sábado, 24 de maio de 2025

Portugal | FOI NA LOJA DO MESTRE ANDRÉ

Pedro Ivo Carvalho* | Jornal de Notícias, opinião

Como na celebrizada novela gótica, também André Ventura vive a fase “Dr. Jekill and Mr. Hyde”, condição da personalidade que coloca em confronto o político ressentido com pensamentos obscuros e o clarividente e ponderado estadista que enverga a fatiota de líder da Oposição. Afinal, o que vai fazer o presidente do Chega com tanto poder nas mãos? Ninguém sabe, porque as dores de crescimento do partido colocam Ventura nesse limbo estratégico. Deve renegar o passado, debilitando a confiança do exército de descontentes na base do seu eleitorado, ou evoluir para uma dimensão mais institucional, abocanhando ao centro-direita o que ainda não conseguiu? O Chega já não é um partido antissistema. Está nele metido até ao pescoço, ainda que a sua notória falta de quadros seja o maior óbice a um salto seguro para a piscina dos grandes. De resto, não foi por acaso que Ventura falou em resgatar independentes para um Governo-sombra. Entre os seus pares, as opções são assustadoramente fracas. Não faltarão, porém, desavindos esfomeados.A fraqueza estrutural do partido de Ventura não impedirá, todavia, que, já nas autárquicas, consiga conquistar câmaras e lugares de vereação. De novo, o nível de exigência não é elevado, mas isso é o que menos importa. Qualquer um pode candidatar-se a um lugar no site criado para o efeito. Na loja do mestre André, a lógica de poder é não haver lógica alguma. O que torna ainda mais inquietante lidar com este “Dr. Jekill e Mr. Hyde”. Talvez a única forma de o vencer seja mesmo encarando-o, obrigando-o a ser consequente em cargos de responsabilidade política. Provando, dessa forma, que tem tantos (ou mais) vícios e falhas como os demais.    

*Diretor adjunto

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