quinta-feira, 6 de julho de 2023

Portugal | PEDRO NUNO SANTOS NÃO QUER SER O GRILO FALANTE

Rafael Barbosa, diretor adjunto | Jornal de Notícias | opinião

Pedro Nuno Santos está de regresso ao Parlamento e ao seu lugar de deputado. Nunca seria um regresso discreto e, apesar de ter falado pouco, deixou pistas suficientes sobre o seu futuro. Explicou, por exemplo, que não é candidato a nada, mas com o cuidado de acrescentar que só é assim “neste momento”. As suas ambições são, na verdade, de médio ou longo prazo, partindo do princípio que a atual legislatura segue até ao fim, ou seja, até outubro de 2026.

Disse também que é um deputado da maioria e, portanto, que apoia o Governo. Ou seja, não vai assumir um papel de líder da oposição interna. Nem o poderia fazer, se de facto mantém a ambição de ser candidato a líder. Se assumisse o papel de crítico, quando se aproxima um ciclo eleitoral exigente para o PS, com eleições europeias dentro de um ano, e autárquicas dentro de dois, seria visto como um franco-atirador.

Nada que, em si mesmo, tenha alguma coisa de errado. Um partido democrático pode e deve ter os seus grilos falantes. E há deputados socialistas, como Alexandra Leitão (que também já foi ministra), que fazem regularmente críticas duras ao seu partido e ao seu Governo. Mas esse não seria o melhor cartão de visita para quem ambiciona chegar à liderança. O PS não está na Oposição, está no Poder e quer mantê-lo. O mesmo é válido para Pedro Nuno Santos.

Note-se, no entanto, o facto de o regresso coincidir com a ponta final da Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP, concretamente com a apresentação da versão preliminar do seu relatório. É importante não esquecer que o que deu origem a esta comissão não foi o “deplorável” e mediático episódio do gabinete do ministro João Galamba (o seu sucessor nas Infraestruturas), mas a indemnização milionária a Alexandra Reis. Que, como agora todos sabemos, foi Pedro Nuno Santos a autorizar, e de forma displicente.

Esta será sempre a sua pedra no sapato, mesmo que as atenções se desviem entretanto para o processo de reprivatização da TAP. Um fantasma a pairar sobre as ambições políticas de Pedro Nuno Santos. O tempo dirá se a memória é assim tão curta.

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