CORREIO DO MINHO - LUSA
O ex-vice-cônsul de Portugal Adelino Pinto, suspeito de cometer um golpe contra a Igreja Católica brasileira, disse à Lusa que os seus advogados estão a tratar do regresso ao Brasil e afirmou-se “pronto” para prestar declarações ao Ministério Público português.
“Os meus advogados estão a tratar precisamente (do regresso) com a delegacia de Porto Alegre”, disse Adelino Pinto, que pretende esclarecer um caso em que é suspeito de ter obtido ilegalmente 2,5 milhões de reais (1,07 milhões de euros) da Arquidiocese de Porto Alegre, do estado brasileiro de Rio Grande do Sul.
Quanto ao inquérito pendente no Departamento de Investigação e Ação Penal, de Lisboa, afirma-se “pronto” e “preparado”.
“Ainda não fui convocado (para prestar declarações). Estou à espera. Estou a aguardar com ansiedade, para poder clarificar a situação toda”, frisou.
Adelino d’Assunção Nobre de Melo Vera-Cruz Pinto, assessor principal da carreira técnica superior do MNE português, quer “clarificar” o seu papel num alegado desvio de mais de 1 milhão de euros quando, segundo a Arquidiocese de Porto Alegre, o ex-vice-cônsul se ofereceu, em nome do Governo de Portugal, para intermediar o contacto com uma organização não-governamental (ONG) belga que pagaria o restauro de duas igrejas de origem portuguesa.
A Arquidiocese diz que depositou uma caução na conta do ex-vice-cônsul, mas a doação nunca chegou. Segundo as investigações, o dinheiro foi desviado para outras contas no Brasil e no estrangeiro.
“Eu e os padres fomos enganados”, vincou o ex-vice cônsul, entretanto exonerado de funções, à Lusa.
Adelino Pinto, nomeado a 20 de janeiro de 2010 para o cargo de vice-cônsul de Portugal em Porto Alegre, acusa Teresa Falcão e Cunha, alegada representante da referida ONG belga, de ter ficado com o dinheiro e que a sua intervenção foi apenas de “intermediário”.
“Frisei sempre que estava a atuar como Adelino Pinto, não como vice-cônsul”, acrescentou.
Para a Arquidiocese de Porto Alegre, Adelino Pinto interveio no processo em nome das autoridades portuguesas.
“Eu fui enganado pela dra. Teresa Falcão e Cunha. Tive um processo disciplinar no MNE porque abandonei o posto. No dia em que percebi que ela não queria devolver o dinheiro, meti-me no avião e vim a Lisboa ter com a pessoa que me apresentou a dra. Teresa Falcão e Cunha”, explicou.
Essa pessoa foi Teresa Monteiro, filha de Ramiro Ladeiro Monteiro (fundador do Serviço de Informações e Segurança) e para Adelino Pinto agora em causa está o “mal-entendido” com os padres brasileiros.
“Os padres querem receber o dinheiro. É lógico. O dinheiro é deles, eles têm que receber. Eu compreendo isso, mas fomos ambos enganados, e agora, enfim, temos que fazer todos os esforços para serem ressarcidos desse dinheiro”, que, reafirma, é Teresa Falcão e Cunha que tem.
O ex-vice-cônsul disse que nunca mais viu Teresa Falcão e Cunha, com quem já trocou vários “email”, e esta ter-lhe-á garantido que até ao final do ano o dinheiro será devolvido.
O desvio do dinheiro começou em março e devido às suspeitas de envolvimento no desvio, a Inspeção-Geral Diplomática e Consular do MNE exonerou-o do cargo e remeteu a 08 de abril à Procuradoria-Geral da República o expediente relativo ao processo disciplinar, que foi enviado para o DIAP de Lisboa, que está a investigar o assunto.
“Fui muito crédulo”, concluiu.
Até ao momento, a Lusa não conseguiu contactar com Teresa Falcão e Cunha.
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