quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Novos protestos em Moçambique: as mortes saem à rua em dias assim

Mafalda Ganhão, jornalista | Expresso (curto)

Bom dia

A atravessar a quarta ronda de protestos convocada pelo candidato presidencial da oposição Venâncio Mondlane, o país vive dias de extrema violência e continua a contar os mortos resultantes do embate entre os manifestantes e a polícia - são já, pelo menos, 45. “Moçambique está num estado de terror. As forças de defesa e segurança estão a inviabilizar a expressão da vontade dos cidadãos e as manifestações pacíficas”, diz Quitéria Guirengane, ativista política e social da Geração 18 de março. Ao Expresso, garantiu que o Estado "está a falhar com as pessoas" e a pressionar por uma trégua, apenas pela preocupação de ficar bem na fotografia, dada a realização para breve do jogo de futebol entre a seleção nacional e o Mali. A partida está marcada para sexta-feira e conta para a qualificação para o CAN 2025.

Só nesta quarta-feira terão morrido sete manifestantes, com os incidentes mais graves a ocorrer a Norte, nas províncias da Zambézia e de Nampula. Há já três semanas que o clima se mantém tenso, sucedendo-se imagens de violência policial, atos de vandalismo e destruição, não sendo de esperar acalmia, já que os protestos vão prolongar-se até ao fim de semana.

Restrições no acesso às redes sociais, perseguições, pessoas levadas à força das suas casas ou baleadas e mortas apenas por dizerem o nome de Mondlane (que tem estado em parte incerta a conduzir o movimento), Quitéria Guirengane diz que a repressão tem estado a escalar e vai somando "casos arrepiantes". O pior? “A polícia está a matar pessoas no momento em que estamos a falar”, insiste a ativista, lembrando que o comandante geral da polícia disse ser proibido, a partir de agora, o ato de protesto em Moçambique - que considerou como “terrorismo urbano”. A convicção de Quitéria Guirengane, ainda assim, é que "os cidadãos nunca estiveram tão conscientes do seu papel de afirmação". Que o mesmo é dizer, estão dispostos a continuar.

Resta saber até quando. As eleições aconteceram a 9 de outubro, e o candidato líder da oposição não reconhece os resultados anunciados pela Comissão Nacional de Eleições, que dão vitória a Daniel Chapo e à Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), por mais de 70% - uma votação inédita para o partido no poder. “Por muitas vozes que se percam, muitas mais se erguerão", é a certeza avançada pela ativista moçambicana, num dos vários restemunhos que o Expresso tem recolhido.

Outras notícias

À ESPERA Quase 300 dias após as buscas policiais na mega-operação da Polícia Judiciária e o Ministério Público na ilha da Madeira que investigam contratos suspeitos entre o Governo Regional e empresas ligadas ao universo da construtora AFA e ao Pestana CR7, o presidente do Governo Regional da Madeira - constuído arguido por corrupção - continua sem ser ouvido pelo Ministério Público. Miguel Albuquerque nunca foi chamado para ser interrogado pelos procuradores do caso, apesar de a sua defesa já o ter requerido por duas vezes.

ENGANO Esteve um dia em fuga, mas foi recapturado pela GNR esta quarta-feira em Lagoa, no Algarve, a 300 quilómetros do local onde tinha fugido, escapando da carrinha da PSP. O homem, que era procurado na Alemanha por fogo posto, e sobre o qual recai um mandado de detenção europeu, conseguiu renovar a sua autorização de residência em Portugal graças a um equívoco, veio esclarecer o Sistema de Segurança Interna (SSI): as autoridades alemãs enganaram-se na nacionalidade colocada no mandado de captura, declarando o suspeito - que é argelino - como tendo nacionalidade marroquina.

CLIMA TENSO em Baku, no Azerbaijão, onde vários incidentes diplomáticos estão a marcar a COP29. Na 29ª Cimeira do Clima, os primeiros trabalhos começaram tortos por dificuldades em acerto de agenda entre as partes com assento na Convenção Quadro sobre Alterações Climáticas da ONU. Em que pé estamos? A UE continua a ser o maior doador para os países mais pobres enfrentarem a crise climática e quer a China entre nas contas, sendo que, com Donald Trump os Estados Unidos deverão deixar de contribuir. As negociações (e provavelmente os percalços) decorrem até ao dia 22.

SUAVEassim deseja Joe Biden que seja a transição de poder para Donald Trump. No dia em que recebeu o seu sucessor na Casa Branca, foi este o pedido feito pelo Presidente de saída, com Trump a prometer uma passagem “tão suave como possível”. Um aperto de mão, sentados à lareira, selou um encontro de cerca de duas horas, em que Biden deu os parabéns ao republicano pela vitória, saudando-o com um "bem-vindo de volta”. E se é certo que prever a política externa de Trump é um exercício de adivinhação, esta quarta-feira pôs fim ao adivinhar de muitas nomeações. Entre elas estáElon Musk, que o novo Presidente anunciou ter escolhido para chefiar um novo departamento de “eficiência governamental”, juntamente com o empresário republicano Vivek Ramaswamy. Marco Rubio será o chefe da diplomacia dos Estados Unidos.

CRISE Os consumidores podem estar descansados porque o surto de febre catarral ovina não afeta humanos nem é infecciosa, mas a verdade é que o problema, mais conhecido como doença da língua azul, já matou mais de 40 mil animais em Portugal. O ministro da Agricultura anunciou um aumento do apoio do Estado para a vacinação contra o novo serótipo desta doença, enquanto as associações de agricultores pedem mais ajuda para colmatar o enorme prejuízo na exploração agropecuária em Portugal e há queixas de atraso do Governo na prevenção.

Frases

“Lamento imenso ter de comunicar aos senhores deputados que o valor reportado pelo Governo do PS à NATO não é verdadeiro”
Nuno Melo, numa audição conjunta das comissões parlamentares de Orçamento e Finanças e de Defesa, sobre o Orçamento do Estado para 2025.O ministro da Defesa Nacional acusou o anterior Governo de ter reportado um número fictício de investimento em despesas militares e dando conta de, por causa disso, ter um “buraco” de €300 milhões para recuperar até 2029.

Para ouvir

Neste podcast fala-se de comida e não é de estranhar que o efeito de o ouvir seja um súbito aumento do apetite. O mais recente episódio dá conta de que “os verdadeiros perigos do Martim Moniz" são “ sair de lá com a barriga cheia de boa comida”. Ora sintonize O Homem que Comia Tudo e conheça o restaurante chinês favorito de Ricardo Dias Felner.

O que estou a (e vou) ler

Da sinopse retive uma frase: “Podem as palavras, escritas ou ditas, ter o poder de mudar o nosso presente e, mais, dar-nos outro passado?” O empurrão que faltava para comprar “Querida Tia”, o novo romance de Valérie Perrin, ainda em pré-lançamento. Como vou ter de esperar até que a obra chegue na volta do correio, conseguirei antes terminar de ler “O nome que a cidade esqueceu", livro de João Tordo inspirado numa história verdadeira publicada no New York Times, e que me tem feito refletir muito sobre o abandono e a solidão.

São os destaques para esta manhã, com a sugestão para que siga o desenvolvimento das notícias que marcam a atualidade no site do Expresso. Tenha um ótimo dia.

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