quarta-feira, 12 de abril de 2023

A BORDO DA TAP, EM PLENA ZONA DE TURBULÊNCIA

Joana Pereira Bastos, jornalista | Expresso (curto)

Bom dia,

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No mais recente episódio da já longa novela da TAP, o ainda presidente do Conselho de Administração quebrou o silêncio e “partiu a louça”, sem poupar ninguém. Perante a comissão parlamentar de inquérito, Manuel Beja considerou que a tutela política da transportadora “perdeu o norte”, acusou o Governo de ingerência e frisou que a saída de Alexandra Reis e a sua própria exoneração foram “injustificadas” e ditadas por “fatores de conveniência político-partidária”.

Determinado a “defender a honra”, o chairman da companhia, que se mantém em funções apesar de ter sido exonerado no mês passado, descreveu múltiplos problemas de governação da TAP e contou como o Executivo ignorou durante meses os seus pedidos de reunião e alertas de falta de transparência.

A CEO da transportadora também não escapou ilesa da audição de Manuel Beja, que acusou Christine Ourmières-Widener de uma “liderança pouco servidora” e de falta de razoabilidade, por permitir que o marido usasse o carro e o motorista da companhia para fins pessoais.

As polémicas em torno da gestão da TAP sucedem-se a uma velocidade de cruzeiro. E muitas das consequências ainda estão para vir. Ontem mesmo ficou a saber-se que a CMVM abriu um processo à companhia aérea por omissão de informação na saída de Alexandra Reis, que poderá resultar numa multa de milhões de euros.

Já as consequências políticas são, por agora, imprevisíveis. António Costa tem tentado manter-se à margem, remetendo qualquer decisão para depois de terminar a comissão de inquérito, mas o dossier é cada vez mais tóxico para o Governo. Já levou à saída de Pedro Nuno Santos, ameaça Fernando Medina e o cerco aperta-se para João Galamba. O ministro das Infraestruturas, que despediu Manuel Beja por telefone, é o mais recente alvo da oposição. O PSD quer ouvi-lo com caráter de urgência sobre a “reunião secreta” que ocorreu entre membros do Governo, um deputado do PS e a CEO da TAP na véspera da primeira audição da gestora no Parlamento.

O melhor é mesmo apertar o cinto. A turbulência não vai abrandar.

OUTRAS NOTÍCIAS

Três investigadoras que passaram pelo Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra dizem ter sido vítimas de assédio sexual e moral na instituição. Descritos num livro publicado por uma editora internacional sobre más condutas sexuais na academia, os relatos das investigadoras - duas estrangeiras e uma portuguesa - acusam um reputado docente, que nomeiam apenas como “professor estrela”, e um assistente de promoverem contactos físicos inapropriados com estudantes e colegas, perseguindo, inclusive com processos disciplinares, as que se recusavam a alinhar. Um dos académicos visados já negou as acusações. O CES garante que vai investigar.

O Presidente da República promulgou ontem a isenção do IVA em mais de 40 produtos essenciais, anunciada pelo Governo no final do mês passado para travar a inflação dos bens alimentares, que atingiu em Portugal um dos valores mais altos da Europa. A medida entrará em vigor já na próxima terça-feira, aplicando-se, pelo menos, até ao final de outubro.

Mais de 1300 professores aposentaram-se só nos primeiros três meses do ano e até ao final de 2023 outros 3500 deverão entrar na reforma, perfazendo o maior número de saídas da última década. Com a falta de atratividade da profissão e o reduzido número de alunos nos cursos de Ensino, é cada vez mais difícil substituir os que saem.

O debate instrutório do caso BES, que deveria ter arrancado ontem, acabou antes mesmo de começar, uma vez que alguns arguidos não tinham, afinal, sido notificados para comparecer. O esquecimento obrigou a adiar o “pré-julgamento” de um dos maiores processos da justiça portuguesa para o início de maio. E o tempo está a contar, já que a prescrição ameaça parte dos crimes.

A economia nacional deverá crescer apenas 1% em 2023, segundo as previsões do FMI, divulgadas ontem, e que são mais pessimistas do que as até agora avançadas pelo Governo e pelo Banco de Portugal. O Fundo Monetário Internacional alerta que Portugal é um dos países mais vulneráveis a uma crise financeira gerada a partir do mercado imobiliário devido ao elevado endividamento das famílias e à prevalência de empréstimos a taxas variáveis, num cenário de subidas bruscas dos juros.

No futebol, o Benfica perdeu ontem à noite com o Inter de Milão por 0-2 na primeira mão dos quartos de final da Liga dos Campeões. Os encarnados conseguiram momentos interessantes, mas caíram na previsibilidade e tiveram pouco rasgo.

O treinador português Vítor Pereira foi despedido do Flamengo apenas três meses depois de ter sido contratado para o comando da equipa carioca. O técnico, que foi duas vezes campeão pelo FC Porto, não resistiu aos maus resultados alcançados no campeonato brasileiro. Jorge Jesus é agora um dos nomes mais falados para o substituir.

Lá fora

Quase 8500 civis foram mortos na guerra da Ucrânia, a maioria nas regiões de Donetsk e Luhansk. O número foi avançado ontem pelo gabinete do alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, mas a própria ONU admite que deverá ser apenas “a ponta do icebergue”, tendo em conta a dificuldade de acesso a informação nas zonas de combate e os relatos que ainda aguardam verificação. Acompanhe todos os desenvolvimentos no live do Expresso.

Entretanto, novas revelações de documentos norte-americanos classificados como ‘top secret’ dão conta que o presidente do Egito deu instruções em fevereiro para manter em segredo o fornecimento de armas à Rússia, de modo a “evitar problemas com o ocidente”. O Egito é um dos aliados mais próximos dos Estados Unidos no Médio Oriente e tem vindo a receber ajudas significativas dos EUA.

FRASES

“É a primeira vez que um membro do Governo é criticado na praça pública por uma nomeação que não fez”,

Fernando Medina, ministro das Finanças, sobre a nomeação de Laura Cravo, mulher de João Galamba, para um cargo de coordenação num departamento do Ministério das Finanças. No Parlamento, Medina esclareceu que Laura Cravo começou funções a 1 de novembro de 2020, quando ele próprio ainda não estava no Executivo, e que "não foi nem será nomeada pelo Governo” para nenhum cargo de direção.

O QUE ANDO A LER

O Infinito num Junco, de Irene Vallejo (Bertrand Ed.)

“Quando apareceram os livros? Qual é a história secreta dos esforços para multiplicá-los ou aniquilá-los? O que é que se perdeu pelo caminho e o que é que se salvou? Porque é que alguns deles se converteram em clássicos? Que livros foram queimados com ira e que livros foram copiados da forma mais apaixonada?”. Eis algumas das questões a que a autora espanhola se propõe responder nesta obra sobre a história do singular objeto que, há mais de dois milénios, “mantém vivas as nossas ideias, descobertas e sonhos”.

Mesmo sendo uma obra de não ficção, assente numa investigação académica de vários anos, “O Infinito num Junco” está escrito de forma cativante, com narrativas dignas dos melhores livros de aventuras, como a dos caçadores de livros que cruzavam a Europa a cavalo, atravessando montanhas e desfiladeiros, a mando do Rei do Egito, com a missão de resgatar todas as obras do mundo para a mítica Biblioteca de Alexandria. Um ensaio deslumbrante que se lê como um romance.

PODCASTS A NÃO PERDER

Pobre Europa adormecida! A Nato está feliz porque, através da Finlândia, ganhou mais 1300 km de fronteira com a Rússia. Para quê? Ouça Miguel Sousa Tavares de Viva Voz com Pedro Candeias, editor de Sociedade, sobre o futuro da política europeia e o papel que Ursula Ven der Leyen irá assumir.

No Brasil há uma terra indígena maior do que Portugal, onde as águas foram envenenadas e as crianças estão a morrer. Júnior Hekurari é líder do grupo Yanomami que nela habita. Esta semana, em O Mundo a Seus Pés, fala sobre o impacto do garimpo ilegal para a comunidade que lidera. Ouça o testemunho do líder e também do fotógrafo Gabriel Chaim que documentou de perto o genocídio deste povo.

A demissão da CEO da TAP está a provocar detonações políticas imediatas e outras com efeitos de longo prazo. António Costa demorou seis dias a reagir a um caso para o considerar "gravíssimo", Pedro Nuno Santos está ferido (embora politicamente possa não estar ferido de morte). Para perceber tudo nesta reunião do podcast Comissão Política.

Por hoje é tudo. Continue a acompanhar toda a atualidade no site do Expresso e tenha uma ótima quarta-feira.

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