sexta-feira, 26 de agosto de 2011

JUSTIÇA E IMPUNIDADE EM TIMOR-LESTE INTERESSAM DIPLOMACIA DOS EUA




PRM – HB – EL - LUSA

Lisboa, 26 ago (Lusa) - Apenas 28 dias antes de ser alvejado a tiro, a 11 de fevereiro de 2008, o Presidente timorense, José Ramos-Horta, afirmava que o major rebelde Alfredo Reinado era "uma vítima individual da crise de 2006", segundo a diplomacia norte-americana.

É o que conta um dos 23 telegramas da embaixada norte-americana em Díli revelados na quinta-feira pelo "site" Wikileaks, nos quais a abordagem de temas como a justiça, impunidade e reconciliação é o traço mais constante.

Num dos telegramas, refere-se que o chefe de Estado timorense disse também que os timorenses são "todos vítimas da crise de 2006" e, "num comentário lateral para o adido político [da embaixada dos Estados Unidos], explicou que Reinado precisaria talvez de uma forma de amnistia".

O adido político é o próprio autor do telegrama em causa, nessa como noutras ocasiões, em que faz um relato circunstanciado de viagens ou encontros com altos dirigentes timorenses, nos quais, em privado, se falava ou perguntava sobre justiça.

Em janeiro de 2008, lê-se num telegrama, "o Presidente timorense acrescentou que considerava o problema de Reinado mais fácil de resolver do que o dos peticionários" das Forças Armadas, um dos elementos de ignição da crise política e militar de 2006, que levou as autoridades a pedir ajuda ao exterior.

Nos telegramas da diplomacia norte-americana em Díli é patente o interesse constante e direto na normalização de relações com a Indonésia e no "conceito de justiça" dos líderes timorenses, sobretudo de José Ramos-Horta e Xanana Gusmão.

O atual primeiro-ministro explicou à delegação norte-americana, por ocasião do 10.º aniversário do referendo de agosto de 1999, a ideia que partilha com o chefe de Estado.

Comentando o discurso de Ramos-Horta, "Gusmão explicou que isto não se trata apenas de um assunto entre Timor-Leste e a Indonésia. Antes da Indonésia invadir Timor-Leste em 1975, os timorenses envolveram-se numa 'guerra civil' na qual 'matámos os nossos próprios camaradas' e quase toda a gente ficou com sangue nas mãos", lê-se no documento.

No telegrama, continuando a citação do primeiro-ministro, explica-se que "a atual política de perdão resulta não de uma 'generosidade' para com a Indonésia, mas de um interesse próprio em evitar a reabertura de fissuras que poderiam fragmentar o país".

No mesmo documento, é referida uma explicação do próprio chefe de Estado para o "seu apelo para uma amnistia". José Ramos-Horta nota à delegação norte-americana que, nas suas viagens pelo país, não ouve "nem uma palavra sobre justiça", pelo contrário as pessoas "levantam apenas preocupações económicas".

O Presidente "citou questões práticas, incluindo o comércio transfronteiriço", como a prioridade imediata do governo timorense. "A justiça fará o seu caminho", terá afirmado, segundo o documento obtido pelo "site" Wikileaks, que tem revelado milhares de telegramas confidenciais da diplomacia norte-americana a que teve acesso.

Num telegrama de junho de 2009, a propósito de um pedido de visto, a embaixada em Díli faz uma extensa descrição do alegado envolvimento do oficial indonésio Sjafrie Sjamsoeddin nas atrocidades em Timor-Leste, tanto em 1992 como em 1999, além da participação na invasão em 1975.

Um ponto sublinhado pela embaixada norte-americana do discurso de Ramos-Horta do 10.º aniversário do referendo foi a declaração de que a exigência de um tribunal internacional para os crimes cometidos em Timor-Leste surge "em primeiro lugar no estrangeiro, no Ocidente".

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