quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Angola | INDULTOS DO CHEFE PEREIRA

Artur Queiroz*, Luanda

Felizes os que não foram indultados pelo filho de enfermeiro que tem o “Chefe Poeira” na cabeça. Sabem quem era essa figura sinistra? O mais terrível repressor colonialista da população negra Luandense. Fez dos musseques campos de concentração. Prendia, torturava e matava por sadismo e racismo. Perseguiu impiedosamente a burguesia negra que sobrou do século XIX. Um negro que soubesse ler e escrever tinha como inimigo mortal o chefe de posto Poeira, braço direito do governador Agapito, expoente máximo do fascismo. O povo baptizou-o com esse nome porque a sua carrinha levantava nuvens de pó, quando perseguia as suas vítimas. 

O filho de enfermeiro pisou todas as linhas vermelhas na sua sanha destruidora do Poder Judicial, ao indultar José Filomeno dos Santos (ZENU) neste natal. O que acaba de fazer é um regresso aos anos 40 e 50, na passagem da colónia penal de Angola para “província ultramarina”. Governadores, chefes de posto e administradores, imitando os nazis de Hitler, fizeram tudo para mostrar que o território era uma imensa prisão e os seus habitantes candidatos à tortura ou à execução sumária. João Lourenço está a ressuscitar esses tempos. Mas de uma forma mais cruel e mais primária. É o que dá quando sipaios armados de chicote são promovidos a titulares do poder executivo.

José Filomeno dos Santos (Zenu), presidente do Fundo Soberano, Valter Filipe da Silva, governador do Banco Nacional de Angola, Jorge Pontes Sebastião, e António Bule Manuel foram julgados em primeira instância no ano de 2020. Dadas as funções que desempenhavam o julgamento ocorreu no Tribunal Supremo. Os arguidos estavam acusados dos crimes de peculato, burla por defraudação e tráfico de influência. Foram todos condenados mas recorreram para o Tribunal Constitucional que no seu Acórdão número 883/2024, declarou a inconstitucionalidade da sentença condenatória “por violação dos princípios da legalidade, do contraditório, do julgamento justo e conforme e do direito à defesa”.

João Lourenço indultou um cidadão absolvido, vítima de um julgamento ilegal e de prisão arbitrária. Um homem declarado livre pela última instância. Se José Filomeno do Santos (ZENU) aceitar o indulto está a colocar-se ao nível do filho de enfermeiro e dos juízes ou conselheiros que aceitam as suas ordens. Angola regride aos anos do governador Agapito e do chefe Poeira. 

Moçambique está sob fogo cerrado da Casa dos Brancos e de Bruxelas. A FRELIMO permitiu, há muitos anos, que a embaixada dos EUA em Maputo ditasse ordens ao seu governo. Bruxelas trata os moçambicanos como pedintes e o país como o seu quintal. Quem tinha dúvidas sobre as ingerências estrangeiras no processo eleitoral moçambicano, o Departamento de Estado, através de uma declaração do porta-voz Matthew Miller, esclareceu tudo ao manifestar a sua “grande preocupação com o anúncio feito pelo Conselho Constitucional de Moçambique a respeito das eleições nacionais realizadas em 9 de outubro de 2024”.

A Casa dos Brancos destaca “irregularidades significativas identificadas por organizações da sociedade civil, partidos políticos, meios de comunicação e observadores internacionais, incluindo representantes dos Estados Unidos, durante o processo eleitoral”. A entidade máxima da Justiça em Moçambique acaba de promulgar os resultados. O Conselho Constitucional ditou a última palavra. Vem um nazi da Casa dos Brancos atirar o Acórdão para o lixo! Abuso, falta de respeito, ingerência inadmissível. De Washington veio a ordem para Maputo: Diálogo. Muito diálogo e entreguem o poder ao pastor evangélico Venâncio, da internacional fascista!

Marcelo Rebelo de Sousa alinhou logo pela Casa dos Brancos. O Conselho Constitucional validou os resultados eleitorais. Daniel Chapo é o presidente da República eleito. A FRELIMO tem maioria qualificada no Parlamento. Elegeu os governadores das dez províncias. Governa as principais autarquias moçambicanas. O presidente português fez esta declaração: “Tomei conhecimento e recomendo o diálogo”.

O Tio Célito não felicitou o seu homólogo Daniel Chapo pela eleição. Não felicitou a FRELIMO pela retumbante vitória. Este senhor gaba-se por ser filho de governador fascista e considera Moçambique a sua segunda pátria. Em Portugal só o Partido Comunista felicitou Chapo e FRELIMO pela vitória eleitoral, logo quando a Comissão Nacional de Eleições publicou os resultados. Mas a RTP mostrou ser o canal oficial do pastor evangélico, candidato pela internacional fascista à Presidência da República de Moçambique.

O canal do Estado Português (RTP3) chamou dois professores universitários para comentarem os resultados oficiais proclamados pelo Conselho Constitucional. Eu estava a beber uma garrafinha de tinto do Vale do Bero (Namibe) e pensei assim: Um vai defender as posições da internacional fascista e a outra o contraditório. É o que dá beber demasiado. Um “professor”, Fernando Cardoso, entrou a matar com palavreado de retornado ressabiado. Até recordou a golpada do 7 de Setembro de 1974 em Maputo. Muito despachado disse que há imensas provas da fraude eleitoral! Quem ganhou foi o Venâncio Mondlane e mais nada! O Conselho Constitucional não presta, é coisa de pretos.

Este retornado raivoso (o meu amigo Machai chamava-lhe branco burro) foi enviado pelo Tio Célito. Avançou a “professora” Sheila Khan. Eu disse para a garrafa: O retornado vai levar poucas da menina mistiça! 

A senhora entrou a pés juntos e fez penalti: “A FRELIMO é um grupinho, não pode governar Moçambique. Perdeu as eleições”. O “jornalista” fez uma vénia aos dois e eu disse para a garrafa de Bero: Vou desligar o telefone. Estes cabrões fascistas e colonialistas ainda me convidam para o contraditório” E desliguei.

A meio ano dos 50 anos da Independência de Moçambique os fascistas portugueses alinham entusiasmados com a internacional fascista para repor o colonialismo no país. João Lourenço quer o mesmo para Angola. Até 2027 vamos ter muito que lutar.

* Jornalista

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