EDUARDO QUIVE - ÚLTIMA HORA
Está-se cada vez mais distante das salas de cinema em Maputo. Público desinteressado e a evolução da indústria cinematográfica no País, estão por detrás do cenário, segundo alguns entrevistados pela nossa reportagem.
Até antes do princípio deste século, o Cinema Scala, Gil Vicente, Charlot e Xénon, na cidade de Maputo, 700 e São Gabriel, na Matola, não tinham sido atingidos pelos sindromas do vazio nas suas salas. Mas, bastou entrarmos para o ano 2000, para tudo ficar infectado por um vírus que não só afecta os cinemas, mas também e principalmente o público, pois é visto que sem ninguém, as salas não servem.
Preocupado com o triste cenário que se vive nas salas, o Escorpião visitou algumas casas que foram referência na história do cinema em Moçambique.
No São Gabriel, da Matola, não nos foi possível encontrar os responsáveis, mas está visível no rosto daquela casa, o abandono e até a insatisfação dos proprietários.
Aliás, pelo que se nota numa placa muito bem visível, está ao serviço da Igreja Pentecostal Deus é Amor, depois de muito tempo ter estado um letreiro que anunciava a venda do loca. Assim, foi-se o sonho, para quem pensava que aquele cinema, mereceria uma renovação e terá o mágico poder de voltar a puxar as massas para assistirem as projecções que hoje não tem público.
Já o Scala, com o aspecto a aproximar-se da velhice, também se ressente da falta de público. Segundo uma fonte que encontramos no local, apesar de referir que as pessoas com competências para falar do assunto não estavam presentes, porém afiancou-nos que o público abandonou o Scala e que pouco a pouco, o espaço que pertence ao cinema, vai cedendo às necessidades financeiras da instituição, pelo que é arrendado aos interessados, tal como é o caso de uma loja de venda de acessórios de viaturas e uma pastelaria.
“Essa medida é para a sobrevivência da casa, porque só pela bilheteira das sessões de filme, isto já estaria encerrado. “E acho que vocês viram que a parte cedida a estas lojas, apresentava um mau aspecto, parecia uma ruína” disse-nos a fonte encontrada no local, apelando para que contactássemos os responsáveis, uma tentativa sem sucesso.
Para além das casas mencionadas, existem outras tantas que até estão em total abandono e a degradação é um caso consumado. Referimo-nos ao Cinema Machava no bairro do mesmo nome, o Kanema no bairro 25 de Junho, Moçambique que já faz tempo que se transformou em casa de negócios, Olímpia no Xipamanine, Tivoli, dentre outras casas
Público justifica o desinteresse
Velhos moradores da Matola recordam o passado do cinema São Gabriel e um outro na Machava que está nas mãos do total desinteresse.
“Já nem se quer me lembrava que ainda existe o São Gabriel, isto porque há muito que não vou e nem oiço falar dele. Foram bons momentos que se viveram naquela sala. Lembro-me que a nossa maior preocupação naquela altura, era de arranjar rapazes com algumas moedas para nos levar ao cinema. Estava na moda e quem não pudesse até se achava não civilizado. Muitas vezes fui lá e aproveitava disso para namorar”, contou-nos Maria Luísa, cidadã de 36 anos de idade, munícipe da Matola.
Luísa, nome pelo qual é chamada, recordava esses momentos enquanto conversava com a nossa reportagem numa manhã de sábado. Enquanto nos falava, viajava para os tempos remotos “e bons tempos mesmos. Para nós, ver filmes em grandes projecções era fantástico, também porque não tinha televisor na minha casa”. Disse.
Falando em televisores em casa, alguns interpelados pela nossa reportagem, falaram deste aparelho, como um pioneiro do precipício do vazio nas salas de cinema.
Primeiro foi o TV depois os vídeos e algum tempo seguido, os DVD´s. A quem “culpa” o “Mabulo hi ku yakana” (dialogando se constrói), programa transmitido pelo na altura, Emissor Inter-provincial de Maputo e Gaza, (agora Emissor Provincial de Maputo) um dos canais da Rádio Moçambique. O programa era transmitido no princípio da noite, mais ou menos ao horário em que se podia ir ver um filme. Mas a rádionovela, foi mais forte do que as imagens que se podiam projectar em telas gigantes.
“Lembro-me que ficava colado ao Xirico quando anoitecia. E não era o único, ficávamos em grupo para escutar”. Contou-nos Rosário João.
Por outro lado, os nossos entrevistados, avançaram com outras respostas.
“Vários factores justificam o desinteresse por ir assistir um cinema. Até porque Maputo é muito agitado quando chega o fim-de-semana. Com o público dividido entre ir assistir uma peça teatral no Gilberto Mendes e no Avenida, ou ir ao espectáculo musical no Coconuts, Big Brother, Café-Bar Gil Vicente, Franco Moçambicano, entre outros lugares, ou então ficar em casa, acompanhado pelas diferentes programações televisivas, desde aos brasileiros, portugueses e moçambicanos e/ou mesmo, acompanhar os grandes avanços da hollyhood”.
Acrescentou ainda que, “hoje em dia, até os celulares completam várias necessidades de entretenimento”.
Verdade ou não, o facto é que as salas do cinema aparecem poucas vezes no cardápio dos maputenses.
* Fotos: Rogério Manhique
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