Daniel Oliveira | opinião | TSF - 12 Dezembro, 2023 • 09:20
Daniel Oliveira recorda a "matança em Gaza" e faz duras críticas ao embaixador norte-americano que vetou um cessar-fogo no último Conselho de Segurança da ONU, apelidando-o de "cúmplice do crime". "A fúria de Israel caiu sobre António Guterres por ter dito que o tenebroso e inesquecível dia 7 de outubro não aconteceu no vácuo", começa por dizer o jornalista no espaço habitual de Opinião na TSF.
"Exigiram-lhes que a história fosse contada do zero, sem a Nakba, que expulsou 700.000 palestinianos das suas terras, os muros que os cercam, os checkpoints que os controlam, as demolições e as expulsões, a liberdade para os colonos, roubarem as casas e para os soldados matarem os filhos e humilharem os pais dos palestinianos, sem os guetos e a ocupação. Sem resposta à mais difícil das perguntas: o que faríamos naquele lugar? Que condições levaram uma organização abjeta e cruel como o Hamas a operar sem oposição ativa do seu próprio povo?", questiona o comentador.
O jornalista recua até ao final dos anos 90 para dizer que, nessa altura, a "resposta foi dada pelo ex-primeiro-ministro israelita Ehud Barak: se fosse palestiniano na idade certa, provavelmente teria entrado para uma organização terrorista".
"Dezassete mil mortos depois, nunca tantas crianças, nunca tantos jornalistas, nunca tantos funcionários da ONU pedem-nos para continuarmos em 7 de outubro. Não apenas sem antes, mas sem depois", afirma Daniel Oliveira.
De acordo com o cronista, o objetivo de Netanyahu "nunca foi libertar os reféns ou acabar com o Hamas que, mesmo que saia enfraquecido dos túneis de Gaza, crescerá na raiva e no ressentimento depois da matança, não apenas em Gaza, mas também na Cisjordânia".
"O objetivo é a destruição de todas as infraestruturas em Gaza, usando as técnicas de Putin na Síria, na Chechénia e na Ucrânia e a expansão territorial na Cisjordânia, onde foram distribuídas armas aos colonos, enfiando os palestinianos em bantustões cada vez mais estreitos. O objetivo de Netanyahu é o que sempre foi: tornar o Estado palestiniano inviável. Foi para isso que passou anos a reforçar o Hamas em Gaza, para dividir os palestinianos entre dois territórios e duas forças políticas. É para isso que está a terraplanar Gaza e a alimentar o caos na Cisjordânia", sublinha.
Daniel Oliveira considera que "a matança em Gaza, que retira o sofrimento palestiniano da invisibilidade quotidiana, podia ser uma oportunidade para o mundo impor finalmente limites a Israel".
No entanto, "a mão solitária do embaixador dos Estados Unidos, que se levantou no último Conselho de Segurança da ONU vetando um cessar-fogo, não permite que isso aconteça".
"Quem sabe que tudo pode, tudo acaba por fazer. Foi a impunidade permitida pelo justificado sentimento de culpa europeu e pelo oportunismo tático dos Estados Unidos que entregou Israel, sonho de liberdade e paz para o mais perseguido dos povos, a governos criminosos. Mataram o sonho israelita, mataram a dignidade palestiniana. É aquela mão levantada e ensanguentada que autoriza a continuação da chacina. Naquela sala, o cúmplice do crime confessou", conclui.
Texto: Carolina Quaresma
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