quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Portugal: GREVE PÁRA TRANSPORTES E TORNA TRÂNSITO CAÓTICO




Ana Rute Silva, Raquel Almeida Correia – Público

Trânsito caótico, estações ferroviárias sem comboios, 121 voos da TAP cancelados. Os efeitos da greve geral, convocada pela CGTP e UGT em protesto contra as medidas de austeridade, fazem-se sentir sobretudo no sector dos transportes, no qual a adesão está a ser elevada.

As duas centrais sindicais esperam que a paralisação mostre o descontentamento dos trabalhadores face às intenções do Governo de Passos Coelho de avançar com cortes nos subsídios de Natal e de Férias no sector público, e de acrescentar mais 30 minutos ao horário de trabalho no privado. As medidas, anunciadas sem negociação social, adensam as preocupações dos trabalhadores, do comércio ao ensino, dos hospitais às autarquias.

A TAP cancelou 121 dos 140 voos previstos e todos os voos agendados para o Aeroporto da Portela estão cancelados até às 17h de amanhã, segundo um comunicado da Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública.

No aeroporto de Lisboa, apenas a TAP conseguiu realizar um voo até agora, com destino à Terceira (Açores). Estão programadas apenas mais duas ligações hoje.

Em Lisboa o Metro fechou as portas. Nas ruas da capital, são poucos os autocarros da Carris que circulam.

A Federação dos Sindicatos dos Transportes e Comunicações avisou logo ao início da manhã que os serviços mínimos não estão a ser cumpridos na CP, empresa em que a adesão é “muito elevada”. Durante a madrugada a paralisação foi “quase total”. A empresa já veio esclarecer que, até às seis da manhã, cinco dos 19 comboios de serviços mínimos previstos não circularam, quatro dos quais devido à intervenção do piquete de greve.

Prevendo a paragem dos transportes, foram muitos os que, em Lisboa, se deslocaram de carro e anteciparam a ida para o trabalho, entupindo mais do que o habitual as principais vias de acesso a Lisboa, sobretudo no sentido Sul/Norte. Às 6h30 a fila em Almada em direcção à Ponte 25 de Abril já se estendia desde a baixa de Corroios e houve quem demorasse mais de duas horas a chegar à margem Norte. Entretanto, a circulação já está normal.

As ligações fluviais no Tejo estão encerradas devido à adesão total à greve dos trabalhadores da Soflusa e da Transtejo. O mesmo cenário nos autocarros da STCP, no Porto, onde a participação é próxima dos 100%.

Já há registo de pelo menos uma escola encerrada em Alcabideche, Cascais (secundária Ibn Mucana). Na Escola Secundária de São João do Estoril e na Pedro Nunes, em Lisboa, as aulas estão a funcionar. Em Castelo Branco também a escola Frei Heitor Pinto está fechada.

Nos hospitais, a adesão ronda entre os 50%, no Hospital de Santa Maria em Lisboa, e os 100% no Hospital de S. João, na Covilhã, Coimbra, Guarda, Seia e Lagos. Em Portimão, a adesão não foi além dos 33%.

Carvalho da Silva e João Proença, líderes da CGTP e da UGT, respectivamente, continuam na rua em contactos com trabalhadores em greve. Os piquetes envolvem entre 100 a 200 pessoas e vão manter-se ao longo do dia.

A madrugada ficou marcada pela intervenção de agentes da PSP que permitiram, ao fim de duas horas, a saída em Oeiras de cinco carros da recolha de lixo, impedida por um piquete de greve. A GNR também teve de intervir em dois casos de pessoas que cortaram a circulação dos comboios em Torres Novas e Sintra.

“Os primeiros sinais mostram uma adesão muito forte”, disse esta manhã Carvalho da Silva. Pelo lado do Governo ainda não há reacções à paralisação.

A greve foi anunciada pela CGTP no início de Outubro e acabou por contar com o apoio da UGT. Esta é a terceira paralisação geral desde a criação da UGT em 1978. A primeira aconteceu em 1988 contra a intenção de Cavaco Silva, então primeiro-ministro, de mudar a legislação laboral.

Duas repartições de Finanças em Lisboa, uma na zona de Alvalade e outra em Benfica, foram hoje vandalizadas com o lançamento de cocktails molotov, afirmou hoje fonte do comando da PSP à Lusa. Os vidros das montras das instalações ficaram partidas e para o local foram os agentes "necessários".

O primeiro incidente ocorreu às 8h25 na repartição da Rua Amélia Rey Colaço, em Benfica. Pelas 09h15, registou-se um outro ataque às instalações da Rua do Centro Cultural, na zona do Campo Grande, acrescentou a mesma fonte. Uma terceira repartição, na zona oriental de Lisboa, foi atingida por latas de tinta, referiu fonte do Comando da PSP.

Por causa destes actos, a PSP reforçou a vigilância e patrulhamento às repartições de Finanças.

Aeroportos nacionais estão vazios e ainda só descolou um avião

Todos os aeroportos nacionais estão parados esta manhã, sem passageiros à vista. No aeroporto da Portela, em Lisboa, circulam apenas “uma ou duas pessoas”, disse ao PÚBLICO o porta-voz da ANA, Rui Oliveira.

Trata-se de passageiros das únicas três ligações previstas para hoje, ao abrigo dos serviços mínimos acordados entre as empresas do sector e os sindicatos. O primeiro voo programado já partiu às 8h, ao serviço da TAP e em direcção à ilha Terceira, nos Açores.

O voo de regresso está prestes a sair da região açoriana, com descolagem marcada para as 11h25 (hora do Continente).

Durante o dia de hoje, haverá apenas mais duas frequências além desta, todas a partir de Lisboa: um voo da TAP para o Funchal (que parte às 18h05 e regressa às 20h50) e outro da SATA para Ponta Delgada (parte às 18h05 e regressa às 21h25).

Tanto a ANA, como a TAP não estão a disponibilizar dados relativos ao nível de adesão dos trabalhadores. Já a SATA fará um balanço do período da manhã dentro de uma hora.

Num comunicado enviado hoje, a TAP informou que “tinha programado um total de cerca de 140 voos” para o dia de hoje. A transportadora aérea estatal conseguiu reprogramar 17 ligações “através da antecipação ou adiamento para horários fora do período de greve”.

Já se esperava fortes impactos no transporte aéreo, tendo em conta a mobilização de várias classes profissionais do sector para os protestos organizados pela CGTP e pela UGT. Além dos controladores aéreos, que gerem os voos que entram e saem de Portugal, também os técnicos de handling e os tripulantes decidiram juntar-se à contestação.

Hoje, o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil emitiu um comunicado dando conta de “uma forte adesão à greve geral” por parte dos tripulantes de cabine da TAP, Portugália, SATA e White. “Apenas se apresentaram ao serviço os [trabalhadores] designados para cumprir os serviços mínimos”, informou.

*Notícia actualizada às 12h17

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