tem sido escorregadio, sinuoso e dominado pela chamada “imprensa privada” eufemismo para qualificar pasquins cujos conteúdos editoriais eram e continuam a ser ditados pela Redacção Única de quem quer colocar Angola de joelhos, para melhor roubar os seus recursos naturais. Teoria da conspiração? Nada disso.

A mudança do regime de democracia popular, forçada pelos vencedores da guerra-fria, abriu espaço ao multipartidarismo mas também ao nascimento de novos órgãos de comunicação social, na época apenas Imprensa e Rádio. Todos os novos partidos e novos Media tinham na agenda derrubar o MPLA custasse o que custasse. O dinheiro entrou a rodos nos bolsos de falsos jornalistas que deram a cara pelos pasquins.

O recrutamento de falsos jornalistas foi muito fácil. Não existia uma escola. Não existiam mestres. Quem começou na profissão em 1975, sem referências nem apoios, dificilmente podia resistir ao canto dos donos. 

Um exemplo para melhor se perceber o quadro. Um candidato a profissional de jornalismo precisa, no mínimo, de cinco anos na formação (jornalismo tutelado). Uma vez iniciada a carreira profissional, só ao fim de sete anos está em condições de assumir responsabilidades de coordenação e chefia. Isto quer dizer que as e os melhores, em 1992 tinham, na melhor das hipóteses, cinco anos de experiência efectiva. Acontece que esses recursos humanos ficaram praticamente todos nos Media públicos. 

Os pasquins nasceram sem profissionais à altura e, portanto, sem capacidade para a prática de um jornalismo profissional dentro das fronteiras da honra, da dignidade e sobretudo da ética e deontologia. Pior era impossível, visto pelo lado do Jornalismo. Porque os donos dos pasquins, os seus mentores e financiadores, queriam mesmo assim. E assim se fez.

O tempo foi demasiado curto e os mentores do dilúvio menosprezaram a capacidade de intervenção do MPLA e dos seus militantes na área da comunicação social. Os novos partidos de nada serviram. Tiveram votações residuais e elegeram poucos deputados. A UNITA não teve tempo para lavar a cara e Jonas Savimbi, numa campanha eleitoral politicamente suicida, ainda sujou mais a quadrilha. Perderam estrondosamente. Os novos donos decidiram então apostar no sangramento do MPLA até se esvair e perder o poder. Na nova estratégia, o Sindicato dos Jornalistas e os pasquins que foram aparecendo, tiveram um papel importante.

Um dilúvio de falso jornalismo e falsos jornalistas desabou sobre Angola. À turma juntaram-se “jornalistas” que nasceram para a profissão em 1975 e deviam tudo o que eram e tinham ao MPLA. Os mais desalmados romperam com o partido. Os mais cínicos ficaram com um pé no seu interior, outro na plataforma dos que apostaram e apostam tudo na destruição da Angola independente e os testículos poisados em montes de dinheiro sujo. Esta força demolidora da democracia nascente teve grande sucesso, é justo reconhecer.

Sei por experiências vividas que pasquins e seus proprietários recebiam do poder, da oposição e dos donos, fossem nacionais ou estrangeiros. O MPLA pagava a quem alinhava num projecto para destruir o MPLA. Instituições do Estado Angolano pagavam a quem tinha na agenda a destruição da democracia ainda no ovo, sangrando as instituições e os titulares dos órgãos de soberania. O Presidente José Eduardo dos Santos foi a maior vítima desta estratégia diluviana.

Américo Gonçalves fundou o jornal Angolense. Um grupo radical rompeu com ele e fundou o Semanário Angolense. O sangramento do Estado de Direito e Democrático tinha nas suas páginas a base mais sólida. O director, um bêbado da sarjeta que dá pelo nome de Graça Campos, era testa-de-ferro de um dono sem rosto. Soubemos mais tarde que afinal tinha cara e nome: Fernando Garcia Miala. 

João Melo e Celso Malavoloneke saíram das páginas do pasquim para o Ministério da Comunicação Social (ministro e vice-ministro!). Ismael Mateus foi para patrão da Escola Nacional de Administração da República de Angola. Mas a este meteram-lhe nas mãos milhões para fazer um jornal em Benguela (Cruzeiro do Sul). Como nunca tinha entrado numa Redacção, torrou a massa e o pasquim morreu mal tinha nascido. 

Estes exemplos bastam para a compreensão do fenómeno dos pasquins e seus dilúvios de mentiras, calúnias, falsificações e manobras políticas rasteiras para derrubar o MPLA e, logicamente, o Estado de Direito e Democrático. 

A primeira geração de lixo mediático foi à vida. Semanário Angolense, A Capital, Agora e outras miudezas acabaram, por terem cumprido o seu papel. Apareceram Sobrinhos e Madalenos dando uma mão no sangramento do MPLA e da democracia angolana. O Novo Jornal é um exemplo. Novos “grupos” entretanto surgidos têm a mesma marca, nomeadamente no chamado “jornalismo económico”. Os antigos servidores foram espalhados por vários Media públicos e pelo Executivo. 

Sendo o general Miala “dono” do Semanário Angolense não admira que no seu regresso ao Poder, em 2017, recompensasse a criadagem. Até para garantir mão-de-obra experiente na destruição do MPLA e do regime democrático. 

Alguns dos maiores ventiladores de lixo e falsidades sobre o MPLA e as instituições democráticas saíram do Semanário Angolense. Ilídio Manuel é um deles. Recusou dirigir o jornal quando Salas Neto foi diagnosticado com um glaucoma, porque sabia que o pasquim estava a prazo e tinha missões mais lucrativas a desempenhar.

Quando os donos do pasquim entenderam que para o novo dilúvio já não servia, encerrou. Teixeira Cândido, em nome do Sindicato dos Jornalistas fez esta declaração: “É preocupante o fim do Semanário Angolense, perdem-se empregos para muitos jornalistas. É também preocupante porque perde o Estado. O Semanário Angolense é um título de referência, é um dos jornais que contribuiu decisivamente para uma maior liberdade de imprensa, como vivemos hoje. É um título com uma carga histórica que fecha sem mais nem menos”.

Uma coisa que publicava notícias falsas, calúnias, intrigas e mentiras, para Teixeira Cândido era “um título de referência” Ou “um título com carga histórica”. Ele acha que na Imprensa, 12 anos de vida dão carga na História da Imprensa Angolana.  O director e fundador do pasquim, Graça Campos, ficou famoso quando podre de bêbado deu uma entrevista ao programa Café da Manhã da LAC (José Rodrigues). O que ele disse do jornalista Luís Fernando! Eu tenho o som e a transcrição escrita dessa página vergonhosa do Jornalismo Angolano. Vejam onde ele está hoje e quem lhe paga, depois de ter recebido uma fortuna para trair o general Miala e vender o Semanário Angolense aos que depois fecharam o pasquim.

O actual dilúvio ou é travado imediatamente ou vamos todos morrer afogados no lixo mediático, porque nem uma nova  arca de Noé nos salva. A agenda dos que querem destruir o MPLA e ajoelhar Angola a seus pés é atacar todas as instituições da defesa e segurança. Descredibilizar o Poder Judicial.

Graça Campos na sua nova tribuna onde produz lixo mediático defende as “prisão preventiva” dos membros da direcção do Serviço de Investigação Criminal! As “redes sociais” ventilam falsas notícias e acusações graves sobre um serviço fundamental no Estado de Direito. Não vou reproduzir as mentiras e calúnias. Mas são tão graves que deixaram o SIC em estado de coma.

Ismael Mateus, membro do Conselho da República mas apresentado como conselheiro do Presidente João Lourenço, amplifica o lixo veiculado nas redes sociais e defende que essas acusações anónimas “devem ser investigadas por um outro órgão como é o caso do SINSE, ou a PGR, e nunca pelo próprio SIC”.

Leiam a prosa do conselheiro: “É evidente que não pode ser o SIC a investigar as denúncias postas a circular. Aliás, nem deveria ser nenhuma estrutura do Ministério do Interior. A gravidade das denúncias deveria mobilizar os serviços de informação SINSE, Serviços de inteligência e segurança Militar SISM e a PGR”.

Mais esta parte: “Não é possível êxito no combate à corrupção e luta contra as drogas se as denúncias públicas não forem devidamente valorizadas. E sobretudo as denúncias que envolvem agentes e oficiais da Polícia Nacional, procuradores e juízes dos diversos Tribunais não têm sido tratadas com a importância que mereciam”.

Ismael Mateus é um caso sério. Nunca fez nada no jornalismo mas como casou com a filha de Francisco Simons subiu altíssimo como um balão cheio de hidrogénio. Corrupção. Sem ter a mínima qualificação para o cargo foi colocado à frente da Escola Nacional de Administração. Corrupção. Com este historial aparece na TPA, pose de grande senhor, perorando contra a corrupção. O esfarrapado apontando o dedo ao nu. Quem aceita cargos para os quais não tem a mínima qualificação é oportunista e corrupto. Quem torra dinheiro para fazer um jornal que não sabe fazer, é corrupto.  

O Poder Judicial também está sob intenso dilúvio. Mas esta parte tem uma vertente mais grave porque as falsidades postas a circular tresandam a chantagem e extorsão. Ninguém diria que a turma de Sobrinhos e Madalenos havia de fazer do “Folha 8” um “título de referência” e do William Tonet um exemplo a seguir. Pelo menos não anda a cair de bêbado como o Graça Campos ou aquele bêbado da valeta atrelado à Entidade Reguladora da Comunicação Social Angolana (ERCA).

Ninguém reage ao temporal que se abateu sobre a democracia angolana. Temos cegos no posto de vigia!

*Jornalista

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