AbrilAbril, editorial
A extrema-direita não medra apenas no terreno das políticas que fomentam a pobreza, das promessas não cumpridas ou da corrupção, ela alimenta-se também do oportunismo e dos que navegam ao sabor da corrente da chamada opinião pública e publicada.
A atitude de José Rodrigues dos Santos na entrevista a Paulo Raimundo, no Telejornal da passada segunda-feira, na qual o secretário-geral do PCP não teve direito a manifestar a sua opinião sobre a situação política e social, ao contrário do que aconteceu com outros líderes partidários entrevistados na televisão pública, no quadro das eleições legislativas de 18 de Maio, gerou uma onda de críticas.
Mas, alguns críticos conseguiram justificar este «desonesto exercício de manipulação», como lhe chamou o PCP, com a posição dos comunistas relativa à guerra da Ucrânia. Uma posição que os coloca, rigorosamente, no mesmo patamar daqueles que se insurgem contra a violação de mulheres, ao mesmo tempo que falam das mini-saias ou das roupas arrojadas que elas usam, para justificar as atitudes violentas dos homens violadores.
Sobre a questão da Ucrânia, não deixa de ser curioso que ninguém questione o facto de os responsáveis dos partidos políticos que manifestaram solidariedade com a delegação parlamentar ucraniana ou os que, no âmbito de uma delegação da Assembleia da República (PS, PSD, IL e BE), se deslocaram a Kiev e participaram numa sessão solene no parlamento ucraniano, não serem confrontados por não terem tido uma única palavra de solidariedade para com os partidos ucranianos proibidos. São mais de uma dezena, cujos dirigentes e militantes estão impedidos de qualquer actividade, do centro à esquerda, incluindo o maior partido da oposição, enquanto os partidos da extrema-direita não viram qualquer restrição à sua actividade.
Um dos partidos ilegalizados, a Plataforma de Oposição-Pela Vida, ficou em segundo lugar nas eleições de 2019, com 13,05% dos votos e 43 deputados. Para além desta força política, foram também ilegalizados os partidos Sharia, Nosso, Bloco de Oposição, Oposição de Esquerda, União das Forças de Esquerda, Estado, Partido Socialista Progressista da Ucrânia, Partido Socialista, Socialistas (que em Fevereiro de 2022 festejaram a maioria absoluta de António Costa), Bloco de Volodymyr Saldo e o Partido Comunista Ucraniano.
Já aqui sublinhámos e reiteramos, que a extrema-direita, populista, racista e xenófoba, não medra apenas no terreno das políticas que fomentam a pobreza, dos políticos que não cumprem o que prometem ou da corrupção. Ela alimenta-se também da incoerência e do oportunismo político, nomeadamente dos que, politicamente, navegam ao sabor do vento e da corrente da chamada opinião pública e publicada.
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