A Iniciativa Liberal (IL) solicitou uma audiência parlamentar a Nuno Rebelo de Sousa, filho do Presidente da República, mas a opinião pública não é consensual.
O caso das gémeas com atrofia muscular espinhal que foram tratadas com Zolgensma, um medicamento que custa mais de dois milhões de euros, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, continua a fazer ‘correr tinta’. No domingo, o presidente da Iniciativa Liberal (IL), Rui Rocha, anunciou que pedirá uma audição parlamentar do filho do Presidente da República, Nuno Rebelo de Sousa, que tem sido citado como "tendo tido algum tipo de intervenção nesta matéria".
"Tendo em conta o que falta esclarecer e esta posição do Partido Socialista (PS) que impede que pessoas que eventualmente terão conhecimento direto dos factos possam esclarecer os portugueses, a IL vê-se confrontada com a necessidade de apresentar um requerimento para ouvir na Comissão de Saúde o dr. Nuno Rebelo de Sousa", disse Rui Rocha, em declarações à Lusa.
O conselheiro de Estado Luís Marques Mendes partilhou uma visão semelhante, tendo apontado que Nuno Rebelo de Sousa "escreveu ao pai a pedir uma cunha" e "isso é inaceitável". Na ótica do social-democrata, Marcelo Rebelo de Sousa, por sua vez, “nem discriminou, nem privilegiou ninguém", uma vez que reencaminhou a “documentação para o Governo, como manda toda a outra documentação de pedidos que chegam a Belém”.
"O filho do Presidente meteu uma cunha, mas o Presidente não", resumiu.
Numa tentativa de justificar as alegadas reuniões do filho de Marcelo Rebelo de Sousa com o ex-secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, o socialista Luís Soares realçou, em declarações à CNN Portugal, que “nenhum cidadão deve ser discriminado, positiva ou negativamente, por ser pai, filho ou neto de alguém de mais ou menos notoriedade”. Por isso, o deputado contestou o pedido de audiência parlamentar a Nuno Rebelo de Sousa, já que a Assembleia da República não é “uma instituição investigatória”.
Já o médico Eduardo Barroso, que é amigo de longa data do chefe de Estado, afirmou que “não houve cunha nenhuma”.
“Ponho as mãos no fogo; [Marcelo] é um homem de compaixão, é um homem que fez aquilo que devia ter feito. Isto é uma maldade horrorosa que estão a fazer, é preciso sangue e é preciso difamar. […] Isto é um absurdo, é uma caça ao homem”, disse, em declarações ao mesmo canal televisivo.
A propósito do Dia Internacional Contra a Corrupção, assinalado a 9 de dezembro, a Frente Cívica, organização da sociedade civil para escrutínio dos poderes públicos, considerou que o ano de 2023 é demonstrativo do "fracasso do Estado português", tendo em conta as polémicas em que tanto o Governo, como o Presidente da República se têm visto mergulhados.
"As comemorações do Dia Internacional Contra a Corrupção decorrem este ano com um Governo demitido por suspeitas de tráfico de influências envolvendo o chefe de gabinete e o melhor amigo do primeiro-ministro, e com o próprio Presidente da República envolvido num caso suspeito de favorecimento, em resposta a um pedido do seu próprio filho. A informalidade, a lógica de acesso pessoal, a 'cunha' e o favorecimento tornaram-se em formas corriqueiras de exercício do poder ao mais alto nível", criticou a organização, numa declaração enviada à agência Lusa.
Recorde-se que, na sua comunicação de há uma semana, o chefe de Estado traçou a linha temporal da intervenção da Presidência no caso, depois de o programa da TVI Exclusivo ter dado conta de que as gémeas tinham sido tratadas em Portugal por sua influência.
De acordo com Marcelo, a documentação enviada pelo filho foi reencaminhada para a Casa Civil no dia 21 de outubro. A resposta chegaria dois dias depois, tendo sido garantido a Nuno Rebelo de Sousa que o processo foi recebido, mas que estavam a ser "analisados vários casos do mesmo tipo", com capacidade de resposta "limitada".
O filho de Marcelo contactou novamente a Casa Civil, tendo o organismo apontado que "a prioridade é dada aos casos portugueses, daí que não tenham sido contactados, nem devam ser", uma vez que as crianças não se encontravam no país. Os pais das meninas foram informados, e assim terminou a intervenção da Presidência, de acordo com o chefe de Estado.
Sublinhe-se ainda que, no Brasil, o Tribunal Regional Federal decidiu que as menores não deveriam de receber o medicamento através do Estado, uma vez que a família não estava "em condição de pobreza e as crianças não [estavam] desassistidas".
Segundo confirmou a Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Notícias ao Minuto, "o processo encontra-se em investigação no Departamento Central de Investigação e Ação Penal Regional de Lisboa e, por ora, não corre contra pessoa determinada". O caso está também a ser averiguado pela Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS), além de ser objeto de uma auditoria interna no Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte, do qual faz parte o Hospital de Santa Maria.
Daniela Filipe | Notícias ao Minuto
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Gémeas? "O filho do Presidente meteu uma cunha, o Presidente não"
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