quarta-feira, 10 de maio de 2023

Angola | O Marreco e Fogueiras na Mutamba – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O Presidente João Lourenço deu uma entrevista a uma coisa às ordens do governo francês (em desagregação) e mais uma vez fala da guerra na Ucrânia olhando para o problema pelo lado das partes baixas: A Federação Russa invadiu um país vizinho violando a Carta da ONU. Tenho a certeza de que sua excelência tem assessores de altíssimo nível. E esses deram-lhe a visão completa do conflito. Pelos vistos ele só quer ver a parte traseira. Hoje, Dia da Vitória Contra o Nazismo quero contar uma história que circulava de rua em rua na Vila Clotilde.

O Marreco Segismundo teve a sorte de casar com uma senhora muito bonita, altamente prendada e bem abonada de peitos. Por tudo isso e mais uns trocos era cobiçada. O Pratas Bailarino (dançava mais do que trabalhava) amava aquela deusa e ficou louco quando ela optou pelo outro. Punha-se à porta de casa do rival e quando ele saía, manhã bem cedo, para o trabalho, rosnava: - És feio. Não vales nada. Marreco de merda. Vai trabalhar e não venhas cedo porque vou bubular a tua mulher.

O Bailarino todos os dias repetia estas palavras e o Marreco Segismundo fazia que não ouvia nem percebia. Passaram oito anos e ele era diariamente humilhado, logo de manhã. Um dia aconteceu a tragédia. O Marreco vinha armado com uma pistola e quando o Bailarino começou a ladainha, ele disparou no joelho do insultador. Depois empunhou uma faca que o sapateiro do barro lhe emprestou e capou-o. Arquejando, resfolegando, derramando lágrimas de raiva o Marreco Segismundo sibilou: - Eu sou marreco mas tu és coxo e capado!

O chefe Aires da esquadra da Vila Clotilde prendeu o capador e entregou-o à Polícia Judiciária. No bairro o falatório não parava. Aquele sacana invadiu a Ucrânia. Rasgou a Carta das Nações Unidas. Quer desarmar os grupos nazis que dominam o poder em Kiev. Morte ao agressor! Morte aos russos. Morte à língua russa. Vamos sangrar a Rússia até se render ao ocidente alargado. Ninguém se lembrou que o Bailarino passou oito anos torrando a paciência ao seu rival. Insultando-o. Humilhando-o. Agredindo-o. Conspurcando o nome da sua amada. 

Isto acabou bem. O marreco fez uma operação plástica e ficou elegantíssimo. O Pratas Bailarino ficou coxo e capado até ao dia em que foi levado para o cemitério num caixão baratucho, pago pela Úrsula von der Leyen e pelo Joe Biden. Moral da história: A Carta da ONU não vale a ponta de um corno. Que o digam iraquianos, líbios, sírios, jugoslavos e outros povos diariamente agredidos por um qualquer bailarino emergente do nazismo que está de volta no ocidente alargado. O rato de sacristia Guterres, nas suas orações, vai pedir a Deus a santificação dos presidentes Sadam Hussein e Muamar Kadaffi.

Vira o disco. Isaías Samakuva era primeiro-cabo da tropa portuguesa quando Jonas Savimbi andava a matar angolanos e o pessoal da UNITA. Em 1975, arranjou um tacho no Governo de Transição, oferecido pelo ministro António Dembo. Em 1976, “retirou-se para a zona rural”.  Em 1977 atingiu o topo da carreira ao ser nomeado “oficial de ligação” entre os racistas de Pretória e a associação de malfeitores UNITA.

Em 1979, Savimbi nomeou-o seu “embaixador” junto do regime da África do Sui “mesmo ainda sob vigência do regime de apartheid” como escreve n a sua biografia. Em 1984, foi nomeado vice-presidente da Comissão dos Negócios Estrangeiros da UNITA. Depois foi embaixador oficial na Europa, de 1989 a 1994 e novamente de 1998 a 2002. Entre 1989 e 1993, foi representante da UNITA no Reino Unido e depois foi delegado do partido junto da União Europeia.  Isto está escrito na biografia dele. Eu acrescento que durante esse tempo tratou dos seus negócios em grande. Ficou milionário à custa dos negócios de diamantes de sangue, droga e marfim.

Os negócios de Samakuva e seus irmãos devem estar a correr mal porque ele disse isto em Luanda: “A disputa do poder entre a UNITA e MPLA está novamente no seu auge, que me coloca perante uma preocupação enorme da probabilidade de surgirem novamente momentos dramáticos no país. Pois que, a Doutrina do MPLA, da manutenção do poder, por todos os meios, mantem-se intacta e intransigente, tendo em consideração a crise socioeconómica profunda que se alastra pelo país”. 

O artista quer festa! Já se esqueceu que os “momentos dramáticos” foram criados pela UNITA quando perdeu as eleições em 1992. E só acabou o dramatismo quando Jonas Savimbi foi derrotado no Lucusse em 2002.

O antigo chefe da UNITA anunciou que vai escrever um livro sobre os assassinatos de Jonas Savimbi com a conivência da direcção da UNITA. Disse que as versões actuais são de “detractores e de desertores”. Samakuva ainda está no tempo em que era o “oficial de ligação" entre o bando armado do Galo Negro e o regime racista de Pretória. Deserção é da tropa. Sair de um partido é, quando muito, dissidência. Quem sai da UNITA é coragem e inteligência. Quem entra, como o deputado Justino Pinto de Andrade e o revisor Rui Ramos é demência senil. Os jovens não aderem ao banditismo político. Salvo se forem marginais como o Nelito Ekuikui.

Samakuva vai contar a sua versão dos assassinatos de Savimbi. Que alívio! Agora vamos saber como foi o 7 de Setembro de 1983, quando o criminoso de guerra queimou vivas as elites femininas da UNITA. Estou à espera das novidades. Fonte próxima do “oficial de ligação” com os nazis de Pretória garante que o escriba, assessorado pelo Numa, vai revelar se as vítimas atiradas para o fogo ficaram bem passadas ou mal passadas.

Savimbi espancou até à morte Eduardo Jonatão Chingunji e a sua esposa Violeta Jamba. Tito Chingunji, sua esposa Raquel e os seus três filhos. Lena Chingunji e o seu marido Wilson dos Santos mais os filhos do casal: .Koly, de 12 anos; Rady, de oito anos e dois gémeos ainda bebés. Dino Chingunji e a esposa Aida Henda, sua irmã Vande e Alice Chingunji.

Jorge Ornelas Sangumba esteve preso durante um ano e torturado até a morte. António Vakulukuta teve o mesmo tratamento, em 1983. Samakuva viu ou estava em ligação de droga, diamantes e marfim com os nazis de Pretória? Ana Isabel Paulino, esposa de Savimbi, foi enterrada viva na cova de um jimbo. Samakuva vai contar como ajudou a matá-la. E vai dizer como foram assassinados os dirigentes Mateus Catalayo, Waldemar Chindombo e Alberto Chendovava

O General Altino Sapalalo (Bock) foi amarrado e depois morto com pauladas na cabeça. O crime aconteceu no dia 25 de Abril de 2000, na base do Tchanjo. Na mesma data e local também foram espancados até à morte o general Antero Vieira e o Brigadeiro Perestrelo. Os assassinos foram Savimbi, general Kalias Pedro, brigadeiro Beja e o tenente-coronel Isaac, dos serviços secretos da Divisão Presidencial. Smakuva estava a tratar dos negócios de diamantes de sangue na Europa. Estes assassinos e traficantes estão mesmo convencidos de que são impunes. Ficamos à espera da “versão real” do primeiro-cabo. 

Uma coisa é certa: Os “embaixadores” do Savimbi eram todos kamanguistas. Por isso a ONU lhes congelou as contas e confiscou os passaportes. Têm que devolver o dinheiro! O “combate” à corrupção não pode ser só contra os marimbondos. Também tem de tocar aos galos, tenham a cor que tiverem.

Os sicários da UNITA estão a lançar, diariamente, graves provocações. O provocador de serviço é um tal Carlos Kandanda. Falsifica os factos históricos e na sua última diatribe até invoca o nome do General João de Matos, para defender que a guerra depois das eleições de 1992 foi desencadeada pelo governo! 

O falsário escreve também: “A última guerra civil (1999-2002) foi imposta ao Comando Superior das Forças Armadas Angolanas. Na verdade, era sabido de que, existiam duas correntes no seio da Direcção do MPLA: uma, da linha dura, que defendia o genocídio, acabar totalmente com a UNITA; uma outra, de linha moderada, que defendia a solução negociada”. 

Nas falsificações o sicário do Galo Negro diz que “a democracia não estava assumida integralmente pelo partido no poder. A manutenção do poder e a hegemonia político-partidária passava necessariamente pela desagregação e domesticação da UNITA. Na análise dos «Estrategas» do MPLA, da linha dura, a imposição do partido-estado não seria viável, num sistema democrático plural, e sobretudo, nas condições concretas de 1991-1998, com uma UNITA robusta, com o controlo de cerca de 70 por cento de território do país”.

A “UNITA robusta” ocupava militarmente 70 por cento do país. O Kandanda acha que um partido político que perde as eleições pode transformar a derrota numa vitória, ocupando quase todas as províncias com as tropas que Samakuva ajudou a esconder nas bases secretas do Cuando Cubango. Os corruptos da UNITA são condecorados. Os provocadores e falsificadores têm garantida a impunidade. Um dia destes invadem o Palácio da Cidade Alta e matam o Presidente. Depois fazem uma grande fogueira na Mutamba com os deputados do MPLA e outros partidos.

* Jornalista

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