Deutsche Welle | Sandra Quiala | Nádia Issufo | com correspondentes
Maputo tem sido palco de intensos confrontos esta quinta-feira, 7 de novembro: pilhagens, pneus em chamas e repressão policial marcam os protestos contra os resultados eleitorais.
A capital moçambicana vive esta quinta-feira (07.11) um verdadeiro "campo de batalha" com manifestações, pilhagens e forte repressão policial em contestação aos resultados das eleições gerais de outubro. A situação, que começou com uma relativa calma nas primeiras horas da manhã, rapidamente se deteriorou com cenas de violência e confrontos entre manifestantes e forças de segurança.
No centro de Maputo, a Avenida Acordos de Lusaka foi palco de pilhagens a um centro comercial, onde dezenas de manifestantes invadiram e vandalizaram duas
Em resposta, a polícia mobilizou-se para tentar recuperar o material roubado e fez lojas, retirando televisores, telemóveis, frigoríficos e outros produtos. De acordo com um segurança do local, "mais de 100 pessoas invadiram e vandalizaram as lojas". várias detenções no local, enquanto perseguia os saqueadores e disparava gás lacrimogéneo. A cena de pilhagem e repressão deixou o local coberto de caixas abertas e produtos espalhados.
Confrontos violentos
À medida que o dia avançava, as
principais avenidas da cidade, como a Eduardo Mondlane e a Julius Nyerere,
foram bloqueadas com pneus e contentores de lixo
Vários moradores manifestaram-se das janelas batendo panelas, num gesto de solidariedade com os protestos, enquanto as forças de segurança tentavam isolar os manifestantes e evitar a sua aproximação ao centro da cidade.
Marcha dos subúrbios
Dos subúrbios, centenas de apoiantes de Venâncio Mondlane partiram do bairro de Maxaquene em direção ao centro de Maputo. Empunhando cartazes e tarjas, os manifestantes tentaram avançar, mas foram repetidamente travados pela polícia, que usou gás lacrimogéneo para os dispersar.
A cada intervenção policial, os manifestantes reorganizavam-se, tentando de novo avançar em direção ao centro, mas eram bloqueados com cordões de segurança. "A polícia não nos vai parar hoje", afirmou um manifestante, exausto e revoltado com a repressão.
Internet restrita
As restrições ao acesso à Internet em Maputo continuam pelo oitavo dia consecutivo, com dificuldades de acesso a redes sociais, o que tem dificultado a comunicação e organização entre os manifestantes.
Nos bairros da cidade, pequenas manifestações espontâneas surgem, com manifestantes a tentarem deslocar-se para o centro e a serem bloqueados por viaturas blindadas e unidades da Unidade de Intervenção Rápida (UIR). A polícia intensifica o uso de gás lacrimogéneo e balas de borracha, enquanto grupos de manifestantes recorrem a garrafões de água para limpar os rostos afetados pelo gás.
Crise
A crise em Maputo teve início com o anúncio dos resultados eleitorais a 24 de outubro, quando a Comissão Nacional de Eleições (CNE) declarou Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), vencedor com 70,67% dos votos.
Venâncio Mondlane, que obteve 20,32%, contestou os resultados e convocou uma paralisação geral e uma série de manifestações nacionais. A Ordem dos Advogados de Moçambique alertou para o risco de "um banho de sangue" e apelou a um "diálogo genuíno" para evitar mais violência.
O clima em Maputo permanece extremamente tenso, com fortes repressões policiais e manifestações em diversos pontos da cidade e bairros periféricos. O som das balas e granadas de gás lacrimogéneo ecoa pelas ruas enquanto manifestantes, exaustos, resistem e clamam por justiça e mudanças políticas.
* Sandra Quiala Jornalista e editora da Deutsche Welle (DW) | Nádia Issufo Jornalista da DW África de batalha.
Sem comentários:
Enviar um comentário