domingo, 28 de agosto de 2011

RAPIDINHAS DO MARTINHO – 34




MARTINHO JÚNIOR

RISCOS ACRESCIDOS PARA ÁFRICA

No momento em que em nome da “democracia” a situação na Líbia se torna num autêntico banho de sangue, os riscos para África aumentam por que é fácil, com a porosidade das fronteiras, as fragilidades institucionais, a rapidez das comunicações, das ligações e dos contactos e as múltiplas pressões que surgem do exterior do continente, fazer alastrar para ocidente o “arco de crise” que aparentemente se circunscreve ao Médio Oriente, conforme a nossas análises anteriores.

Seguir a trilha da fuga de Kadafi é agora o pretexto para as ingerências, ao mesmo tempo que na Líbia aos esforços de guerra se seguem os esforços dos serviços de inteligência associados aos primeiros socorros “humanitários” ao país.

O Obama é já, com o banho de sangue da Líbia, mais um criminoso a juntar-se a George Bush e a Tony Blair, entre aqueles criminosos que jamais serão julgados, nem pelo TPI, nem por qualquer outro tribunal.

De entre as suas maiores culpas: esquecer-se por completo de suas remotas raízes africanas e não tentar ao menos ouvir aqueles que em África propunham o diálogo e uma via pacífica para a solução do conflito líbio, que acabou aliás por ser estimulado também pelos Estados Unidos!

No quadro dos riscos em África, nada nos surpreenderia se houvesse um aumento simultâneo de entidades consideradas terroristas e de “estados falhados”, o que é “ouro sobre azul” para o binómio AFRICOM/OTAN e aquilo que se move por detrás, a hegemonia unipolar, as multinacionais ávidas da contínua rapina de riquezas e os interesses da aristocracia financeira mundial aliada às oligarquias e às “novas elites” africanas.

O clima para que pouco a pouco África está a ser atirada, reflecte sem dúvida os parâmetros duma IIIª Guerra Mundial não declarada e que é decidida de forma unilateral pelos poderes que circunscrevem a hegemonia anglo-saxónica e a panóplia de aliados-fantoche que a integram com seus interesses menores e seus servis “bons ofícios”.

Uma leitura diária às páginas sobre África revela um aumento das tensões.

Servi-me mais uma vez da ANGOP para o comprovar: da Líbia para a Argélia e para a Nigéria, sempre para ocidente e denotando objectivos fixos no Golfo da Guiné.

Tensões em embrião podem ser sentidas um pouco por todo o lado do continente, para além dos contenciosos mais terríveis na RDC/Grandes Lagos e no “corno de África”.

Em Angola essas tensões circunscrever-se-ão à volta de temas como Cabinda, as questões que se prendem às Lundas, ou José Eduardo dos Santos, esbatendo por completo as questões de fundo e procurando impedir com isso a “batalha das ideias”, conforme aliás interessa aos mentores da lógica do capital.

É sintomático que, quando há um aumento em Angola desse tipo de tensões, cheguem ao país personalidades como o que também noticia a ANGOP – “Lord Mayor de Londres chega a Luanda para contactos financeiros” (http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/economia/2011/7/34/Lord-Mayor-Londres-chega-Luanda-para-contactos-financeiros,ca0c27e0-cbe7-4ef2-8d35-37c79b219ce8.html), o que é um indício, conforme tenho analisado, do tipo de contradições que se estão a semear e a manipular: enquanto se promove a ascensão de “novas elites”, mexe-se com os substratos sociais de base utilizando a energia da juventude, que necessariamente tem aspirações, mas que é, sob os pontos de vista psico-social e antropológico, aquela componente da sociedade cuja grande energia emocional e pouca clarividência “pode mover montanhas”.

Em simultâneo estimula-se a “guerra das famílias”, as que estão conectadas ao poder e as que estão em oposição, mesmo que as “fronteiras” entre uns e outros sejam esbatidas, como o são em Angola.

A paz é porém, para todos os angolanos e provavelmente não para alguns grupos, algo muito caro, que sendo necessário preservar, tem imensos riscos por vencer e, um dos principais, é a cobiça sobre as enormes riquezas do país, uma país que pode ser considerado como “as minas de Salomão”.

Ao mesmo tempo que avalio em África a progressão para ocidente do “arco de crise”, não posso deixar de chamar a atenção para as crescentes tensões internas dentro de Angola, em grande parte fomentadas a partir do exterior, tendo as disputas sobre as riquezas, sobre as regiões e sobre o poder no “centro do furacão”.

Há todos os motivos para em África se valorizar o socialismo decorrente do aprofundamento da democracia como um ponto de partida viável para se enfrentarem os riscos colossais que estão nas mesas de operações da hegemonia unipolar, evitando os seus cenários de destruição, de sangue e de morte.

Mantenham-se tanto quanto o possível o AFRICOM e a OTAN fora do continente e lembre-se que mesmo na CPLP, para além de Portugal, crónico fantoche-aliado de Sua Majestade Britânica, há já outro tipo de contactos que denotam as fragilidades de África: estou-me a referir claramente a Cabo Verde enfeudado ao binómio AFRICOM/OTAN!

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