ANTONIO TOZZI, Miami – DIRETO DA REDAÇÃO
Miami (EUA) - O juramento de Hipócrates não pode ser cumprido nos países onde o povo está rebelando-se contra os dirigentes que se perenizam no poder. Em meio às escaramuças, várias mortes vão sendo registradas na Líbia, na Síria e no Bahrein, os países nos quais o povo quer derrubar os que se encontram no poder.
Na Síria, por exemplo, grupos de direitos humanos denunciam que as tropas governamentais já mataram mais de 800 pessoas, simplesmente um contingente de sírios que não se conforma em ter aquela importante nação do Oriente Médio subjugada pelo clã Assad há mais de 50 anos – antes Hafez, agora o filho Bashar – e clamam por mudanças.
Os rebeldes líbios capitalizaram a insatisfação da população desta nação do Norte da África com o despotismo de Muammar Khadafi e seus filhos que transformaram a Líbia num parque infantil onde eles comandam os brinquedos e as brincadeiras. E, quem não quiser participar do jogo, sofre as consequências.
A OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) enviou tropas para defender os rebeldes e depor Khadafi, municiador de atentados que custaram centenas de vidas de pessoas inocentes em outros países, além de massacrar seu próprio povo, ao mesmo tempo em que amealha fortunas depositadas em paraísos fiscais e em bancos seguros. E vem sendo combatida por isto, enquanto o governo americano vem sendo criticado internamente por não intervir mais decisivamente neste conflito.
No sultanato do Bahrein, a inquietação popular também vem sendo sufocada pelas tropas leais ao governo, assim como no Iêmen. Estes países, aliados dos ocidentais, enfrentam os mesmos problemas de Líbia e Síria, inimigos do Ocidente. Ou seja, todos agem da mesma maneira, usando a mão forte para suprimir qualquer oposição.
No entanto, o que causa mesmo indignação é o comportamento adotado por todos estes governos ditatoriais em relação aos profissionais de saúde. Já não bastasse eles colocarem os exércitos e as forças paramilitares contra seus próprios cidadãos, ainda têm a desfaçatez de proibir o pessoal médico local de dar atendimento aos feridos, acusando-os de traidores. E aqueles que ousam desafiá-los acabam engrossando a lista de vítimas.
Ou seja, todos são pressurosos em condenar os EUA e, em menor grau, os europeus pelas atrocidades cometidas.Porém, convenientemente se esquecem de criticar os tiranetes de plantão, porque isto não dá popularidade. O negócio é descer a lenha nos ocidentais – muitas vezes, merecidamente -, mas omitir-se nas condenações dos orientais. Os argumentos variam de “isto é da cultura deles” – quando se trata de desrespeito às mulheres e aos homossexuais – ao de “defesa da pátria” – no caso de combater militarmente a população insatisfeita que exige mudanças.
O mesmo receituário é seguido pela China, que vem massacrando os dissidentes com temor de os ventos da Primavera Árabe soprarem mais forte na grande nação asiática. No entanto, críticas mais veementes contra os dirigentes chineses estão fora de cogitação, tanto da parte da direita – interessada na mão-de-obra barata disponível – como da esquerda – ainda encantada com a (suposta) revolução cultural de Mao Tsé tung.
Ou seja, críticas e condenações aos massacres também obedecem à cartilha ideológica. Os que matam os nossos são cruéis, mas quando matamos somos defensores da liberdade. E pobre dos países onde nem se pode sequer prestar atendimento aos feridos. Que Alá tenha pena deles.
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