domingo, 30 de abril de 2023

Angola | OS CAMPEÕES DO DIÁLOGO E DA RECONCILIAÇÃO – Artur Queiroz


Artur Queiroz*, Luanda

Justino Pinto de Andrade, deputado da UNITA (e pensa assim!), alinhou umas palavras por alturas no Novo Jornal onde revela “Um pouco da minha vida: Preso pela PIDE; Deportado; Preso pela FNLA; Preso pelo MPLA; Deportado novamente.” A bosta tem 19 capítulos e ele acha que isso é “crónica”. Porque na cabeça destes falsários, qualquer um que seja capaz de juntar meia dúzia de palavras já é jornalista. Se garatujar umas palavrinhas é cronista. 

O 20º capítulo é um suspiro de alívio. Só mesmo eu era capaz de chegar ao fim daquela porcaria. Quando decidi abraçar a profissão de jornalista estava louco varrido. Até há alguns dias pensava que o pior era ler os balbucios do Agualusa. Engano de alma. O deputado da UNITA é uma carga mil vezes mais pesada. O preço que tenho de pagar por ser pecador.

No mesmo espaço, um dia destes o engenheiro agrónomo Fernando Pacheco insinuava que se há problemas na sociedade o MPLA tem que dialogar mais. Luzia Moniz e a Alexandra Simeão dizem o mesmo. Quando se atrevem a escrevinhar ficam com os pés inchados e com dores insuportáveis nos calcantes. Por isso, mal dispostas, irascíveis, cospem no prato onde sempre comeram, arrotaram e até vomitaram quando enchiam demasiado a pança. Poucas angolanas sacaram tanto dos cofes públicos como elas. Vou dar um exemplo. 

O Estado, após o Acordo de Bicesse, atribuiu uma vivenda ao dirigente da UNITA Alicerces Mango. Quando o criminoso Jonas Savimbi perdeu as eleições e voltou à guerra, a casa foi atribuída à então deputada Anália Vitória Pereira, minha amiga desde a adolescência. Mais tarde, a posse da propriedade foi transferida do Estado, legalmente, para a mamã da Alexandra Simeão. A escriba desalmada herdou a vivenda. Sem saber ler nem escrever.

Vigarista quanto baste, ousou um dia escrever que o MPLA governa Angola sozinho desde a Independência Nacional. Ela fez parte do Governo de Unidade e Reconciliação Nacional (GURN) que incluiu membros de todos os partidos com representação na Assembleia Nacional. Uma mentirosa descarada. Faz esta figura porque lhe estão a encher o prato. Para abocanhar uns trocos atira com a honra para o lixo. Nem sequer respeita a memória do Pai, o meu amigo Manolo Simeão, e da Mãe, Anália Vitória Pereira.

Agora vamos falar de diálogo e reconciliação nacional. Nenhum partido no mundo avançou tanto na reconciliação entre irmãos da mesma Pátria desavindos. Nunca o diálogo foi tão profundo e tão presente com todos, sem excepções. Como não sou propagandista, deixo alguns exemplos do tamanho da Serra da Chela. Indesmentíveis como a luz do dia e o luar da noite. Tomem nota.

Daniel Chipenda, agente de serviços secretos estrangeiros infiltrado na direcção do MPLA, tentou destruir o único movimento que fazia a luta armada, com a chamada Revolta do Leste. Fracassou. Logo a seguir ao 25 de Abril de 1974, uns quantos artistas que se diziam “intelectuais”, inactivos na luta mas activíssimos no oportunismo, na ambição e na intriga, lançaram a Revolta Activa. Queriam ser donos e senhores do poder apresentando como currículo muita mangonha. O MPLA decidiu colocar o poder em disputa quando Angola aderiu à democracia representativa e ao capitalismo. Em 1992, o Povo Angolano foi a votos.

Esse acontecimento político só foi possível porque o MPLA e seu líder, José Eduardo dos Santos, estenderam a mão ao criminoso de guerra Jonas Savimbi. Atiraram para baixo do tapete todos os crimes cometidos: Crianças e mulheres raptadas nas sanzalas. Idosos assassinados. Muitas mulheres foram transformadas em escravas sexuais dos sicários do Galo Negro. As crianças foram instrumentalizadas para a guerra. As elites femininas da UNITA foram queimadas vivas nas fogueiras da Jamba. Mesmo assim, aí vai um abraço e vamos esquecer o passado.

Daniel Chipenda, em nome da reconciliação da Grande Família, regressou ao seio do partido que tentou destruir em 1972. A direcção do MPLA até lhe deu o cargo de director da campanha eleitoral em 1992. Uns dias depois traiu novamente. Abandonou tudo e apresentou a sua candidatura à Presidência da República. Continuou ao serviço da Irmandade Africâner, da CIA e dos serviços secretos franceses. Mas quando se arrependeu, regressou. Deram-lhe o cargo de embaixador. Morreu como servidor do Estado Angolano.

Os inactivos da Revolta Activa quase destruíram todos os ganhos da Luta Armada de Libertação Nacional. Apesar disso, foram todos integrados e em cargos de alta responsabilidade. Os nitistas, logo nos primeiros dias da República Popular de Angola, pela voz de Nito Alves, apelaram à morte aos membros da Revolta Activa, dos CAC (Comités Amílcar Cabral) e da OCA (Organização Comunista de Angola). O então ministro das polícias mandou prender toda a gente. Os prisioneiros salvaram-se porque os seus carcereiros foram derrotados no golpe de estado em 27 de Maio de 1977.

Gentil Viana e os seus epígonos, entre os quais um tal Adolfo Maria, odiavam Agostinho Neto. Para eles, o líder do MPLA era um ditador. Imaginem que durante os anos em que liderou o movimento (o equivalente a dois mandatos presidenciais hoje) nunca convocou um congresso, nunca convocou eleições para a direcção. Uma organização política cujos membros viviam na clandestinidade, que lutava de armas na mão contra as forças repressivas do colonialismo, tinha de fazer congressos e eleições para o Afrique e o Adolfo Maria chegarem ao poleiro, como se a nossa casa fosse a capoeira do Galo Negro. Atenção! Agostinho Neto foi vítima de racismo por parte desses opositores. Como foi possível o negro conseguir e nós não?

Quando o golpe de estado nitista foi derrotado, Agostinho Neto estendeu as duas mãos ao Gentil Viana. Os serviços do Estado transferiram-no para Portugal a fim de ser tratado, já que sofria de uma doença grave adquirida muitos anos antes. Neto ordenou ao embaixador de Angola em Lisboa para lhe entregar uma quantia mensal. Fui eu que fiz as duas primeiras entregas. Quase dez vezes mais do que o meu salário. Tudo em nome da reconciliação. Nunca mais atacou o Estado Angolano nem a direcção do MPLA. 

Ao contrário do Adolfo Maria. Por isso este ganhou um lugar cimeiro na minha lista de leprosos morais. Ordenei-os em três categorias: Putrefactos, ignóbeis e asquerosos. Ele é dos primeiros na classe dos podres. Os seguidores da Revolta Activa em Luanda, logo a seguir ao 25 de Abril de 1974, defendiam esta tese: Não podemos consentir que os analfabetos que andaram aos tiros nas matas e nas lavras de mandioca governem Angola. Nós é que estudámos, nós é que sabemos, nós é que governamos. Entre esses bandalhos o Justino Pinto de Andrade, à custa de traições rasteiras, chegou a deputado da UNITA. Na minha lista de leprosos morais está a meio da lista dos asquerosos.

Justino Pinto de Andrade desenha assim o percurso da sua vida: “Preso pela PIDE; Deportado; Preso pela FNLA; Preso pelo MPLA; Deportado novamente”. Sim, foi preso pela PIDE. Foi preso pela FNLA? Pode ser que sim. Mas quando diz que foi preso pelo MPLA mente. A mentira serve para chegar à seguinte conclusão: Estão a ver? A UNITA, sim, é um a maravilha. A FNLA e o MPLA prenderam-me! Ao deputado da UNITA deixo este recado que aprendi na Kapopa do Negage: Konso mbi futwa ifutwangwa. Todo o mal se paga na terra! Vai chegar o dia em que o MPLA não conseguirá proteger os leprosos morais, intriguistas, oportunistas e ambiciosos.

Daniel Chipenda foi o agente provocador que causou a primeira fase da Grande Batalha de Luanda. Nesses combates morreu o Comandante Valódia. Apesar disso, em nome do diálogo e da reconciliação nacional representou Angola como embaixador, até morrer!

Muitos dirigentes da FNLA, a partir de 1978,em nome do diálogo e da reconciliação nacional integraram-se na vida pública, Alguns até foram ou são dirigentes do MPLA. Ministros e oficiais generais. A FNLA ajudou forças estrangeiras a invadirem o Norte de Angola. A saquearem todos os bens. A matarem civis indefesos. Em que país aconteceu isto? Nenhum, nunca.

O filho de Gentil Viana, um tal Francisco Viana, vivia à custa do pai. O pai vivia à custa do Estado Angolano. Não tinham fortuna. O actual deputado da UNITA diz que é dono de muitas empresas. Graças ao MPLA. E o combate à corrupção não passa por ele!

Os dirigentes do golpe militar do 27 de Maio de 1977 foram submetidos a tribunal marcial e condenados a fuzilamento. Os golpistas decapitaram o Estado Maior das Forças Armadas quando o país estava em guerra. Ocuparam a maior unidade militar de África (IX Brigada) e levaram presos para lá os comandantes que depois foram assassinados. Ocuparam a Rádio Nacional. Ocuparam a sede da DISA (Segurança do Estado). Assaltaram a prisão de São Paulo. Os seus apaniguados foram libertados e alguns mataram os comandantes no Zangado (Sambizanga). 

Quem não pertencia à direcção do golpe foi libertado depois de pagar uma ínfima parte da dívida à sociedade que tentaram destruir. Alguns chegaram ao Governo. Outros chegaram a Generais. Outros são Académicos. O Francisco Queiroz, assumido golpista, até conseguiu montar o chorudo negócio das ossadas. Querem mais diálogo? Mais contributos à reconciliação nacional? Impossível.

O sócio do deputado da UNITA Justino Pinto de Andrade, revisor Rui Ramos, fez mil tropelias quando era maoista. Foi fundador da OCA, uma organização que visava derrubar o MPLA. Foi deportado para Cabinda mas os camaradas não consentiram que tivesse dificuldades. Arranjaram-lhe casa e trabalho na escola secundária. Era professor de Augusto Tomás. Quando este foi nomeado ministro das Finanças, Rui Tramos gabava-se de ter sido seu mestre. Hoje ataca-o de uma forma repugnante. Quando era revisor do “Expresso” foi turista da Jamba. Mas em 1992 já estava sentado à mesa do Orçamento Geral do Estado.

Reformado de revisor regressou a Angola. Desde então acumulou vários tachos. Conseguiu convencer Luísa Rogério a passar-lhe uma carteira profissional de jornalista. Ele que era revisor. Um oportunista desbragado. Diz que a UNITA “alegadamente” traiu. Mas ele sabe. Jonas Savimbi assinou o cessar-fogo com Portugal no início de Junho de 1974. Sabem com quem? Major Pezarat Correia, em representação do Movimento das Forças Armadas (MFA ) e do coronel Passos Ramos, chefe das informações militares e que era o seu chefe no Leste de Angola. Tudo na clandestinidade! 

Logo a seguir, Jonas Savimbi deu uma entrevista à Emissora Oficial de Angola (RNA), algures no Moxico, onde defendeu que os angolanos não estavam preparados para a independência e o melhor era uma federação com Portugal. Logo a seguir, a “bófia” colonialista pôs todos os Media a passar esta mensagem: UNITA é o Movimento dos Brancos. Savimbi É o Muata da Paz. Vendeu-se aos independentistas pró Rodésia (Zimbabwe) e África do Sul. 

O revisor sabe disso. Mas como voltou aos tempos de turista das Jamba, esqueceu. Depois da OCA e da Jamba voltou para Angola e foi recebido de braços abertos pelo MPLA e os seus antigos camaradas. Rapidamente provou que não merecia, por ser desleal e intriguista. Querem mais diálogo e reconciliação?

O Doutor Pinto de Andrade, dirigente do MPLA, participou numa acção pública com um sicário da UNITA. As suas palavras foram cordatas, pedagógicas, serenas. E tinha ao lado alguém que representa uma organização que raptou mulheres e crianças. Queimou vivas as elites femininas do Galo Negro. Paga a marginais para destruírem bens públicos. Corrompe altos funcionários do Estado para sabotarem o fornecimento de bens essenciais. Querem ainda mais abertura, mais diálogo, mais força à reconciliação nacional? Impossível. 

O MPLA até abre os braços ao AFRICOM, tenebroso instrumento de dominação imperialista ao serviço do estado terrorista mais perigoso do mundo! Terroristas do ELP que apoiaram o assassinato de angolanos indefesos em 1974 e 1975, como Jaime Nogueira Pinto, são recebidos com passadeira vermelha, em Luanda. Querem mais? Não abusem.

* Jornalista

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