quarta-feira, 3 de abril de 2024

Angola | A Voz Sonante do Bando -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Um deputado da UNITA chamou ladrões aos deputados e deputadas do MPLA. Ladrões e gatunos aos ministros e ministras. A Presidente da Assembleia Nacional, Carolina Cerqueira, interrompeu a voz do bando e pediu-lhe respeito. Decoro. Se chama ladrões aos seus colegas da esquerda eles chamam ladrões aos seus colegas da direita e isso é intolerável na Casa da Democracia. O energúmeno continuou a insultar. Carolina Sequeira informou que se continuasse nesse registo lhe retirava a palavra. E ele rosnou: Obrigado pela ditadura! Aqui Carolina Cerqueira cometeu um erro grave.

Voz firme mas tolerante a Presidente da Assembleia Nacional disse ao insultador: O senhor deputado não sabe o que é uma ditadura. Se aqui existisse uma ditadura nem sequer abria a boca! Errado. Erradíssimo. Os sicários da UNITA sabem melhor do que ninguém o que é uma ditadura. Suspiram pelo regresso à Jamba. Sabem o que é um ditador sanguinário. Glorificam e endeusam Jonas Savimbi, o que queimou vivas as elites femininas do Galo Negro nas fogueiras da Jamba, O que fazia das esposas de dirigentes do movimento suas escravas sexuais. O que abusava das mulheres raptadas pelos seus sicários. O que assassinava todos os dirigentes da UNITA que ousavam pensar e abrir a boca.

As deputadas e os deputados da UNITA sabem melhor do que ninguém o que é viver numa ditadura. Querem impor em Angola a ditadura sangrenta da Jamba. Querem fazer de todo o país uma imensa Jamba, o supermercado da droga. A grande superfície do tráfico de diamantes e marfim. O covil dos ladrões de madeiras preciosas, sobretudo girassonde. Graças ao triunfo das FAPLA no Triângulo do Tumpo, o Cuando Cubango salvou-se. Mais um ano de guerra e não existiam elefantes nem árvores. Hoje era um deserto igual ao Namibe. 

A UNITA está a seguir na Assembleia Nacional a cartilha da extrema-direita a nível mundial. Ataques violentos aos órgãos de soberania. Transformam os parlamentos em espaços de intolerância e agressões verbais. Corroem a democracia por dentro até só ficar uma carapaça. Notícias falsas. Agitação permanente à volta da corrupção. Populismo à Savimbi, Bolsonaro ou Trump. Demagogia levada ao absurdo. 

O balão vai enchendo, enchendo até o regime democrático rebentar. Já rebentou nos países do Norte da Europa, territórios da social-democracia. Quase todos os países da União Europeia já têm a extrema-direita no poder seja engravatada ou feia, porca e má como a UNITA. Portugal e Espanha foram os últimos a chegar ao clube. Nos EUA e no Brasil já mostraram o que vem aí. Na Argentina conseguiram enganar a maioria absoluta dos eleitores.

Em Angola o perigo espreita. O episódio na Assembleia Nacional durante a discussão do Orçamento Geral do Estado é um sinal preocupante. Carolina Cerqueira esteve à altura das responsabilidades. As deputadas e deputados das outras bancadas também. Os sicários da UNITA ficaram isolados. Não passarão! Vão ser derrotados de eleição em eleição até à extinção. Haja paciência e coragem.

O Coronel Ian Breytenbach publicou vários livros sobre a agressão da África do Sul a Angola. Comandou o Batalhão Búfalo constituído por angolanos traidores. Foi ele que criou as forças da UNITA na Faixa de Caprivi e as atrelou à tropa regular dos racistas de Pretória. Sobre Abílio Camalata Numa escreveu que “o cunhado de Savimbi” na guerra colocava-se sempre a 30 quilómetros dos campos de batalha. E quando as coisas pioravam, recuava pelo menos outros tantos. 

Como todos os cobardes, Abílio Numa enveredou pelo assassinato de pessoas indefesas às ordens do chefe Savimbi. Colaborou na eliminação de militantes e dirigentes da UNITA. De Isabel Paulino, esposa de Savimbi caída em desgraça por defender a paz. Está implicado no assassinato de uma família inteira na Coutada do Ambriz, já depois do Acordo de Bicesse. Um assassino sanguinário. Em 2002 virou as costas ao Savimbi quando percebeu o fim. Disse que foi ouvir um relato de futebol! Foge sempre a tempo. Como está desempregado dos assassinatos selectivos e das fogueiras, agora escreve o que lhe vai na alma. O sicário morre de saudades do colonialismo!

Leiam o que escreveu: “Quando Portugal deixou Angola em Setembro de 1975, a situação do emprego e do salário dos trabalhadores não era dos melhores do mundo, mas era um dos melhores em África sem nenhuma comparação com a conjuntura de empregabilidade e salário actuais”. Portugal saiu de Angola no dia 11 de Novembro de 1975, algumas horas antes da Proclamação da Independência Nacional. Não foi em Setembro.

No dia seguinte ao 25 de Abril de 1974, Savimbi defendia que o Povo Angolano não estava preparado para a Independência Nacional. Por isso estava de acordo com as teses federalistas do presidente Spínola. Depois foi servir os supremacistas brancos. Apoiou politicamente a independência branca de Angola em aliança com a Rodésia (Zimbabwe) e África do Sul racistas! Ao mesmo tempo, os activistas do MPLA lutaram contra as relações de trabalho impostas pelos colonialistas. Estoiraram greves, com ou sem ocupação dos locais de trabalho, em todo o país. Todos os dias. Todas as horas. 

Os trabalhadores angolanos em 1974 não tinham direitos. A maioria nem sequer tinha salários. Recebiam aquilo que o patrão decidia pagar. Na antena da Voz de Angola fui realizador do programa A Voz Livre do Povo. O produtor e apresentador era Manuel Berenguel. O homem dos botões Artur Arriscado. Passávamos o som dos grevistas e activistas. Era uma rubrica diária daquele espaço radiofónica. O país ficou a saber quais eram as relações laborais no colonialismo. Uma espécie de escravatura encoberta e com a conivência das autoridades. Os acrtivistas do MPA em poucos meses mudaram tudo! Tirem o Numa desse filme de terror. O homem não sabe o que escreve. Pobre diabo.

Senhor Presidente da República, sabe o que é combate à corrupção? Por favor, ordene aos seus ajudantes do sector que façam cumprir a Lei 2/2012 de 13 de Janeiro conhecida por Lei do Regime Cambial do Sector Petrolífero. As petrolíferas estrangeiras ignoram essa legislação. E o Banco Nacional de Angola, parte interessada, finge que nada sabem nada vê e nada ouve. Fica calado. Conivência com o esbulho de milhares de milhões de dólares! Excelência até já se diz à boca cheia que o petróleo está a sair de Angola sem nenhum controlo! Ai Pai Querido, estás lixado!

* Jornalista

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