Artur Queiroz*, Luanda
Os jornalistas são os mártires da memória. Ela é a única ferramenta de trabalho que conta. Escrevemos de memória. As mensagens informativas são farrapos da memória de um acontecimento. No dia seguinte à edição, os jornais só servem para embrulhar ginguba torrada ou bagres fumados. Os noticiários radiofónicos esfumam-se na atmosfera. Da informação televisiva nem os bonecos ficam na memória. Coitados.
A Rádio dá à mensagem informativa uma dimensão estética e plástica. A palavra opera esse milagre sem deuses e outros intermediários divinos. Está salva a Humanidade. A voz humana é o mais belo espectáculo do mundo. Estava eu a mostrar empolgado as maravilhas radiofónicas ao Presidente Agostinho Neto, na sua casa provisória do Bairro de Saneamento e ele, entre o enfadado e o divertido respondeu assim ao meu entusiasmo: “Não esquecer que a Imprensa é o rascunho da História”. Fiquei siderado.
Mais tarde, o jornalista e historiador Jacinto Baptista, quando me mostrava as hortas de Lisboa, a capital imperial rural, fez um elogio aos repórteres: “Vocês escrevem a História do dia!” Quando iniciei a profissão, com mestres inesquecíveis como Acácio Barradas ou Ernesto Lara Filho, estava determinado a salva o mundo. Depois daquela conversa com Agostinho Neto só queria mesmo fazer rascunhos. E após o passeio pela Lisboa das hortas, plantadas de couves-galegas, decidi que tinha de apurar a História do dia. Sou o mais sacrificado mártir da memória. São mais de 60 anos ao serviço da História, como rascunheiro ou mensageiro diário.
Lá vou eu em mais uma viagem aos entrefolhos da memória. As eleições gerais de 1992 foram monitorizadas pela ONU e blindadas à fraude por catrefas de observadores, quase todos com a bandeira do Galo Negro desfraldada na mente e no coração apodrecido. O MPLA ganhou com maioria absoluta. Teve 1.976.940 votos. As primeiras eleições multipartidárias tinham um concorrente, o Partido Renovador Democrático (PRD) que convenceu 30.680 eleitores em 4.401 538 votantes. Nem nos seus sonhos mais dourados os dirigentes pensavam ir tão longe.
Vamos a um banho de imersão na memória. O PRD apresentou-se a votos com o padre Joaquim Pinto de Andrade na liderança. Ele era uma proeminente figura da Revolta Activa, fracção do MPLA que após o 25 de Abril de 1974 surgiu como salvadora do movimento e olimpo de intelectuais. A sua doutrina era do mais elevado e elaborado que se conhece nos anais universais da política: Fora com Agostinho Neto! O candidato do PRD às Presidenciais era Luís dos Passos, um puto rosqueiro, mitómano, ainda mais mentiroso do que os sicários da UNITA. No golpe militar do 27 de Maio de 1977 virou assassino. Este político sideral teve 58.000 votos. Foi uma festa de arromba lá em casa.
Ainda tenho alguma memória, mas
sou uma nódoa
Mário Soares, presidente da República Portuguesa, Barbosa de Melo, presidente da Assembleia da República, Cavaco da Silva, primeiro-ministro e os mais potentes empresários portugueses receberam em Lisboa uma delegação do PRD liderada pelo padre Joaquim Pinto de Andrade. Dada a facilidade com que entraram no Palácio de Belém e animados pelas palavras do bom branco que levou Savimbi às costas até ao último tiro no Lucusse, o líder do PRD fez um sermão à comunicação social, à saída da audiência: “Nós somos a alternativa democrática em Angola, MPLA e UNITA são dois partidos antidemocráticos. Vamos ganhar as eleições!”
O padre Joaquim Pinto de Andrade era boa pessoa mas tinha visões políticas esquisitas. E era de boa boca, comia tudo. Nito Alves abriu a caça aos militantes da Revolta Activa quando se apanhou no cargo de ministro. Foi ele que ordenou a sua prisão e de outros membros da facção. Em 1992, não hesitou em associar-se aos restos dos golpistas de 27 de Maio, porque lhe cheirou a poder. Honra ao Tio Eduardo (Eduardo dos Santos, antigo dirigente do MPLA e médico cardiologista) que se desligou daquele sinédrio de bandoleiros, antes das eleições.
Após a proclamação dos resultados eleitorais, Jonas Savimbi e o seu bando de assassinos lançaram uma rebelião armada contra a democracia, ainda no ovo. Em 2002 acabou a aventura belicista da UNITA. Mas nessa altura estava em funções o Governo de Unidade e Reconciliação Nacional (GURN). Os salteadores do poder acharam que 2008 era altura de derrubá-lo e exigir eleições. O Presidente José Eduardo dos Santos fez-lhes a vontade.
A União Europeia, apoiante da UNITA, mandou 90 observadores. A União Africana mais do dobro. Ante um acto eleitoral super vigiado, dez partidos e quatro coligações foram a votos. Estavam registados 8,3 milhões de eleitores. MPLA venceu com 81,76 por cento dos votos expressos. O PRD teve 14.238 votos! A Frente para a Democracia (FpD), hoje Bloco Democrático, conseguiu 17.073 votos (0,26 por cento).
Os dois partidos juntos conseguiram a proeza de somar nas eleições de 2008, 31.311 votos, um número absolutamente estonteante face ao valor dos seus dirigentes. Ambos foram extintos por ficarem longe de meio por cento! Assim acabou a aventura eleitoral dos golpistas do 27 de Maio e dos maoistas arrependidos associados a uns restos da Revolta Activa (FpD). Ficou o Luís dos Passos a mamar em grande.
Sempre que é preciso denegrir as figuras que levaram Angola à Independência Nacional e venceram a Guerra pela Soberania e Integridade Territorial, o mitómano é desenterrado e dispara à toa as suas aldrabices. Ventila porcaria para cima de quem os donos querem atingir. Ontem chegou-me uma “entrevista” do títere. Para quem tem intacta a memória, aquilo é um assassinato da caracter a Agostinho Neto e seus companheiros de luta.
Para quem ainda tem alguma
memória, uma infâmia paga à linha. Para quem usa a memória como instrumento de
trabalho é a mais nojenta manobra do chefe Miala na sua missão de destruir tudo
o que existe antes do dia
Um dia destes puseram a circular uma entrevista que Silva Mateus concedeu à Rádio Despertar. Um antigo contino da Polícia Judiciária portuguesa foi ajaezado com estrelas de general para mentir, denegrir, sujar, falsificar a História Contemporânea de Angola. Um mentiroso nojento. Ousou inventar que o Almirante Rosa Coutinho é familiar de Maria Eugénia Neto e por essa via de família, o Presidente Agostinho Neto entregou Angola Independente aos portugueses.
Este canalha continua a ser interlocutor do chefe Miala naquela coisa tenebrosa chamada CIVICOP, criada pelo Francisco Queiroz, um assumido golpista falhado do 27 de Maio. Portanto, são todos da mesma laia. O poder político aceita que um bandoleiro suje o nome de Agostinho Neto e do partido que ganhou as eleições. Cada qual come do que gosta. Mas aviso que a dose de porcaria é imensa e pode causar indigestões. Não comam tanto lixo.
Agora puseram a circular uma “entrevista” do assassino Luís dos Passos. Foi ele que colaborou activamente no assassinato de Avelino Mingas (Saidy) ministro das Finanças do Governo da República Popular de Angola, oficial superior das FAPLA e dirigente do MPLA. O mitómano diz que seu pai “foi o primeiro negro dentista em Angola”. Nem a memória dos seus respeita! O pai era enfermeiro, nunca foi dentista. Mas como em Angola existiam poucos, o senhor provavelmente extraiu alguns dentes a doentes desesperados.
Antes dele, o Velho Tuma, pastor do gado miúdo de meu Pai, extraiu-me todos os dentes de leite com uma muxinga fininha que ele próprio urdiu com fios de sisal. Depois enterrávamos os dentes debaixo de uma mwanza, cheia de ninhos. Para dar sorte e um dia regressar a casa. Falhanço total!
O mentiroso ainda mais compulsivo do que Adalberto da Costa Júnior andou no Liceu Paulo Dias de Novais (só dava até ao quinto ano). Mas também na Escola Industrial e na escola profissional São Domingos, da Igreja. Mas que grande aldrabão. O ensino liceal era uma área distinta do ensino técnico e do ensino profissional. Ele correu em todos!
Por ordens de quem lhe paga os vícios e as aldrabices, ventila lixo para cima de Agostinho Neto, Iko Carreira, Lúcio Lara, Manuel Pedro Pacavira, André Pitra (Petrof), Delfim de Castro, Henrique Santos (Onambwe), Benigno Vieira Lopes (Ingo), José Maria, Higino Carneiro e muitos outros. O Comandante Petrof, diz a alimária, “no dia 27 de Maio foi o meu motorista que o levou ao hospital no carro do Saidy Mingas”. Um garoto irresponsável até tinha motorista! E quem o entrevistou, não lhe perguntou como subiu tão alto, um rapaz de 20 anos que não era nada, não sabia fazer nada.
O canalha comprado para denegrir quem não faz parte da corte de João Lourenço apresenta o Comandante César Augusto (Kiluanji) como um boçal meio selvagem. Diz que um dia ele foi a casa de Zé Van-Dúnem e ficou muito admirado “quando viu a água sair do cano”. Este Herói Nacional ainda está vivo. E o criadito do chefe Miala atreve-se a insultá-lo. Tudo porque sendo o responsável máximo da I Região Política e Militar do MPLA, não alinhou na aventura criminosa de Monstro Imortal, Bakalof e Nito Alves.
César Augusto (Kiluanji), um dos mais abnegados comandantes da Luta Amada de Libertação Nacional, publicou em 1990 o livro Trajectória da Vida de um Guerrilheiro. No ano de 1995 publicou Angola-Argélia Solidariedade Traída. No ano seguinte publicou uma monografia sobre Nambuangongo, a sua terra natal. Em 1998 publicou o livro Miséria Moral. Foi Embaixador de Angola na Argélia, Cabo Verde e Cuba. Mas como não alinhou no golpe militar do 27 de Maio, no ano de 1974 nem sabia que a água corre nos canos das casas.
A “entrevista” é uma espécie de apagador das memórias. Mas o canalha não é chamado à responsabilidade por ninguém. Porque do alto das suas aldrabices, mostra que em Angola presidente só houve e há um, João Lourenço e mais nenhum.
Hoje a TPA abriu o seu noticiário das 13 horas informando Angola e o mundo que João Lourenço é o primeiro presidente de Angola a visitar a Libéria! Coisa importantíssima que a partir de agora faz dele o campeão da paz africana (tipo Sudão e Leste da RDC), o visitador supremo e o exonerador implacável. Temos homem. Pena é que este ser prodigioso vá para casa em 2027.
* Jornalista
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