Ricardo Simões Ferreira* | Diário de Notícias | opinião
Mas se há coisa que a história
demonstra é que os especialistas têm muita dificuldade em prever o futuro -
seja para o mal ou para o bem. Exemplos são muitos. Na passagem do século XIX
para o XX, o DN Ilustrado previa como “seria o ano
E é exatamente aqui que reside o problema dos estudos de futurologia, por mais bem feitos, e bem intencionados, que sejam: a pura incapacidade de saber que inovações o futuro trará, de como os seres humanos - as pessoas - responderão perante as adversidades, que soluções encontrarão para os problemas do dia a dia ou, simplesmente, que criações surgirão fruto da imaginação e criatividade - que, se não o é, parece de facto infinita.
O YouTube surgiu, faz no próximo ano, duas décadas. O Instagram tem 14 anos. O Twitch (serviço de streaming de videojogos) tem 13 anos. E segundo a revista Forbes, existem hoje 2 milhões de pessoas no mundo que vivem exclusivamente a produzir conteúdo para estas plataformas, usufruindo anualmente “um rendimento de seis dígitos”.
Se contabilizarmos o TikTok e outras redes do género, há ao todo mais de 50 milhões as pessoas que vivem a produzir conteúdos para estes suportes, o que, num certo sentido, faz deles, em conjunto, o maior empregador do planeta. Isto se é que ainda se pode falar de relações laborais, como no séc. XIX - tal como teima alguma esquerda, teimosamente agarrada a uma perspetiva estática da sociedade que, na realidade, já estava falida ainda antes de os livros que toma como bíblia terem secado a sua tinta.
Claro que não vamos ser todos YouTubers ou TikTokers. Mas certo é que há um quarto de século ninguém podia prever que estas atividades, passatempos, profissões iriam sequer existir - as plataformas ainda nem tinham sido inventadas.
A IA vai trazer transformações profundas à sociedade, isso é certo, mas também é praticamente seguro afirmar que, com ela, virá nova capacidade de gerar mais-valia, outras formas de riqueza. E, o que é fundamental, uma nova forma de democratização das ferramentas de acesso ao conhecimento e à produção intelectual. O que, na sociedade do conhecimento em que vivemos, é essencial para que, de uma vez por todas, consigamos criar um sistema em que o mérito e o talento sejam valorizados. Esperemos apenas que, em Portugal, esta não seja mais uma previsão que não se concretiza.
* Editor do Diário de Notícias
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