quarta-feira, 22 de março de 2023

ÁFRICA DO SUL: PROTESTOS SOB FORTE APARATO DE SEGURANÇA

Pelo menos 87 pessoas foram detidas na África do Sul por "violência pública" devido aos protestos convocados pelo líder da oposição Julius Malema. Polícia e soldados foram destacados por todo o país.

Milhares de manifestantes reuniram-se hoje numa praça na capital Pretória preparando-se para marchar até aos Edifícios da União, a sede do Governo, onde a polícia e as tropas estavam em patrulha.

Milhares de outros reuniram-se em outras partes do país, de acordo com imagens veiculadas nos meios de comunicação locais.

"Os agentes da autoridade, através da Estrutura Nacional Conjunta de Operações e Inteligência (NATJOINTS), prenderam, nas últimas 12 horas, 87 manifestantes em todo o país por crimes relacionados com violência pública", referiu a polícia sul-africana (SAPS), em comunicado esta manhã. As detenções terão sido realizadas à noite, antes mesmo do início dos protestos.

"Dos 87, 41 foram presos em Gauteng (província onde estão localizadas Joanesburgo e a capital Pretória), 29 em North West, 15 no Free State. Também há detenções em outras províncias, como Mpumalanga e Cabo Oriental, a atualizar quando as informações estiverem disponíveis", adiantou.

As autoridades sul-africanas salientaram que "pelo menos 24.300 pneus" - regularmente utilizados como combustível em protestos violentos no país - foram confiscados em todo o país pelas autoridades policiais.

"Eram pneus colocados estrategicamente para atos de criminalidade", sublinhou a NATJOINTS, acrescentando que "6.000 foram apreendidos no Cabo Ocidental, 4.500 no Free State, 3.600 em Gauteng, 1.513 no Cabo Oriental e mais alguns em outras províncias".

Forças de segurança nas ruas

A polícia e soldados estavam destacados por toda a África do Sul esta segunda-feira enquanto o país se preparava para protestos, após o partido de esquerda Combatentes da Liberdade Económica (EFF, na sigla em inglês) ter apelado a um "encerramento nacional".

"Esperamos que aqueles que irão marchar, desde que o façam pacificamente, não temos razões para interferir com eles", disse hoje o ministro da polícia Bheki Cele aos repórteres em Joanesburgo.

"A polícia terá de ser dura sem ser realmente brutal", disse ele, acrescentando que empresas de segurança privadas também estavam a ajudar a polícia.

Em Pretória, o membro da EFF Gift Boquopane, de 42 anos, juntou-se ao protesto com a sua esposa e filhos.

"Eles não fazem nada por nós", disse Boquopane referindo-se ao Governo.

"Estamos cansados de perder carga", acrescentou, numa referência aos apagões de eletricidade.

Uma mulher de 27 anos, que não quis ser identificada, disse que apoiava o protesto porque as falhas de energia tinham perturbado seriamente os negócios.

"Apoio-o, mas não apoio as coisas que acontecem durante os protestos". Todo o roubo, toda a violação de propriedades", afirmou.

Exigências dos manifestantes

A África do Sul encontra-se desde sexta-feira (17.03) em estado alerta máximo devido aos protestos anunciados para o dia de hoje pelo partido de oposição Combatentes da Liberdade Económica contra os "cortes de eletricidade crónicos" e uma economia em "colapso", pedindo ainda a renúncia do Presidente Cyril Ramaphosa, que é também presidente do Congresso Nacional Africano (ANC), no poder desde 1994 no país.

"Ninguém pode parar uma revolução", disse o líder do EFF Julius Malema aos seus apoiantes na sexta-feira.

Já o porta-voz do partido, Sinawo Tambo, disse à agência de notícias francês AFP que as preocupações sobre saques e violência eram "infundadas" e acusou as autoridades de usarem de força excessiva, mobilizando o exército numa tentativa de intimidar os apoiantes.

Pelo menos 3.400 militares do exército sul-africano (SANDF, na sigla em inglês) foram destacados desde domingo (19.03) para apoiar a Polícia na "prevenção e combate a qualquer ato de criminalidade e para manter a ordem pública".

Alguns partidos de oposição, empresas e grupos privados de transportes públicos coletivos rejeitaram a adesão à ação de protesto.

No sábado (18.03), um tribunal de Joanesburgo ordenou ao EFF que não encerrasse escolas, lojas, empresas, comércio e vias públicas com o protesto, e que não incitasse à violência, depois de o principal partido de oposição da África do Sul, a Aliança Democrática (DA), lhe ter pedido que proibisse o protesto.

"A EFF tem todo o direito de protestar, mas o partido não tem o direito de manter a África do Sul refém ao fazê-lo", disse o líder da DA, John Steenhuisen.

Entretanto, a concessionária de eletricidade sul-africana Eskom, cancelou os cortes regulares de eletricidade para esta segunda-feira.

Protestos mortais

As ruas de Pretória e Joanesburgo estavam calmas esta segunda-feira de manhã, com poucos carros a circularem pelas ruas normalmente movimentadas.

A maioria das lojas estava fechada e uma concessionária de automóveis de Pretória havia retirado todos os veículos das suas vitrines.

O protesto reativa memórias dos motins mortais de julho de 2021, a pior violência desde o fim do apartheid na África do Sul, quando pelo menos 350 pessoas foram mortas em protestos desencadeados pela prisão do ex-Presidente Jacob Zuma.

No seu boletim semanal de segunda-feira, o Presidente Ramaphosa disse que qualquer pessoa ou organização era livre de convocar protestos, "mas ninguém deveria ser forçado, ameaçado ou intimidado a juntar-se a esse protesto".

Deutsche Welle | cvt | com agências

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