Eunice Lourenço, editora de política | Expresso (curto)
Bom dia
Começo por lhe fazer um convite para hoje: Às 14h00, Junte-se à Conversa comigo e com a Vera Arreigoso e moderação do David Dinis. Desta vez sobre se “O Governo dá conta do SNS?”. Inscreva-se aqui.
A semiótica era uma daquelas
disciplinas que, na faculdade, parecia que não me iam servir para grande coisa,
mas provavelmente aquela de que mais lembro no dia-a-dia. E ontem foi um dia de
semiótica, de uma, ou mesmo duas, grandes lições práticas dessa disciplina que estuda
os uso do que é dito, mas também do não dito na comunicação e os seus
significados.
A primeira do dia foi a audição de Pedro Nuno Santos, na comissão parlamentar
de Economia. Depois de seis meses de silencio público, o ex-ministro das
Infraestruturas chegou ao Parlamento notoriamente desejoso de falar. Nas palavras conteve-se, gerindo com pinças as referências ao
primeiro-ministro para não alimentar guerras com o primeiro-ministro, mas ainda
assim deixou clara a sua posição sobre assuntos em que continuam sem concordar:
a (não) divulgação do plano de reestruturação da TAP e a escolha da localização
do novo aeroporto. Foi uma espécie de aterragem suave, como lhe chama o Paulo Baldaia, em vez da descida mais brusca que seria um
regresso direto para a comissão parlamentar de inquérito (CPI).
A grande lição prática de semiótica foi de António Mendonça Mendes, ouvido à
tarde na comissão de Assuntos Constitucionais, devido à intervenção do SIS no
Caso Galamba para a recuperação do computador levado por Frederico Pinheiro do
Ministério das Infraestruturas. Nunca respondeu diretamente à pergunta “sugeriu
ou não ao ministro que comunicasse ao serviço de informações?” e deu uma lição
prática de semiótica em que o não dito vale tanto ou mais do que o dito. Ao nunca confirmar explicitamente a versão do colega de
governo, desmente-a, não desmentindo. “Não confirmo, nem desminto” será das
frases mais odiadas pelos jornalistas e poderia ser um bom resumo desta
audição. Mas quantas vezes tentamos perceber mais alguma coisa pelo tom com que
é dito, pelo riso ou não na voz, pelo olhar ou pelo fim abrupto ou não da
conversa.
Mendonça Mendes manifestou algum apoio a Galamba, dizendo em que caso de dúvida
também reportaria ao SIS; mas também deixou críticas mais ou menos veladas, a
começar logo na sua intervenção inicial em que condenou a "banalização da
revelação de contactos entre membros do Governo". Ora, ninguém cometeu
maior banalização do que João Galamba, o ministro que na noite de dia 26 de
abril e nos dias seguintes foi um helicóptero a espalhar problemas
Galamba no momento mais atrapalhado da sua audição – em que até pediu um
intervalo para ir fumar – tinha implicado Mendonça Mendes: a uma pergunta do
liberal Bernardo Blanco, respondeu que tinha sido o secretário de Estado
Adjunto do primeiro-ministro e sugerir-lhe o contacto com o SIS. Mas, também
acrescentou, que não foi devido a essa sugestão que o contacto foi feito, pois
a sua chefe de gabinete já tinha tomado a iniciativa. Foi nessa iniciativa que
Mendonça Mendes baseou parte das suas repostas. “Não, o reporte aos
serviços de informação da República, ao Sistema de Informações da República não
decorreu nem de nenhuma sugestão, nem de nenhuma orientação, nem de nenhuma
indicação da minha parte, nem da parte de nenhum membro do Governo. E era assim
que tinha de ser”, disse. Ou seja, não respondeu se deu ou não sugestão,
garantiu que não foi por sugestão sua que o SIS agiu. E, frisou, “um reporte
não significa pedir para agir”. Ou seja, a haver algum problema é de quem agiu
(o SIS) e não de quem comunicou o facto que levou à ação.
A audição do Adjunto não acabou com o caso, a oposição insiste com o regresso de Galamba ao
Parlamento e com a sua demissão. O caso, contudo, está claramente em perda no
debate político, mas o ministro também está cada vez mais fragilizado. Até
quando se vai arrastar e continuar a pesar num Governo? Pelo menos até às
conclusões da comissão de inquérito, das quais António Costa prometeu tirar
consequências.
O dia – uma maratona de quase 13 horas – ainda teve mais uma
audição: a de João Leão, ex-ministro das Finanças, que foi à comissão de inquérito
dar apoio a Medina, Galamba e até a Pedro Nuno Santos. António, João e Pedro, os socialistas com nomes de santos populares
que dominaram o dia no Parlamento não conseguiram, contudo, fazer milagres:
ficaram dúvidas e pedidos de demissão.
Para quem quer seguir os próximos capítulos da CPI, aqui fica o calendário:
Hoje, às 14h – António Pires de Lima, ex-ministro da Economia
Dia14, às 17h – Hugo Mendes, ex-secretário de Estado das Infraestruturas
Dia 15, às 14h – Pedro Nuno Santos, ex-ministro das Infraestruturas
Dia 16, às 10h – Fernando Medina, ministro das Finanças
Outras notícias
- Previsões. Tem sido assim nos
últimos meses: enquanto o Parlamento está concentrado em audições e
contradições sobre a TAP e o computador de Frederico Pinheiro, lá vem mais uma
boa notícia para a economia. Agora é a OCDE que até fica mais otimista do que o Governo.
- Tutela. A pressão sobre a banca para subir os juros dos depósitos a prazo vai
sendo feita com declarações do Presidente e das Finanças, mas não chega ainda
ao ponto da intervenção no banco do Estado: o Governo não vai dar orientações diretas à Caixa Geral
de Depósitos.
- Aviso. Depois de ter deixado 30 pessoas desalojadas na Madeira, a depressão Óscar vem a caminho do continente,
onde 11 distritos estão em aviso amarelo, pronta a estragar um fim-de-semana alargado e de Primavera Sound.
- Guerra. Há 42 mil pessoas em risco devido à destruição da Barragem de Nova
Kakhovka, sobre a qual Rússia e Ucrânia trocam acusações na ONU. Continue a
seguir os desenvolvimentos da Guerra na Ucrânia aqui. E aqui, o Martim Silva e a Lívia Franco conversam sobre a
contraofensiva.
A frase
“A História não se escolhe, assume-se e respeita-se, explica-se e estuda-se."
António Costa, em Luanda
O que ando a ler
Gosto sempre de ler o fim dos livros quando os começo a ler, mesmo que sejam daqueles que sei o fim da história, como o que ando a ler por estes dias. É a história de “Filipe I de Portugal, o Rei Maldito”, num romance histórico de Isabel Stilwell. Mas é também a história da Catarina de Bragança, pretendente ao trono, avó daquele que viria a recuperar a independência de Portugal, D. João IV. Mas é também uma história que cruza com as de outras mulheres poderosas e inteligentes do século XVI, como Ana de Mendonza, princesa de Éboli, e Isabel Clara Eugénia, a filha mais velha de Filipe. E uma história em que se lembra de forma constante uma das minhas ‘fixações’ históricas: a imperatriz Isabel de Portugal, casada com Carlos V e mãe de Filipe. E, como geralmente, um livro leva a outro, também já sei onde este me vai levar: a “Filipe I, o rei que uniu Portugal e Espanha”, uma biografia escrita por Henry Kamen.
Podcasts a não perder
Ficam as sugestões da nossa equipa de Podcasts
O
descontentamento cresce, mas a extrema-direita parece ser quem mais ganha com
isso. Não vivemos o tempo das grandes manifestações contra a troika e o Bloco
de Esquerda continua a ter dificuldade na sua implantação social. É neste
contexto que Mariana Mortágua sucede a Catarina Martins, a primeira vez que uma
mulher substitui outra mulher na liderança de um partido,
À
beira da semana
Com
a Má Língua no beat, a brincadeira não tem hora limite. Júlia
Pinheiro confessa que conhece um ator porno. Rui Zink não se fica atrás e
revela que tem certificados de aforro para dar e vender. Manuel Serrão enverga
as suas melhores crocs. Rita Blanco está a esvaziar os pneus dos carros da
cidade. Ouça o episódio desta semana, onde há romance, falsete e
contas-poupança.
O Curto fica por aqui, mas lembro que nos podemos encontrar às 14h. Tenha um bom dia, cuidado com o vento e prepare-se para a chuva. E esteja sempre informado com o seu Expresso
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