domingo, 23 de abril de 2023

Angola | O AMIGO IMPROVAVEL DA EUROPA ESCLAVAGISTA – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda 

O Presidente João Lourenço está muito preocupado com a guerra na Europa. Grande homem. Um verdadeiro filho do Povo Heroico e Generoso. A parte da Europa (União Europeia) que tanto preocupa o Chefe de Estado Angolano trouxe para o território que hoje é Angola a cruz e a espada. Comprou, vendeu e exportou seres humanos baptizados de escravos. A Europa do esclavagismo, do colonialismo, do latrocínio, que debica desalmadamente no corpo inerte de África, tem na Presidência da República um esforçado defensor. Apetece-me dizer com os olhos em alvo e as mãos erguidas aos céus: Graças a Deus!

No mundo da política nasce uma estrela fulgente e incandescente. Inatingível. Ontem João Lourenço exigiu o cessar-fogo incondicional na Ucrânia. Amanhã, tenho a certeza, vai exigir que o estado terrorista mais perigoso do mundo, a OTAN (ou NATO) e a União Europeia refaçam a Jugoslávia. Ressuscitem os milhares de mortos. Encerrem a base militar do Kosovo. Paguem todos os estragos causados pelos bombardeamentos aéreos. Já está!

Sem se deter, João Lourenço vai exigir que o estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) e seus parceiros de genocídio ressuscitem o Presidente Saddam Hussein. Reconstruam o Iraque. Devolvam os triliões de dólares roubados dos Fundos Soberanos. Paguem o petróleo roubado até hoje. Mais triliões. João Lourenço é mesmo um campeão da paz.

Imparável, o Presidente da República de Angola vai exigir aos genocidas de Washington, Paris, Londres, Berlim, Lisboa, Madrid e outros sítios mal frequentados que ressuscitem o Presidente Muammar al-Kadhafi  assassinado pelos esbirros da OTAN (ou NATO). Devolvam imediatamente os triliões dos Fundos Soberanos da Líbia. Paguem pelo petróleo que estão a roubar, seus ladrões recalcitrantes! Assustados, os genocidas vão obedecer prontamente ao intrépido líder angolano. É assim mesmo!

O Presidente João Lourenço vai exigir à Europa onde não quer a guerra, que ressuscite e devolva os milhões de escravos. Que ressuscite os mortos das guerras coloniais. Caso sua excelência já não se lembre, em Angola tivemos uma, imposta pela OTAN (ou NATO) e Portugal, que se arrastou entre 4 de Fevereiro de 1961 e 25 de Abril de 1974. Tantra morte. Tanta dor. Tanto sofrimento. Mas isso na Europa não pode acontecer. O Presidente João Lourenço não admite. Guerra só em África, Médio Oriente, Ásia e a América dos pobres, capitaneada pela América dos ricos e seus aliados.

O Presidente João Lourenço vai exigir aos genocidas do estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) da União Europeia e da OTAN (ou NATO) que ressuscitem os mortos na Primavera Árabe, nas Revoluções Coloridas, nas invasões, nas ocupações armadas por esse mundo fora. A Europa que tanto preocupa o líder angolano leva a guerra onde não é obedecida. A quem não se deixa submeter. Mata quem não aceita o latrocínio. 

A Europa de João Lourenço vive há mais de seis séculos à custa de África. Para os europeus “amigos” terem uma vida flauteada, milhões de crianças africanas morrem com fome e doenças curáveis. Agora há por lá uma guerra? Eles que se entendam. E se precisarem de apoio, que recorram à associação de malfeitores UNITA, o seu braço armado em todas as agressões contra o Povo Angolano desde 1966. Nunca se esqueçam que a Ucrânia alimentou a rebelião armada de Jonas Savimbi após as eleições de 1992 e até Fevereiro de 2002.

O senhor Presidente da República atirou-se à “Rússia” na maka da guerra. Rússia para trás. Rússia para a frente. Informo humildemente sua excelência que o país chama-se Federação Russa. Espero que não chame aos EUA apenas “Unidos” até porque aquilo por lá está cada vez mais desunido, por culpa do Jack Teixeira, da ilustre família dos Teixeiras à qual também pertenço. Eu sabia que um dia alguém da minha família faria alguma coisa de útil pela Humanidade. Chegou a hora.

Como a memória em alguns políticos angolanos bateu em debandada, gostava de informar sua excelência o Presidente da República que graças à Federação Russa, herdeira da União Soviética, Angola é um país independente. Sem o apoio dos “russos” durante a Luta Armada de Libertação Nacional e na Guerra pela Soberania e Integridade Territorial, João Lourenço, o máximo a que podia aspirar, era ser considerado assimilado. Por especial favor os colonialistas podiam dar-lhe um lugar de servente com cartão de trabalho. 

Vossa excelência nunca se esqueça que na sociedade colonial os angolanos que chegavam ao topo da escala social eram uma minoria microscópica. Os enfermeiros e enfermeiras estavam nesse patamar de privilégios. Sabe disso num saber de experiência feito. Apendeu lá em casa.

Eu também quero o fim da guerra. As destruições na Ucrânia e o sofrimento do Povo Ucraniano partem-me o coração. Mas não vou exigir que a Federação Russa retire as suas tropas daquele país. Porque ainda hoje o secretário-geral da OTAN (ou NATO) foi a Kiev dizer que a Ucrânia é um país da organização militar agressiva e profundamente reaccionária. E jurou que vai continuar a alimentar a guerra contra a Federação Russa por procuração passada aos nazis de Kiev.

O Presidente João Lourenço, campeão da paz, quando exigir o cessar-fogo incondicional e a retirada das tropas russas da Ucrânia, não se esqueça de exigir também que a OTAN (ou NATO) regresse às posições que tinha antes da unificação da Alemanha. Ainda agora a aliança militar ofensiva e criminosa, pela voz do seu secretário-geral Stoltenbertg, disse isto: “Temos de assegurar que a Ucrânia vence a guerra contra a Rússia”. E mais: “A guerra tem de levar à mudança de regime na Rússia!” É isto que acontece há séculos. Mudam regimes a seu bel- prazer. Matam. Destroem. Submetem. Ocupam. Espero que o Presidente João Lourenço saiba disto. Mas se não sabia, ficou agora a saber.

Por fim, peço encarecidamente a sua excelência que leia as notícias dos últimos 30 dias sobre a adesão da Finlândia à OTAN (ou NATO). A aliança militar ofensiva, agressiva e genocida alargou em mais de um milhar de quilómetros a sua fronteira com a Federação R ussa. 

O Kremlin diz que esta expansão representa um perigo existencial para a Federação Russa. O secretário-geral da OTAN (ou NATO) disse hoje em Kiev que a Ucrânia vai mesmo aderir à aliança militar: “O Futuro da Ucrânia passa pela NATO”. Se e quando acontecer é mais uma ameaça existencial. Significa o apertar do cerco ao país que ajudou o Povo Angolano a derrotar o colonialismo português e o regime racista de Pretória. 

Os fascistas portugueses (já são maios do que no tempo do Marcelo Caetano), os saudosos do regime de apartheid, os sicários da UNITA e outros subprodutos da Humanidade ficaram muito incomodados com o apoio da União Soviética e da federação Russa ao Povo Angolano. Espero que essa solidariedade não seja também um incómodo para o Presidente João Lourenço. E que não tome as dores ou frustrações dos matadores de angolanos.

Hoje o líder parlamentar do MPLA, Virgílio de Fontes Pereira, teve uma intervenção na Assembleia Nacional que me lavou a alma. Lembrou aos distraídos que somos um só povo, uma só nação. Os membros da associação de malfeitores UNITA apostam em destruir essa unidade. É essa a sua agenda política. O MPLA acaba de nos garantir que não vai admitir. E mais uma vez a vitória é certa.

Por fim gostava de recordar que nesta coisa chamada democracia representativa (eu sou pela democracia popular) é preciso enganar os povos e particularmente os eleitores. Esse engano foi inventado pelos chefes do império romano. Consiste em dar pão e circo ao povo. Em Angola os mentores do liberalismo estão a dar pouco pão aos famintos. E cometem um erro trágico. São os próprios dirigentes políticos que fazem o circo. Não pode! No circo só podem participar palhaços, malabaristas, ilusionistas, contorcionistas, trapezistas domadores de feras e outros artistas.

A democracia liberal exige que os chefes fiquem nos seus gabinetes e palácios, fato e gravata, mordomias, criadagem, aparições públicas bem produzidas. Mas guardadas as devidas distâncias. Se os detentores do poder participam no circo, a coisa vira filme de terror. É outro género de espectáculo. Em vez de distrair e entreter pode assustar. Acreditem! 

*Jornalista

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