quinta-feira, 27 de março de 2025

Membros do regime guineense insultados na diáspora

Iancuba Dansó | Deutsche Welle

Membros do regime de Sissoco Embaló têm sido alvo de protestos de guineenses na Europa, em reação à crise política. Um embaixador e um membro do governo foram confrontados fisicamente e insultados na Suíça e em Portugal.

É uma situação inédita na história da Guiné-Bissau: pela primeira vez, membros e apoiantes de um regime guineense são confrontados no estrangeiro por cidadãos descontentes com a situação sociopolítica do país.

A tensão reflete o descontentamento crescente da diáspora guineense, que exige explicações sobre a violência e violações de direitos humanos no país.

Em menos de uma semana, duas figuras do regime do Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, foram vítimas da fúria dos cidadãos guineenses que vivem na Europa.

Depois de atirarem um balde de farinha de trigo contra o embaixador Hélder Vaz, na Suíça, no passado sábado (22.03) foi a vez do secretário de Estado da Juventude, Lesmes Monteiro, ser confrontado em diferentes momentos e quase agredido fisicamente, em Portugal.

Marius Biague, cidadão guineense residente em Portugal e um dos que confrontaram o secretário de Estado da Juventude, em Lisboa, disse à DW que a posição é para manter.

"Decidimos que, enquanto eles violentam o povo da Guiné-Bissau, quando vêm para a Europa, também serão confrontados para nos justificarem o porquê de tanta violência contra aquele povo, porque é a primeira vez na história que o filho da Guiné-Bissau maltrata as pessoas desta forma", justifica.

Crise política, raptos e espancamentos

A longa crise política, o rapto e o espancamento de cidadãos na Guiné-Bissau têm sido apontados como algumas das razões para não dar sossego ao regime e aos seus apoiantes.

Para Carlos Sambú, político e defensor assumido do Presidente Umaro Sissoco Embaló, o comportamento dos compatriotas na Europa é uma "manobra" para desviar a atenção dos feitos positivos da atual liderança da Guiné-Bissau.

Sambú diz que a violência não é o caminho, "porque não se combate a violência usando violência. O método de combate à violência é fazer bem e apresentar argumentos. Quem usa violência para combater a violência é muito mais violento do que alguém que ele acusa da prática de violência".

Reforço da segurança de diplomatas e governantes

Esta semana, o Governo guineense pediu às autoridades portuguesas o reforço da segurança de diplomatas e governantes da Guiné-Bissau em Portugal.

No entanto, Marius Biague, um dos mais descontentes com a violação dos direitos humanos na Guiné-Bissau, diz que a confrontação dos membros do regime só vai parar mediante uma condição: "Que parem de violentar o nosso povo, que acabem com os raptos e os espancamentos."

"É só isso que nós estamos a pedir, estamos cansados. Temos só as nossas vozes para defender os nossos irmãos, o povo da Guiné-Bissau", sublinha.

Para o sociólogo Mamadu Alimo Djaló, a Guiné-Bissau perdeu, nos últimos cinco anos, todos os valores e princípios da construção do Estado e da harmonia entre os cidadãos. Ainda assim, Djaló não defende a violência como forma de resolver as diferenças e pede calma.

"Estamos muito perto do fim e da viragem [da situação política] e, quanto mais paciência tivermos nos tempos que nos restam para as eleições e para compreendermos qual é o quadro político que vamos ter, melhor ainda", apela.

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