segunda-feira, 7 de abril de 2025

Angola | Banditismo Político de Estimação -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda >

Agostinho Neto e Mobutu assinaram um acordo de paz em 22 de Julho de 1977. No dias 19 e 20 de Agosto o Presidente da República Popular de Angola visitou Kinshasa. Estava garantida a normalidade no Norte de Angola. Ao mesmo tempo o líder angolano pôs em marcha uma política de clemência que lançou um véu de esquecimento sobre todos os crimes cometidos contra o Povo Angolano na Guerra de Transição. Foram especialmente beneficiados os dirigentes e militantes da FNLA, que fizeram a guerra contra Angola por procuração passada pelo ditador zairense e a Casa dos Brancos. 

O Presidente José Eduardo dos Santos prosseguiu a política de clemência para com os dirigentes e militantes da UNITA, que combatiam contra Angola ao serviço do regime racista de Pretória. Também foi abrangido Daniel Chipenda que acabou por abraçar a carreira diplomática. Pediu a Jonas Savimbi que aderisse ao regime democrático quando iniciou a rebelião armada contra a democracia representativa acabada de nascer. Ofereceu-lhe o lugar de Vice-Presidente da República em nome da paz e da reconciliação Nacional. Nunca se tinha visto nada igual no mundo moderno!

Em Junho de 1975 fiz a cobertura da Cimeira de Nakuru, última tentativa de levar FNLA e UNITA a abandonarem os interesses de seus amos e assumirem as responsabilidades no processo de descolonização, bem descritas no Acordo de Alvor. Norberto de Castro nessa altura já era o jornalista que tratava da comunicação social da UNITA, financiada pelos colonos ricaços, que defendiam a independência branca na órbita do regime de apartheid, da África do Sul. Antes de dar esse passo era o realizador, produtor e apresentador do programa-âncora da Emissora Oficial de Angola (hoje RNA).

Norberto de Castro dedicou uma página inteira, no jornal “Kwacha”, à delegação do Galo Negro, chefiada por Jonas Savimbi. Uma edição preciosa porque nos permite hoje avaliar a sanha assassina do líder da UNITA. Dessa delegação fazia parte Jorge Sangumba, secretário das relações exteriores do movimento. Foi assassinado cruelmente por Savimbi!

Fernando Wilson dos Santos, chefe da delegação da UNITA em Luanda. Membro do Governo de Transição. Assassinado cruelmente por Savimbi. O assassino e criminoso de guerra também assassinou a esposa de Wilson dos Santos, Helena Jamba Chingunji.

António Vakulukuta chefe das delegações da UNITA no Cunene e Huíla. Um intelectual de grande prestígio.  Convivi com ele em Grenoble. Assassinado por Jonas Savimbi à paulada. Ainda tentou fugir mas foi preso na Namíbia pelos racistas sul-africanos e entregue ao criminoso de guerra. 

Entre os membros da delegação da UNITA na Cimeira de Nakuru fugiram a tempo da sanha assassina de Jonas Savimbi Tony da Coita Fernandes e Jorge Valentim. Continuaram na seita João Vaihekeni, Ernesto Mulato, na época membro do bureau político da UNITA, Marques Cacumba, Tenente Sabino e Isalino Chitali. Ernesto Mulato escreveu o  livro “Do Bembe a Luanda”. Aguardo que publique um livro onde conta todos os assassinatos de Jonas Savimbi. Ele sabe tudo sobre os extermínios na Jamba, inclusive as mulheres e crianças atiradas vivas para as fogueiras.

A História regista partidos e líderes partidários que tiveram comportamentos idênticos à UNITA e Jonas Savimbi. Começo com o regime colaboracionista com o nazismo que foi a França de Vichy. O líder, Marechal Pétain, após a libertação do jugo nazi, foi julgado por traição mas o General De Gaulle comutou-lhe a pena para prisão perpétua. Os membros do governo da França de Vichy foram julgados e condenados, por crimes contra a Humanidade. O Savimbi lá do sítio (Pétain) morreu na prisão.

Hitler não esperou pelo julgamento, suicidou-se. Os seus ajudantes da estirpe de Samakuva, Numa, Multato ou Paulo Lukamba também se suicidaram. Os outros foram condenados à morte ou a prisão perpétua no Tribunal de Nuremberga. 

O Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (Partido Nazi) foi banido da Alemanha. O Código Penal alemão proíbe divulgar propaganda nazista, como suásticas, uniformes da SS e fazer declarações sobre a ideologia nazi. O equivalente em Angola, a UNITA, até tem deputados na Assembleia Nacional! Não existe nada igual no mundo.

Na Itália, o Partido Fascista Republicano (PRF) liderado por Benito Mussolini (duce), foi dissolvido em 1945 e banido em 22 de Dezembro de 1947.  O ditador foi morto quando tentava fugir para a Suíça, na hora da derrota do regime nazi alemão e seus satélites. A UNITA, equivalente em Angola ao PRF italiano, continua a sabotar alegremente o regime democrático, impunemente. E João Lourenço reabilitou o assassino e criminoso de guerra Jonas Savimbi. Até ajudou a criar uma fundação com o seu nome.

A Falange Espanhola do ditador Franco foi extinta. Os franquistas continuam no poder em Espanha mas o fascismo espanhol escondeu as garras. Ao contrário da “Falange” angolana (UNITA) que continua o seu percurso de destruição do regime democrático angolano.

O partido de Salazar, União Nacional, foi banido no dia 25 de Abril 1974. Todos os seus dirigentes foram banidos. Estão de volta e em força. A UNITA nunca foi banida. É o partido líder da oposição em Angola. Só pode ser um terrível equívoco. Às deputadas e aos deputados da Assembleia Nacional recordo que em 1978, os seus colegas portugueses aprovaram a Lei 64/78, de 6 de Outubro, que no seu artigo primeiro diz: “São proibidas as organizações que perfilhem a ideologia fascista”. Do que estão à espera para fazer o mesmo em Angola?

A UNITA perfilha a ideologia fascista. Foi criada pelo regime fascista português. Serviu a tropa de ocupação em Angola durante o regime colonialista e fascista. É uma aberração. 

O fascismo e o populismo da UNITA revelam-se em afirmações como esta: “Rejeitamos categoricamente participar em galas festivas enquanto compatriotas morrem de fome e de doenças evitáveis como a cólera, os hospitais continuarem sem fundos de funcionamento e milhares de crianças continuarem a disputar migalhas nos contentores de lixo”. A UNITA e seus dirigentes são responsáveis pela miséria em Angola. Na África do Sul a reconciliação nacional fez-se com o partido dos racistas? No Zimbabwe a reconciliação fez-se com o partido racista de Iam Smith? Na Namíbia a reconciliação foi feita com os ocupantes racistas de Pretória? Não. Em Angola também não pode fazer-se a reconciliação com os restos desse regime.

* Jornalista

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