Joana Amaral Dias* | Diário de Notícias | opinião
Gouveia e Melo atribuiu o caso Mondego a uma cabala política para o prejudicar nas Presidenciais. Talvez o inverso seja mais verdadeiro: se não andasse tão ocupado a promover a sua imagem - violando o recato que a sua posição obriga, mesmo por lei -, enfim, se seguisse a disciplina que tanto apregoa, problemas deste calibre seriam prevenidos.
De resto, toda a gestão com que o Capitão-Campeão das vacinas tem conduzido este caso é um tiro no porta-aviões. Desde estes taticismos políticos incompatíveis com a carreira de armas, até à Justiça Militar concluída e aplicada em directo para as televisões (sem inquérito, nem peritagem): a coisa não apenas soa a bota da tropa, como desenha o pior prognóstico político. Onde está a presunção de inocência? E os regulamentos e códigos de Justiça Militar?
A sério que era necessário, perante a passagem normativa e ordeira de um vaso oceanográfico, montar a narrativa para papalvos do "navio russo espião"? Saiu-lhe mal.
Por muito que custe ao Chefe do
Estado-Maior da Armada, que pretende ser o próximo dono disto tudo, é a
Constituição e a Lei que limitam a autoridade militar, que ainda não sabemos se
foram desrespeitadas (e por quem) no caso
Aliás, os juízes considerarão se os limites ao exercício do poder foram violados de acordo com o artº. 19º do Estatuto dos Militares das Forças Armadas.
Pior. Se o narcisismo primário de Gouveia e Melo mata o líder que protege os seus homens "sem denúncia, nem cumplicidade" e os usa para propaganda pessoal; se a sua vaidade e a sua ganância aniquilaram a necessária humildade no sucesso e toda a camaradagem (tão cimento para a cultura castrense, quanto a disciplina); se o tipo de respeito que sabe impor é tão consistente quanto a de qualquer fanfarrão de caserna; então está confirmado que o Almirante não honra o lugar e que, ainda por cima, é um perigoso político. Realmente, para a politiquice da golpada, promoção pessoal e manipulação está preparado. Já para ser Presidente da República Portuguesa é que nunca. Já vimos em rampa deslizante há anos. Um marinheiro de ego inchadão era só o que faltava.
Mas nada disto suscita perplexidade. O passado recente deste Chefe do Estado-Maior da Armada revela alguém apostado em urdir intentonas contra colegas, em montar armadilhas a quem o confronte e em exercer o poder de modo omnipotente. Aliás, as intrigas que moveu contra os seus - sendo que chegou a ter de apresentar em tribunal um pedido de desculpas a uma das vítimas - são a prova factual de que estamos perante um ser sem escrúpulos, mas com todas as ambições.
São nódoas gordas na alva farda, contrárias à honra militar que desmarcaram o seu camuflado missionário e impoluto.
Ah, mas teve um bom desempenho à frente da inoculação covid, dizem. A sério que nesta pátria orfã gera-se tanto deslumbre com uma tarefa logística bem executada, ainda que dispusesse de todos os meios (inclusive mediáticos)? E será que tal merece ainda medalha, mesmo quando o ministro da Saúde alemão hoje já lamenta a injecção em massa de produtos experimentais que estão a causar uma avalancha de efeitos adversos graves?! Pois é. Gouveia e Melo trepou até ao poleiro com manobras ínvias e quem com ferros mata, com ferros morre. Como já tive oportunidade de lhe devolver - colinho dá a mamã em casa, ok?
*Psicóloga clínica. Escreve de acordo com a antiga ortografia
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