quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

VIAGEM AO MEDITERRÂNEO, MAR DE SANGUE

Nossa colaboradora viveu 15 dias num barco que resgata náufragos da travessia África-Europa. Lá, 85 mil estão sepultados por tentar fugir da desigualdade. A vida no convés. O árduo esforço de solidariedade. As violações dos governos racistas

Berenice Bento* | Outras Palavras | # Publicado em português do Brasil

Com gestos silenciosos, todos entram no refeitório. Parecia que os corpos ainda estavam dormindo. Nos aglomerávamos na cozinha para preparar um café rápido, antes da reunião. A tripulação do navio era formada por 25 pessoas, entre voluntários e contratados. Nos sentávamos ao redor de mesas e a reunião começava. Antes das 7 horas da manhã, iniciava-se o planejamento do dia. Pela escuridão da portinha, eu tentava adivinhar quando o sol iria nascer e desconcentrava-me dos encaminhamentos da reunião. Estávamos no Porto de Burriana, na Espanha, em um navio que faz resgate de pessoas no Mar Mediterrâneo. O navio precisava de reparos estruturais para reiniciar o trabalho. Não havia tempo a perder. Cada dia a menos de resgate, mais vidas poderiam ser perdidas.

Acompanho, há muito tempo, com perplexidade, as informações que chegam sobre as mortes no Mar Mediterrâneo. Pessoas que tentam, em embarcações precárias, chegar à Europa. Muitos morrem, desaparecem no mar, transformando o Mediterrâneo na maior vala comum da contemporaneidade. Foi para tentar entender como, mais uma vez, a Europa faz o impossível tornar-se possível e, ainda, normaliza suas aberrações políticas, que fui para um navio que faz resgate de pessoas e trabalhei como auxiliar de cozinha.

No auge da crise migratória, houve iniciativas de Estados europeus para a realização dos resgates. Mas não demorou muito e alterou-se radicalmente a orientação política. Não apenas suspenderam os resgates. As políticas de controle da fronteira e de negação de entrada vêm intensificando-se nos últimos anos. Na absoluta falta de políticas estatais voltadas para salvar as pessoas que estão no limiar da vida e morte, iniciou-se uma intensa mobilização da sociedade civil europeia. São inúmeras Organizações Não Governamentais que fazem os resgates. No Porto de Burriana, estavam os barcos dos coletivos Sea Punk, Sea Eye, Open Arms, Louise Michelle e o SOS Humanity I, onde fiz o trabalho voluntário. Esse é apenas um dos muitos portos em que os navios param para fazer os reparos. O tempo que leva para fazê-los estará condicionado aos recursos para aquisição das peças e da mão de obra disponível. O Sea Punk trabalhava com uma equipe reduzida e a previsão para retornar aos resgates não era certa. Em todo porto, as bandeiras antifascistas estavam espalhadas em camisetas, adesivos, e na coragem anarquista do Sea Punk, que trazia no seu mastro, como principal bandeira, a “AÇÃO ANTIFASCISTA”.

Foi na cozinha do navio, entre alhos, cebolas e faxinas, que escutei histórias e tentei encontrar respostas para questões que me angustiam: como é possível que o continente que inventou os Direitos Humanos segue deixando pessoas morrendo no mar e, em parcerias com a Líbia, provoca as mortes? Durante a escravidão, dizia-se que a Europa não tinha conhecimento das atrocidades cometidas nas colônias, mas, como aponta o historiador Conrad (no seu livro Tumbeiros), há relatos de que os navios que faziam o tráfico tinham um odor insuportável e inconfundível. Não era possível não os identificar antes mesmo de atracar nos portos e não conhecer os horrores que aconteciam na travessia e nas plantações nas colônias.

Depois da Segunda Guerra Mundial, a civilizada Europa mostrou-se horrorizada com os genocídios cometidos nos campos de extermínios nazifascistas. Mas o que era aquela fumaça escura que cobria os céus das cidades? Ninguém desconfiou que estava respirando restos mortais, que a morte entrava pelas narinas e alojava-se, não nos pulmões, mas nas almas? E agora? Estima-se que 85 mil pessoas perderam suas vidas ou estão desaparecidas ao tentar atravessar o Mediterrâneo. Todos os dias, os jornais trazem notícias das mortes no Mediterrâneo. Não é por desconhecimento que as mortes acontecem. É uma política intencional que segue aprimorando seus métodos de gestão da produção da morte das pessoas negras no Mediterrâneo. O que se demanda da Comunidade Europeia já está previsto em Leis Internacionais: caminho para Europa seguro e legal; respeito ao direito de asilo; recepção das pessoas que buscam proteção na Europa.

VERDADES A PRAZO E FORA DO TEMPO -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Tira-me o pão. Tira-me o ar. Mas morro se me tiras o teu sorriso! Isto foi escrito por Pablo Neruda. A CIA derrubou o governo progressista de Salvador Allende no Chile. Aconteceu um banho de sangue nunca antes visto. O poeta foi friamente assassinado pelos esbirros de Washington. Em Paris fizemos uma manifestação gigantesca de solidariedade para com o povo chileno. Um dirigente do MIR denunciou o assassinato de Neruda pelos golpistas capitaneados por Pinochet. Ontem, “especialistas” confirmaram que o poeta foi mesmo assassinado. Mais de 50 anos depois! A verdade chegou quando já não aquece nem arrefece.

Josep Borrel o chefe da diplomacia da União Europeia, disse aos Media que “os russos sabotaram o gasoduto Nord Stream 2 para prejudicar a Europa”. Londres, Berlim, Paris, Estocolmo e Washington fizeram coro. Os Media do “ocidente alargado” amplificaram a propaganda. Hoje sabemos que afinal a sabotagem foi efectuada durante manobras da Marinha de Guerra dos EUA. Uma acção do estado terrorista mais perigoso do mundo.

O gasoduto que liga a Federação Russa à Alemanha começou a ser construído em 2011, para expandir o Nord Stream I  a fim de duplicar a capacidade anual de fornecimento de gás russo para 110 bilhões de metros cúbicos (3,9 triliões de pés cúbicos). Foi concluído em Setembro de 2021. Os Media do “ocidente alargado” inundaram o mundo de “notícias” e comentários contra o projecto. Diziam que a Federação Russa ia obter vantagens geopolíticas e que os EUA perderiam influência política sobre a Ucrânia.

O Nord Stream foi sabotado e os sabotadores atribuíram a sabotagem aos russos! Agora sabe-se quem sabotou. Mas ninguém dá a notícia verdadeira! Hoje a verdade pouco interessa. A guerra da União Europeia, da OTAN (ou NATO), do Reino Unido e dos EUA contra a Federação Russa por procuração passada à Ucrânia está aí. Ucranianos e russos morrem aos milhares. A Ucrânia está destruída. O estado terrorista mais perigoso do mundo ganha biliões. A nazi Úrsula von der Leyen também despacha biliões para os seus sócios ucranianos. Negócios…

O novo apelo da Rússia aos países africanos é realmente muito fácil de explicar

Andrew Korybko* | Substack | # Traduzido em português do Brasil

A África sempre apoiará o lado que luta para libertar seus países das correntes do neocolonialismo e do racismo estrutural, o que significa que o Ocidente nunca teve uma chance desde o início quando se trata de competir com a Rússia por corações e mentes.

Observadores de todo o mundo estão perplexos com o novo apelo da Rússia aos países africanos, especialmente no ano passado, desde o início de sua operação especial na Ucrânia. O Bilhão de Ouro do Ocidente liderado pelos EUA investiu pesadamente na propagação da narrativa de guerra de informação armada, alegando que a Rússia estava se comportando como um suposto “colonizador” naquela vizinha ex-república soviética, sem mencionar o suposto refém de mais de um bilhão de africanos ao supostamente impedir o ucraniano embarques de grãos.

O que aconteceu nos últimos doze meses pegou esse bloco de fato da Nova Guerra Fria completamente desprevenido, já que quase metade do continente se recusou a condenar a Rússia na Assembleia Geral da ONU, enquanto nenhum país africano cumpriu as sanções do Bilhão de Ouro contra ele. Desde então, o ministro das Relações Exteriores, Lavrov, visitou vários estados africanos em suas três visitas ao continente desde o verão passado, incluindo duas nas últimas semanas que ocorreram praticamente consecutivas.

Além disso, a empresa militar privada Wagner supostamente ampliou suas operações de “Segurança Democrática”, que se refere à ampla gama de táticas e estratégias de guerra híbrida para defender o modelo nacional de democracia de um estado-alvo de ameaças externas. A influência da França em sua autoproclamada “esfera de influência” na chamada “Françafrique” diminuiu drasticamente em face de países como Mali e, supostamente, em breve também Burkina Faso firmando parcerias militares com esse grupo.

Essas observações, todas objetivamente existentes e facilmente verificáveis, provam indiscutivelmente que as expectativas ocidentais sobre as reações dos estados africanos à operação especial da Rússia estavam totalmente erradas. Longe de considerar a Rússia um “colonizador” que também mantém o continente refém ao impedir suas importações de grãos, eles a consideram a força anticolonial mais poderosa do mundo hoje, apaixonada por garantir a exportação confiável de alimentos e combustível para a África que o West está negando-os.

A popularidade das percepções acima mencionadas era previsível em retrospectiva, uma vez que a defesa da Rússia de suas linhas vermelhas de segurança nacional na Ucrânia, depois que a OTAN as cruzou clandestinamente, tocou nos sentimentos anti-imperialistas há muito reprimidos do povo africano e inspirou a esperança de um futuro melhor. Para explicar, eles têm sofrido sob o jugo do neo-imperialismo ocidental há décadas e até agora perderam a esperança de que qualquer Grande Potência verdadeiramente independente se levantaria para ajudar a libertá-los dessas correntes.

OVNIS SIGNIFICAM MAIS MILITARISMO NOS EUA -- Caitlin Johnstone

É notável que estamos vendo  quedas  de objetos completamente sem precedentes nos céus da América do Norte enquanto os EUA preparam sua “grande competição de poder” contra a China.

Caitlin Johnstone - CaitlinJohnstone.com | em Consortium News | # Traduzido em português do Brasil

U. _ Os aviões de guerra do S. derrubaram três objetos não identificados no espaço aéreo norte-americano nos últimos dias, o que é  totalmente sem precedentes .

No domingo, um objeto em forma de octógono teria sido  abatido  sobre o Lago Huron, perto da fronteira canadense, depois de  ter sido detectado pela primeira vez  a cerca de 1.300 milhas de distância sobre Montana na noite de sábado. No sábado, um objeto cilíndrico teria sido  abatido  sobre o território canadense de Yukon por um F-22 americano, e na sexta-feira um objeto “do tamanho de um carro pequeno” teria sido  abatido  após ser detectado sobre o Alasca.

Ao contrário  do balão chinês  que foi derrubado no início deste mês, que os EUA afirmam ser um instrumento de espionagem, até o momento em que escrevo ainda não há um consenso sólido sobre o que eram esses três objetos mais recentes ou de onde vieram.

[Na terça-feira, o New York Times noticiou que as autoridades americanas estavam dizendo que eles podem ser instrumentos comerciais ou de pesquisa inofensivos.] 

Embora todos os três tenham sido encontrados em grande altitude como o balão, o Pentágono se recusa a classificá-los como tal, com o chefe do Comando Norte dos EUA, general Glen VanHerck, chegando a dizer que ainda não havia sido determinado como esses objetos estão mesmo ficando no alto.

“Não vou categorizá-los como balões. Nós os chamamos de objetos por um motivo”,  disse VanHerck à imprensa  no domingo. “Não sou capaz de categorizar como eles permanecem no ar. Pode ser um tipo de balão gasoso dentro de uma estrutura ou pode ser algum tipo de sistema de propulsão. Mas claramente, eles são capazes de permanecer no ar.

Santa pedofilia de Portugal | QUANTO VAI PAGAR A IGREJA ÀS SUAS VÍTIMAS?

Pedro Tadeu* | Diário de Notícias | opinião

A entrega do relatório da Comissão Independente que fez uma primeira abordagem ao problema dos abusos sexuais de crianças na Igreja Católica não deveria transformar-se, por um lado, numa mera operação de limpeza de imagem da instituição religiosa que encomendou o estudo nem, por outro lado, numa frenética voragem de acusações indiscriminadas contra padres pois, a partir de agora, é fácil alguém aproveitar o ambiente mediático para ajustar umas contas que nada têm a ver com abusos sexuais.

O segundo risco antevejo-o pela experiência que o país passou durante o processo Casa Pia, entre 2002 e 2006.

Houve, é bom não esquecer, listas, investigações, acusações judiciais, notícias de jornais e de televisões a caluniar largas dezenas de pessoas que acabaram por ser declaradas inocentes, mas que, ainda hoje, vinte anos depois, têm de se confrontar com essas suspeitas.

Houve, insisto em sublinhar, um processo judicial difícil e contraditório do qual ainda sobram fundadas dúvidas sobre a justiça de algumas das 10 condenações sentenciadas, bem como sobre algumas das ilibações anteriormente ocorridas.

Houve, não é possível ignorar, uma insanidade generalizada (que também me atingiu como jornalista) da qual o líder desta Comissão Independente, o pedopsiquiatra Pedro Strecht, na ânsia de defender as crianças abusadas da Casa Pia, que acompanhou, acabou por ser um dos agentes - e quando o vejo, agora, a apelar à denúncia pública, através da comunicação social, de mais casos de abusos não detetados pela Comissão e a lançar frases bombásticas como "há mais de 100 padres suspeitos", receio a repetição do mesmo filme de terror..., mas pode ser que não.

Quanto ao outro risco que aqui analiso, começo por olhar para as recomendações do relatório e para aquilo que propõe que a igreja faça.

São nove recomendações.

Sete dizem respeito ao que a igreja deve realizar para melhorar a sua própria atuação na prevenção, identificação e denúncia destes casos - é o óbvio.

Duas, apena duas, apontam como a igreja deve atuar com as vítimas já identificadas.

A primeira diz isto: "pedido efetivo de perdão sobre as situações que aconteceram no passado e a sua materialização".

A segunda propõe o seguinte: "Apoio psicológico continuado às vítimas do passado, atuais e futuras".

Note-se que, segundo a própria Comissão, a esmagadora maioria dos casos detetados, do ponto de vista jurídico, já prescreveu, pelo que a justiça dos tribunais, as eventuais condenações a pena de cadeia e os possíveis pagamentos de indemnizações às vítimas não devem acontecer.

Mas porque é que não se recomenda à Igreja que, depois de uma análise crítica ao trabalho da Comissão (que pode, naturalmente, ter alguns erros) ignore a questão temporal e decida, voluntariamente, pagar indemnizações às vítimas, recentes e antigas, independentemente da justiça do Estado?

Porque é que se deixa uma palavra tão dúbia como "materialização" a acompanhar a sugestão do pedido de perdão pela Igreja, em vez de especificar o que significa, na prática, "materializar" esse pedido de perdão?

Lá fora, nos Estados Unidos, a igreja católica pagou mais de 2 mil milhões de dólares em indemnizações por casos de abusos sexuais ocorridos de 1950 a 2007.

Em janeiro de 2018, o episcopado alemão anunciou que iria a proceder ao pagamento de 118 milhões de euros.

Em setembro de 2019, a igreja católica na Irlanda confirmou um pagamento de 110 milhões de euros.

Em 9 de novembro de 2019, a Conferência dos Bispos Franceses aprovou uma resolução para que todos os bispos pagassem uma indemnização pelos abusos ocorridos, mas os montantes são considerados muito baixos pelas vítimas.

Na Inglaterra foi criado um fundo pela igreja católica para pagar às vítimas de abusos.

D. José Ornelas já disse que o pedido de perdão às vítimas "não será apenas uma questão de palavras", há mesmo decisões anteriores da Conferência Episcopal Portuguesa, a que preside, a preverem o pagamento de indemnizações - mas a sua concretização, a abrangência, e as quantias não são nada claras.

Se a igreja portuguesa acabar por recusar indemnizar voluntariamente, numa quantia significativa, as suas vítimas de abuso sexual, recentes e antigas, então não parecerá que está verdadeiramente arrependida pelo que aconteceu - e, nesse caso, pedir perdão parecerá, apenas, uma hipocrisia.

*Jornalista

Costas de Portugal & Cantigas: VAMOS COMER, COMER, PROFESSORES E AUXILIARES

O Curto de hoje revisita a luta dos professores. Faz notar que hoje, uma vez mais, é dia de negociações e "os sindicatos de professores e o ministro da Educação voltam hoje a sentar-se à mesa. Deve ser para que o ministro volte a tentar devorar os profissionais de educação como sempre acontece. O troglodita ministerial Costa da educação vai com a cartilha decorada sobre a vontade do ministro das finanças Medina e do Costa do primado ministerial, o chefe Toninho dos Cortes Certos. Como Salazar, aldrabando e dizendo-se socialista, embandeirado com Contas Certas que são cortes, vai tramando a plebe. 

Para fausto e espectáculos papais e políticos ou para empresários da grandeza contributiva para o Largo do Rato escoam-se milhões e milhares de milhões de euros, esbanjam-se na TAP e noutros vícios, fecham-se os olhos à corrupção, etc., mas para os que trabalham e geram a riqueza no país a ordem do dia, dos anos e do tempo é esclavagismo e os tais cortes certos e manhosos... Estão a xuxar (gozar) com os portugueses? Está nas caras deles, dos das elites e das suas ilhargas, que estão!

Adiante.

Sem mais retórica leia-se o Curto. Não ensina nada e de beleza ausente como canteiro de cardos. Vão ao Curto. Como curtos são os salários que nem chegam a meio do mês e causam fome de muita coisa. Os Costas, de costas largas e indiferentes, agem como no salazarismo e não nos ouvem, semelhantes e empedernidas a megeras do capitalismo selvagem em vigor.

Pulem para o Curto e procurem perceber a realidade inserta no texto e nas entrelinhas, ou mais além... Bom dia. Coisa rara. Nem sabemos com encontrar esse tal dito bom. (PG)

QUEM LIBERTOU MANDELA, ANTIGO PRESIDENTE DA ÁFRICA DO SUL?

Assinalou-se sábado (11.02) o dia de libertação de Nelson Mandela. Este ato trouxe à nação sul-africana a democracia e o fim do apartheid. Trinta e três anos depois, ainda se questiona quem libertou Mandela.

Nelson Mandela,antigo presidente da África do Sul, foi libertado a 11 de fevereiro de 1990. No seu primeiro discurso em liberdade, 'Madiba' como era chamado, falou sobre a sociedade em que sonhou: 

"Eu lutei contra a dominação branca e lutei contra a dominação negra. Apreciei o ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas convivam em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal pelo qual espero viver e alcançar. Mas, se necessário, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer", disse. 

Para Jardel de Andrade, antigo estudante na África do Sul e analista para questões internacionais, este é "um discurso que fica para história".

"A sua soltura trouxe uma nova luz à África do Sul, servindo como ponto de partida para uma nova era que mudou por completo o rumo da nação arco-íris, servindo de exemplo para o mundo inteiro", acrescentou.

Trinte e três anos depois, o mundo continua a refletir sobre a vida e obra de Nelson Mandela. 

Libertação de Mandela trouxe "esperança”

José Gama, jornalista angolano residente na África do Sul, explica que o "11 de fevereiro representa para os sul-africanos o virar da página da história porque foi a data em que o presidente Mandela foi colocado em liberdade. E Mandela ser colocado em liberdade trouxe esperança", afirmou.

"Os sul-africanos concluíram que mais liberdades e mais direitos civis e políticos estavam a caminho", considera.  

Alguns países lusófonos como Angola e Moçambique também contribuíram positivamente na libertação de Nelson Mandela. 

Segundo José Gama, a luta do Congresso Nacional Africano (ANC) contra o regime de apartheid tinha como a base a Tanzânia. 

"Com a independência de Angola e Moçambique as bases do ANC foram transferidas para estes países e isto facilitou a luta do ANC, e neste período começa-se a assinalar a queda do regime, porque o ANC estava perto e começa a fazer actos de sabotagem", conta Gama. 

Por esta razão, há angolanos homenageados na África do Sul. "O presidente Agostinho Neto e o presidente José Eduardo dos Santos são, seguramente, as figuras que representam o Estado angolano na luta de libertação de Mandela e do povo sul-africano", comenta. 

Mas há outras figuras: "Também Jonas Savimbi o fez, porque tinha relações privilegiadas com o apartheid. Savimbi vinha para aqui e, uma vez, no parlamento sul-africano, apelou aos dirigentes do regime para que libertassem Mandela, sugerindo que "se Mandela morresse na cadeia seria mais perigoso, porque surgiriam outros cem Mandelas".

O que diz a história?

Victor Muhungo é autor do livro intitulado "Os Angolanos que Libertaram Mandela", lançada em 2016. Muhongo explica, resumidamente, o que a sua obra retrata:  

"A obra é um retrato do que os angolanos têm sobre a sua própria história e o entendimento que tem sobre Mandela. Existem jovens inclusivamente fora do continente africano que pensam que Nelson Mandela libertou o continente africano. Há uma exacerbação do papel histórico do pPresidente Mandela no continente africano. Mas isso não ocorre apenas fora do continente, também em Angola muito como resultado de uma fraca divulgação da história de Angola", comentou.

Victor Muhongo explica também que procura no seu livro desconstruir a ideia de que "Mandela libertou-se sozinho". "Era preciso provar por factos históricos e referências históricas que Angola, povo angolano, pessoas, líderes militares. prestaram maior tributo para que Nelson Mandela saísse da cadeia, para que a Namíbia fosse independente, para que o apartheid ruísse", opina.  

Em 1994, Nelson Mandela viria a ser o primeiro Presidente negro na história da nação sul-africana.  

Em novembro de 2009, a Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas proclamou o 18 de julho como Dia Internacional Nelson Mandela. 

José Gama entende que o mundo tem estado a reconhecer os feitos de ‘Madiba'.  "Esta é a forma que o mundo encontrou para sinalizar e refletir sobre os feitos e legado do Presidente Mandela não só para África, mas para todo o mundo, porque foi um homem de perdão, um homem que usou a palavras para substituir as armas. Portanto, é um homem de referência global", concluiu. 

ManuelLuamba (Luanda) | Deutsche Welle

Angola | AUTÓCTONES E RATOS DA PALMEIRA – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Um dilúvio de insultos desabou sobre mim, uns de anónimos outros de disfarçados e alguns de autores identificados. Tudo porque expliquei com abundantes factos que Siona Casimiro não podia ser o decano dos jornalistas angolanos quando faleceu. Mais decano do que ele é José Carrasquinha e ninguém o alcunha dessa maneira. Querem puxar-me pela dignidade? Não vão aguentar. Porque não levo desaforos para casa e nunca me furtei a uma briga.

Tomem lá. As e os que dizem que Siona Casimiro era o decano dos jornalistas angolanos está a excluir profissionais que começaram no profissão nos anos 50 e 60, muito antes do defunto. Há um que ainda está no activo e chama-se Luciano Rocha. Quem quiser pode ler as suas crónicas semanalmente no Jornal de Angola. Quando o Siona Casimiro começou na profissão o Luciano já exercia funções de coordenação e chefia. Naquele tempo isso não era para acomodados e por empenhos partidários. Tinha mesmo de ser por competência e experiência. Sabem qual é o problema? Racismo! E isso não deixo passar.

Siona Casimiro era o “decano” porque é negro. Um dia destes só são jornalistas angolanos os negros que começaram na profissão depois de 11 de Novembro de 1975. Aparecem outros dizendo que só são jornalistas angolanos os negros que começaram na profissão depois do Acordo der Bicesse. Não me admiro nada que não apareça uma facção defendendo que só são jornalistas os negros que começaram na profissão depois da primeira eleição do Presidente João Lourenço. E têm de exibir uma declaração do Rafael Marques!

Tenham paciência. Aníbal de Melo, Rui Romano, Jaime Saint Maurice, Norberto de Castro, Rui de Carvalho e tantos outros angolanos mestiços eram jornalistas. Luís Alberto Ferreira, estrela do jornalismo angolano nos anos 50, é angolano, luandense dos Coqueiros, está vivo (que seja por mais mil anos, meu camarada!) e no activo.

 Jornalistas angolanos brancos ainda há alguns. Pelo menos uma dúzia dos antigos (anos 50 e 60) anda por aí. Sabem porquê? O colonialismo afastou os angolanos negros de tudo, até do Jornalismo. Mestiços e brancos eram privilegiados. Mas não têm culpa disso. Muitos até lutaram pela Independência Nacional. Quase todos sob a bandeira do MPLA. Até o Xavier de Figueiredo que começou no “Eme” e só depois de 11 de Novembro de 1975 passou para a UNITA. Trabalhei com ele no jornal “O Huambo”, um projecto muito bom que nasceu no MPLA. E somos amigos para a vida. Se for preciso abro-lhe a porta da minha casa e come na minha mesa.

Ao contrário do autóctone William Tonet, que já ninguém decente lhe abre a porta. O homem está feito num oito e destila ódio até pelas unhas dos pés. O seu último arrazoado é um festival de mentiras, manipulações, falsificações e insultos gratuitos a quem lhe abriu a porta de casa e o sentou à mesa com familiares e amigos. Sempre gostei de mabecos porque não têm dono. Mas mordem cegamente até se saciarem de sangue e esta parte já não aprecio.

Angola | FALSIDADES VENDIDAS COMO VERDADES – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A Associação dos Juízes de Angola, ainda que tardiamente, veio a público manifestar-se sobre as “notícias” que infestam portais, pasquins e redes sociais onde magistrados judiciais são apresentados como vulgares criminosos de delito comum. Face ao massacre, a instituição emitiu um comunicado onde faz esta exigência:

“Que o Conselho Superior da Magistratura Judicial (SMJ) accione os mecanismos internos e, em homenagem à transparência, ao direito de informação do cidadão, ao prestígio e credibilidade do Sistema Judicial e à presunção da inocência dos Magistrados Judiciais e outras pessoas mencionadas, faça a necessária indagação e apuramento e, com a maior brevidade possível, comunique com a sociedade angolana, nem que por ora, passe apenas informações preliminares”. O portal Club K deu ao documento este título: “Associação dos Juízes pede investigação aos actos de corrupção do Presidente do Supremo”.

A Associação dos Juízes também exige que “o CSMJ e os órgãos do Estado com atribuições para o efeito procurem apurar, com rigor junto dos portais de notícias identificados e também através dos mecanismos de investigação existentes, todos os factos que têm sido relatados quer para o afastamento das suspeições sobre os Magistrados visados nas mesmas, como para a eventual responsabilização dos infractores, caso sejam encontrados, ou dos ‘fabricadores de notícias falsas’, se for o caso”. O portal Club K deu ao documento este título: “Associação dos Juízes pede investigação aos actos de corrupção do Presidente do Supremo”.

Por fim, a Associação dos Juízes exige que CSMJ “e os demais órgãos de Estado, a Imprensa e a sociedade em geral, no processo de apuramento da verdade, actuem com escrupulosa transparência, respeito pela presunção da inocência e direito à informação, evitando, desta feita, todos os julgamentos e condenações antecipadas, que depreciam e descredibilizam o Poder Judicial”. O portal Club K deu ao documento este título: “Associação dos Juízes pede investigação aos actos de corrupção do Presidente do Supremo”.

A campanha contra o Poder Judicial inclui mentiras evidentes, calúnias gravíssimas e acusações sem provas. Há magistradas e magistrados que são julgados e condenados na praça pública. Até agora este massacre decorreu com a conivência (cumplicidade?) de quem tem o dever de agir. A partir deste comunicado a Associação dos Juízes demarcou-se da lixeira. 

ARISTIDES GOMES JÁ DEIXOU BISSAU E ESTÁ EM FRANÇA

O antigo primeiro-ministro guineense Aristides Gomes deixou a Guiné-Bissau "há muito tempo" e encontra-se agora em França, após uma tentativa de detenção, sem mandado, em novembro. Queixa-se de "perseguição política".

"Já saí há muito tempo", afirmou Aristides Gomes, contactado pela Lusa por telefone.

O antigo chefe do Governo regressou a Bissau em 18 de novembro para participar no congresso do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC, oposição), depois de ter abandonado o país em 2021, após ter estado refugiado na sede das Nações Unidas em Bissau desde março de 2020.

No mesmo dia, durante o congresso do PAIGC, as forças de segurança encapuzadas e fortemente armadas tentaram deter Aristides Gomes, sem um mandado, que acabou por conseguir sair do local.

Nas declarações feitas à Lusa, Aristides Gomes afirmou que está a ser alvo de "perseguição política" e denunciou o "caráter injusto da perseguição, porque não há nada na justiça".

"Mais uma vez apresentei queixa em Bissau e outra no tribunal da CEDEAO [Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental] contra o Estado e, particularmente, contra o Presidente da República", Umaro Sissoco Embaló, disse Aristides Gomes.

"Estado não respeita regras nenhumas"

Segundo o antigo primeiro-ministro, trata-se uma forma de "fazer face a um Estado que não respeita regras nenhumas".

"Um regime que está a fazer um cozinhado cujo resultado será dramático para toda a gente", salientou.

Em dezembro, os advogados de Aristides Gomes em Bissau já tinha, apresentado uma queixa-crime contra o Estado da Guiné-Bissau, após as forças de segurança o terem tentado deter sem um mandado.

A queixa-crime, apresentada ao procurador da República junto do Tribunal de Relação de Bissau, "participa criminalmente contra o Estado da Guiné-Bissau, Sandji Fati, ministro do Interior, a Procuradoria-Geral da República, Bacari Biai, procurador-geral da República na altura dos factos", três magistrados do Ministério Público e agentes do Ministério do Interior.

Deutsche Welle | Lusa

GUINÉ EQUATORIAL CONFIRMA SURTO DE VÍRUS DE MARBURG

Nove pessoas morreram na Guiné Equatorial devido a um surto de vírus de Marburg, anunciaram as autoridades do país e a Organização Mundial de Saúde (OMS). A febre hemorrágica é quase tão mortal quanto o ébola.

A Guiné Equatorial confirmou o primeiro surto da febre hemorrágica, na sequência da morte de pelo menos nove pessoas na província de Kie-Ntem, disse o ministro da Saúde do país na segunda-feira (13.02).

A OMS também confirmou o surto. "Estão em curso mais investigações. Equipas avançadas foram destacadas para os distritos afectados para localizar contactos, isolar e prestar cuidados médicos a pessoas que apresentem sintomas da doença", afirmou a OMS num comunicado citado pela Lusa.

A Organização Mundial de Saúde destacou peritos em emergências de saúde para ajudar a Guiné Equatorial a combater a doença e garantir a colaboração comunitária no controlo do surto.

O que se sabe sobre o surto?

De acordo com a OMS, até ao momento, foram registadas nove mortes e 16 casos suspeitos. Os sintomas incluem febre, fadiga, vómitos com sangue e diarreia.

O governo da Guiné Equatorial anunciou na semana passada que estava a investigar a causa de vários casos suspeitos de febre hemorrágica. A área afetada localizava-se numa região rural oriental de floresta densa, perto das fronteiras com o Gabão e os Camarões.

"Estão em curso investigações. Equipas avançadas foram destacadas nos distritos afetados para rastrear contactos, isolar e prestar cuidados médicos às pessoas que apresentem sintomas da doença", refere ainda a OMS.

A Organização de Saúde está também a enviar tendas e luvas de laboratório para testes de amostras, bem como um kit de febre hemorrágica viral, que inclui equipamento de proteção individual que pode ser usado por 500 profissionais de saúde.

"O virus de Marburg é altamente contagioso. Graças à ação rápida e decisiva das autoridades guineenses na confirmação da doença, a resposta de emergência pode chegar rapidamente para salvar vidas e parar o vírus o mais rápido possível", disse Matshidiso Moeti, diretor regional da OMS para África.

Doença altamente virulenta

O vírus de Marburg é uma doença altamente virulenta que causa febre hemorrágica, com um rácio de mortalidade de até 88%, e da mesma família que o vírus que causa a doença do vírus ébola.

Não há vacinas ou tratamentos antivirais aprovados para tratar o vírus, que reduz a capacidade do corpo de funcionar por si próprio, mas cuidados de apoio e o tratamento de sintomas específicos, melhoram a sobrevivência, refere e OMS.

Outros países já lidaram no passado com surtos desta febre hemorrágica, incluindo países africanos como Angola, o Gana, Guiné-Conacri, República Democrática do Congo, Quénia, África do Sul e Uganda.

Durante o surto em Angola em 2004, o vírus matou 90% das 252 pessoas infetadas. No Gana, no ano passado, duas pessoas morreram de Marburg.

O vírus foi identificado pela primeira vez em 1967 depois de ter causado surtos simultâneos da doença em laboratórios em Marburg, na Alemanha, e em Belgrado, na Sérvia. 

Deutsche Welle | Lusa

SUDÃO APROVA BASE NAVAL RUSSA NO MAR VERMELHO

As autoridades no poder no Sudão já concluíram a análise do acordo de construção de uma base naval russa no Mar Vermelho, tendo afirmado que do ponto de vista militar, tudo está aprovado. Em troca, Moscovo dará armas.

"Eles responderam a todas as nossas preocupações, o acordo está 'ok' do ponto de vista militar", disse um dos dois responsáveis militares que falaram à agência de informação financeira Bloomberg, sob anonimato.

De acordo com estes responsáveis, o acordo está finalizado e aguarda a formação de um governo civil e de um corpo legislativo para ser ratificado, antes de entrar em vigor.

Nos últimos dias, a Rússia respondeu positivamente a alguns dos aspetos que os sudaneses queriam ver contemplados no acordo que permite a construção e operação de uma base naval no Mar Vermelho, incluindo a disponibilização de mais armas e equipamento militar.

Os militares contactados pela Bloomberg não deram mais pormenores sobre o acordo, que o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, disse na quinta-feira que faltava apenas a ratificação pelo Sudão.

Este país africano tem estado sem um parlamento desde que uma revolta popular depôs, com a liderança dos militares, o antigo ditador Omar al-Bashir, em abril de 2019, e tem estado mergulhado num caos político desde que um golpe militar, em outubro de 2021, interrompeu a transição para a democracia.

Rússia recupera presença naval

O acordo entre o Sudão e a Rússia foi conhecido em dezembro de 2021, e é parte dos esforços de Moscovo para recuperar uma presença naval regular em várias partes do mundo.

O acordo de construção e utilização de uma base naval no Mar Vermelho permitiria à Rússia ter até 300 tropas russas, e simultaneamente manter até quatro navios em simultâneo, incluindo de energia nuclear, no estratégico porto do Sudão, no Mar Vermelho.

Segundo o antigo chefe militar Viktor Bondarev, a base garantiria a presença militar russa no Mar Vermelho e no oceano Índico e faria com que não fosse necessário fazer longas viagens para chegar à região.

Em troca, a Rússia dará armas e equipamento militar nos próximos 25 anos, com prolongamentos automáticos por 10 anos se ambas as partes concordarem.

Em junho de 2021, o chefe militar do Sudão, o general Mohammed Othman al-Hussein, disse a uma televisão local que Cartum ia rever o acordo, e depois em fevereiro do ano passado houve reuniões entre as autoridades russas e o poderoso líder das forças paramilitares, Mohammed Hamdan Dagalo.

Regressado de uma semana na Rússia, o general disse que o país não tinha objeções a que a Rússia ou qualquer outro país tenha uma base naval no país, já que não coloca qualquer ameaça à segurança nacional do Sudão.

"Se qualquer país quer abrir uma base e é no nosso interesse e não ameaça a nossa segurança nacional, não temos nenhum problema com ninguém, russo ou seja de onde for", afirmou.

Deutsche Welle | Lusa 

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