quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

A LENGA-LENGA DO COSTUME SOBRE A GUERRA E OUTRAS "GUERRAS", SEM PAZ

Bom dia. A seguir vai poder ler o Expresso Curto que nos chegou às 08.41 da manhã. Publicamos com atraso mas ainda a tempo. A maestrina da musica do texto é de Cristina Figueiredo, da SIC, outro burgo do Grupo Impresa, vasta maquia do tio Balsemão e seus associados. Os tons orquestram-se pelos dias da guerra na Ucrânia com a Rússia, um ano. 

Verdade seja dita que antes, muito antes, na Ucrânia já havia guerra, desde 2014. Era o avanço dos nazi-fascistas russofóbicos (nazis como sempre), da Revolução Colorida que descobriu um palhaço do mal chamado Zelenszi. Bem, mas isso é recuar demasiado no tempo. Queremos aqui a voz do dono, dos EUA, e para isso passamos a bomboca à autora deste Curto, mas comprido, com muitas palavras de interesse para fecharmos os olhos com deleite sobre histórias de propaganda que dizem o costume, já conhecido, ao estilo de Ferreira da Costa sobre a guerra colonial em Angola e das intervenções da Rádio Moscovo que ouvíamos clandestinamente com medo da PIDE, e que tinha por contraponto uma voz que vomitava no éter “Rádio Moscovo Não Fala Verdade”… Pois não, O fascismo salazarista e ditatorial é que falava toda a verdadinha e propaganda. Tretas de há muitas décadas mas muito semelhantes às da atualidade nos jornais, rádios e televisões lusas. Lusas e do mundo que pé ante pé está a ser nazificado… Pois.

Vamos lá para o Curto de lenga-lenga do costume mas de que tanto gostam. Guerra, sem paz e sem mais prosápia. Inté… e bom resto de semana, se conseguirem. (PG) 

A guerra dura há 364 dias

Cristina Figueiredo, editora de política da SIC | Expresso (curto)

O homem que há um ano (menos dois dias) decidiu levar a cabo uma “operação militar especial” sobre a Ucrânia não faz tenções de parar tão cedo: “Passo a passo, de forma cuidadosa e consistente, cumpriremos as tarefas que temos em mãos”, prometeu Vladimir Putin ontem, no discurso (de quase duas horas) do Estado da Nação, ontem de manhã, em Moscovo, deixando para o fim o gravíssimo anúncio de que a Rússia vai suspender a participação no Tratado New START, de controlo do uso de armas nucleares, em vigor desde 2010 e que tinha sido renovado (para mais 5 anos) em 2021. À tarde, em Varsóvia, Joe Biden aproveitou um comício perante o povo polaco para garantir ao seu homólogo russo que “o artigo 5 da NATO está sólido” e lembrar a Rússia que atacar um Estado-membro da NATO é “atacar todos”.

Putin falou durante quase duas horas, perante uma plateia seráfica, que no final aplaudiu de pé, com convicção encenada ou real (detalhe sem importância, para o caso), o homem que governa a Rússia há 20 anos. Acabara de o ouvir acusar o Ocidente de ser o principal responsável pelo conflito (porque quer, há décadas, destruir a Rússia), e de estar numa espécie de deriva espiritual: “Vejam o que fazem ao seu próprio povo: destruir a família, a identidade cultural e nacional, pervertem e abusam das crianças, praticam pedofilia, e tudo isso é declarado normal na vida deles. Forçam padres a abençoar casamentos homossexuais.”

Um discurso “delirante”, “uma fantasia patriótica em dia de Carnaval”, escreve Germano Almeida, que é também o convidado de Paulo Baldaia no Expresso d(est)a Manhã, com o acertado título “Monólogos de guerra, com a China a assistir”. Sobre este assunto, dois outros artigos de opinião que valem a pena: um, do antigo deputado do PCP António Filipe, com o sugestivo título “E quem não salta é putinista?”; outro, do historiador e colunista do Expresso, Lourenço Pereira Coutinho, sobre um dia que pareceu saído do tempo da guerra fria. O tema é também a escolha óbvia de Martim Silva em mais um episódio do podcast Bloco de Leste.

Esta quarta-feira, Vladimir Putin volta a discursar, desta vez num comício no Estádio Luzhniki, em Moscovo, onde poderão estar cerca de 200 mil pessoas.

OUTRAS NOTÍCIAS, CÁ DENTRO…
        
A Comissão Nacional de Acompanhamento do PRR apresenta hoje à imprensa o relatório referente ao ano de 2022, que já foi levado ao conhecimento do Governo e do Presidente da República (e Marcelo Rebelo de Sousa fez notar a António Costa que têm visões diferentes sobre como estão a correr as coisas). A Comissão entende que há muito a melhorar no processo de atribuição dos fundos europeus por forma a que Portugal consiga cumprir as metas a que se comprometeu, nomeadamente investimentos que devem ser recalendarizados, reforçados ou mesmo modificados, sob pena de não se conseguir atingir os objetivos fixados.

Toma posse, hoje ao final da tarde, a comissão de inquérito parlamentar à gestão da TAP. A comissão, que foi proposta pelo Bloco de Esquerda, será presidida pelo deputado socialista Jorge Seguro Sanches e tem como objeto a avaliação do “exercício da tutela política da gestão da TAP, SGPS, S.A. e da TAP, S.A., em particular no período entre 2020 e 2022, sob controlo público” e ainda o “processo de cooptação, nomeação ou contratação de Alexandra Reis para a administração” da empresa.

Ainda o pacote da habitação que o Governo anunciou na semana passada, abriu agora a consulta pública (sem, contudo, ter as medidas cabalmente desenhadas) e quer aprovar em Conselho de Ministros a 16 de março. Uma das propostas mais controversas, o arrendamento coercivo de casas devolutas, é explicada aqui pelo Vítor Andrade. A ministra da Habitação, Marina Gonçalves, é a convidada do podcast de Daniel Oliveira, Perguntar Não Ofende.

Hoje é quarta feira de cinzas e, para os católicos, o primeiro dia da quaresma, tempo de oração, reflexão e penitência. Não por acaso foi o dia escolhido para a realização, das 21h00 às 22h00, em vários pontos do país, de uma vigília de oração silenciosa contra os abusos sexuais na Igreja. Em Lisboa será em frente ao Mosteiro dos Jerónimos.

A Seleção Nacional de Futebol Feminino venceu os Camarões por 2-1 e conseguiu uma histórica estreia no Mundial da Competição. A partida, que começou a ser jogada eram 6h30 da manhã (hora portuguesa), na Nova Zelândia, foi seguida minuto-a-minuto pela Tribuna.

…E LÁ FORA

No contexto em que escrevo, sem que se veja a luz ao fundo deste imenso túnel que é a guerra na Ucrânia, a pergunta pode parecer prematura mas não deixa de fazer sentido: após a guerra, podem seguir-se novos julgamentos de Nuremberga?

Não foi um, mas dois os terramotos que atingiram a Turquia e a Síria no passado dia 6, provocando a morte de pelo menos 42 mil pessoas e 115 mil feridos. Desses terramotos, sabe-se agora, registaram-se mais de sete mil réplicas. Um novo terramoto, esta segunda-feira, provocou pelo menos 6 mortos e 300 feridos. Na província de Hatay, a mais atingida, esta terça-feira terminaram oficialmente as buscas por sobreviventes.

O vírus da Sida foi identificado há 40 anos e desde então, só em Portugal, matou cerca de 15 mil pessoas. Hoje já não é letal como no início, mas ainda não é curável. Mas há boas notícias: na Alemanha, um homem infetado com o VIH foi considerado curado após um transplante de medula óssea destinado a tratar uma leucemia. Já são cinco os casos semelhantes de sucesso.

Realiza-se hoje às 20h00, na Alemanha, o jogo entre o Leipzig e o Manchester City, a contar para a 1ª mão dos oitavos-de-final da Champions League. À mesma hora, em Milão, e para a mesma competição, jogam Inter e Futebol Clube do Porto (e o treinador do clube português garantiu ontem que vão “dar tudo”). Ontem, também para a Champions, o Real Madrid foi até Liverpool, esteve a perder por 2-0 mas a “remontada” não tardou e acabou a vencer por 2-5. Por sua vez, o Napoli foi a Frankfurt vencer o Eintracht por 0-2.

FRASES

“Queríamos sinceramente a paz”
Vladimir Putin, presidente da Federação Russa

“A culpa do conflito é toda dos líderes ocidentais, foram eles que começaram a guerra e nós usamos a força para a travar”
idem

“Um ano depois, Kiev continua livre, independente e de pé”
Joe Biden, presidente dos EUA

“A guerra não é uma necessidade, é uma tragédia”
idem

"A América está a ter o que merece pela sua estúpida política anti russa: a suspensão do New START. Não se pode lutar contra a Rússia e fingir que os problemas de estabilidade estratégica continuam na mesma. Ficam a saber!"
Dimitri Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia

“O anúncio da Rússia de que suspendeu a sua participação no New START é muito dececionante e irresponsável”
Antony Blinken, secretário de Estado dos EUA

O QUE ANDO A LER…

Ainda só comecei a ler “A Era do Homem Forte, como o culto do líder ameaça as democracias em todo o mundo”, de Gideon Rachman, editor de política internacional do Financial Times. Não pretende ser, como assegura o autor, “um guia dos ditadores do mundo”, mas traça-nos o retrato de boa parte deles, a começar, pois claro, em Vladimir Putin, passando por Narendra Modi e Viktor Órban, mas incluindo também Boris Johnson, Jair Bolsonaro e Donald Trump, que à primeira vista não meteríamos no mesmo saco mas, segundo Rachman, têm suficientes características em comum para isso. O livro foi escrito em 2021 (apesar da edição portuguesa ser apenas de outubro de 2022), é por isso anterior à guerra na Ucrânia, mas não podia ser mais atual. A ver se (me) lança alguma luz sobre o complexo xadrez mundial em que nos movemos por estes dias.

…E A VER

Até domingo ainda pode ir ver A Casa de Bernarda Alba, na Comuna, em Lisboa.

Foi a última peça de teatro escrita por Federico Garcia Lorca em 1936, ano da sua morte, e completa a trilogia que inclui Bodas de Sangue e Yerma. Nesta versão, dirigida por Hugo Franco, com cenografia de Renato Godinho, entram João Grosso e João Mota, entre outros, num elenco unicamente masculino (quando as oito personagens são mulheres), primeira de várias originalidades na adaptação de um texto que pretende exatamente denunciar a opressão das mulheres numa sociedade dominada por homens. A opção é discutível. Eu gostei.

Por pura coincidência, a próxima peça que vou ver também só tem atores masculinos (mas era assim que se fazia teatro na época em que ela foi escrita): Noite de Reis, de William Shakespeare, com encenação de Ricardo Neves Neves e cenografia de Ana Paula Rocha, pode ser vista no Teatro da Trindade até 19 de março. Expectativas altas para um dos mais criativos encenadores portugueses da atualidade.

A série (da HBO) estreou em 2020, já vai na segunda temporada (10 episódios cada uma), mas só agora descobri “Your Honor”, com o genial Bryan Cranston (o protagonista de “Breaking Bad”) no papel principal: um juiz na cidade de New Orleans, defensor dos fracos e dos oprimidos, que, para proteger o filho, se enrodilha num emaranhado de mentiras sem fim (e viola vários dos princípios e valores que o norteavam até então). Pesado. Mas muito bom.

E o Curto fica por aqui. O que já não cabe nesta newsletter encontra-o, bem relatado como sempre, nos sites do Expresso e da SIC Notícias. Tenha um dia bom.

LER O EXPRESSO

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