quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

JORNALISMO MORTO E CESSAR FOGO AOS TIROS – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Jornalismo sem fontes não existe. Um jornalista sem uma agenda exclusiva de contactos (carnet) é um escriturário ou balconista do difícil comércio das palavras. Montar as fontes e mantê-las sempre limpas, desobstruídas, fluentes, é uma das mais importantes tarefas de um profissional. 

Os simpatizantes e não praticantes do Jornalismo confundem essas tarefas com ir para a cama com polícias, ladrões, magistrados judiciais, agentes do Ministério Público ou membros dos serviços secretos. Chamam a essa promiscuidade “jornalismo de investigação”. O resultado está à vista, mataram a profissão de jornalista. Assassinaram barbaramente o Jornalismo.

Os escriturários e balconistas do “ocidente alargado” vão à Ucrânia e entrevistam “vítimas” dos russos. Criancinhas, velhos amargurados, agentes da pide do Zelensky disfarçados de moradores das cidades destruídas. Mas ninguém, até hoje, entrevistou um deputado da oposição ou dirigentes dos partidos da oposição. 

A Ucrânia da liberdade deles prendeu o líder da Oposição, Viktor Medvedchuk, logo no início da operação militar especial. Ninguém nos países democráticos ocidentais manifestou sequer um ligeiro sobressalto. A infâmia atingiu um nível intolerável quando Zelenxky trocou Medvedchuk por prisioneiros nazis do Batalhão de Azov. 

Malé malé malé! Mas pior aconteceu hoje. No editorial do Novo Jornal o director oferece-se ao Miala para colaborar com o “serviço de informações”. Trabalhamos todos com informação. Precisamos todos de informação. Vamos colaborar! 

Nunca jamais em tempo algum um jornalista foi tão directo na venda da honra profissional. Se precisavam de mais alguma prova para terem a certeza de que o Jornalismo morreu e os jornalistas são meros escriturários ou balconistas, aí está. 

Seymour Hersh é um jornalista norte-americano que foi capaz de montar as suas fontes, ampliá-las e mantê-las sempre límpidas. Em 1969, publicou uma reportagem que teve forte impacto no mundo do Jornalismo. Denunciou, com factos indesmentíveis, o massacre de My Lai, no Vietname. 

Angola | OS ESCRIBAS PAGA JÁ – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

No Negage havia um fotógrafo profissional, o senhor Correia. Montou o estúdio na descida para o rio Kaua e era vizinho do grande camionista Arménio Bicho, tripulante de um camião Volvo BigJob. Do Kiseke ao Dambi, da Aldeia da Missão ao Puri, chegavam todos os dias grandes grupos de aldeãos para serem fotografados. Aquilo era mais do que feitiço!

O fotógrafo Correia tinha um grande banco corrido, construído pelo senhor Andrade Estraga a Tábua. Uns clientes sentavam-se, habitualmente mulheres e crianças, outros ficavam por trás de pé. As donas vestiam panos do Congo garridos e lenços na cabeça. Os homens punham camisa e casaco ou casacão de fardo, calçavam alpercatas de pneu. As crianças, calção ou vestidinho de chita. O artista metia a cabeça debaixo de um pano, focava e disparava. Depois metia o cliché numa bacia com revelador e ia aparecendo a fotografia, ante gritos de admiração de quem se via aparecer lentamente no papel.

Um dia pedi à minha Mamã para me levar à Foto Correia. Ela esperou que chegassem um sapatinhos de alvaiade à loja do senhor Esteves. Mandou fazer uma camisa de colarinhos longos em pano gabardina e uns calções de caqui. Assim vestido parecia mesmo um branco. A foto não foi feira no banco corrido mas lá dentro, no quintal. O fotógrafo meteu a cabeça debaixo do pano e disse-me: olha o passarinho! Eu olhei muito espantado e não vi passarinho nenhum. Fiquei furioso. A foto saiu estragada. Para sair uma coisa em condições o artista gastou seis clichés. Aquela foi a minha primeira foto. Uma festa! 

O senhor Correia não facilitava nada e quando as imagens apareciam no papel dizia logo: Paga já! Ninguém recebia a foto sem primeiro pagar meia cinco por cada retrato e cinco angolares pelas fotos de grupo mas os clientes tinham direito a cinco cópias. Caríssimo. E não aceitava pagamentos em café. Tinha que ser dinheiro vivo.

Em Luanda encontrei um fotógrafo paga já, no Largo do Kinaxixi, envolvimento da estátua chamada Maria da Fonte, que dizia imenso aos angolanos e particularmente aos luandenses. Malhas que o colonialismo tece. Agora está lá um mamarracho. Uma espécie de cadáver de prédio gigantesco, destemidamente plantado por cima da velha lagoa que foi enxugada para construir, nas bordas, o mercado e o edifício do museu. Eu recebia todos os dias meia cinco para comprar à dona Iria uma sandes de chouriço e uma cocopinha, na cantina do liceu. Não comia. Não bebia. Esbanjava o dinheiro no fotógrafo paga já.

SECA NO CORNO DE ÁFRICA PIOR DO QUE NA CRISE DE FOME DE 2011

Chuvas abaixo do normal são esperadas durante a estação chuvosa nos próximos três meses em partes da Somália, Quênia e Etiópia, disse um centro de pesquisa climática.

Al Jazeera | # Traduzido em português do Brasil

As tendências de seca no Chifre da África são agora piores do que durante a fome de 2011, na qual centenas de milhares de pessoas morreram.

O Centro de Previsão e Aplicações Climáticas da IGAD disse na quarta-feira que se espera chuvas abaixo do normal durante a estação chuvosa nos próximos três meses.

“Em partes da Etiópia, Quênia, Somália e Uganda que foram mais afetadas pela seca recente, esta pode ser a 6ª temporada consecutiva de chuvas sem sucesso”, afirmou.

Condições mais secas do que o normal também aumentaram em partes do Burundi, leste da Tanzânia, Ruanda e oeste do Sudão do Sul, acrescentou o centro.

Embora os limites da fome não tenham sido atingidos, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse na quarta-feira que 8,3 milhões de pessoas – mais da metade da população da Somália – precisarão de assistência humanitária este ano.

Workneh Gebeyehu, chefe da IGAD, exortou os governos e parceiros a agir “antes que seja tarde demais”.

A LENGA-LENGA DO COSTUME SOBRE A GUERRA E OUTRAS "GUERRAS", SEM PAZ

Bom dia. A seguir vai poder ler o Expresso Curto que nos chegou às 08.41 da manhã. Publicamos com atraso mas ainda a tempo. A maestrina da musica do texto é de Cristina Figueiredo, da SIC, outro burgo do Grupo Impresa, vasta maquia do tio Balsemão e seus associados. Os tons orquestram-se pelos dias da guerra na Ucrânia com a Rússia, um ano. 

Verdade seja dita que antes, muito antes, na Ucrânia já havia guerra, desde 2014. Era o avanço dos nazi-fascistas russofóbicos (nazis como sempre), da Revolução Colorida que descobriu um palhaço do mal chamado Zelenszi. Bem, mas isso é recuar demasiado no tempo. Queremos aqui a voz do dono, dos EUA, e para isso passamos a bomboca à autora deste Curto, mas comprido, com muitas palavras de interesse para fecharmos os olhos com deleite sobre histórias de propaganda que dizem o costume, já conhecido, ao estilo de Ferreira da Costa sobre a guerra colonial em Angola e das intervenções da Rádio Moscovo que ouvíamos clandestinamente com medo da PIDE, e que tinha por contraponto uma voz que vomitava no éter “Rádio Moscovo Não Fala Verdade”… Pois não, O fascismo salazarista e ditatorial é que falava toda a verdadinha e propaganda. Tretas de há muitas décadas mas muito semelhantes às da atualidade nos jornais, rádios e televisões lusas. Lusas e do mundo que pé ante pé está a ser nazificado… Pois.

Vamos lá para o Curto de lenga-lenga do costume mas de que tanto gostam. Guerra, sem paz e sem mais prosápia. Inté… e bom resto de semana, se conseguirem. (PG) 

A guerra dura há 364 dias

Cristina Figueiredo, editora de política da SIC | Expresso (curto)

O homem que há um ano (menos dois dias) decidiu levar a cabo uma “operação militar especial” sobre a Ucrânia não faz tenções de parar tão cedo: “Passo a passo, de forma cuidadosa e consistente, cumpriremos as tarefas que temos em mãos”, prometeu Vladimir Putin ontem, no discurso (de quase duas horas) do Estado da Nação, ontem de manhã, em Moscovo, deixando para o fim o gravíssimo anúncio de que a Rússia vai suspender a participação no Tratado New START, de controlo do uso de armas nucleares, em vigor desde 2010 e que tinha sido renovado (para mais 5 anos) em 2021. À tarde, em Varsóvia, Joe Biden aproveitou um comício perante o povo polaco para garantir ao seu homólogo russo que “o artigo 5 da NATO está sólido” e lembrar a Rússia que atacar um Estado-membro da NATO é “atacar todos”.

Putin falou durante quase duas horas, perante uma plateia seráfica, que no final aplaudiu de pé, com convicção encenada ou real (detalhe sem importância, para o caso), o homem que governa a Rússia há 20 anos. Acabara de o ouvir acusar o Ocidente de ser o principal responsável pelo conflito (porque quer, há décadas, destruir a Rússia), e de estar numa espécie de deriva espiritual: “Vejam o que fazem ao seu próprio povo: destruir a família, a identidade cultural e nacional, pervertem e abusam das crianças, praticam pedofilia, e tudo isso é declarado normal na vida deles. Forçam padres a abençoar casamentos homossexuais.”

Um discurso “delirante”, “uma fantasia patriótica em dia de Carnaval”, escreve Germano Almeida, que é também o convidado de Paulo Baldaia no Expresso d(est)a Manhã, com o acertado título “Monólogos de guerra, com a China a assistir”. Sobre este assunto, dois outros artigos de opinião que valem a pena: um, do antigo deputado do PCP António Filipe, com o sugestivo título “E quem não salta é putinista?”; outro, do historiador e colunista do Expresso, Lourenço Pereira Coutinho, sobre um dia que pareceu saído do tempo da guerra fria. O tema é também a escolha óbvia de Martim Silva em mais um episódio do podcast Bloco de Leste.

Esta quarta-feira, Vladimir Putin volta a discursar, desta vez num comício no Estádio Luzhniki, em Moscovo, onde poderão estar cerca de 200 mil pessoas.

Eu quero justiça para meus irmãos que Israel matou -- declara médica palestina

O exército israelita tirou de mim meus dois irmãos, os seres humanos mais adoráveis ​​que já conheci

Rua Rimawi* | Al Jazeera | opinião | # Traduzido em português do Brasil

Nas primeiras horas do dia 29 de novembro, soldados israelenses fortemente armados invadiram novamente o vilarejo de Kafr Ein, na Cisjordânia ocupada, a poucos quilômetros de onde moramos, no vilarejo de Beit Rima.

Eles começaram a atirar gás lacrimogêneo, balas de borracha e munição real contra a população local. Meus irmãos Thafer e Jawad se juntaram a outros jovens na defesa da comunidade, atirando pedras nos soldados. Isso lhes custou a vida.

Os soldados israelenses atiraram primeiro em meu irmão mais novo, Thafer. Então, quando Jawad correu para ajudá-lo, os soldados israelenses também o atingiram com uma bala explosiva.

Às 5 da manhã, minha mãe me acordou gritando que soldados israelenses haviam ferido Jawad e Thafer e que eles haviam sido levados para o hospital na cidade vizinha de Salfit. Jawad foi levado às pressas para a cirurgia, com artérias e intestinos destruídos. Thafer precisou ser transferido para outro hospital em Ramallah, onde havia um cirurgião torácico capaz de operá-lo.

Minha mãe ficou com Jawad enquanto eu fui na ambulância com Thafer. Meu irmão estava sangrando até a morte diante dos meus olhos e, embora nossa prioridade fosse mantê-lo vivo, todos no veículo estavam concentrados em encontrar uma rota sem barreiras militares. Se encontrássemos um posto de controle, seríamos parados por soldados israelenses para interrogatório e arriscávamos que meu irmão morresse enquanto esperávamos a passagem.

Quando chegamos ao hospital 20 minutos depois, minha mãe me ligou para dizer que Jawad havia sido declarado morto. Thafer estava sem pulso e os médicos realizaram RCP em seu corpo sem vida, mas, apesar de seus esforços, ele também morreu tragicamente.

Massacres: FORÇA ISRAELITA ASSASSINA NOVE PALESTINOS EM ATAQUE A NABLUS

Dezenas de palestinos também ficaram feridos e foram levados ao hospital após a invasão israelense na cidade ocupada da Cisjordânia.

Al Jazeera | # Traduzido em português do Brasil

Ramallah, Cisjordânia ocupada – Pelo menos nove palestinos foram mortos e dezenas ficaram feridos em um ataque do exército israelense na cidade ocupada de Nablus, na Cisjordânia, de acordo com o ministério da saúde palestino.

O ministério disse na quarta-feira que pelo menos 97 pessoas ficaram feridas, muitas delas atingidas por munição real, e listou o estado de saúde de seis como grave .

De acordo com o ministério, os mortos incluem Adnan Sabe' Baara, 72; Mohammad Khaled Anbousi, 25; Tamer Minawi, 33; Musab Owais, 26; Hossam Isleem, 24; Mohammad Abdulghani, 23; Waleed Dakheel, 23; e Abdulhadi Ashqar, 61. A identidade da nona fatalidade ainda não foi determinada.

Confrontos generalizados começaram logo depois que o exército invadiu Nablus com dezenas de veículos blindados e forças especiais às 10h (08:00 GMT).

O exército bloqueou todas as entradas da cidade antes de cercar uma casa com dois combatentes palestinos procurados, ambos mortos.

'Decepção' em Bruxelas: Israel expulsou eurodeputado em visita oficial à Palestina

Verde MEP Ana Miranda enviado de volta para a Espanha depois de chegar em Tel Aviv

Político.eu* - ver nota

Os líderes da UE expressaram surpresa e pesar na terça-feira depois que o governo israelense proibiu uma membro do Parlamento Europeu de entrar no país em uma visita oficial e a deportou para a Espanha.

Ana Miranda, eurodeputada galega do grupo dos Verdes, aterrissou no aeroporto Ben Gurion, em Tel Aviv, na noite de segunda-feira, juntamente com outros oito parlamentares de duas delegações do Parlamento Europeu, uma de Israel e outra da Palestina. Por ordem do Ministério do Interior de Israel, Miranda foi colocado em um voo para Madri.

“É um conflito diplomático [e] é intolerável que Israel exerça controle sobre membros de uma delegação que vai para a Palestina, não para Israel”, disse Miranda ao POLITICO.

Um porta-voz da Missão de Israel na UE disse: “A única razão pela qual ela não foi autorizada a entrar é o fato de ela ter tentado entrar [em Israel] ilegalmente”. Isso se referia à participação de Miranda em uma flotilha em 2015 que visava romper o bloqueio naval de Israel a Gaza.

Israel elegeu recentemente um governo de coalizão de extrema-direita liderado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

Miranda disse que, enquanto estava detida no aeroporto por três horas, uma guarda de controle de fronteira lhe disse repetidamente para “calar a boca” e que, quando Miranda explicou que era eurodeputada, a pessoa respondeu: “O que é o Parlamento Europeu? Não é nada aqui.

Miranda disse que não escondeu sua participação na flotilha quando questionada.

A visita de quatro dias dos eurodeputados esta semana incluirá viagens aos territórios palestinos ocupados por Israel na Cisjordânia e Jerusalém Oriental, onde a Autoridade Palestina tem autonomia limitada. À delegação foi negado o acesso a Gaza, disse Miranda.

A presidente do Parlamento, Roberta Metsola, descreveu sua “decepção” no Twitter , dizendo que entrará em contato com as autoridades israelenses para exigir respostas, e também convocar os líderes de grupos políticos para discutir os próximos passos.

As relações entre Jerusalém e o Parlamento têm sido cordiais ultimamente, com a instituição recebendo o presidente israelense Isaac Herzog para marcar o Dia em Memória do Holocausto em janeiro. Metsola, um eurodeputado maltês do Partido Popular Europeu de centro-direita, visitou Israel em maio do ano passado.

Miranda recebeu autorização para entrar em Israel, de acordo com e-mails datados de 2 e 14 de fevereiro entre o Serviço de Ação Externa da UE em Israel e o Ministério de Relações Exteriores do país, vistos na íntegra pelo POLITICO. Os e-mails afirmavam que Manu Pineda, um eurodeputado espanhol de extrema-esquerda que preside a delegação palestina, foi impedido de entrar, mas não fez menção de proibir a entrada de Miranda. Miranda disse que era uma “mentira” que ela ainda estava proibida de entrar em Israel. “Caso contrário, eles não teriam me autorizado [a viajar]”, escreveu ela em uma mensagem de acompanhamento.

O porta-voz da Missão de Israel na UE disse que Pineda – que não viajou a Israel com o restante de sua delegação – apóia o Hamas, considerado uma organização terrorista na UE. O Tribunal Geral da UE decidiu que o Hamas deve ser removido desta lista, uma decisão que está atualmente suspensa enquanto se aguarda um recurso do Conselho.

Pineda disse ao POLITICO em um comunicado: “Não sou um apoiador do Hamas, não importa o quanto o regime israelense insista”.

Ele continuou: “O regime israelense pode continuar a insistir em seu álibi de fotos e do Hamas. Mas, na realidade, o que eles estão fazendo hoje é impedir meu trabalho como presidente da Delegação para as relações com a Palestina e impedir o bom funcionamento desta delegação, por causa do meu passado como ativista de direitos humanos em Gaza.

“Israel tem um problema muito sério de direitos humanos e não quer que ninguém testemunhe os assassinatos, deslocamentos forçados, assentamentos ilegais e prisões sistemáticas”, acrescentou.

O grupo de Esquerda de Pineda exigiu que o Parlamento tomasse “medidas recíprocas” para Israel. Ele disse que isso significa que nenhum político ou diplomata israelense deve ter permissão para entrar.

“O respeito por todos os eurodeputados eleitos e pelo Parlamento Europeu é essencial para boas relações UE-Israel”, disse Nabila Massrali, porta-voz da Comissão Europeia para assuntos externos. “Esta decisão é profundamente decepcionante, é também surpreendente.”

Eddy Wax | Politico.eu | Gregorio Sorgi contribuiu com reportagem

*Publicação em Politico.eu | # Traduzido em português do Brasil por Google porque, ao que é demonstrado, a referida publicação europeia não reconhece o português correto e genuíno de Portugal apesar do país ser membro da União Europeia e não o Brasil. Quando não se reconhece nem respeita a língua pátria lusa está tudo dito e clarificado. Portugal é membro da UE mas como uma colónia merecedora de trato de desleixo e de região terceiro mundista na dita UE dos falsos Direitos, Liberdades, Soberania, Humanismo e Democracia, entre outras falsidades...Conclui-se que existe uma intenção velada de avacalhar o português original, o português de Portugal que deu novos mundos ao mundo e que falam português á sua maneira, com sotaques interessantes, mas não o português de Portugal. "A minha Pátria é a minha língua"  -  disse, e bem, Fernando Pessoa.

ENQUANTO OS PATÊGOS OLHAM P'RÓS BALÕES…

O frenesim belicista dos EUA (o MNE chinês chamou-lhe histeria) é profundamente alarmante. Mas não deixa de acumular episódios caricatos, como a agitação em torno de um balão chinês (ao que parece meteorológico) e o seu derrube com um míssil disparado de um caça. Existem ainda mais casos de balões com destino semelhante, o que tem deixado em pânico os cidadãos norte-americanos que têm o hobby de os lançar. Dizem algumas fontes que os EUA já despenderam cerca de 1 milhão de dólares a derrubar balões que custam 50, e que ainda por cima serão nacionais…

Gustavo Carneiro

Deu que falar o abate de um balão chinês por um avião militar norte-americano. As autoridades chinesas garantem que se tratava de um aparelho meteorológico; os EUA falam em espionagem, elevando a tensão…

Segundo David Vine, professor na Universidade Americana de Washington, em Julho de 2021 os EUA tinham cerca de 750 bases e instalações militares em mais de 80 países de todos os continentes e regiões (o número real será superior, dado o carácter secreto de algumas delas). Há dias, foi anunciado que os EUA terão acesso a três novas bases nas Filipinas, garantindo-lhes assim, e segundo o Público (3.2.23), a possibilidade de «vigiar as actividades militares chinesas num arco que se estende do Japão à Austrália, sem grandes interrupções geográficas».

O Japão é o país com mais bases norte-americanas, seguido da Alemanha e da Coreia do Sul: juntos, somam mais de 300. São também estes três países a acolher no seu território o maior número de militares dos EUA. Em 2020, estavam 53 mil no Japão, 34 mil na Alemanha e 26 mil na Coreia do Sul. Neste último país, aliás, está instalado desde há anos o sistema de mísseis THAAD e em 2021 foi anunciada a criação do AUKUS, aliança militar envolvendo os EUA, o Reino Unido e a Austrália, centrada na região do Pacífico.

Com despesas superiores a 800 mil milhões de dólares em 2022 (www.sipri.org), os EUA assumem mais de um terço dos gastos militares mundiais, sendo preciso somar os dos 10 países seguintes para as equivaler: acrescentando-lhes os assumidos pelos restantes membros da NATO ultrapassa-se a metade e esta proporção aumenta ainda mais com «aliados» como o Japão, a Coreia do Sul, a Arábia Saudita, Israel ou a Austrália.

Os EUA, que em Agosto de 1945 arrasaram as cidades japonesas de Hiroxima e Nagasáqui, gastaram em 2021 mais de 44 mil milhões de dólares no fabrico e desenvolvimento de armas nucleares (www.ican.org): possuem perto de 5500 ogivas, algumas delas instaladas em países europeus – Alemanha, Bélgica, Itália, Países Baixos e Turquia. Entre 1950 e 1953, despejaram mais bombas sobre o Norte da Coreia do que tinham feito em toda a guerra no Pacífico, contra o Japão: em Pyongyang só um edifício ficou de pé. Usaram e abusaram de todo o tipo de armamento proibido, químico ou biológico, responsável ainda hoje por mortes, doenças oncológicas e malformações – Agente Laranja no Vietname, urânio empobrecido na Jugoslávia, fósforo branco no Iraque –, organizaram a matança de meio milhão de comunistas na Indonésia (replicada depois na América Latina da Operação Condor), montaram um «sistema global de vigilância em massa», nas palavras de Edward Snowden.

E com tudo isto, acabou-se o espaço e ainda nem escrevi sobre o balão chinês…

* em O Diário.info

Fonte: https://www.avante.pt/pt/2568/opiniao/170573/Olh%E2%80%99%C3%B3-bal%C3%A3o.htm?tpl=179

O DIA EM QUE O MUNDO MUDOU

Daniel Vaz de Carvalho

“Na noite mais traiçoeira, Ruim, medonha, brutal, Descontada a pasmaceira, Do inferno do normal/.../ A julgar faltas à balda, Num tribunal multimédia/.../Assentado na baixeza, Do programa da nação/.../ Por favor, peço-te só, Não te demores, vem logo, Traz gasolina, põe fogo, Meu amor não tenhas dó!”
- De um poema de Júlio Pomar, Fado do 112 (cantado por Carlos do Carmo)

1 – “O mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades” (Luís de Camões)

Os que foram atrás da idiotice – esperteza de outros – do “fim da História”, faziam (como Eça de Queiroz os teria classificado) de ignorantes e atrevidos perante as palavras de Camões, que já na antiguidade Demócrito e Lucrécio o tinham verificado.

Claro que o mundo não mudou num dia, é aliás muito discutível escolher um dia para o efeito. Em termos históricos há o hábito de referenciar datas para definir acontecimentos historicamente relevantes. Isto pode levar as pessoas, os alunos sobretudo, a ignorarem que na realidade o que existe é um processo histórico. Para a compreensão ser o mais correta possível temos de recorrer às leis da dialética (obviamente!), em que o acumular de transformações quantitativas, dá origem a transformações qualitativas, que ocorrem “repentina e subitamente, sob a forma de saltos de um estado a outro, como resultado da acumulação de mudanças quantitativas graduais, muitas vezes impercetíveis.” É o que nos diz o marxismo.

Em Alguns meandros de uma guerra “total” (Andres Piqueras Infante) são elencados “certos passos decisivos do assédio à Rússia dentro da guerra total” imperialista e “algumas peças chaves para entender a ofensiva da NATO contra a Rússia”. Tratou-se, conforme discriminado, de um vasto conjunto de acontecimentos orientados para um dado fim: a insanidade do domínio global pelos EUA, que fizeram suas as palavras de uma canção da juventude nazi: “hoje dominamos a Alemanha, amanhã o mundo inteiro”. Mas esta intenção depara, com uma dificuldade: tal não seria possível sem dominar um Estado tão vasto e tão rico em matérias-primas como então a URSS, agora a Rússia.

A Fundação Rand estabeleceu a estratégia para resolver esse “problema”, sem o qual a China também não podia ser dominada. Se analisarmos ponto por ponto cada uma das ações previstas vemos que foram falhando praticamente todas: o mais que conseguiram, além das sanções suicidas para a UE, foi uma guerra na Ucrânia com a participação da NATO, apoiando-se em organizações nazis que oprimem e aterrorizam as populações, refugiando-se nas cidades, incapazes de enfrentar as forças russas nas estepes ucranianas.

Já aqui dissemos que a Ucrânia não existe como Estado – é uma colónia dos EUA, sustentada económica, financeira e militarmente pela NATO/UE, com a promoção de dirigentes que se destacam por uma patológica russofobia, seguindo padrões do final da 2ª guerra mundial em que criminosos nazis (como o Stepan Bandera) foram cooptados pelos serviços ocidentais particularmente dos EUA e RU.

Neste processo de transformações há um momento que se torna crucial: a decisão da Rússia de apoiar a Síria contra a agressão (encapotada) dos EUA/NATO aliados aos grupos islamistas com seu rol de atrocidades, transformados polos media ocidentais em “combatentes da liberdade” e “moderados”. Na Síria, a Rússia frustrou o plano de dominar o Médio Oriente, a que se seguiria o Irão, colocando em cheque parte da fronteira Sul da Rússia. Foi uma forma de fazer compreender aos EUA que tinham atingido os limites da sua expansão geopolítica.

As revelações de Merkel e de outros políticos sobre a sabotagem dos acordos de Minsk mostraram que não foi a Rússia a fonte do conflito na Ucrânia. Desde 2014 que a estratégia estava estabelecida em Washington, tratava-se apenas de ganhar tempo, com a ajuda de sanções e a preparação de um forte exército na Ucrânia. A UE/NATO europeia obedecia, indiferente às consequências.

Nesta estratégia de “fuck EU” da sra. Nuland, a UE afunda-se em crises económicas e sociais, enquanto políticos e “comentadores” nos dizem que estamos a apoiar a democracia na Ucrânia e no resto da Europa… Uma “democracia”, gerida em Kiev por gente corrupta, que proibiu o uso da língua russa nos territórios que falam russo, erigiu em "herói nacional" Stepan Bandera: um criminoso de guerra que colaborou com os nazis, participando na "Cruzada Judeo-Bolchevista", massacrando até 100 000 polacos, judeus e soviéticos. Estátuas suas foram erigidas pelo clã de Kiev, tal como a Roman Shukhevych outro ucraniano criminoso de guerra nazi, enquanto monumentos à libertação da Republica Soviética da Ucrânia e estátuas de Lenine foram destruídas. Silencia-se a proibição de sindicatos de esquerda e partidos, começando pelo Partido Comunista, com militantes presos e torturados pela polícia política de Kiev.

As regiões do Donbass tiveram toda a razão para não aceitar o regime de Kiev, constituído-se depois como Repúblicas Populares, um regime que oprimiu minorias, combateu tudo o que era progressista ou meramente democrata e se aliou ao imperialismo para eliminar as aquelas populações.

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