< J. Bazeza, Luanda >
Boca Azul não é de muita fala. Sabe ouvir e fazer a sua leitura. Às vezes de baixo para cima. Outras vezes da direita para a esquerda. Procura as novidades palpitantes da República da Sanzala. Quando encontra uma, logo partilha com o Mafioso. Ultimamente nem com uma lanterna encontrava notícias dignas desse nome. Já estava a desanimar quando ficou de papo cheio. O soba grande fez um despacho presidencial ordenando à kingila de desvios dos impostos, o pagamento de milhões ao Riquinho.
Isto é manchete! Imediatamente partilhou a novidade com o amigão Mafioso. Ficou logo arrependido. Porque na República do Muceque, o Riquinho só fazia uma refeição quando conseguia enganar amigos, vizinhos, desconhecidos e distraídos. Um dia enganou os dirigentes do partido que é o povo e o povo é o partido. Meteram-lhe milhões nas mãos para ser intermediário dos intermediários intermédios. O pobrito virou milionário rapidamente, quando fizeram o komba do socialismo.
João das Medalhas fez muitos negócios com ele, fifti-fifti. Milhão para ti milhão para mim. O Riquinho não comprou prédios. Não comprou mansões. Não se lançou no agronegócio. Torrou o kumbu até ao último milhão.
Pobrito, pobrito, foi ao partido buscar mais kumbu fácil, mas a crise dos desvios esvaziou os cofres. Arranjaram um intermediário mais barato. O homem bravou e gritou: O MPLA deve-me milhões. O Governo deve-me biliões. Ninguém o levou a sério.
Qual é então a maka? – Perguntou Mafioso. Completamente descapitalizado, pobrito de novo, Riquinho lembrou-se que tinha dado emprego ao ministro das polícias, o Lobisomem. Deu-lhe casa. Deu-lhe carro. Deu-lhe damas. Deu-lhe viagens. Deu-lhe milhões.Agora que és ministro, paga! Ou mostro filmes e fotos de quando andávamos no xéhenhé com as catorzinhas.
O Lobisomem duvidou e o Riquinho fez um miango dos antigos. Aí o soba grande mandou pagar mais uns milhões ao pobrito que foi riquito mas torrou os milhões. O chefão e o Lobisomem pagam aos traidores dos seus camaradas. Enchem a boca de dinheiro a um chantagista. Se depois de 2027 forem todos preso, não se admirem.
Para desanuviar o ambiente, Mafioso quis saber do estado de saúde dos jornalistas que tiveram um acidente quando iam para um serviço. Eram transportados num carro sucata do governo da província. O manda chuva e os seus sipaios viajavam num carrão com ar condicionado, que passa pelos buracos silenciosamente.
Boca Azul entendeu. Sabe que na República da Sanzala, jornalista que é jornalista não pode falar. Não pode mostrar. Não pode escrever nada com base na verdade dos factos. Ninguém pode revelar o que aconteceu. Leva logo uma cabeçada com a careca do Oliveira rançoso e uma bassula do Caldas de fruta podre. Só há espaço para propaganda. Para bajular o chefe e os seus ajudantes.
No acidente estavam jornalistas do diário público da Sanzala. Estão lixados. O Oliveira rançoso e o Caldas de fruta podre exigiram que a empresa cortasse o seguro de saúde a todos os trabalhadores. Menos aos administradores, directores, famílias e amigos. Esses têm acesso às clínicas privadas na Sanzala e no exterior. Assim sobra dinheiro para pagar ao Riquinho e a todos os parasitas que fazem parte da corte do sob grande. Cometem o crime de injustiça social. Vão pagar!
Mafioso perguntou ao Boca Azul: A administração de um órgão de comunicação social retira o seguro de saúde aos trabalhadores, inclusive aos jornalistas, e o ministro e seu secretário de estado batem palmas?
O que posso responder, meu amigão, é que aqui na República da Sanzala, muitos administradores não sabem o que é a pessoa humana. Administrações selvagens. A mentira comparada com a decência fica sempre a ganhar.
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