Artur Queiroz*, Luanda
Um dilúvio de insultos desabou sobre mim, uns de anónimos outros de disfarçados e alguns de autores identificados. Tudo porque expliquei com abundantes factos que Siona Casimiro não podia ser o decano dos jornalistas angolanos quando faleceu. Mais decano do que ele é José Carrasquinha e ninguém o alcunha dessa maneira. Querem puxar-me pela dignidade? Não vão aguentar. Porque não levo desaforos para casa e nunca me furtei a uma briga.
Tomem lá. As e os que dizem que Siona Casimiro era o decano dos jornalistas angolanos está a excluir profissionais que começaram no profissão nos anos 50 e 60, muito antes do defunto. Há um que ainda está no activo e chama-se Luciano Rocha. Quem quiser pode ler as suas crónicas semanalmente no Jornal de Angola. Quando o Siona Casimiro começou na profissão o Luciano já exercia funções de coordenação e chefia. Naquele tempo isso não era para acomodados e por empenhos partidários. Tinha mesmo de ser por competência e experiência. Sabem qual é o problema? Racismo! E isso não deixo passar.
Siona Casimiro era o “decano” porque é negro. Um dia destes só são jornalistas angolanos os negros que começaram na profissão depois de 11 de Novembro de 1975. Aparecem outros dizendo que só são jornalistas angolanos os negros que começaram na profissão depois do Acordo der Bicesse. Não me admiro nada que não apareça uma facção defendendo que só são jornalistas os negros que começaram na profissão depois da primeira eleição do Presidente João Lourenço. E têm de exibir uma declaração do Rafael Marques!
Tenham paciência. Aníbal de Melo, Rui Romano, Jaime Saint Maurice, Norberto de Castro, Rui de Carvalho e tantos outros angolanos mestiços eram jornalistas. Luís Alberto Ferreira, estrela do jornalismo angolano nos anos 50, é angolano, luandense dos Coqueiros, está vivo (que seja por mais mil anos, meu camarada!) e no activo.
Jornalistas angolanos brancos ainda há alguns. Pelo menos uma dúzia dos antigos (anos 50 e 60) anda por aí. Sabem porquê? O colonialismo afastou os angolanos negros de tudo, até do Jornalismo. Mestiços e brancos eram privilegiados. Mas não têm culpa disso. Muitos até lutaram pela Independência Nacional. Quase todos sob a bandeira do MPLA. Até o Xavier de Figueiredo que começou no “Eme” e só depois de 11 de Novembro de 1975 passou para a UNITA. Trabalhei com ele no jornal “O Huambo”, um projecto muito bom que nasceu no MPLA. E somos amigos para a vida. Se for preciso abro-lhe a porta da minha casa e come na minha mesa.
Ao contrário do autóctone William Tonet, que já ninguém decente lhe abre a porta. O homem está feito num oito e destila ódio até pelas unhas dos pés. O seu último arrazoado é um festival de mentiras, manipulações, falsificações e insultos gratuitos a quem lhe abriu a porta de casa e o sentou à mesa com familiares e amigos. Sempre gostei de mabecos porque não têm dono. Mas mordem cegamente até se saciarem de sangue e esta parte já não aprecio.
Tonet diz que as palmeiras não aguentam um homem. Este autóctone que vos escreve diz que sim. Fui trepador de palmeiras. Aprendi a fazer a muxinga em trança que nos prende ao tronco da árvore e subia até aos cachos de dendém madurinhos num instante. Aprendi com um mestre trepador que era disputado lá no Bindo para fazer a limpeza das árvores. Porque cortar os cachos é fácil. Limpar é preciso arte e muita sabedoria. Cortar os cachos de dendém (à catanada) antes que os ratos da palmeira, os macacos e a passarada comam tudo é obra para um qualquer. Mas tem sempre que trepar pelo tronco até à cabeleira!
O autóctone William Tonet diz que Nito Alves era o comandante da I Região. Felizmente ainda está vivo o verdadeiro comandante. É César Augusto (Kiluanje). O comandante da Frente Norte (I e II Regiões) era David Moisés (Ndozi) e o comissário político Eurico Gonçalves. Este foi assassinado pelos golpistas do 27 de Maio de 1977. Porque se recusou a patentear “comandantes” da I Região que ninguém conhecia, nem o comando da Frente.
O autóctone feito num oito não sabe mas eu vou dar-lhe conhecimento. Após a Operação Nova Luz, por terra e por ar, a guerrilha na I Região ficou extremamente debilitada e os guerrilheiros isolados. Os colonialistas despejaram bombas de napalm e desfolhantes (armas químicas) sobre todo o território dos Dembos. A população que sobreviveu foi internada nas sanzalas da paz. Os combatentes tiveram de se refugiar nas matas mais fechadas da região.
Após o 25 de Abril de 1974 os responsáveis da frente foram sabendo do desastre causado pela Operação Nova Luz. O problema é que os relatos eram contraditórios. Uns diziam que um certo camarada tinha morrido durante a grande ofensiva dos colonialistas. Outros diziam que tinha sido antes. Outros depois. Fizeram uma investigação profunda e ficou claro que o comandante Miro tinha sido fuzilado muito antes da operação militar contra a II Região. Depois surgiram relatos sobre outros camaradas que foram condenados a fuzilamento. Esconder esse passado foi um dos motivos que levou ao golpe militar no 27 de Maio de 1977.
Se o legítimo autóctone William Tonet fosse credível, calava os inimigos do MPLA para sempre quando escreve que a FNLA quis trocar as Heroínas Deolinda, Engrácia, Irene e Lucrécia por Matias Miguéis. Isso é mentira. Mas é verdade que o chefe da ala maoista abandonou o MPLA e foi para a FNLA levando com ele o seu grupo e mais uns tantos. Essa era a tese de Viriato da Cruz: O MPLA devia extinguir-se e todos os seus militantes iam para a UPA/FNLA. Uma vez lá dentro tomavam o poder arrumando Holden Roberto.
O autóctone não sabe, mas ninguém era obrigado a aderir ao MPLA. E quem queria aderir tinha de dar provas primeiro. Os aspirantes a militantes eram informados de que aderir ao movimento não era como ir ao cinema, à boate ou à praia. Aos militantes revolucionários eram exigidos muitos sacrifícios e as missões eram para cumprir custasse o que custasse. A traição, delação ou deserção eram punidas com a pena de morte. Os golpistas do 27 de Maio de 1977 traíram e desertaram. Mataram camaradas. Foram os responsáveis por todas as mortes antes, durante a após o golpe.
William, o autóctone legítimo, cita a Constituição de 2010 para enquadrar os acontecimentos de 1977. Nem um roboteiro comete erro tão grosseiro. Em 1977, existia um regime revolucionário. Estávamos na República Popular de Angola. As FAPLA lutavam contra os exércitos invasores estrangeiros. O Norte estava praticamente libertado. Mas os racistas da África do Sul continuavam a ameaçar a soberania nacional e a integridade territorial, no Sul e Sudeste.
Neste quadro, os golpistas decapitaram o Estado Maior Geral das FAPLA. Segundo Tonet, os dirigentes da época deviam esperar que fosse aprovada a Constituição de 2010 para julgar os golpistas. Nada de justiça revolucionária e muito menos tribunais marciais.
Tonet diz que estão a difamar Nito Alves. Mas ele difama e insulta de uma forma repelente Iko Carreira. Henrique Santos (Onambwe). O comandante Ludi escapoiu ao ódio, provavelmente porque era negro. Os “argelinos” Artur Pestana (Pepetela) e Costa Andrade (Ndunduma) também levaram. Mas estes foram combatentes na Frente Leste. Lutaram para hoje o autóctone autêntico destilar ódio contra os libertadores.
A sua cegueira vai ao ponto de lançar o seu bafo odiento sobre Dino Matross, José Guerreiro e Higino Carneiro. Porque ousaram escrever livros sobre as suas memórias e divulgar factos históricos indesmentíveis. Esta parte ultrapassa todos os limites da razão e atinge as raias da loucura. Chivukuvuku deve ter-lhe ensinado esta incursão ao terrorismo mediático.
O autóctone ataca o MPLA com fúria e ódio. Acontece que o terrorista mediático comeu à mesa do partido. Fez carreira no jornalismo à custa do partido. E tal como Siona Casimiro, um dia decidiu matar o benfeitor. Ambos tentaram exterminar quem deles fez gente. Podiam ter comido e calado. Mas não. Preferiram exibir a deserção e a traição. Que lhes faça bom proveito.
Este autóctone que vos escreve vai terminar dizendo ao Tonet e a todos os terroristas mediáticos ou simplesmente traidores ou desertores o seguinte: Se não fosse o MPLA ainda hoje eram serventes de um qualquer colono analfabeto. Ou pouco mais do que isso. Os sicários da UNITA, se não fosse o MPLA, ainda hoje viviam aterrorizados pelo assassino Jonas Savimbi. O Chivukuvuku ainda hoje andava a executar assassínios selectivos.
E eu, se não fosse o MPLA, ao qual devo tudo o que sou, hoje era um colonialista ressabiado destilando ressentimentos num qualquer Rossio. Graças ao MPLA sou um cidadão que anda por aí de cara lavada e coluna vertebral direitinha, apesar do peso dos anos. Muito obrigado camarada Neto muito obrigado ao MPLA!
*Jornalista
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