domingo, 20 de novembro de 2011

“O FADO CANTA A VIDA”, diz Ricardo Ribeiro



HARDMÚSICA

Ricardo Ribeiro é fadista desde sempre. Criado no Bairro da Ajuda, começou a cantar aos nove anos de idade e o Fado sempre foi a sua vida.

Para quem é fã da canção mais portuguesa que existe, não são precisas grandes apresentações. À sua carreira somam-se prémios, distinções, passagens por inúmeras casa de Fado prestigiadas, e variadas colaborações com outros grandes fadistas.

Na Sexta-feira, 18 de Novembro, o fadista esteve à conversa com o Hardmusica sobre a candidatura do Fado a Património Cultural Imaterial da Humanidade, mas também sobre a sua carreira e os seus próximos concertos no Teatro S. Luiz, nos dias 02 e 03 de Dezembro.

A uma semana de sabermos a deliberação oficial, para “bem do Fado, dos fadistas e dos portugueses em geral”, Ricardo Ribeiro espera que esta candidatura tenha um final feliz.

Até porque, a seu ver, o reconhecimento do Fado pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) vai ter dois efeitos muito importantes: vai impulsionar a “divulgação, tanto nacional como internacionalmente, de uma nova geração de músicos e cantores que se preocupa com o Fado”, e, por outro lado, “vai contribuir para a preservação de um património que é rico e grande.”

Como tantos outros fadistas e amantes do Fado comentam, também Ricardo Ribeiro é da opinião de que, em Portugal, não se dá o devido valor a este estilo musical, o que, segundo o próprio, “é normal em todas as manifestações populares”.

E Ricardo não tem qualquer receio que uma (possível) classificação do Fado como Património da Humanidade venha a torná-lo mais erudito ou institucional, porque, simplesmente, “não o é na sua génese.” “A sua riqueza, ao nível de melodias, por exemplo, pode até fazer com que o Fado seja olhado de uma forma um tanto ou quanto erudita ou poética, mas irá sempre ser uma canção pertencente ao meio popular”, disse.

À nova geração de fadistas, Ricardo tira-lhes o chapéu por terem “perdido os complexos.”

Mas, se, por um lado, elogia o facto de estes jovens fadistas terem feito com que se diluísse “o preconceito de o Fado ser só para os avós e para os pais”, por outro, defende que esta é “uma canção que só se sente verdadeiramente a partir de uma certa idade.”

“Quando eu era criança chegava a chorar perante certos fados, mas não compreendia ao certo porquê”, conta.“O Fado é uma canção séria e é preciso alguma maturidade para o entender.”

Apologista de uma visão “ortodoxa” do Fado, em que as regras são para ser respeitadas, acredita que essa não é a única maneira de encarar este género musical. “E os fadistas mais novos também têm contribuído para isso”, disse, acrescentando que “têm trazido outra maneira de estar no Fado.” Sem, no entanto, se esquecerem do Fado tradicional.

Amália Rodrigues é, segundo o fadista, o ponto de ligação entre o Fado e o mundo: “foi uma pessoa que carregou no seu Fado a emoção necessária para que esta canção passasse a identificar o nosso país.”

E, na sua opinião, esta candidatura a uma categoria tão importante quanto a de Património da Humanidade, vem precisamente fortalecer o que Amália fez e acentuar a divulgação do Fado.

A notoriedade que Portugal inteiro espera que esta canção tão nossa ganhe, caso haja uma vitória da sua candidatura, implica, na visão de Ricardo Ribeiro, “um cuidado extra com o que se vai fazer daqui para a frente com o nosso património.” Até porque é importante que as novas gerações percebam “o que se pode ou não fazer, o que desvirtua ou não o Fado.”

Para além de Fado, o Flamengo e a música do Médio Oriente são as únicas que ouve. A música árabe tem para si um significado especial, em parte, pelas semelhanças com o Fado: ambas as canções vivem de “ritmo, melodia e palavras”. No entanto, o fadista realçou que não tenta ir buscar elementos para dentro do Fado, mas que se interessa pelos elementos da música árabe que se reflectem na nossa música.

Entre os próximos projectos, sem desvendar muito, Ricardo disse ter ideias e sonhos a concretizar, dos quais fazem parte um novo álbum, num registo bem diferente do Fado, que envolverá sonoridades como as do Folclore. “Nunca deixarei o Fado, mas, a mim, o Fado não me permite experimentar determinadas coisas”, explicou.

Para os seus concertos no Teatro São Luiz, no primeiro fim-de-semana de Dezembro, promete apenas uma coisa: fados, muitos fados. Será uma retrospectiva dos dois últimos anos da sua carreira que Fernando Maurício – o fadista que foi e, segundo Ricardo, ainda é, o seu mestre – iria adorar.

Ricardo Ribeiro estará pela primeira vez em nome próprio na fantástica sala do São Luiz, para uma noite com muita emoção.

Citando Artur Ribeiro, Ricardo Ribeiro disse: “o Fado é tudo o que acontece quando se ri ou se chora, quando se lembra ou se esquece, quando se odeia ou se adora”. Porque, agora nas palavras do próprio Ricardo, “o Fado canta a vida”. E é “o grito da alma”.

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