Mafalda Ganhão, jornalista | Expresso (curto)
Bom dia
A atravessar a quarta ronda de
protestos convocada pelo candidato presidencial da oposição Venâncio Mondlane,
o país vive dias de extrema violência e continua a contar os mortos resultantes
do embate entre os manifestantes e a polícia - são já, pelo menos, 45.
“Moçambique está num estado de terror. As forças de defesa e segurança estão a
inviabilizar a expressão da vontade dos cidadãos e as manifestações pacíficas”,
diz Quitéria Guirengane, ativista política e social da Geração 18 de março. Ao Expresso, garantiu que o Estado "está a falhar
com as pessoas" e a pressionar por uma trégua, apenas pela
preocupação de ficar bem na fotografia, dada a realização para breve do jogo de
futebol entre a seleção nacional e o Mali. A partida está marcada para
sexta-feira e conta para a qualificação para o CAN 2025.
Só nesta quarta-feira terão morrido sete manifestantes, com os incidentes mais
graves a ocorrer a Norte, nas províncias da Zambézia e de Nampula. Há já três semanas que o clima se mantém tenso, sucedendo-se
imagens de violência policial, atos de vandalismo e destruição, não sendo
de esperar acalmia, já que os protestos vão prolongar-se até ao fim de semana.
Restrições no acesso às redes sociais, perseguições, pessoas levadas à força
das suas casas ou baleadas e mortas apenas por dizerem o nome de Mondlane (que
tem estado em parte incerta a conduzir o movimento), Quitéria Guirengane diz
que a repressão tem estado a escalar e vai somando "casos
arrepiantes". O pior? “A polícia está a matar pessoas no momento em que
estamos a falar”, insiste a ativista, lembrando que o comandante geral da
polícia disse ser proibido, a partir de agora, o ato de protesto em Moçambique
- que considerou como “terrorismo urbano”. A convicção de Quitéria Guirengane,
ainda assim, é que "os cidadãos nunca estiveram tão conscientes do seu
papel de afirmação". Que o mesmo é dizer, estão dispostos a continuar.
Resta saber até quando. As eleições aconteceram a 9 de outubro, e o candidato líder da oposição não reconhece os resultados
anunciados pela Comissão Nacional de Eleições, que dão vitória a
Daniel Chapo e à Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), por mais de 70%
- uma votação inédita para o partido no poder. “Por muitas vozes que se percam,
muitas mais se erguerão", é a certeza avançada pela ativista moçambicana,
num dos vários restemunhos que o Expresso tem recolhido.
Outras notícias
À ESPERA Quase 300 dias após
as buscas policiais na mega-operação da Polícia Judiciária e o Ministério
Público na ilha da Madeira que investigam contratos suspeitos entre o Governo
Regional e empresas ligadas ao universo da construtora AFA e ao Pestana CR7, o
presidente do Governo Regional da Madeira - constuído arguido por corrupção -
continua sem ser ouvido pelo Ministério Público. Miguel Albuquerque nunca foi chamado para ser interrogado pelos
procuradores do caso, apesar de a sua defesa já o ter requerido por duas vezes.
ENGANO Esteve um dia em fuga, mas foi recapturado pela GNR esta quarta-feira em Lagoa,
no Algarve, a
CLIMA TENSO em Baku, no Azerbaijão, onde vários incidentes diplomáticos estão a marcar a COP29.
Na 29ª Cimeira do Clima, os primeiros trabalhos começaram tortos por
dificuldades em acerto de agenda entre as partes com assento na Convenção
Quadro sobre Alterações Climáticas da ONU. Em que pé estamos? A UE
continua a ser o maior doador para os países mais pobres enfrentarem a crise
climática e quer a China entre nas contas, sendo que, com Donald Trump os
Estados Unidos deverão deixar de contribuir. As negociações (e provavelmente os
percalços) decorrem até ao dia 22.
SUAVE, assim deseja Joe Biden que seja a transição de poder para
Donald Trump. No dia em que recebeu o seu sucessor na Casa Branca, foi este
o pedido feito pelo Presidente de saída, com Trump a prometer uma passagem “tão
suave como possível”. Um aperto de mão, sentados à lareira, selou um encontro
de cerca de duas horas,
CRISE Os consumidores podem estar descansados porque o surto de febre
catarral ovina não afeta humanos nem é infecciosa, mas a verdade é que o
problema, mais conhecido como doença da língua azul, já matou mais de 40 mil animais em Portugal. O
ministro da Agricultura anunciou um aumento do apoio do Estado para a vacinação
contra o novo serótipo desta doença, enquanto as associações de agricultores
pedem mais ajuda para colmatar o enorme prejuízo na exploração agropecuária em
Portugal e há queixas de atraso do Governo na prevenção.
Frases
“Lamento imenso ter de comunicar
aos senhores deputados que o valor reportado pelo Governo do PS à NATO não é
verdadeiro”
Nuno Melo, numa audição conjunta das comissões parlamentares de Orçamento
e Finanças e de Defesa, sobre o Orçamento do Estado para 2025.O ministro da Defesa Nacional acusou o anterior Governo de ter
reportado um número fictício de investimento em despesas militares e dando
conta de, por causa disso, ter um “buraco” de €300 milhões para recuperar até
2029.
Para ouvir
Neste podcast fala-se de comida e não é de estranhar que o efeito de o ouvir seja um súbito aumento do apetite. O mais recente episódio dá conta de que “os verdadeiros perigos do Martim Moniz" são “ sair de lá com a barriga cheia de boa comida”. Ora sintonize O Homem que Comia Tudo e conheça o restaurante chinês favorito de Ricardo Dias Felner.
O que estou a (e vou) ler
Da sinopse retive uma frase:
“Podem as palavras, escritas ou ditas, ter o poder de mudar o nosso presente e,
mais, dar-nos outro passado?” O empurrão que faltava para comprar “Querida
Tia”, o novo romance de Valérie Perrin, ainda
São os destaques para esta manhã, com a sugestão para que siga o desenvolvimento das notícias que marcam a atualidade no site do Expresso. Tenha um ótimo dia.
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