quarta-feira, 4 de maio de 2011

ACORDO ENTRE FATAH E HAMAS ASSINADO NO CAIRO




Ana Fonseca Pereira - Público

As facções palestinianas deram o seu aval ao acordo que visa enterrar a violenta disputa entre o Hamas e a Fatah, um entendimento essencial ao plano para o reconhecimento do Estado da Palestina, mas que Israel diz ser “um golpe muito duro” no (estagnado) processo de paz. O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, pediu ao presidente Mahmoud Abbas que renegue a reconciliação.

O documento foi rubricado no Cairo, dias depois de o Egipto ter anunciado o inesperado acordo entre a Fatah, de Abbas, e o movimento islamista que desde 2007 controla Gaza. “Assinámos o acordo apesar de termos várias reservas. Mas queremos contribuir para um mais alto interesse nacional”, disse Walid al-Awad, dirigente do Partido do Povo da Palestina (PPP), uma das 13 facções signatárias. Nem o presidente da Autoridade Palestiniana nem o líder do Hamas, Khaled Meshaal, assistiram à assinatura, apesar de estarem ambos no Cairo, mas espera-se que troquem hoje um aperto de mão na cerimónia que o novo regime egípcio preparou para selar o seu primeiro sucesso diplomático.

O entendimento – quase quatro anos depois da guerra entre as duas facções e após ano e meio de negociações infrutíferas – prevê a formação de um governo de independentes, que terá por missão a organização de eleições legislativas e presidenciais “no prazo de um ano”. Os dois movimentos decidiram também a libertação dos presos políticos e a criação de comissões para lidar com os assuntos mais polémicos: a unificação das forças de segurança (após as eleições) e a reestruturação da Organização de Libertação da Palestina (OLP), que o Hamas integra.

Abbas insiste que a reaproximação não fecha a porta a negociações de paz, suspensas desde Setembro, tanto mais que será a OLP, e não o novo executivo, a tutelar o processo.

Declaração de independência

Esta não é, no entanto, a visão de Netanyahu. “Como podemos negociar a paz com um governo cuja metade apela à destruição de Israel e até louva um assassino em massa”, disse, referindo-se ao repúdio com que o Hamas recebeu a notícia da morte de Bin Laden. E, já depois de ter suspendido a transferência dos impostos para a Autoridade Palestiniana, pediu a Abbas para “cancelar imediatamente o acordo e escolher o caminho da paz” – sugestão que a Fatah disse ser uma “inaceitável ingerência” israelita.

Mas mais do que a presença do Hamas no Governo, o que preocupa Israel é o peso que a reconciliação terá no plano de Abbas para que a maioria dos países da ONU aprove, na Assembleia Geral de Setembro, a declaração unilateral de independência palestiniana.

O fim da cisão é um passo determinante para a credibilidade da iniciativa que, lembrou Carlo Strenger no jornal Ha’aretz, “irá provavelmente avante” se Abbas conseguir convencer o Hamas a reconhecer Israel. Este reconhecimento (segundo as fronteiras de 1967) seria um revés para Netanyahu. Para o evitar, lança hoje e amanhã na Europa uma ofensiva diplomática para alertar os aliados dos riscos de iniciativa para a paz na região.

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