JSD – LUSA
Santa Maria, Cabo Verde, 29 nov (Lusa) - O ministro da Defesa guineense apelou hoje aos "irmãos" da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) para que apoiem financeiramente os "esforços inequívocos" do governo no processo de reforma da Defesa e Segurança na Guiné-Bissau.
Numa entrevista à Agência Lusa, Baciro Djá sublinhou que a Guiné-Bissau já está "preparada" para passar à reforma um conjunto de militares e dar início ao recrutamento de jovens, mas que o Fundo de Pensões está vazio, contendo apenas 500 mil dos 63 milhões de dólares (47 milhões de euros) necessários para os próximos cinco anos.
"A reforma é um imperativo na Guiné-Bissau, as pessoas estão preparadas e todo o dispositivo está preparado. O governo tem uma posição inequívoca sobre o avanço do processo", afirmou o governante guineense, lembrando que a verba já disponível veio dos cofres do próprio Tesouro guineense.
O tema, disse fonte oficial cabo-verdiana à Agência Lusa, será analisado terça-feira numa espécie de "mini-cimeira" à margem da 13.ª reunião dos ministros da Defesa da CPLP, que decorre em Santa Maria, na ilha cabo-verdiana do Sal, e envolverá os respetivos titulares da pasta de Portugal, Angola, Brasil e Guiné-Bissau.
O "quarteto" deverá, porém, passar a "quinteto", com a inclusão de Cabo Verde, que assumiu hoje a presidência anual rotativa do fórum ministerial, sublinhou a fonte.
O "envolvimento" da CPLP no processo de consolidação da paz na Guiné-Bissau tem, porém, outras dificuldades, tendo Baciro Djá citado os interesses "geopolíticos estratégicos" de alguns países, que não nomeou, embora a Agência Lusa o tenha questionado sobre o papel do Senegal.
"A Guiné-Bissau sempre suscitou interesses geopolíticos e estratégicos. É preciso equacionar isto. A Guiné-Bissau terá de ter a inteligência e equacionar também o seu Conceito de Defesa Estratégico, e ver quais os países que podem ser úteis neste processo. Estamos abertos aos parceiros, mas o protagonismo depende dos países", explicou.
"O Senegal é um país irmão, com quem temos uma relação natural. Os dois países são soberanos e qualquer país democrático respeita esse princípio. Poderão haver alguns interesses do ponto de vista económico, geoestratégico ou geopolítico, mas será sempre equacionado", acrescentou, sem adiantar mais pormenores.
Sobre os fundos para a realização da reforma, Baciro Djá explicou que parte dos 63 milhões de dólares irá para os militares - os antigos Combatentes da Liberdade das Pátria que participaram na luta pela independência (1963/74) - que passarão para o regime pensionista, garantindo cinco anos com 100 por cento do salário, percentagem que variará entre os 70 e 80 por cento para os restantes.
A nível bilateral, acrescentou, Angola manifestou disponibilidade para ajudar a financiar o fundo de pensões, apesar de já ter avançado com 22 milhões de dólares para vários programas, como os ligados à reparação das casernas e construção de quartéis, fardamento, equipamento médico e assistência medicamentosa.
"O processo está no bom caminho. Há um empenho sólido e inequívoco, mas é necessário que a comunidade internacional assuma as suas responsabilidades. Não podemos fazer promessas que frustrem, depois, as expetativas do povo e das forças armadas. Agora é a altura de cumprir as promessas", concluiu, admitindo que a atual crise internacional poderá ter repercussão.
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