Manifestação do Chega, extrema-direita em Portugal, com cartaz de mentira e saudações nazis implicitamente racistas (imagem em JN)
Cândida Almeida* | Jornal
de Notícias | opinião
Quem rejeita a existência de
racismo em Portugal alberga, de forma consciente ou não, uma atitude mental de
ódio e aversão por aqueles que divergem da sua raça, tendo em conta a sua
origem étnico-racial. Não é possível ignorar, de boa-fé, a sucessão de crimes
violentos, incluindo o homicídio, contra pessoas de origem africana, indiana,
paquistanesa, cigana ou até brasileira, cometidos por gente racista, sem outro
fundamento que não seja o seu sectarismo doutrinário da hierarquia das raças.
Já para não referir os ataques verbais, as discriminações, os impropérios
jocosos com que diariamente aquelas pessoas se confrontam. Há racismo em
Portugal como um pouco por todo o Mundo.
O nosso país ratificou a
Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
Racial e o protocolo adicional. Nem por isso diminuiu, antes pelo contrário, a
aversão de uma pequena parte da população à cor da pele não branca de
concidadãos que procuraram refúgio, paz e dignidade neste país, bens essenciais
que lhes negavam no seu, ou que já nasceram aqui e não conhecem outra pátria
que não esta. É por isso que a CRP proíbe qualquer discriminação e segregação
em razão da raça, da ascendência ou território de origem. A exposição ao
racismo por aqueles que negam a sua realidade é apenas uma forma enganosa de
justificar e subestimar as manifestações e actos de origem racista.
A maior
parte dos cidadãos e em particular os mais atentos, responsáveis e convictos da
igualdade de todos os seres humanos, em direitos e deveres, defendem a
necessidade de as crianças serem ensinadas para a igualdade, liberdade,
tolerância, fraternidade e partilha. Noções estas a serem-lhes prestadas na
escola e na universidade. É precisamente neste patamar do processo
civilizacional em que nos encontramos que nos surge uma manifestação pública de
alguns professores, ostentando cartazes de conteúdo racista visando o
primeiro-ministro de Portugal. Intolerante e inaceitável na e para a classe.
Até nas reivindicações de melhores condições de vida e de carreira os
professores têm de conduzir-se como mestres, que deviam ser, têm o dever
funcional, moral e cívico de acompanhar os alunos na sua formação social e de
cidadania, considerando que estes serão o amanhã de todos nós. Não adianta
desviar a nossa atenção e responsabilidade ético-social, devendo, pelo
contrário, expressar a rejeição deste tipo de manifestações. Não é admissível
em nenhum grupo profissional, muito menos no dos professores, a utilização de
mensagens de teor racista porque, acompanhando a declaração da Fenprof, até
quando reivindicam publicamente os seus direitos os professores estão e devem
estar a ensinar. Aqueles cartazes, o seu conteúdo e as palavras proferidas não
são só de mau gosto, são racistas. Há que reflectir, o racismo e a xenofobia
estão presentes em qualquer cartilha da extrema-direita e é contra aquela que
temos que serrar fileiras. Bastaram já 48 anos de ditadura.
*EX-DIRETORA DO DCIAP | A AUTORA
ESCREVE SEGUNDO A ANTIGA ORTOGRAFIA
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