quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

ENQUANTO OS PATÊGOS OLHAM P'RÓS BALÕES…

O frenesim belicista dos EUA (o MNE chinês chamou-lhe histeria) é profundamente alarmante. Mas não deixa de acumular episódios caricatos, como a agitação em torno de um balão chinês (ao que parece meteorológico) e o seu derrube com um míssil disparado de um caça. Existem ainda mais casos de balões com destino semelhante, o que tem deixado em pânico os cidadãos norte-americanos que têm o hobby de os lançar. Dizem algumas fontes que os EUA já despenderam cerca de 1 milhão de dólares a derrubar balões que custam 50, e que ainda por cima serão nacionais…

Gustavo Carneiro

Deu que falar o abate de um balão chinês por um avião militar norte-americano. As autoridades chinesas garantem que se tratava de um aparelho meteorológico; os EUA falam em espionagem, elevando a tensão…

Segundo David Vine, professor na Universidade Americana de Washington, em Julho de 2021 os EUA tinham cerca de 750 bases e instalações militares em mais de 80 países de todos os continentes e regiões (o número real será superior, dado o carácter secreto de algumas delas). Há dias, foi anunciado que os EUA terão acesso a três novas bases nas Filipinas, garantindo-lhes assim, e segundo o Público (3.2.23), a possibilidade de «vigiar as actividades militares chinesas num arco que se estende do Japão à Austrália, sem grandes interrupções geográficas».

O Japão é o país com mais bases norte-americanas, seguido da Alemanha e da Coreia do Sul: juntos, somam mais de 300. São também estes três países a acolher no seu território o maior número de militares dos EUA. Em 2020, estavam 53 mil no Japão, 34 mil na Alemanha e 26 mil na Coreia do Sul. Neste último país, aliás, está instalado desde há anos o sistema de mísseis THAAD e em 2021 foi anunciada a criação do AUKUS, aliança militar envolvendo os EUA, o Reino Unido e a Austrália, centrada na região do Pacífico.

Com despesas superiores a 800 mil milhões de dólares em 2022 (www.sipri.org), os EUA assumem mais de um terço dos gastos militares mundiais, sendo preciso somar os dos 10 países seguintes para as equivaler: acrescentando-lhes os assumidos pelos restantes membros da NATO ultrapassa-se a metade e esta proporção aumenta ainda mais com «aliados» como o Japão, a Coreia do Sul, a Arábia Saudita, Israel ou a Austrália.

Os EUA, que em Agosto de 1945 arrasaram as cidades japonesas de Hiroxima e Nagasáqui, gastaram em 2021 mais de 44 mil milhões de dólares no fabrico e desenvolvimento de armas nucleares (www.ican.org): possuem perto de 5500 ogivas, algumas delas instaladas em países europeus – Alemanha, Bélgica, Itália, Países Baixos e Turquia. Entre 1950 e 1953, despejaram mais bombas sobre o Norte da Coreia do que tinham feito em toda a guerra no Pacífico, contra o Japão: em Pyongyang só um edifício ficou de pé. Usaram e abusaram de todo o tipo de armamento proibido, químico ou biológico, responsável ainda hoje por mortes, doenças oncológicas e malformações – Agente Laranja no Vietname, urânio empobrecido na Jugoslávia, fósforo branco no Iraque –, organizaram a matança de meio milhão de comunistas na Indonésia (replicada depois na América Latina da Operação Condor), montaram um «sistema global de vigilância em massa», nas palavras de Edward Snowden.

E com tudo isto, acabou-se o espaço e ainda nem escrevi sobre o balão chinês…

* em O Diário.info

Fonte: https://www.avante.pt/pt/2568/opiniao/170573/Olh%E2%80%99%C3%B3-bal%C3%A3o.htm?tpl=179

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