Inês Cardoso* | Jornal de Notícias | opinião
Matematicamente, uma das principais promessas eleitorais de Luís Montenegro é fácil de explicar. Somando ao corte de 1327 milhões de euros aplicado por decisão do Governo de António Costa um alívio adicional de 200 milhões, temos o total anunciado de 1500 milhões de redução no IRS. Politicamente, a conta é tudo menos cristalina. Da campanha à discussão do programa do Governo no Parlamento, foi prometido ao país um choque fiscal de dimensão estratosférica sem que essas contas fossem clarificadas, como nos anúncios em que as condições desfavoráveis vêm escondidas em letras minúsculas.
Numa tentativa de vitimização que só agrava a leitura do quadro político, o Executivo alega que nunca mentiu, já que o corte total nos impostos tem por referência o ano de 2023. Como se fosse normal fazer anúncios sem que estes tenham por base o cenário atual, que já vivíamos durante a campanha eleitoral. Ou fazer promessas às costas de medidas do Governo anterior.
Pedro Nuno Santos e Alexandra Leitão recorreram à mesma palavra para classificar a atuação da atual maioria. Embuste, nome masculino, é sinónimo de ardil ou logro. Mentira artificiosa ou plano para enganar alguém, descreve o dicionário. É esse carácter artificioso que assenta que nem uma luva à situação. Os silêncios e meias-verdades são a chave para se perceber o quanto foram intencionais as palavras de Montenegro. Não se trata de retórica, arte tão cara à política, mas de fazer parecer que se pretende concretizar o que, afinal, já estava no essencial concretizado.
Miranda Sarmento, cuja falta de
habilidade política é conhecida, fica com o ónus de incendiar o espaço político
e originar diligências de urgência da Oposição, quando se limitou a dizer a
verdade. A verdade, como sabemos, é conceito escorregadio
* Diretora JN
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