domingo, 18 de junho de 2023

Portugal | RACISMO

Manifestação do Chega, extrema-direita em Portugal, com cartaz de mentira e saudações nazis implicitamente racistas (imagem em JN)

Cândida Almeida* | Jornal de Notícias | opinião

Quem rejeita a existência de racismo em Portugal alberga, de forma consciente ou não, uma atitude mental de ódio e aversão por aqueles que divergem da sua raça, tendo em conta a sua origem étnico-racial. Não é possível ignorar, de boa-fé, a sucessão de crimes violentos, incluindo o homicídio, contra pessoas de origem africana, indiana, paquistanesa, cigana ou até brasileira, cometidos por gente racista, sem outro fundamento que não seja o seu sectarismo doutrinário da hierarquia das raças. Já para não referir os ataques verbais, as discriminações, os impropérios jocosos com que diariamente aquelas pessoas se confrontam. Há racismo em Portugal como um pouco por todo o Mundo.

O nosso país ratificou a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial e o protocolo adicional. Nem por isso diminuiu, antes pelo contrário, a aversão de uma pequena parte da população à cor da pele não branca de concidadãos que procuraram refúgio, paz e dignidade neste país, bens essenciais que lhes negavam no seu, ou que já nasceram aqui e não conhecem outra pátria que não esta. É por isso que a CRP proíbe qualquer discriminação e segregação em razão da raça, da ascendência ou território de origem. A exposição ao racismo por aqueles que negam a sua realidade é apenas uma forma enganosa de justificar e subestimar as manifestações e actos de origem racista. 

A maior parte dos cidadãos e em particular os mais atentos, responsáveis e convictos da igualdade de todos os seres humanos, em direitos e deveres, defendem a necessidade de as crianças serem ensinadas para a igualdade, liberdade, tolerância, fraternidade e partilha. Noções estas a serem-lhes prestadas na escola e na universidade. É precisamente neste patamar do processo civilizacional em que nos encontramos que nos surge uma manifestação pública de alguns professores, ostentando cartazes de conteúdo racista visando o primeiro-ministro de Portugal. Intolerante e inaceitável na e para a classe. Até nas reivindicações de melhores condições de vida e de carreira os professores têm de conduzir-se como mestres, que deviam ser, têm o dever funcional, moral e cívico de acompanhar os alunos na sua formação social e de cidadania, considerando que estes serão o amanhã de todos nós. Não adianta desviar a nossa atenção e responsabilidade ético-social, devendo, pelo contrário, expressar a rejeição deste tipo de manifestações. Não é admissível em nenhum grupo profissional, muito menos no dos professores, a utilização de mensagens de teor racista porque, acompanhando a declaração da Fenprof, até quando reivindicam publicamente os seus direitos os professores estão e devem estar a ensinar. Aqueles cartazes, o seu conteúdo e as palavras proferidas não são só de mau gosto, são racistas. Há que reflectir, o racismo e a xenofobia estão presentes em qualquer cartilha da extrema-direita e é contra aquela que temos que serrar fileiras. Bastaram já 48 anos de ditadura.

*EX-DIRETORA DO DCIAP | A AUTORA ESCREVE SEGUNDO A ANTIGA ORTOGRAFIA 

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