segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Angola | OS GENERAIS DA MORTE – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A direcção da UNITA declarou que “Jonas Savimbi foi acima de tudo um homem de Paz, para a qual tudo deu incluindo a sua própria vida”. Esta declaração define os sicários do Galo Negro. Quem matou as mães dos seus filhos é homem de paz. Quem assassinou cruelmente companheiros de luta é homem de paz. Quem fez da Jamba um campo de extermínio e matou as elites femininas nas fogueiras, algumas com os seus filhos bebés, é um homem de paz. Os dirigentes de hoje são iguais ao assassino exterminador. Alguns são os generais da morte. 

Hoje vou falar do que sei. Conheci António Vakulukuta em Grenoble. Um angolano muito cima da média. Já era da UNITA. Reencontrámo-nos em 1975 era dirigente do movimento e um dos mais próximos de Savimbi. Trabalhou na província do Cunene com assinalável êxito. Fez uma aliança com a SWAPO e os racistas de Pretória prenderam-no. Entregue ao chefe do Galo Negro foi encarcerado e despromovido. Mas o criminoso de guerra era insaciável. Em 1985, chamou os carrascos e ordenou a sua da morte. Foi executado à paulada. Os generais da morte eram Samuel Martinho Epalanga, Peregrino Wambu e Abílio Camalata Numa.

Jorge Sangumba. Conheci-o em 1974. Viajámos num avião da DTA (TAAG) entre Luanda e o Luena. Um angolano de excepção. Tinha uma visão muito própria para Angola. Acreditava que o tribalismo se evaporava quando os três movimentos (MPLA, FNLA e UNITA) fossem capazes de formar um governo de unidade nacional. Os caminhos da paz encarregavam-se de varrer os desvios belicistas. O ministro das relações edteriores da UNITA foi assassinado na Jamba porque no seio do movimento triunfou o belicismo nazi às ordens dos racistas de Pretória. Savimbi era o Pol Pot angolano. Assassino e exterminador.

No início da década de 1980 Savimbi impôs na UNITA o militarismo e o culto da personalidade. Para cumprir o seu programa mandou matar quem se opunha ao novo rumo. Navimbi Matos e o comandante Waldemar Pires Chindondo foram eliminados. Um dos generais da morte, Peregrino Wambu, é irmão de Waldemar Chindondo, o comandante dos comandantes da UNITA. O homem de paz Jonas Savimbi conseguiu pôr irmãos a executar irmãos! 

Tenho pena do deputado Peregrino Isidro Wambu Chindondo. Assassinou o irmão a mando do homem de paz Jonas Savimbi. Podem dar-lhe milhões. Podem oferecer-lhe um carro de luxo todos os dias. Podem alojá-lo num palácio. Será sempre um assassino consumido pelos seus hediondos crimes. Vive martirizado por ter aceitado matar a soldo. Nunca terá paz. Jamais aceitará uma sociedade pacífica. Muito menos se, em vez de pagar pelos seus crimes e pedir perdão, for recompensado com riqueza fácil e mordomias. Pobre Wambu! Pobre Numa! O Epalanga já era.

Perfil dos generais da morte. Samuel Martinho Epalanga. Quando a CIA e os racistas de Pretória fundaram o campo de extermínio da Jamba ele foi chamado para chefiar a Direcção Geral de Pessoal do Comando Operacional Estratégico (COPE). Depois criou a pide do Savimbi: Brigada Nacional de Defesa do Estado (BRINDE). O criminoso de guerra confiou-lhe o negócio dos diamantes de sangue fazendo dele secretário dos recursos naturais. Faleceu em 19 de Maio de 2018. 

A direção da UNITA na ocasião disse que este general da morte “foi um homem de profundas convicções políticas, exímio cumpridor de missões, fiel ao Partido e à sua Direcção, sendo este um dos principais legados que deixa para a juventude angolana”.

Peregrino Isidro Wambu Chindondo foi dos primeiros “técnicos de inteligência da UNITA”. Estudou tortura e extermínio nos EUA, em Marrocos e nas masmorras dos racistas de Pretória (Instituto de Estudos e Segurança da África do Sul). Recebeu ordens directas de Savimbi para exterminar os “titistas”, jovens que sob a liderança de Tito Chingungi questionavam o militarismo do Galo Negro. É deputado da UNITA. Se eu fosse deputado tinha medo de me sentar na mesma sala onde está este general da morte. Em que país do mundo o maior partido da Oposição é dirigido por assassinos e torcionários? Como é possível a alternância?

O terceiro general da morte chama-se Abílio Camalata Numa. Adalberto da Costa Júnior diz que “é um intransigente defensor da reconciliação nacional e da democracia”. Dois pormenores da sua longa carreira de assassino. Após a assinatura do Acordo de Bicesse participou no assassinato de uma família que foi visitar a Coutada do Ambriz. Horrorizado com o crime, um militar da UNITA foi denunciar os criminosos. O “general” Numa queria atribuir o crime ao MPLA! Foi denunciado pela sua gente.

Após o famoso congresso da UNITA no Bailundo (na sequência da assinatura do Protocolo de Lusaka) Dona Isabel Paulino, esposa de Savimbi, implorou ao marido que aceitasse o lugar de vice-presidente da República e acabasse com a guerra. O homem de paz chamou o seu general da morte (Numa) e disse-lhe: - Quando partirmos para o Andulo ela vai trair-nos. Matem-na! Os assassinos atiraram-na para o covil de um jimbo. Taparam a cova com pedras e terra enquanto a vítima pedia misericórdia. Savimbi, escondido, assistiu a tudo.

Na ponta final da aventura belicista de Jonas Savimbi, o general Altino Nango Sapalo (Bock) foi assassinado à paulada a mando do criminoso de guerra apelidado pela direcção da UNITA como “homem de paz”.

Samuel Chiwale em 1981 foi acusado de um golpe contra Savimbi. Esteve preso e foi sujeito a maus tratos. Depois de tanta morte, o criminoso de guerra ficou sem “mão de obra” e os sul-africanos exigiram que libertasse aquele que foi um dos comandantes fundadores do Galo Negro. Chiwale tem agora uma oportunidade de ouro paras provar que é um cidadão angolano digno e não um fanático seguidor de uma seita de assassinos. Conte publicamente tudo o que viveu. Tudo o que sofreu. 

Se ele e outros sobreviventes não assumirem as suas responsabilidades, Angola só terá paz quando desparecerem. Angola merece esse serviço de cidadania. O general da morte Peregrino Isidro Wambu Chindondo pode optar por ser gente e denunciar tudo o que sabe e viveu, obedecendo cegamente ao criminoso de guerra Jonas Savimbi. 

A direcção da UNITA criticou a operação da CIVICOP na Jamba. Diz que a procura de ossadas no campo de extermínio é “contrária ao apaziguamento dos espíritos”. A UNITA tem muitos generais para matar a democracia. E vão matá-la se os democratas não os derrotarem. Nas eleições está provado que não chega. É preciso mais. Tem que ser a mesma receita aplicada aos racistas de Pretória. Em memória de Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos!

*Jornalista

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