terça-feira, 26 de julho de 2011

Bolívia: ACAMPAMENTO EXIGE SENTENÇA PELO MASSACRE REPRESSIVO DE 2003




DIÁRIO LIBERDADE

Diário Liberdade - Desde faz três semanas dúzias de pessoas permanecem na Corte Suprema de Justiça, em Sucre, capital constitucional da Bolívia. A repressão contra os protestos pela entrega do gás ao Chile deixou 67 mortes e mais de 400 pessoas feridas entre setembro e outubro de 2003.

As e os acampados são vítimas, mas também estudantes, “ponchos rojos”, a Assembleia de Direitos Humanos e, enfim, toda classe de movimentos e pessoas em luta por que seja feita justiça.

O Diário Liberdade falou em Sucre com Jesús Solís, Coordenador Nacional do Comitê Impulsor pelo processamento das e dos responsáveis pelo massacre, quem apontou que “não se quer dar a sentença. Conforme o procedimento penal, um processo como este demora no máximo dois anos. Já estamos além desse prazo”.

Contudo, apenas cinco dos 16 altos cargos imputados responderam das suas responsabilidades neste processo. São cinco generais do alto mando militar e dois ministros do governo do então presidente Gonzalo Sánchez de Lozada. Os e as outras, igual do que o ex-presidente, fugiram do país, alguns com a ajuda dos EUA.

Solís aponta que “conseguimos demonstrar que se reprimiu com a intenção de matar, não de ferir, dado que 80% das pessoas mortas apresentavam impactos de bala em cabeça ou peito. A culpabilidade está demonstrada, agora há que ditar sentença”.

Protestos e repressão

Os protestos de 2003, em setembro e outubro, tiveram na sua origem a entrega do gás boliviano ao Chile. Jesús Solís explica que González de Lozada “queria vender o gás boliviano a um preço indigno, através de um contrato milionário que tinha conseguido. Os movimentos sociais estavam em contra e mobilizaram-se” para que o gás revertesse “num benefício” para a Bolívia.

Os protestos começaram em Coroico, em setembro. Na sequência a repressão deixou três mortes: “uma menina de oito anos que estava na janela da sua casa, um rapaz de 17 e uma pessoa maior” –explica Solís. El Alto mobilizou-se então contra a repressão, mas o governo de Sánchez de Lozada só soube responder com maior brutalidade, deixando 67 pessoas mortas e 400 feridas, entre as quais crianças. “Muitas das pessoas mortas estavam na sua casa, onde não havia mobilização. O que sim havia era um estado de amedrontamento de Sánchez de Lozada”.

Um milhão de assinaturas

Solís explicou as dificuldades que o processo enfrentou: “Na Bolívia somente se pode processar um alto dignitário com a aprovação do congresso”. Isso só se obteve “em outubro de 2004, através de mobilizações” e após juntar um milhão de assinaturas pela causa (num país de apenas 10 milhões de habitantes).

Além desta campanha, Jesús Solís destacou que foram feitas inúmeras marchas e vigílias, assim como a campanha de envio de cartas à CSJ e ao governo dos EUA: “Enviamos 100,000 cartas à CSJ e 40,000 ao governo dos EUA pela extradição de Sánchez de Lozada”.
Fugitivos e fugitivas: Bem-vindos aos Estados Unidos!

Apenas cinco das 16 pessoas imputadas no processo estão pendentes de sentença. As outras fugiram. O presidente responsável pela chacina, Gonzalo Sánchez de Lozada, fugiu a 17 de outubro de 2003 para os EUA, com dois dos seus ministros. “Em 2005, o governo dos EUA recebeu o pedido do governo boliviano para a sua extradição, mas não houve resposta. Tínhamos a esperança de que com Obama fosse diferente, mas continuamos sem saber nada” –laia-se o Coordenador do Comitê Impulsor. Contudo, termina com contundência: “Ganhamos isto. Agora temos o repto de conseguir a extradição dos outros responsáveis”.

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