sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Angola | O Fim do Traidor Nato -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Os altos dirigentes fascistas em Angola foram afastados dos cargos por ordem do Movimento das Forças Armadas (MFA) após o 25 de Abril de 1974. O governador Santos e Castro foi recambiado para Portugal. O General Franco Pinheiro ficou a governar Angola interinamente sendo ao mesmo tempo o Chefe do Estado Maior-Geral das Forças Armadas. Esteve nestas funções entre 4 de Maio e 15 de Junho de 1974, data em que Spínola mandou para Angola Silvino Silvério Marques, com instruções para promover o federalismo. Se não fosse possível, avançava a independência branca à sombra do regime racista de Pretória.

O General Franco Pinheiro ouviu uma entrevista de Jonas Savimbi à Emissora Oficial de Angola, assinada por Francisco Simons. O chefe da UNITA defendeu o federalismo porque “o povo angolano não está preparado para a independência”. Antes que Luanda se incendiasse, o governador interino convocou uma conferência de imprensa no salão nobre do alto comando, Fortaleza de São Miguel, para dizer aos jornalistas que o MFA não estava de acordo com o federalismo e achava que os angolanos estavam preparados para a independência. 

O General Franco Pinheiro fez esta afirmação: “Jonas Savimbi é um traidor nato. Traiu os dele e os nossos. Desde que se instalou no Leste de Angola viveu sempre da traição”. Uma bomba! O general também foi bombardeado com perguntas, algumas insultuosas. 

Os Media angolanos pertenciam exclusivamente aos colonos ricos ou eram do Estado que detinha as rádios Emissora Oficial de Angola e Voz de Angola, mais os jornais Diário de Luanda e ABC que pertenciam à Gráfica Portugal, propriedade do partido União Nacional, entretanto nacionalizada pelo MFA. Os mais radicais defendiam a independência branca. Os outros apostaram tudo no federalismo proposto pelo Presidente Spínola. Todos apresentavam Jonas Savimbi como o “Muata da Paz” e a UNITA o “Movimento dos Brancos”. A autoridade máxima portuguesa disse cruamente que o chefe da UNITA era um traidor nato!

No final da conferência de imprensa deixei-me ficar e fui ter com o General Franco Pinheiro: O senhor traçou o retrato de Jonas Savimbi. Peço-lhe documentos que comprovem a sua afirmação. Polidamente respondeu: Está a pedir-me para ser igual a Jonas Savimbi? Os documentos são secretos e pertencem aos arquivos da Polícia de Informações Militares. Não posso divulgá-los. Já fiz a minha parte alertando que estão a promover um traidor nato.

As cartas de Jonas Savimbi aos generais Luz Cunha e Bettencourt Rodrigues, publicadas pela revista Afrique Asie são verdadeiras?

O general Franco Pinheiro delicadamente (tinha ar de lorde inglês) respondeu: São verdadeiras mas há mais cartas. Muitas mais. Cabe ao MFA divulgar o “dossier” de Jonas Savimbi. Eu disse tudo aos jornalistas: Ele traiu os dele e traiu os nossos. É um traidor nato. Não é o muata da paz. Não posso dizer mais do que isto.

No dia 22 de Fevereiro de 2002 o traidor nato acabou o seu longo caminho de traição no Lucusse. Mas deixou sementes. O jornalista Xavier Figueiredo escreveu o livro “Savimbi, um Homem no seu Martírio”. Somos amigos e fomos camaradas no MPLA. Quando deixou o movimento pensei assim: Vai-se a camaradagem fica a amizade. Reagi da mesma forma quando Norberto de Castro se mudou para a UNITA. Um desgosto porque ele ensinou-me quase tudo o que sei de Rádio. Foi-se a camaradagem ficou a amizade. Depois Raimundo Souto Maior também trocou o MPLA pela UNITA. Foi-se o camarada ficou o amigo até à morte.

Xavier Figueiredo diz que escreveu o livro para responder à “implacável e persistente campanha do MPLA e do regime por ele criado para desacreditar e ofuscar Savimbi. Uma campanha baseada na propaganda, na desinformação e em operações especiais de segurança”. O autor estava no salão nobre da Fortaleza de São Miguel quando o General Franco Pinheiro qualificou Jonas Savimbi de “traidor nato”. O governador interino nunca foi do MPLA. Hoje envio uma entrevista do inspector da PIDE Óscar Cardoso onde ele fala do papel de Jonas Savimbi em Angola durante a luta armada. O fundador dos Flechas nunca foi do MPLA, pelo contrário serviu-se da UNITA e de Savimbi para combater o MPLA.

O capitão do Exército Português Benjamim de Almeida foi uma espécie de guarda-costas de Jonas Savimbi em Cangumbe, Leste de Angola. Publicou o livro "Angola - O Conflito na Frente Leste", editado pela Âncora, Lisboa, Maio de 2011. São 288 páginas onde o capitão endeusa Jonas Savimbi e mostra a sua admiração pela UNITA. Publica cartas trocadas com Jonas Savimbi onde este demonstra amplamente que traiu os seus. O autor nunca foi do MPLA.

Xavier Figueiredo foi do MPLA. O que nos aproximou não foi a militância política mas o Jornalismo. Sempre vi nele um excelente profissional. Quando decidiu colocar-se ao serviço da UNITA fiquei triste. Mas a amizade continuou. Para escrever um livro sobre o chefe Savimbi o autor não precisa de desculpas. Nem acusar o MPLA de uma “implacável e persistente” campanha para desacreditar Savimbi. Desistiu do Jornalismo. Já nada nos aproxima. Mas pode ser que tenha uma boa desculpa para este comportamento indigno. 

A palavra holocausto tem origem grega ('holókauston') e à letra significa "sacrifício em que a vítima é queimada viva". As elites femininas que Jonas Savimbi queimou vivas nas fogueiras da Jamba foram vítimas de Holocausto. As mulheres e suas crianças foram consumidas pelo fogo.

Holocausto significa sacrifício, imolação, expiação. Após a II Guerra Mundial a palavra Holocausto foi atribuída aos homicídios do regime nazi contra os judeus e outras minorias religiosas ou étnicas.

O Presidente Lula da Silva denunciou na cimeira da União Africana que Israel está a cometer um genocídio na Faixa de Gaza. Os homicídios diários de crianças, Mamãs e outros civis indefesos na Faixa de Gaza são claramente um Holocausto. Os nazis de Telavive estão a imitar os nazis alemães. O Holocausto na Palestina tem a cumplicidades dos EUA, Reino Unido, União Europeia e seus capangas.

Hoje o ministro da Segurança de Israel defendeu a distribuição de armas aos civis. Quer todos os habitantes da Cisjordânia aprisionados para garantir a segurança de Israel. O ocidente alargado, em acelerada nazificação, é cúmplice dos nazis de Telavive. Ninguém põe fim ao Holocausto na Palestina. O Presidente Lula fez bem atirar uma pedrada para este pântano. de banditismo político, onde se destaca um tal João Gomes Cravinho ministro dos negócios portugueses com o estrangeiro.

*Jornalista

Ler/Ver em Página Global por Artur Queiroz:

Diamantes e Marfim Deram Amigos à UNITA Liderada por Jonas Savimbi

Angola | O Elevado Preço da Ignorância -- Artur Queiroz

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